03 agosto, 2016

CARTAS BRASILEIRAS: Jogo: pingar os is e cortar os tês



A expressão vem lá dos bancos escolares. Não só essa. Quem sabe, fará lembrá-los da recomendação da professora do começo da andança escolar. Por exemplo:
- Quero parágrafo de pelo menos 2 dedos!
Para os pedagogos da época não era coação, era dever. Nada tão claro, regra era regra.
Já hoje, a correção não é o melhor dos mundos. A razão: a ação professoral pode constranger o aluno. É voz corrente: qual o problema quando nos deparamos com a vogal magra e de poucas curvas despojada da pequena bola sobre ela? Ou, que erro há caso vejamos a 20ª do ABCD sem o caco formando a cruz?
- Se o aluno compreender, não pare o andor! É dez! Parabéns!
É verdade, o velho conselho pode ser empregado em mundo fora da sala de aula, como quando clamamos pelo zelo aos pormenores, para esclarecer algo, ou quando não queremos nada obscuro.
Alguma luz? Ou o obscuro sou eu! Esclareço, essa conversa mole, esse lero-lero, é um jogo. Mesmo não querendo confusão ou encrenca, não fujo da querela. Faço uma ponderação, ou melhor, peço: olhos bem abertos nas nuances.
Com a solução nas mãos, não me condenem, nem me chamem de abusado. Convenhamos, um esforço descomunal. E não é para menos, a cabeça ordena, e por compulsão, os dedos querem palavras com a vogal e com a não vogal que desdenho apenas para escapar da velha regra, querendo provocá-los.
E para quê, se ao cabo, não mereço nada além de um ah! nossa! verdade!
Pura bobagem. Melhor acabar com o tititi, pondo fim à escolha inútil de palavras somente com “a”, “e” “o” e “u” e sem “t”. Quero mais é pingar deliciosamente os “is” e cortar gostosamente os “tês”, como em tatibitate.

P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br
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NR: Imagem da responsabilidade do Penacovaonline  

           


01 agosto, 2016

Foi há 107 anos: Comício Republicano juntou em S. Pedro de Alva cerca de 3000 pessoas

Imagem de um dos muitos comícios republicanos que
de Norte a Sul antecederam a Revolução de 5 de Outubro
O Centro Republicano de S. Pedro de Alva (com direcção provisória, presidida por José de Almeida Coimbra, promoveu a realização de um Comício nesta localidade na tarde do dia 1 de Agosto de 1909. Foi precedido da publicação de um Manifesto no Jornal de Penacova de 24 de Julho, onde se criticavam os ''caciques e galopias servidores da monarquia'' que, em Penacova, ''por todos os modos e processos, os mais vergonhosos e desonestos” vinham “ entravado a marcha do ideal republicano''.

Aquele periódico local, na sua edição de 31 de Julho, escreve: ''Um comício republicano em S. Pedro de Alva! Quem pensava em tal há três ou quatro anos?'' Nesses tempos – prossegue o jornal – ''os republicanos contavam-se pelos dedos. Se mais havia, e havia com certeza, fechavam as suas ideias a sete chaves, não fossem elas passar do domínio das suas consciências.''

Referindo-se “ao bom povo desta região”, lembra que “já muito poucos se arreceiam de dizer alto e bom som as suas ideias, sem que pese e barafuste o progressismo e o franquismo indígenas''.

A tribuna, em forma de pavilhão, foi montada ''num terreno particular, junto ao lugar onde se costuma realizar a feira dos bois''. O acontecimento foi abrilhantado pela Filarmónica de Vale de Remígio (Mortágua) e animado com o estralejar de foguetes.


Começa por discursar o Dr. Fernandes Costa. De seguida, usa da palavra o Dr. Feio Terenas, e o dr. Alfredo de Magalhães. Vindo de Coimbra,''o jovem propagandista democrático'', José Cardoso, antecede a intervenção de António José de Almeida, louvando a iniciativa da realização do Comício e da criação do Centro Republicano.

António José de Almeida proferiu um ''belo e empolgante discurso'' – na opinião do Jornal de Penacova. Esclarecendo a sua posição naquele comício, disse: “O orador veio falar à sua terra porque cá o chamaram. Não vem pedir nem votos, nem influências, nem importância. Nada precisa da República, como nada aceita da Monarquia. Vem junto dos homens da sua terra para os ajudar a redimir e salvar. Não é um galopim que venha pedir votos, é um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço. Para ele, a sua terra natal é muito, mas a pátria é mais, porque é tudo.”


Na sua intervenção, falou da ''miséria do concelho, sem estradas, sem escolas, sem hospitais, cheio de fome e varado de miséria, sob a pressão implacável dos caciques, que transformaram esta fecunda região num feudo quasi maldito''.

Para o local haviam sido destacadas tropas de Coimbra. Pouco depois de começarem as intervenções, verificou-se alguma perturbação da ordem. Um grupo de pessoas terá começado a dar ''vivas'' a Oliveira Matos, à monarquia e a Jesus Cristo. Os militares viram-se obrigados a intervir e tudo terá acalmado.Antes do Comício, pelas "duas horas da tarde", António José de Almeida, acompanhado por Feio Terenas, Alfredo de Magalhães, Fernandes Costa e outros, dirigiu-se à Praça José António de Almeida, para inaugurar o Centro Republicano, no edifício onde hoje se situa o Talho Abranches.

Da intervenção de António José de Almeida é de salientar uma afirmação que, a poucos dias da Revolução, reflecte a determinação dos republicanos em avançar para o derrube da monarquia ''não só pelas palavras mas também pelas armas''.

O Jornal de Penacova de 8 de Agosto, em artigo de primeira página, registou: ''Comício Republicano de S. Pedro de Alva mais de 3 000 pessoas aclamam com entusiasmo os oradores republicanos ''.

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Bibliografia: Penacova e a República na Imprensa Local, Edição do Município de Penacova, 2011

28 julho, 2016

Pintor Martins da Costa homenageado em Penacova


“Martins da Costa – Contos Vividos” é o título do livro que no passado dia 23 foi apresentado em Penacova, no Mirante Emídio da Silva. 

A obra tem coordenação editorial do jornalista penacovense Álvaro Coimbra. É composta por muitos dos textos escritos pelo pintor nas décadas de oitenta e noventa na imprensa local (quando residia em Penacova), bem como por inúmeras reproduções de alguns dos seus quadros e ainda parte do seu espólio fotográfico.

“Martins da Costa – Contos Vividos” é uma edição do município de Penacova e tem prefácio do escritor, investigador e cronista Hélder Pacheco. A Escola de Artes de Penacova participou com alguns apontamentos musicais.

Um dia grande para Penacova: "a vida, mais do que viver, é recordar" - escreveu Martins da Costa. Um cumprimento especial de reconhecido agradecimento, enquanto penacovense que sou, a todos aqueles que tornaram possível quer a publicação do livro, (rico de conteúdo e com excelente apresentação gráfica) quer a realização do momento de alto valor cultural junto ao Mirante, destacando obviamente Álvaro Coimbra, Executivo da Câmara e Família Martins da Costa.