05 maio, 2014

Mosteiro de Lorvão: ainda o concerto inaugural do órgão histórico

A inauguração do órgão do mosteiro de Lorvão realizou-se no dia 3 de Maio, à noite, conforme previsto. Contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura e da respectiva Delegada Regional além das autoridades locais civis e religiosas. Noite memorável para Lorvão e para o concelho de Penacova. A Igreja (incluindo a parte do Coro) foi pequena para acolher a multidão (assim podemos falar) que quis estar presente neste momento tão especial e ansiado. A página do Penacova Actual no Facebook publicou inúmeras fotografias sobre este acontecimento.
Dada a importância histórico-cultural deste órgão, tomamos a liberdade de publicar alguns textos que fazem parte do desdobrável disponibilizado na ocasião. 
Por hoje, deixamos aos leitores o depoimento de João Vaz, organista de renome internacional, que juntamente com Harald Vogel, derem corpo ao Concerto Inaugural. Posteriormente, publicaremos textos do historiador Nelson Correia Borges e de Dinarte Machado, mestre do restauro.

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(Obs: esta disposição do texto e cor de base não corresponde ao original. 
Pedimos desculpa aos autores. Move-nos tão só a  intençao de divulgar  
e valorizar ainda mais este tesouro cultural)




03 maio, 2014

Um Órgão com (muita) história...

Separador do livro Doçaria Conventual de
Lorvão, de Nelson Correia Borges (2013)
É muito provável – segundo alguns historiadores - que em tempos mais recuados já existisse um órgão em Lorvão. 

Todavia, o primeiro órgão de que há notícia terá sido o que em 1718 mandou fazer a abadessa D. Cecília d’Eça e Castro. Entretanto, a abadessa D. Maria da Trindade resolveu reformá-lo, mudá-lo de local, acrescentar-lhe mais registos e dourar-lhe a caixa. A partir de 1748 dão-se as obras de reconstrução da Igreja que se prolongaram por cerca de vinte anos. Depois das obras, as religiosas quiseram dotar o mosteiro com um órgão mais grandioso. Coube a D. Madalena Maria Joana de Vasconcelos Caldeira (1783-1786) materializar esse objectivo. 

Na obra de Nelson Correia Borges, Doçaria Conventual de Lorvão (2013) escreve aquele autor: “ Em 1785, a mesma abadessa empenhou-se na obra do novo órgão, mas já era o canto de cisne da renovação artística de Lorvão: a caixa foi aparelhada e ficou à espera de uma pintura e douramento que nunca mais chegou e o pagamento da despesa arrastou-se por vários anos. É uma realização do que melhor se fazia no reino, já que a parte harmónica e técnica foi executada por António Xavier Machado e Cerveira e a caixa e escultura saiu da oficina de seu meio-irmão, Joaquim Machado de Castro.” 

Só ficou concluído em 1795. Poucos anos depois surgem as invasões francesas que a par de outros factores conduzem à decadência de Lorvão e do seu órgão. 

Depois de muitas décadas, em 1955,  voltou a fazer-se ouvir, depois do restauro feito pela Firma João Sampaio (Filhos), Lda. 

“Foram introduzidas modificações nos foles e na cobertura do teclado. Os primitivos foles eram em forma de cunha e necessitavam de dois homens que tinham de se revezar com frequência. Foram substituídos por um único fole paralelo, instalado em sala contígua, com a vantagem de fornecer sempre a mesma pressão de ar. O seu conjunto harmónico é constituído por cerca de dois mil e quinhentos tubos de metal e madeira.” – escreveu Nelson Correia Borges em 1968 no Notícias de Penacova

Naquela data já o órgão estava outra vez inutilizado. Lamenta o referido cronista que “depois de importantes obras de restauro levadas a cabo em 1955 pela DGEMN e que fizeram voltar o alentado instrumento ao seu antigo esplendor, dum momento para o outro elas ficassem inutilizadas parcialmente por injustificável incúria, em virtude de ter-se dado infiltração de água das chuvas durante umas obras de reparação do telhado”. 

Os anos passaram, muitas pessoas e entidades foram pugnando pelo seu restauro. Depois de muitas vicissitudes, só hoje, 3 de Maio de 2014, vai ser possível ouvi-lo de novo na sua majestade e imponência.

