25 julho, 2016

Luís Reis Torgal distinguido com Medalha de Mérito Científico

O Professor Doutor Luís Reis Torgal foi distinguido recentemente com a Medalha de Mérito Científico, atribuída pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A cerimónia teve lugar no dia 4 de Julho, integrada no Encontro Ciência 2016 que se realizou em Lisboa.

O galardão foi atribuído a 12 investigadores portugueses considerando as suas “elevadas qualidades profissionais e de cumprimento do dever”, e sobretudo “por se terem distinguido por um valioso e excepcional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal”. Além de Reis Torgal a Medalha de Mérito Científico foi atribuída às seguintes personalidades: Arsélio Pato de Carvalho - Neurociência, Carlos Bernardo - engenharia de Polímeros, Claudina Pousada – Área da Genómica, João Lopes Baptista - ciência dos Materiais , João Sentieiro - Robótica, Miriam Halpern Pereira - História , Nuno Portas - Arquitectura , Odete Santos Ferreira - investigação sobre SIDA e Pedro Guedes de Oliveira - Eletroencefalografia. Luís Reis Torgal distinguiu-se na sua carreira de historiador “com contribuições significativas para a investigação em história contemporânea.”

Profundamente ligado ao concelho de Penacova, podemos ler na página electrónica do Município uma breve resenha do seu percurso académico: “Professor Catedrático aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pertenceu ao Instituto de História e Teoria das Ideias, tendo dirigido, entre outras publicações, a Revista de História das Ideias e a revista Estudos do Século XX. Coordenador de investigação do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20), de que foi fundador, e membro de numerosas sociedades científicas, Reis Torgal, dedica-se, enquanto historiador a vários temas do séc. XX português, destacando-se o Estado Novo e a República. Autor de inúmeras publicações, foi vencedor do Prémio Joaquim de Carvalho da Imprensa da Universidade de Coimbra pela obra Estados Novos, Estado Novo e Prémio de História Contemporânea da Academia Portuguesa de História pela Fotobiografia António José de Almeida e a República, editada em parceria com o município de Penacova."

Felicitamos o Professor Doutor Luís Reis Torgal por esta Honrosa Distinção e regozijamo-nos com mais este importante reconhecimento do seu trabalho de investigador e historiador.


Fontes:



18 julho, 2016

No rescaldo da razão de ser do Feriado Municipal

PENACOVA E ANTÓNIO JOSÉ D'ALMEIDA


A figura de António José de Almeida terá constituído o principal fio condutor do movimento republicano em Penacova. A força da sua influência começa a sentir-se enquanto jovem estudante em Coimbra e prolongar-se-á até à sua morte (e para além dela) sendo sempre acarinhado e admirado por um largo sector de republicanos que fizeram a apologia intransigente do seu percurso político. Figura tutelar das movimentações republicanas em Penacova, sem ele, estamos convictos, o republicanismo não teria alcançado, também neste concelho, a dimensão e a projecção que todos conhecemos.

1890: o seu pai, José António de Almeida, à época presidente da Câmara de Penacova, adere ao Partido Republicano. Com o filho preso na cadeia de Coimbra declarou em plena sessão camarária que “nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles” as suas forças ”na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias”, se havia de fazer Republicano. E justifica: “Realizou-se este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.

João Gama Correia da Cunha, que fora professor de António José de Almeida na escola primária de S. Pedro de Alva, escreveu uma carta, datada de 24 de Julho de 1890, no momento em que o seu ex-pupilo se encontrava preso. Foi publicada no jornal de Coimbra ”A Oficina”. Aí afirmava: ''muito há a esperar da ilustração e boa vontade deste rapaz (...) Homens como ele não aparecem todos os dias. O tempo se encarregará de mostrar que isto não é lisonja, nem ilusões dum insensato.''

1907: Alípio Barbosa Coimbra (republicano convicto, médico e fundador da Cerâmica Estrela de Alva), na edição de 20 de Julho de 1907 do Jornal de Penacova, pergunta: ''Que melhor patrono poderíamos ter, que esse patrício ilustre, grande pelo coração e ainda maior pela energia da sua vontade e pelo fulgor da sua inteligência? Damos-lhe a ele, o grande tribuno republicano dr. António José d'Almeida a satisfação íntima de ver a sua terra natal caminhar na vanguarda das hostes republicanas''.

