23 janeiro 2012

Colóquio " Mondego Vivo": apontamentos de um participante


Abriu a sessão o Presidente da Assembleia Municipal, Engº Pedro Coimbra, que referiu a importância do Mondego, ontem e hoje, a nível do ambiente em geral, da economia, da cultura. Apontou algumas "atrocidades", obstáculos criados sem critério, que se fizeram e lamentou que mais uma vez se quieira impor uma atrocidade, mais um dano irreparável ao rio Mondego. Felicitou ainda o Presidente da Câmara pelo seu papel na  liderança do processo de contestação.
De seguida usou da palavra o Prof. Doutor Nelson Correia Borges recordando a carga histórica e cultural deste Mondego cantado por tantos e tantos poetas. Lamentou a "iminência duma agressão que o desfigurará", no caso de o processo não ser travado.
A Drª Cláudia Feteira, em representação da Câmara de Poiares, afirmou que "as posições que vierem a ser tomadas pelas Câmaras de Penacova e Coimbra serão subscritas pelo seu município , na defesa do rio Mondego." O Comendador Jaime Soares justificou a sua ausência.
O Presidente da Câmara de Coimbra, Dr.Barbosa de Melo reafirmou que "é preciso repensar o nosso país", repensar o modelo centralista de Lisboa. Em relação à Mini-hídrica há que parar e pensar. "Tudo o que mexe com o Mondego, mexe com Coimbra"- disse. "Em nome de Coimbra não tomemos decisões precipitadas que ponham em causa o futuro do Mondego e de toda a região", pois "estamos do mesmo lado". A terminar mostrou-se convicto de que " isto não vai para a frente"
Usou da palavra o Dr. Humberto Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Penacova. Agradeceu à Plataforma Mondego Vivo (iniciada por si e pelo Dr. Paulo Silva), bem como às Câmaras de Coimbra e Poiares e referiu os impactos culturais - como acentuou Correia Borges – e os impactos económicos (negativos)  para o turismo local, para as empresas de canoagem e não só. Criticou alguns Velhos do Restelo que dizem que as empresas não deixam nada no concelho, por exemplo a nível de impostos. Admitindo poder isso ter alguma verdade disse ser inegável que as mesmas levam o nome de Penacova mais longe mesmo não vindo as pessoas a Penacova. As empresas de canoagem, a par da empresas das Águas de Penacova são factores de promoção do nosso concelho-reconheceu. Os aspectos ambientais, a questão da lampreia, foram outros aspectos que fez questão de referir.
A iniciar o I painel – O Impacto Ambiental – o Engº Agrónomo Eugénio Sequeira desenvolveu  os conceitos de Ambiente e de Sustentabilidade e interrogou-se: "Para quê a Escada de Peixe ( 3,5 milhões de euros) para agora, com a Mini-hídrica tudo ser posto em causa…?". Disse que os efeitos negativos iriam mesmo chegar ao estuário do Mondego. Além disso, o  desaparecimento de  áreas agrícolas férteis seria incompreensível , quando Portugal  tem uma área muito pequena de bons solos. "Vamos perder muita coisa! Para quê?" –questionou.
De seguida o Dr. João Pardal, dos Serviços da Câmara de Coimbra, falou dos impactos ambientais, referindo que,  inclusivé,  a praia fluvial dos Palheiros – Torres do Mondego seria afectada.
Chegou o momento da Responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental, Engª Susana Viseu, fazer a sua intervenção. Dado que a Mota Engil não estava presente para apresentar o projecto, adiantou alguns aspectos da obra: 15 metros de altura de Barragem, 7 km de albufeira, 80 hectares de área alagada… Analisou os aspectos positivos e os negativos concluindo que os aspectos favoráveis são inferiores aos desfavoráveis. Depreendemos assim  que claramente representa um parecer negativo que nos permite ter algumas esperanças na desistência do projecto.
O Prof. Doutor Carlos Fonseca falou da biodiversidadeno Mondego, das suas transformações, existindo contudo uma zona preservada, precisamente aquela que agora está em causa. Lembrou a Estrada Verde - uma relíquia - e terminou dizendo que "há que repensar, minimizar erros, sensibilizar".
