Fonte da Granja |
Quem não conhece
a Fonte da Granja? Pensar-se-á que não passa de mais uma construção ao longo da
Estrada Verde (N110). Para uns, aquele arco foi simplesmente talhado aquando da
construção do chafariz. Para outros, seria
originário de Lorvão, tal como as colunas do Mirante Emídio da Silva.
Ora, o arco
que ali se conserva contém em si a memória de uma parte importante da história
de Penacova. As colunas do Mirante, essas sim, terão essa origem, mas no caso
da Fonte da Granja, aquele pormenor não será mais do que (possivelmente o
único) vestígio do Paço dos Duques de Cadaval. Esta informação consta de uma
obra do nosso ilustre conterrâneo, Catedrático de História, Nelson Correia
Borges.
É também de
um outro penacovense ilustre, Dr. José Albino Ferreira [1],
o texto que a seguir transcrevemos e que nos fornece informações preciosas
sobre a influência dos Duques de Cadaval em Penacova. Conta então, José Albino
Ferreira:
Com a implantação do regime liberal,
pela vitória definitiva do partido constitucional, por toda a parte se refundiu
e transformou a vida social dos portugueses. As antigas casas dominantes
desapareceram ou decairam. As fortunas das famílias antigas que em geral se
mantiveram ligadas ao partido miguelista estavam muito comprometidas por
virtude das invasões francesas e depois pela guerra civil.
Em Penacova aconteceu o mesmo. Eram
donatários da vila de Penacova, primitivamente, os condes de Odemira. Esta casa
fundiu-se mais tarde, por casamento, com dos duques de Cadaval e assim ficou a
ser donatário de Penacova o Duque de Cadaval. Era este Senhor que superintendia
em todos os serviços judiciais e administrativos. Nomeava o Juiz e demais
funcionários públicos.
Tinha em Penacova o seu Paço, com
capaela anexa, no sítio onde agora está a Casa do Tribunal[2].
Tinha em Penacova o seu capelão e procurador, pois era proprietário de muitas
terras, lagares e azenhas, e recebia delas as rendas e foros.
O Duque de Cadaval era o Governador Militar de Lisboa
quando os miguelistas foram vencidos pelas tropas liberais em Almada. Como
visse que não podia manter-se em Lisboa, retirou com as tropas fiéis, e assim,
depois da Cionvenção de Évora Monte e termo da Guerra Civil, emigrou para
França, não voltando a Portugal.[3]
Como consequência, resolveu o Duque de Cadaval vender
todos os bens que possuia em Penacova.
Fotomontagem: Penacovaonline |
O Paço foi destruido por um incêndio e depois vendido
à Câmara de Penacova, que ali construiu[4] o
edifício dos Paços do Concelho e o Largo Fronteiro que hoje tem o nome de
Largo Alberto Leitão.
Tinha a Casa de Cadaval uma Capela
anexa ao Paço, que foi destruída pelo incêndio, uma capela lateral na Igreja de
Penacova, onde ainda está o escudo das armas dos Duques de Cadaval. É uma
capela ampla com sacristia. O estilo é de boa renascença.
Com o desaparecimento da fortuna da
Casa de Cadaval em Penacova, desapareceu o capelão, o procurador e e mais
pessoal. Com o incêndio desapareceram muitos documentos que, certamente,
dariam luz para a história de Penacova.
[1] Oriundo
da freguesia de Sazes, era formado em Direito, foi notário em Penacova e foi
também Presidente da Câmara quer no tempo da monarquia (era-o aquando da inauguração do Mirante) quer mais tarde já no regime republicano. Curiosamente também era Padre (sem
paróquia atribuída mas celebrava missa). Personalidade marcante do nosso
concelho e tão pouco conhecida e valorizada.
[2] Texto
escrito nos anos quarenta do séc. XX
[3] Ainda hoje a Família Cadaval vive em
França e só vem a Portugal com curta demora.,; mas conserva o seu apego à
pátria. Os varões, chegando à idade própria, cumpremos seus deveres militares,
segundo me consta.
[4] Inaugurado
a 1 de Janeiro de 1869 sendo presidente da câmara Constantino Almeida Amaral.
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