O dia 1 de Agosto de 1909 ficou marcado pelo grande comício em S. Pedro de Alva. Apesar do alheamento de alguns sectores políticos locais e até da afronta dos monárquicos mais radicais, a presença de António José de Almeida marcou as gentes desta região. Cerca de três mil pessoas terão estado naquela manifestação republicana onde usou da palavra, a par de outras proeminentes figuras republicanas.

A sua carreira política, designadamente o cargo de Ministro do Interior no Governo Provisório, foi largamente noticiada no Jornal de Penacova. “Orgulho do nosso concelho que só agora começa a fazer-lhe a devida justiça, apóstolo acérrimo e defensor máximo da Liberdade” – escreve aquele periódico a 29 de Outubro de 1910.

Durante o ano de 1912, o mesmo jornal irá dar grande ênfase à criação do Partido Evolucionista, em ruptura clara com o partido de Afonso Costa. A iniciar o ano de 1914, António José de Almeida que habitualmente escreve para o Jornal de Penacova, questiona a governação do Partido Democrático (Afonsista): ''Esta República como no actual momento se encontra é má? Sem dúvida. Podemos mesmo, leitor, sem forçar a expressão do vocábulo, chamar-lhe péssima.” Deixa também o apelo: ”Não te fiques nirvanicamente nas queixas e nos lamentos. Trabalha, mexe-te, congrega-te, conjura-te e anda para a frente''.


A exaltação da figura de António José António de Almeida continuará a ser uma constante nas páginas do Jornal de Penacova. Sobre o comício que teve lugar no Teatro Avenida em 1914, na edição de 4 de Julho de 1914, afirma-se que a "jornada de Domingo" constituiu "um verdadeiro dia de triunfo para o Partido Republicano Evolucionista".

O sentido patriótico e a assumpção das responsabilidades governativas de António José de Almeida nunca passaram ao lado dos republicanos penacovenses. O facto de este ter assumido a Presidência do Ministério e a pasta das Colónias no governo da ''União Sagrada'', foi largamente noticiado no jornal Ecos de S. Pedro de Alva de 1 de Abril de 1916. Este periódico preenche a totalidade da sua primeira página com fotografia de Bernardino Machado, ladeado por António José de Almeida e Afonso Costa. A encimar, o título: ''Em defesa da Pátria – Unidos pelo Dever''.

Em 1919, António José de Almeida é eleito Presidente da República. Tal facto foi motivo de orgulho ainda maior para Penacova: “Foi eleito Presidente da República o sr. dr. António José d’Almeida, nosso ilustre conterrâneo! Ele é a alma da Pátria! Ele é a Vida da República! Ele é a honra de um povo! Viva o sr. dr. António José d’Almeida!- regista em grandes parangonas de capa o Jornal de Penacova. Eleito pelo Congresso em 6 de Agosto, exercerá o cargo até ao dia 5 de Outubro de 1923. Foi o único Presidente que, na I República, levou até ao fim o seu mandato.

Morreu a 31 de Outubro de 1929. O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva prenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com a notícia: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida”.

O mesmo jornal não se cansará de enaltecer este seu ilustre conterrâneo, recordando que este grande "apóstolo da Democracia tinha um altar em todos os corações portugueses''. A morte de António José de Almeida também é notícia na edição de 2 de Novembro do Jornal de Penacova. Eduardo Silva, que era, à data, o redactor deste periódico, escreverá: “O dr. António José de Almeida era nosso conterrâneo. Nasceu além, na freguesia de S. Pedro de Alva, num lugarzito, lindo e pitoresco, que se chama Vale da Vinha. Lá está o seu solar que nos desperta lembranças da sua mocidade indómita de combatente pelo ideal republicano, desde os seus mais verdes anos.[…] Foi um grande português, homem de uma honestidade intransigente, a sua vida não teve mancha a diminuir o seu valor e o seu prestígio, o seu carácter de fino e puro quilate esteve sempre de pé”.