O Biólogo, Prof. Doutor Pedro Raposo de Almeida , um dos mentores do  projecto da escada de peixe disse que em 1998 a sua tarefa foi muito solitária, congratulando-se por agora se ter uma sala cheia de pessoas motivadas. Lembrou que a escada só por si não chega, não garante tudo, pois o processo ainda não está concluído e não há ainda a necessária e essencial monitorização. Chamou a atenção para a necessidade urgente de os 4 açudes existentes serem removidos, não só na perspectiva da lampreia mas também do sável.
No II Painel – o Impacto Económico - o Dr. Paulo Silva salientou o empenhamento do Dr. Humberto Oliveira e manifestou a sua estranheza pela ausência da representante da Administração da Região Hidrográfica do Centro. Apresentou um estudo económico sobre o sector da Animação que é feita por 6 empresas e salientou que a descida do Mondego é uma das maiores actividades de animação turística do nosso país. Assegura 35 postos de trabalho directos, contribuindo para o Estado com cerca de 350 000 euros (2008-2010).
Por sua vez a Dr. Patrícia Silva, da Faculdade de Economia, falou da evolução do conceito de Mini-Hídrica, das suas vantagens e desvantagens económicas, das Motivações e  Preocupações, salientando o triângulo do desenvolvimento sustentável (Economia, Ambiente, Social).
Por fim, o Dr. Luís Pais Amante apresentou o tema " Penacova -Quem somos e o que pretendemos". Referiu os indicadores sócio - económicos do concelho, as potencialidades e as debilidades. Referiu entre muitos outros aspectos: a crítica -muitas vezes destrutiva- de que enferma o concelho é uma questão que a par de um déficit de empreendedorismo impede algumas iniciativas. Outras interrogações: hoje quem se fixa cá? Apesar de  Penacova ser " dos poucos pontos do país onde se pode viver com qualidade"; Penacova não tem um restaurante de referência…isto dá que pensar…Turismo: não temos, não há hotel ….Penacova terá por m2 mais campeões de pesca do que qualquer outro país… a pista de pesca está degradada. Estes alguns dos muitos aspectos que referiu. Apontou como Vectores de Desenvolvimento: gastronomia, águas minerais naturais, turismo, pesca e desporto (aventura e lazer),agricultura biológica e uma plataforma logística.Enquanto Âncoras de Desenvolvimento referiu  o  IP3, a Montanha e o Rio.  Ora, estes três pilares não podem NUNCA estar ameaçados!- acentuou.
Segiu-se um período de intervenção do público presente. O Dr. Leitao Couto, além de outras observações lembrou que Penacova já deu muito ao país em termos de energia hidroelectrica; a Drª Sandra Ralha felicitou a Câmara e questionou se alguém perguntou às pessoas se queriam a Mini-hídrica, afirmando que, se necessário, avançar-se-á para a Justiça; o Dr. Eduado Ferreira salientou que a acrescentar às razões que já se sabiam estes argumentos de hoje permitem acreditar que o processo está encerrado; a Profª Fernanda Pimentel, usando da palavra, disse: "Não, não queremos! Queremos o Rio sem obstáculos!" E alertou: "Só falar não chega! Temos que mostrar a nossa força, levar as conclusões à Assembleia da República", pois "se não nos unirmos não sei se não avançarão…Cautela! ". Em nome da Quercus uma participante reconheceu os contributos valiosissimos para esta causa e para o ambiente em geral que este colóquio prporcionou. Achou importante a ligação Coimbra-Penacova tendo como elo o Rio Mondego. Reafirmou ainda a importância de estas conclusões serem publicadas e divulgadas. "Penacova está com o Rio!" – disse. Paulo Silva, ainda usou da palavra para dizer que depois desta luta há que atacar a questão dos açudes existentes - "Queremos fazeras descidas de canoa a partir no Reconquinho!" Por último, a Engª Susana Viseu realçou a objectividade do debate, técnico e construtivo, um  debate civilizado (o que não é comum)- reconheceu.
E a encerrar esta jornada, já perto das 20 horas, o Presidente da Câmara mostrou-se muito satisfeito pela "Tarde muito produtiva, um grande momento de debate." Reconheceu também que o processo não está terminado. " A luta não acabou, vamos continuar até à decisão final."- disse a terminar.
David Almeida

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