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| Três dos ex-libris de Penacova / Av. Abel Rodrigues da Costa |
17 maio, 2015
01 maio, 2015
O QUE RESTA DO PAÇO DOS DUQUES DE CADAVAL
| Fonte da Granja |
Quem não conhece
a Fonte da Granja? Pensar-se-á que não passa de mais uma construção ao longo da
Estrada Verde (N110). Para uns, aquele arco foi simplesmente talhado aquando da
construção do chafariz. Para outros, seria
originário de Lorvão, tal como as colunas do Mirante Emídio da Silva.
Ora, o arco
que ali se conserva contém em si a memória de uma parte importante da história
de Penacova. As colunas do Mirante, essas sim, terão essa origem, mas no caso
da Fonte da Granja, aquele pormenor não será mais do que (possivelmente o
único) vestígio do Paço dos Duques de Cadaval. Esta informação consta de uma
obra do nosso ilustre conterrâneo, Catedrático de História, Nelson Correia
Borges.
É também de
um outro penacovense ilustre, Dr. José Albino Ferreira [1],
o texto que a seguir transcrevemos e que nos fornece informações preciosas
sobre a influência dos Duques de Cadaval em Penacova. Conta então, José Albino
Ferreira:
Com a implantação do regime liberal,
pela vitória definitiva do partido constitucional, por toda a parte se refundiu
e transformou a vida social dos portugueses. As antigas casas dominantes
desapareceram ou decairam. As fortunas das famílias antigas que em geral se
mantiveram ligadas ao partido miguelista estavam muito comprometidas por
virtude das invasões francesas e depois pela guerra civil.
Em Penacova aconteceu o mesmo. Eram
donatários da vila de Penacova, primitivamente, os condes de Odemira. Esta casa
fundiu-se mais tarde, por casamento, com dos duques de Cadaval e assim ficou a
ser donatário de Penacova o Duque de Cadaval. Era este Senhor que superintendia
em todos os serviços judiciais e administrativos. Nomeava o Juiz e demais
funcionários públicos.
Tinha em Penacova o seu Paço, com
capaela anexa, no sítio onde agora está a Casa do Tribunal[2].
Tinha em Penacova o seu capelão e procurador, pois era proprietário de muitas
terras, lagares e azenhas, e recebia delas as rendas e foros.
O Duque de Cadaval era o Governador Militar de Lisboa
quando os miguelistas foram vencidos pelas tropas liberais em Almada. Como
visse que não podia manter-se em Lisboa, retirou com as tropas fiéis, e assim,
depois da Cionvenção de Évora Monte e termo da Guerra Civil, emigrou para
França, não voltando a Portugal.[3]
Como consequência, resolveu o Duque de Cadaval vender
todos os bens que possuia em Penacova.
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| Fotomontagem: Penacovaonline |
O Paço foi destruido por um incêndio e depois vendido
à Câmara de Penacova, que ali construiu[4] o
edifício dos Paços do Concelho e o Largo Fronteiro que hoje tem o nome de
Largo Alberto Leitão.
Tinha a Casa de Cadaval uma Capela
anexa ao Paço, que foi destruída pelo incêndio, uma capela lateral na Igreja de
Penacova, onde ainda está o escudo das armas dos Duques de Cadaval. É uma
capela ampla com sacristia. O estilo é de boa renascença.
Com o desaparecimento da fortuna da
Casa de Cadaval em Penacova, desapareceu o capelão, o procurador e e mais
pessoal. Com o incêndio desapareceram muitos documentos que, certamente,
dariam luz para a história de Penacova.
[1] Oriundo
da freguesia de Sazes, era formado em Direito, foi notário em Penacova e foi
também Presidente da Câmara quer no tempo da monarquia (era-o aquando da inauguração do Mirante) quer mais tarde já no regime republicano. Curiosamente também era Padre (sem
paróquia atribuída mas celebrava missa). Personalidade marcante do nosso
concelho e tão pouco conhecida e valorizada.
[2] Texto
escrito nos anos quarenta do séc. XX
[3] Ainda hoje a Família Cadaval vive em
França e só vem a Portugal com curta demora.,; mas conserva o seu apego à
pátria. Os varões, chegando à idade própria, cumpremos seus deveres militares,
segundo me consta.
[4] Inaugurado
a 1 de Janeiro de 1869 sendo presidente da câmara Constantino Almeida Amaral.
25 abril, 2015
O 25 de Abril de 1974 em Penacova
Como em muitos pontos do país, a
notícia da Revolução foi recebida em Penacova com um misto de entusiasmo e de
apreensão por parte da população em geral.
Foi só no dia 1 de Maio que as manifestações públicas e mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município (recorde-se que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro).
Dessa Comissão faziam parte Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.
Tomou posse a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a ser também o Engº Castro Pita.
Teófilo Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do Partido Comunista Português era professor e director do Ciclo Preparatório de Penacova desde 1971.
Perante as dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as ideias de esquerda.”
Consumada a intenção de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril e 31 de Dezembro de 1976.
Refere o jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”
Foi só no dia 1 de Maio que as manifestações públicas e mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município (recorde-se que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro).
Dessa Comissão faziam parte Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.
Tomou posse a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a ser também o Engº Castro Pita.
Teófilo Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do Partido Comunista Português era professor e director do Ciclo Preparatório de Penacova desde 1971.
Perante as dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as ideias de esquerda.”
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| Teófilo Luís Alves Marques da Silva (2 de Maio 74 a Agosto de 75: nesta data pede a demissão ficando em funções durante mais algum tempo)) e José Alberto Costa (24 de Abril de 76 a 31 Dez 76) |
Consumada a intenção de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril e 31 de Dezembro de 1976.
Refere o jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”
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