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sábado, março 29, 2014
sexta-feira, março 21, 2014
Récita em Sábado de Aleluia e outras histórias sobre Teatro em Penacova
Já, por diversas vezes, fizemos referência às crónicas IN ILLO TEMPORE assinadas por Zé do
Mirante. Desta feita, é um texto publicado em 1952 no Notícias de Penacova que nos fala da tradição teatral na vila, tema
que abordámos recentemente. Espaços, pessoas, vivências culturais que nos
transportam à Penacova dos finais do séc. XIX.
"Pequenino, mas um amor de elegância"
"Pequenino, mas um amor de elegância"
“O teatro era onde hoje está instalado o posto da GNR. Pequenino,
mas um amor de elegância. Além da plateia tinha um balcão, em forma de lira,
unicamente reservado às senhoras. Havia somente um cenário, de duas faces-um
pobre, outro rico; o pano de boca era pesado, mas da leveza do coração para os
penacovenses – era o panorama de Penacova, vista da Cheira, pintada pelo
artista António Eliseu; do mesmo era o cenário e toda a decoração do teatro, do
qual não era estranha a a sensibilidade e delicado gosto do Sr. Joaquim
Carvalho.
Não havia mobiliário próprio; mas em dia de récita não
faltava no palco a mais insignificante parcela decorativa ou indumentária dos
figurantes. Com orgulho se poderia afirmar que o nosso teatrinho não
envergonharia qualquer vila provinciana.
Teve três fases - uma brilhante, outra sombria e outra de
escuridão.
Nos dois primeiros períodos, passaram por ali artistas de
Lisboa em digressão pela província e companhias ambulantes, que davam duas ou
três récitas; uma houve que esteve nesta vila quase dois meses, dando dois
espectáculos por semana e sempre casa à
cunha.
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"O Morgado de Fafe" foi uma das peças representadas em Penacova por pessoas da terra. |
Nesta foto: João Guedes, Alda Rodrigues e
Ruy Furtado em “O Morgado de Fafe Amoroso”*, de Camilo Castelo Branco, com encenação de António Pedro
(TEP 1958). Fotografia de
Fernando Aroso
Ali se representou o Santo
António, a Senhora da Nazaré, Inês de Castro, Filha do Saltimbanco, Morgadinha de Vale Flor, Burro do Sr. Alcaide, Gaspar Serralheiro; dramas e comédias
então em voga e pelos amadores de Penacova o Morgado de Fafe (lembram-se de D. Raimunda, D. Maria de Melo e Sr.
Alipinho? ). Foi nesse período brilhante que se notaram vocações e habilidades
de amadores locais. Destacamos José Oliveira, pai do Dr. Aristides, candidato a
Medicina e ao Matrimónio…
Aquele amador, logo que pisava o palco, sem dizer uma única palavra,
desarticulava os espectadores, com um nunca acabar de rir! Personagem labrego
ou agalegado, tinham em José Oliveira uma graça, um cómico tal, que algumas
vezes descia o pano, findava a peça sem ele poder dizer o seu recado! Tentava-se o prosseguimento mas
o público não se continha…e era ele que representava a rir, enquanto o José
Oliveira no palco, somente com um simples gesto…era o espectador!
Foi no período da escuridão, com o teatro há anos fechado, aos
ratos, às aranhas, ao pó, que num final de patuscada de chouriços e ovos, tirados
a cantar as Janeiras pelos Reis, que o António Dias lamentava o abandono a que
estava votado o teatro-escola de educação e recreio. Logo ali se constitui uma companhia para animar a Arte e para distracção do povo, já familiarizado como o borralho, a má-língua dos soalheiros
ou a fatídica taberna.
O grupo compunha-se de António Dias, José Alves, Pinheiro,
Augusto (o Pilica), Alípio Flórido,
Duarte Mamede, J. R., Maria, Júlia, Laura e…não me recordo de quem mais. Com
excepção do primeiro, todos os outros nunca tinham pisado o palco e, da Nobre
Arte, só conheciam a dos saltimbancos, ao ar livre do Terreiro, pelo preço de 5
reis, ou pela fuga a tempo de beber um golo de água fresca da fonte…enquanto
durava o peditório. Eu já era familiarizado com o meio teatral, por um dia ser
encarregado de receber os bilhetes que davam acesso ao balcão…
Imediatamente a nova companhia
se responsabilizou com o senhorio pela s rendas em dívida e logo no domingo
seguinte ao dia de Reis – há mais de 50 anos – se tiraram as teias de aranha e
se fez limpeza geral, ficando tudo como um brinquinho, procurando cada um fazer
mais e melhor. Bons tempos!