Capa do jornal Díário de Coimbra de 2 de Maio
Díário de Coimbra , 2/5/2014


01 maio, 2014

Órgão do Mosteiro de Lorvão: depois do restauro o Concerto Inaugural há tantos anos esperado



No próximo sábado, pelas 21 horas vai ter lugar um Concerto de Órgão no Mosteiro de Lorvão. Depois de muitos anos de inactividade, eis que chega o ansiado momento de se fazer ouvir este Órgão Monumental. 

Os organistas João Vaz (Portugal)e Harald Vogel ( Alemanha)
vão  estar em Lorvão
O Penacova Online publicou há meses algumas notas históricas e estéticas sobre o mesmo (veja AQUI ) baseadas em escritos do Prof. Nelson Correia Borges.O concerto inaugural está a ser notícia nacional. O site da RTP publicou o seguinte:

O órgão construído por pai e filhos no século XVIII, no Mosteiro do Lorvão, Penacova, que teve "vários períodos de abandono", recebeu uma intervenção que o organeiro acredita ter devolvido ao instrumento uma sonoridade idêntica à original.
Depois de algumas intervenções ao longo dos mais de 200 anos de vida, o instrumento, que "é o maior órgão histórico construído em Portugal", vai voltar a ser tocado no sábado, terminado um restauro que devolve ao órgão o seu som, mas também o número de tubos iniciais - quatro mil -, salientou Dinarte Machado, organeiro responsável pelo restauro.
O instrumento, instalado naquele mosteiro do distrito de Coimbra, começou a ser planeado e executado por Manuel Teixeira de Miranda, durante o século XVIII, com a colaboração do seu filho, o escultor Machado de Castro, que criou as esculturas "que ornamentam a caixa do órgão, que é única", contou Dinarte Machado.
Com a morte de Manuel Teixeira de Miranda, o órgão ficou inacabado, sendo que, 14 anos depois, o seu outro filho, Machado de Cerveira, daria continuidade ao projeto do pai, terminando a execução em 1795.
Machado de Cerveira realizou algumas alterações ao instrumento por "exigência da evolução da música da época", o que levou a uma ampliação do órgão, explanou.
O organeiro afirmou à agência Lusa que as alterações perpetradas por Machado de Cerveira levaram a que o órgão tivesse um "aspeto mais barroco" e que "fosse mais abrangente" em termos musicais, não perdendo qualidade "quando aumentou de tamanho, o que não é normal".
No século XIX, com uma maior aceitação da "sonoridade francesa" do que da "sonoridade barroca", foram tiradas muitas filas de tubos, nomeadamente as agudas", sendo que também em meados do século XX foram novamente retirados tubos, referiu Dinarte Machado, considerando que as intervenções "degradaram o instrumento".
"Há mais de um século que o instrumento não estava completo" e longe do "seu som original", tendo sido repostos cerca de dois mil tubos, frisou o organeiro.
Dinarte Machado começou o restauro do órgão há dois anos, quando este estava "todo desmontado".
O desafio era restaurar não apenas a componente estética, mas também a identidade sonora do instrumento, em que se procurava que o som fosse "idêntico" ao original, apesar de a harmonização do órgão ser sempre um trabalho "autoral", influenciado pela forma de ouvir de cada organeiro, aclarou.
Para além dos quatro mil tubos e da caixa desenhada por Machado de Castro, o órgão tem como especificidade a sua colocação a meio "do corpo arquitetónico" da igreja do mosteiro, o que faz com que "não tenha um refletor acústico".
"É um caso único em Portugal e não haverá muitos na Europa", referiu Dinarte Machado, explanando que uma das fachadas está virada para o coro, com um cadeiral de duas filas, e a outra fachada virada para "a igreja e para o povo".
O concerto inaugural do órgão histórico realiza-se no sábado, pelas 21:00, a cargo dos organistas João Vaz, de Portugal, e Harald Vogel, da Alemanha, que "foram consultores do trabalho de restauro", disse o organeiro.
O restauro teve um financiamento de 650 mil euros, a partir do programa regional de aplicação de fundos comunitários Mais Centro.