Está a Literatura Portuguesa (principalmente a Literatura de Viagens) semeada de referências a Penacova. Um levantamento que, segundo cremos, está
por fazer. Existe de facto material suficiente para coligir numa antologia o
muito que se escreveu sobre este recanto que viu nascer muitos de nós. Nem
todas as terras deste nosso Portugal se poderão orgulhar do mesmo. E, se
alargarmos o conceito estrito de literatura aos textos publicados, em prosa e
em verso, em revistas e jornais, locais
e nacionais, o volume aumenta significativamente. Algumas dessas referências a
Penacova são já conhecidas dos penacovenses, como será o caso do trecho que de
seguida publicamos, mas muitas outras haverá que são quase ou totalmente
desconhecidas. Quem sabe um dia consigamos ter tempo e engenho para levar por
diante uma obra que inclua estes e muitos outros aspectos da vida de Penacova (concelho) ao longo dos tempos e que permanecem por aí, dispersos, em letra de imprensa, seja
em livros, seja em muitos jornais e revistas.
ANTERO DE FIGUEIREDO (1866-1953) |
Agora, desde o leito do rio,
trepa-se sempre por uma estrada às laçadas, sob árvores, como a da Ribeira de
Santarém à cidade, como a de Tondela, pelo vale de Besteiros, ao Caramulo.
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Que extraordinário assunto para pintar
que não é este vale de Penacova, visto do Penedo do Castro, da Carvoeira, da
Senhora do Monte Alto; vasto, luminoso, colorido, com seu rio, campos, montes e
serras ; ou, mais simples e ameno, visto da Senhora da Guia, capelinha no alto
de um cone de verduras de árvores e de socalcos de campos, sobre farta várzea
de milheirais de ouro e olivedos de cinzas prateadas, que vão, uns e outros,
longe, até às colinas de lá , onde, a meia encosta, pousa o lugar da Carvoeira
— manchas de casais brancos, esparsos entre verdes postos na tinta estamenha
dos montes nus que, por esse lado, confinam a paisagem. De cá, nos
longes, - pinhais de alto a baixo; próximo, - cumiadas com pinheiros ralos a
escalarem lombas de margaças lilases, que a luz poente pintará com a tinta das
copas das olaias floridas. Em baixo, panos azuis de um rio, quási sem água,
parado num areal amarelo. Defronte, descendo até o Mondego, a pique, como os
penedos das Portas do Rodam, sobre o Tejo, formidáveis rochas estratificadas.
Amarelentas e musgosas, o sol da tarde transformá-las há num colossal «bloco»
de ouro esverdinhado. Na campina, fitas de estradas; nos altos, riscos vermelhos - carreirinhos - a
subir os montes, por entre penedos e pinheiros de troncos ardosiados; E
aqueles moinhos, a um de fundo, como monges de longada (para onde ?) na crista
da serra, além ! ...
(...)
Excerto de obra de 1919
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