09 setembro, 2021

Locuções populares (10): IR PARA O MANETA




A expressão “Ir para o maneta” tem origem nas crueldades praticadas pelo general Loisson durante a primeira invasão francesa, significando desaparecer, morrer, avariar-se, acabar…

Portugal, velho aliado da Inglaterra, recusou-se a aderir ao Bloqueio Continental e Napoleão invadiu Portugal. O general Jean-Andoche Junot entrou em Portugal pelo vale do Tejo, a 17 de Novembro de 1807, seguindo o caminho mais curto para Lisboa.

Das tropas de Junot fazia parte o general Louis Henri Loisson (1771-1816), prestigiado militar que tinha perdido uma mão numa campanha na Suíça.

Este oficial distinguiu-se, durante a 1ª invasão, pela ferocidade com que ordenava prisões, fuzilamentos e atrocidades.

A fama de Loisson, o ‘”maneta”’, como o povo lhe chamava, chegou a todos os cantos do país. Quando alguém era preso por ordem deste general, a probabilidade de escapar ileso era era quase nula. E quando a alguém isso acontecia, dizia-se que tinha ido para o maneta. 

Tal foi o medo que se instalou que se alguém falava de modo menos cuidadoso, alertava-se: "Cuidado, vê lá se queres ir pró maneta!”. 

A expressão manteve-se até aos nossos dias, apesar de muitas vezes nem sequer se associar já às Invasões Francesas.

07 setembro, 2021

As Invasões Francesas e o Mosteiro de Lorvão, de 1807 a 1811 (III)

 por Joana Delfina de Albuquerque, cartorária do Mosteiro

[continuação]


Em dezanove e vinte de Setembro esteve alojado no hospício dos religiosos deste mosteiro o general Lord Wellington com todo o seu estado maior
, sustentando-se à sua custa, sem que do mosteiro fosse mais que algumas cousas para o serviço e um mimo de doce, que ele agradeceu muito à Prelada, tratando-a com a maior civilidade, assim como a toda esta comunidade e lhes disse que não estávamos aqui bem e nos devíamos retira, para o que ele concorreria em caso de precisão.

Logo no dia 22 de manhã começaram a sair deste mosteiro algumas religiosas, mesmo a pé, consternadas e atemorizadas por verem aproximar-se o inimigo e que já os padres confessor e feitor se tinham ausentado de noite sem o publicarem.

De tarde saíram muitas mais religiosas e a prelada, da forma que se puderam arranjar, e a maior parte sem parentes; não tendo antes a prelada proporcionado meios alguns para isto, pela impossibilidade em que estava o mosteiro por falta de dinheiros.

Desde esse dia até o último de Setembro foi saindo a comunidade acomodando-se algumas religiosas mais velhas e das terras mais remotas, com muitas criadas, no lugar de S. Mamede.

Em o primeiro de Outubro por fim da tarde acabaram de sair as 6 únicas religiosas que ainda aqui existiam, para o sítio de Vale do Fojo, como foram a madre ex-abadessa D. Maria Arcângela e a madre ex-abadessa D. Maria Tomásia de Albuquerque e as madres D. Antónia Gertrudes de Albuquerque, D. Ana Bárbara, D. Maria Delfina. D. Joana Ferraz, e D. Maria Cândida, onde se conservaram até domingo 7 do dito mês de Outubro, amparadas pelo caritativo, zeloso e inteligente escrivão deste mosteiro José Alves Cardoso, que não só dirigia tudo o que respeitava à subsistência e cómodo possível das religiosas e grande número de criadas, mas a que o mosteiro onde tinham ficado quatro criadas muito velhas, não fosse roubado pela gente deste povo, como pretenderam e ele muito bem soube atalhar.

Sabendo as seis religiosas no dia seis que os franceses tinham saído de Coimbra, resolveram recolher no dia 7, que era Domingo, no dia de N. S.ª do Rosário, com mais quatro outras dos sítios vizinhos, que se lhes juntaram.

Vieram ouvir missa a este mosteiro, onde com mediação de poucos dias se chegou a aumentar o número de 25. [...]
[continua]

06 setembro, 2021

As Invasões Francesas e o Mosteiro de Lorvão, de 1807 a 1811 (II)

 por 

Joana Delfina de Albuquerque, cartorária do Mosteiro


(Continuação)

“Poucos meses passámos que não nos víssemos em novos sustos e precisadas a redobrarmos as preces e devoções, dirigindo ao Céu as nossas súplicas pela salvação do reino, de perto ameaçado por outro exército que projectava nova invasão.

Realizou-se esta segunda invasão dos franceses comandados pelo general Soult, entrando por Chaves nos fins de março de 1809 e passando por Braga conseguiu entrar no Porto em quarta feira de trevas 29 de Março, o que logo se soube aqui e causou uma grande aflição, obrigando algumas religiosas a saírem da clausura com o fim de escaparem ao perigo, que se receava, de chegarem a este mosteiro os franceses por estarem ameaçando o rio Vouga.

Não passaram adiante porque em o princípio de Maio entrou em Coimbra o exército inglês e português comandado pelo general Lord Wellington, que no dia 12 fez a sua entrada no Porto, que desamparou o exército francês retirando-se pela mesma estrada por onde tinha vindo, com muita perda e geral alegria das gentes, de que participou esta aflita comunidade a que logo se vieram unir as religiosas que tinham saído a todas juntamente agradecemos a deus este grande benefício.

Tinha precedido a este acontecimento terem-se tomado todas as medidas possíveis de acautelar-se ao saque furioso de tão bárbaros inimigos os preciosos tesouros dos corpos das nossa Santas Rainhas, trazendo-os dos seus altares para dentro do mosteiro, escondendo-se com a maior cautela e possível decência, o assim mesmo o santuário e resto das alfaias e preciosidades da igreja; conservando-se tudo desta maneira na terceira invasão do maior exército francês comandado pelos general Massena que entrou no reino e se fez senhor da praça de Almeida em 22 de Agosto de 1810. Em 19 e 20 de Setembro esteve alojado no hospício dos religiosos deste mosteiro o general Lord Wellington com todo o seu Estado Maior (…)

CONTINUA