15 novembro, 2013

Cartas brasileiras: o navio do meu avô português


O navio Sierra Morena que em 1928
 transportou Manuel Castanheira, emigrante de Figueira de Lorvão

Se botarmos atenção nos documentos que ilustraram a carta anterior (Matar a cobra e mostrar o pau), mais precisamente no Passaporte de Imigrante do meu avô Manuel Castanheira, de Figueira do LorvãoPenacova, que já disse por parte de minha mulher, vê-se que tendo partido de Lisboa em 13/11/1928, desembarcou em Santos, no dia 29/11/1928, como se observa no carimbo da imigração.

Pode-se ainda notar que no passaporte existe a identificação do navio, Sierra Morena; curiosamente, o nome hispânico nada tem a ver com a origem do navio.
 
Valendo-me do site do Governo do Estado de São Paulo, http://memorialdoimigrante.org.br/ pude verificar que o navio Sierra Morena era um navio alemão, da companhia Norddeutscher Lloyd (ND), construído 1924, em Bremer (Alemanha), com 11 430 toneladas, com capacidade para transportar 1 100 passageiros, cuja empresa foi fundada e 1857, tendo sido uma das mais importantes companhias de navegação alemã do final do século 19 e início do século 20.
Der Deutsche, resultado da remodelação do Sierra Morena
Despertada em mim a curiosidade, avancei um pouco mais pela internet, descobrindo que em 1928 o navio atracou nos portos de  Bremen (Alemanha), Boulogne (França), Vigo (Espanha), Lisboa (Portugal), Madeira (Portugal), Rio de Janeiro (Brasil), Santos (Brasil), Montevideo (Uruguai,) e Buenos Aires (Argentina).

Com a Segunda Guerra Mundial, passou-se a chamar-se  Der Deutsche, tendo sido remodelado, fazia cruzeiros organizados pelo Partido Nazista – Programa Força na Alegria. No final da guerra, foi “apropriado” pela Rússia, e de 1947/1949 passou a integrar da linha Ásia, com bandeira soviética. A partir de 1950 atuou apenas em águas do extremo oriente, entre Valdivostok e Kamchatka, até 1970, quando deixou de operar.   

Na internet há inúmeras referências sobre navio, inclusive com fotos. Não tendo como saber qual a fonte original, resta-me a citar pelo menos uma, dando assim os créditos pelas imagens.


Paulo Santos - S. Paulo

09 novembro, 2013

Motim sangrento em Travanca: alguns mortos e muitos feridos foram o resultado de cena violenta

Brás Garcia de Mascarenhas, “o aventureiro, o guerreiro e o poeta”  da Beira-Serra, deixou a marca da sua faceta aguerrida também pelos nossos lados, designadamente em Travanca do Mondego. Numa recente tese de mestrado (2010) de Albano José Ribeiro de Almeida é recordado este episódio que, por sua vez, António de Vasconcelos relatou na sua obra "Brás Garcia Mascarenhas" (1921).

Escreve Albano José Ribeiro de Almeida:
(…) Ainda neste período, fins de 1640, Brás Garcia encontra-se de novo envolvido em rixas e cenas violentas, das quais se destaca a ocorrida em Travanca de Farinha Podre.
A paróquia de Travanca era de provimento alternativo da Sé Apostólica e do bispo de Coimbra. Em 1638, o Padre Pantaleão, prior desta igreja, ausentou-se da paróquia deixando-a entregue ao cura João Fernandes.
A paróquia foi, entretanto, considerada vaga, tendo sido provido outro pároco. Perante esta situação Brás Garcia acciona um processo judicial. Como a justiça eclesiástica demorava a solucionar a situação, Brás Garcia e o seu séquito resolveu-a, arrebatando da bainha a espada, no dia em que o novo pároco se preparava para um banquete, depois do qual, pela tarde, iria assumir aquele priorado, de grande interesse em réditos; caíram sobre os convivas, espadeirando-os e confundindo-os; alguns conseguem saltar pelas janelas e fugir, outros resistem, mas debalde.
Excerto do livro de banda desenhada sobre a história de  Oliveira do Hospital
com referência a Brás Garcia de Mascarenhas
Baseado em documentação produzida no contexto deste conflito, António de Vasconcelos descreve, deste modo, este motim:

“Como um furacão entram todos pela porta dentro, e de espada em punho uns, outros de cacetes erguidos, caem sobre os convivas espadeirando-os e confundindo-os. Alguns conseguem saltar pelas janelas, por baixo da mesa, rolam corpos feridos gravemente, jazem outros sem movimento.
Alguns dos convivas haviam-se escapado do presbitério para a igreja onde supuseram encontrar asilo inviolável. Faliu-lhes o cálculo. Ali mesmo foram feridos e espancados, ficando assim poluída a casa do Senhor”. [...] “Quando toda a resistência dentro de casa tinha acabado, os agressores descem ao pátio, para dali e do adro varrerem a população e a criadagem. Mas não encontraram ninguém. O pavor tinha-se apoderado de toda essa gente”....“Foi uma cena sangrenta em que foi protagonista Brás Garcia e na qual houve mortos e feridos”

Depois deste episódio violento, bem ao sabor do século XVII, o poeta aventureiro homiziou-se, mais uma vez, mas por curto período, na região de Avô; nesta situação e neste período, chega-se ao dia 1 de Dezembro de 1640, à  esperada Revolução.

