Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:
Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!
“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”
“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.
Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!
Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.
Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.
Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.
Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.
E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.
Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.
Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.
Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!
Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.
E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinteressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.
Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.
Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liberdades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reformados, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.
Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guardando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus sentimentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.
Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.
Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, principalmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.
Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tempos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.
O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, também, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.
O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.
Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.
Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.
Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Margarida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bondade e conhecimento.
Bem hajam todos.
Aos meus leitores, bom proveito.
A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!
Do amigo, Luís Pais Amante
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Fotos: Penacova Eventos
Fotos: Penacova Eventos
Boa tarde é Com muito carinho banho de ler este teixto muita gratidão da filha do Fado Roke muito susseço nestes procimos livros beijinho
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