Com o 25 de Abril, depois ter sido, durante muitos anos, directa ou indirectamente silenciada, a figura de António José de Almeida é novamente exaltada. A devida homenagem ocorreu em Penacova no dia 5 de Outubro de 1974 e passados exctamente dois anos, foi descerrado um busto (da autoria de Cabral Antunes) junto à Pérgola Raul Lino. No mesmo dia, mas em 1997, foi inaugurada uma estátua de António José de Almeida na sede da freguesia da sua naturalidade, S. Pedro de Alva.

Em 28 de Maio de 1976 a Assembleia Municipal de Penacova votou, por unanimidade, a instituição a 17 de Julho do Feriado Municipal, de forma a evocar a vida e a obra deste ilustre penacovense, que a ser vivo, teria completado ontem 150 anos.

15 julho, 2016

Foi há oitenta anos: a 15 de Julho morreu em Lisboa Manuel Emídio da Silva

Retrato de Manuel Emídio da Silva (1904)
Columbano Bordalo Pinheiro

 [Amigo de infância de Columbano, Manuel
Emídio da Silva,
deputado e crítico de arte, sob o
pseudónimo de El Mano,
escreveu artigos elogiosos das obras do artista]
Manuel Emídio da Silva faleceu em Lisboa há oitenta anos, em 15 de Julho de 1936.
Por vontade expressa, só no dia do funeral (que se realizou às 11 horas do dia seguinte), os jornais da manhã tornaram pública a sua morte. A Emissora Nacional apenas deu a notícia às 12.30. O Presidente da Câmara, (e director do Notícias de Penacova) José de Gouveia Leitão, mandou içar a bandeira em sinal de luto nos Paços do Concelho.
Sobre a relação de Emídio da Silva com Penacova, o Diário de Notícias escreveu o seguinte:
“Em matéria de turismo deve-lhe ainda, por exemplo, a vila de Penacova, uma das mais pitorescas do país, larga campanha em seu favor. Em troca, a um mirante que ali se erigiu e de onde se descortina sobre o Mondego uma paisagem deliciosa, deu a vila o nome de Manuel Emídio da Silva. Dos "Emídios" se chama também a estrada que liga os vértices Luso-Penacova-Coimbra, do chamado triângulo turístico do centro do país, em louvor popular do seu nome e de Emídio Navarro, o primeiro que deu fundos para a sua construção."
"Manuel Emídio da Silva - regista o jornal Notícias de Penacova, de 25 de Julho, nº 210- era inteiramente desconhecido em Penacova há pouco mais de trinta anos. Vindo a esta vila de passagem para visitar o Convento de Lorvão ficou de tal maneira extasiado com as paisagens de Penacova que poucos dias depois iniciava no Diário de Notícias uma intensíssima propaganda em favor delas. Por influência sua, incluiu a Sociedade de Propaganda de Portugal a vila de Penacova no número das terras do país que mereciam ser visitadas."
Adianta ainda este periódico: "Promoveu ele a abertura de uma subscrição entre os Penacovenses para a construção do Mirante que projectara. Foi o principal subscritor e ofereceu ainda a planta para a construção que foi elaborada a seu pedido pelo notável arquitecto Nicola Bigaglia."
Mais tarde, em 1916 veio do Luso a Penacova acompanhado do engº Vasconcelos Correia, então director da Sociedade de Propaganda de Portugal. Esta visita estará relacionada com o facto de, algum tempo depois, vir a Penacova o grande arquitecto Raul Lino escolher o local para a construção da Pergola "que a expensas daquela benemérita sociedade foi construída no largo Alberto Leitão e inaugurada em 1918."
Sobre a influência de Emídio da Silva, recorda o Notícias de Penacova, no Governo Provisório (1910), sendo Brito Camacho Ministro das Obras Públicas, foi dotada com verba de 3 000 escudos a estrada de Penacova para Corta Montes. "Sempre a instâncias de Emídio da Silva esta obra foi sendo dotada e quando se deu o golpe de 1926 faltavam apenas construir cerca de dois quilómetros. A parte do concelho da Mealhada já estava construída a instâncias de Emídio Navarro." A título de curiosidade acrescente-se que a Câmara Municipal "em testemunho do reconhecimento resolveu colocar na sala nobre dos Paços do Concelho os retratos daqueles dois beneméritos" - Emídio da Silva e Emídio Navarro.