ALBANO JOSÉ RIBEIRO DE ALMEIDA, BRÁS GARCIA MASCARENHAS, AVENTUREIRO, GUERREIRO E POETA,COIMBRA. FL.UC- 2010
 
 BRÁS GARCIA DE MASCARENHAS
 
Brás Garcia Mascarenhas nasceu na Vila de Avô, Oliveira do Hospital a 3 de fevereiro de 1596 e faleceu a 8 de agosto de 1656 no mesmo local. Foi estudar para Coimbra, mas teve de fugir para Madrid perseguido pela justiça por ter cometido um crime. Viajou por vários países da Europa e fixou-se algum tempo no Brasil, regressando a Portugal na altura em que D. João IV é aclamado rei. Durante a Guerra da Restauração organizou um batalhão de voluntários, a Companhia dos Leões da Beira, participou ativamente nas lutas pela independência contra o domínio filipino e, sendo acusado de alta traição, foi preso. Absolvido pelo rei devido à falsidade das acusações, termina os seus dias escrevendo a epopeia em vinte cantos e oitava rima Viriato Trágico (1699). Além desta obra, escreveu ainda Ausências Brasílicas e Labirinto do Sentimento na morte do Sereníssimo Príncipe D. Duarte, atualmente desaparecidas.
A obra que, no campo da literatura, imortalizou Brás Garcia de Mascarenhas

28 outubro, 2013

Cartas Brasileiras / Matar a Cobra e Mostrar o Pau...

Nota do Penacova Online:
 
O nosso primeiro contacto com Paulo Santos foi através de um e-mail que recebemos do Brasil pedindo esclarecimentos sobre a Senhora da Moita, em Gondelim, e sobre o Montalto. A partir daí fomos trocando impressões sobre Penacova e região . É que a  esposa deste nosso amigo  tem raízes no nosso concelho. Por outro lado, foi com muito agrado que tomámos contacto e colaborámos na revisão de uma novela  que está quase pronta a ser publicada. Um livro que faz muitas referências a Gondelim e a outros locais da nossa região e inclui desenhos aguarelados sobre o concelho de Penacova. Este livro poderia muito bem vir a ser uma edição luso-brasileira. Quem sabe isso venha a ser possível. De tudo isto surgiu também a ideia da publicação regular das "Cartas Brasileiras".
Na crónica de hoje, Paulo Santos faz precisamente referência aos  antepassados (avós) de sua mulher, oriundos de Lorvão e Figueira de Lorvão e de Carvalhal de Mansores e Gondelim.
 

Matar a cobra e mostrar o pau

Pesquisando pela Internet não encontrei qual seria em Portugal a expressão correspondente ao ditado popular empregado no Brasil, título desta Carta Brasileira, ou se seriam idênticos, cá e ai e se com igual significado. Aqui, do lado Oeste do Oceano Atlântico, significa: comprovar o que se fez, dar provas do feito ou do dito.
 
Cartas Brasileiras é fruto da proximidade entre os daqui com os daí, mais precisamente, com as pessoas de Penacova e seus arredores, não por parte de quem vos escreve, mas pela de minha cara-metade, cujos pais são também dos arredores, mas isso deixo para outra carta.
  
E tendo matado a cobra, ao afirmar que os parentes são de Penacova, mostro os paus, comprovando, apresentando documentos; passaporte de viajante da Avó Maria e passaporte de emigrante do Avô Manoel, ambos de Figueira de Lorvão,  e registros de nascimento do avô Eduardo (Carvalhal - 1897), e da avó Maria Assumpção (Gondelim- 1898).

Abraços do Brasil.

P.T.Juvenal Santos

 

As raízes em Gondelim e Carvalhal:

Assento de Nascimento de Maria, nascida em 1898 em Gondelim,
filha de Maria Rosa da Assumpção.
 
Assento de Nascimento de Eduardo, filho de Felicidade da Silva,
nascido em Carvalhal, tendo como padrinhos
Alípio Barbosa Leite e Elisa da Conceição Leite.
Repare-se que o Prior era na altura o irmão do Deão Leite.
 

A ligação a Lorvão e a Figueira de Lorvão
 
Passaporte de Manuel Rodrigues Castanheira
, natural da freguesia de Lorvão (1928)  
Passaporte de Maria Rodrigues, natural de Figueira de Lorvão  (1933)