por Joana Delfina de Albuquerque, cartorária do Mosteiro
“Logo que pelo Verão do ano de 1807 se soube neste mosteiro de Lorvão que o exército francês marchava pela Espanha para invadir este reino, com quem a França tinha rompido, despedindo o nosso embaixador, esta comunidade começou a dirigir ao Céu as suas fervorosas súplicas por meio de preces e vários exercícios de piedade, afim de conseguir de deus livrar o reino do perigo iminente que o ameaçava com a entrada dos franceses; a qual fez o seu exército, comandado pelo general Junot, em Lisboa no dia 30 de Novembro 1807, tendo-se evadido no dia 27 a rainha, o príncipe regente e mais família real com a sua corte para ao Rio de Janeiro; cujas notícias não afrouxaram as rogativas a Deus e só causaram uma mágoa geral e consternação.
Em Fevereiro de 1808, esta comunidade se viu necessitada (como todo o reino) a reconhecer por seu soberano ao Imperador Napoleão, e enviarmos muita parte da prata deste Mosteiro para a contribuição que ele impôs ao reino, em que ela toda devia entrar, menos os cálices e juntamente concorrermos com o terço das nossas rendas, do que pouco chegámos a mandar, porque em Junho desse ano se começou pelas partes e províncias do norte a rebelar a Nação contra os franceses, que em Agosto do dito ano foram obrigados a fazerem uma convenção com o general inglês depois de serem batidos pelo seu exército e [pelo] português na batalha do Vimeiro, o que se verificou no dia 15 de Setembro, que se arvoraram em Lisboa as nossa bandeiras com a maior alegria, de que participou esta comunidade e dirigiu ao Céu as mais vivas e solenes graças por este tão desejado benefício, sem que porém nunca cessassem os ditos exercícios para implorar a duração de tão grande bem.
Era prelada deste Mosteiro a Ex.ma Srª D. Maria Casimira de Meneses, e estando no fim do seu triénio, passou esta comunidade a fazer nova eleição, e saiu eleita a Ex.ma Srª D. Ana Luiza de Vasconcelos.
Poucos meses passámos que não nos víssemos em novos sustos.”
CONTINUA
OBS: ESTE TEXTO FOI PUBLICADO PELO "NOTÍCIAS DE PENACOVA" A PARTIR DO SEU 1º NÚMERO, PELA MÃO DE AUGUSTO MENDES SIMÕES DE CASTRO.
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