20 março, 2012

IX Capítulo da Confraria da Lampreia de Penacova


PROGRAMA
31 de março de 2012
9H30 - Acolhimento | Auditório da BMP/CC
10H00 - Espumante de Honra | Mirante Emígdio da Silva
11H00 - Desfile das Confrarias | Mirante Emígdio da Silva - Largo de S. João
12H00 - Sessão Solene de Boas Vindas | Auditório da BMP/CC
12H30 - Cerimónia de Entronização de Novos Confrades | Auditório da BMP/CC

13H00 - Assinatura de Protocolo de Geminação com a Confraria Sainte Terre (França)
14H00 - Almoço | Escola Secundária de Penacova
18H00 - Sarau Cultural com a participação do Grupo de Fados Raízes de Coimbra e do Coro Poliphónico da Casa do Povo de Penacova - Coral Divo Canto | Encerramento da Época da Lampreia
Organização: Confraria da Lampreia de Penacova

14 março, 2012

Requiem II

Também hoje o Diário As Beiras publicou um texto do Dr. Paulo Figueiredo cuja tónica se aproxima do artigo publicado há anos atrás e que recordámos no post anterior:

Ao contrário do que sucedeu noutros casos, a esperada notícia não mereceu honras de primeira página, tão só uma fugaz nota de rodapé : o Lorvão vai fechar, de vez.
Esvaído há 4 anos atrás aquando da deslocalização das unidades de tratamento dos doentes em crise psicopatológica, o Lorvão vegetou, ferido na sua identidade como um dos maiores hospitais psiquiátricos portugueses agora remetido a lugar de secundária ordem, sem presente nem futuro. Mas com um passado que atesta a sua dignidade.
Ao longo de cinco décadas, o Hospital Psiquiátrico do Lorvão prestou assistência às populações pobres de uma vasta área geográfica, gente simples que sabia da sua disponibilidade quando os cansaços afogavam a vontade, quando as mãos calejadas deixavam de cavar a esperança. Muitas vezes foi o refúgio, o momento necessário para respirar fundo, o desabafo terapêutico da calmaria de novos (re)equilíbrios capazes de afrontar as dificuldades. Foram muitos os trabalhadores que passaram pelo Lorvão, que ali cresceram pessoal e profissionalmente, nos bons como nos maus momentos, nas alegrias como nas tristezas. Foi o esforço de todos nós que moldou a instituição única que era o Lorvão. Às vezes com uma lágrima escondida, muitas vezes a preocupação levada para casa, inquietamente participámos da vida daqueles Homens e Mulheres, partilhámos os seus desassossegos chorados, as suas vidas magoadas.
Foi com o esforço de todos que, repito, o Lorvão era único, também na sua relação com a comunidade envolvente. Com defeitos e insuficiências, seguramente. E, absolutamente, com notáveis qualidades que a comparação com outros fez brilhar e continuará a evidenciar. Não merecia o maltrato néscio provindo da ignorância, a violenta agressão à sua dignidade, o desrespeito farisaico ao caminho trilhado.

O Lorvão acaba sem uma devida palavra oficial de homenagem. Mas na memória carinhosa de quem por lá passou, técnicos e doentes, será sempre o lugar especial do cenário da construção de quem somos. E disto muito poucas instituições se podem orgulhar.

08 março, 2012

Requiem pelo Hospital de Lorvão


Página do Penacova Online (Julho 2008)
Texto de
Paulo Henrique Figueiredo, (Ex) Responsável pelo Serviço de Psicologia Clínica do Hospital Psiquiátrico do Lorvão,
in DIÁRIO AS BEIRAS de 11 de Julho de 2008 e que o PenacovaOnline também recebeu para publicação:

Durante muitos anos subimos e descemos aquelas escadas cavadas pelos séculos. Calcorreámos-lhe os recantos, espreitámos-lhe os nichos escondidos, admirámos o criativo capricho dos azulejos. Ouvimos sussurrar os seus segredos naquela neblina feita de História que pairava nos longos corredores, nas esquinas gastas, nas abóbadas magníficas. Encantámo-nos com lendas improváveis de sorrisos de freiras e abadessas, seduzidos pelo silêncio desolado dos claustros. Experimentámos os sentidos, todos os dias de muitos anos. Inquietamente, participámos da vida daqueles Homens e Mulheres, partilhámos os seus desassossegos chorados, mágoas próprias de para quem pensar se tornou uma dor e são sempre escuras as cores do amanhã.
Ao longo de cinco décadas, o Hospital Psiquiátrico do Lorvão prestou assistência às populações pobres de uma vasta área geográfica. Ainda que com o estigma próprio das instituições psiquiátricas, as terras serranas da gente simples sabiam da sua disponibilidade quando os cansaços afogavam a vontade, quando as mãos calejadas deixavam de cavar a esperança. Muitas vezes foi o refúgio, o momento necessário para respirar fundo, o espaço terapêutico da calmaria de novos (re)equilíbrios capazes de afrontar as dificuldades.
Foi muitas vezes incompreendido. E maltratado também, com a altivez vácua de quem não lhe respeitou o caminho, não lhe valorizou o esforço, não quis olhar como igual. Na arrogância própria das conclusões por atalhos breves, dos que apenas lhe viam os defeitos , farisaicamente sem olhar para si próprios, sobranceiramente sem olhar à volta.
Descendo as escadas pela última vez no contexto em que as pisámos durante 25 anos, olhámos lentamente para trás. Ternamente, com um respeito triste e humedecido, o belíssimo Porto Sentido percorreu-nos o sorriso mordido:
“ Ver-te assim abandonado / nesse timbre pardacento / nesse teu jeito fechado / de quem mói um sentimento/ de milhafre ferido na asa. “