Escolheram-se peças e figurantes e com o entusiasmo que a
mocidade é capaz, se resolveram dificuldades e se iniciaram os ensaios de forma
a dar-se a primeira récita em sábado de Aleluia.(...)"
*Quatro anos após o sucesso público d’O Morgado de Fafe em Lisboa [1861], e no contexto de assombrosa operosidade criativa, Camilo Castelo Branco publica uma nova comédia de costumes com o mesmo protagonista, O Morgado de Fafe Amoroso [1865], comédia em três actos, cuja acção decorre agora na Foz do Douro, em 1862.
domingo, março 16, 2014
As Bruxas do Reconquinho
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"Numa noite enluarada as bruxas pegaram uma barca do Reconquinho e foram de abalada até à Índia" |
A obra Portugal Lendário
– Tesouro da Tradição Popular, de José
Viale Moutinho, publicada em 2013 pelo Círculo de Leitores, inclui a lenda “As
bruxas do Reconquinho”. Em 2008, o relatório de Gestão da Câmara Municipal regista que a Unidade de Acompanhamento e Coordenação (UAC) dinamizou uma Feira à Moda Antiga com animação de rua subordinada ao tema “As bruxas do
Reconquinho vão à India”. Já Martins da Costa, no jornal Nova Esperança, havia recordado esta história. Além de grande
pintor, foi também um grande escritor. Ninguém melhor do que ele para recontar
esta lenda. Assim, das suas crónicas "Ao Correr da Pena” (Novembro de 1987), passamos
a transcrever:
AS BRUXAS DO RECONQUINHO
Conta a tradição que, numa noite enluarada as bruxas pegaram
uma barca do Reconquinho e foram de abalada até à India.
Isto passou- se no tempo em que o rio Mondego era sulcado
por grandes barcas chamadas «serranas», que iam do Parto da Raiva à Figueira da
Foz transportavam produtos, destinados ao comércio da zona ribeirinha.
A vida do rio tinha pois uma grande importância para as
populações que em grande parte dele dependiam e as lendas e narrativas a que
dava origem eram muitas.
Era ainda o tempo, das gentes de poucas letras ou nenhuma
que, pela transmissão oral, contando e recontando à lareira nas longas noites
de inverno, estabeleciam a memória dos tempos idos.
E, enquanto os dedos
se afadigavam nas rotineiras tarefas de fiar a lã ou de com ela confeccionar as
grossas meias e camisolas destinadas aos barqueiros, lá vinha o pedido de mais
uma história, geralmente contada pela pessoa mais idosa do grupo.
E foi assim que,
ouvida pela minhas bisavó e contada à minha avó e depois por esta de novo aos
filhos o pela minha mãe a mim o aos meus irmãos que, esta história de bruxas,
objecto desta crónica o ainda a outras de fadas e lobisomens chegaram ao meu
conhecimento, povoando de imagens fantásticas os sonhos da minha infância.
Era no tempo em que ainda havia bruxas e que, aqui em
Penacova, segundo reza a tradição, era coisa que não faltava. Não era bruxa
quem queria e os membros eleitos auferiam direitos sociais importantes: cair em desgraça, relativamente à bruxa, era
mal que ninguém queria já que, dum simples mau olhado ou de mistela preparada com os mais estranhos
ingredientes, com rezas e defumadoiros à mistura, grandes desgraças poderiam advir.
O Reconquinho, curva do rio bem conhecida de todos os que
aqui vivem ou vêm passar as férias de verão, era pelos vistos, um dos locais
habitualmente frequentados por essas «mulheres de virtude» como também eram designadas.
Um pouco mais adiante ainda hoje existe uma velha casa, ponto de referência
obrigatória e mencionada como a “casa da bruxa».
Os barqueiros, pelo que se infere da lenda, também ali
faziam local de amarração e pernoita e assim, numa noite de lua cheia, uma das
barcas foi desamarrada com todas as cautelas e com artes de bruxedo,
transportada até à Índia distante, onde as bruxas nessa noite tinham encontro
marcado.
A bordo da nave, e ignorado, ia o barqueiro que nessa noite
ali dormia num dos arrumos da proa e que, só muito longe e já no mar alto, deu pela
insólita viagem em que também era participante.
Cheio de medo, como é de calcular, para ali se deixou ficar
encolhido, assistindo multo admirado a tudo o que se passou e que viria a
contar no outro dia de manha quando as bruxas, com as mesmas cautelas da noite
anterior deixaram a barca amarrada no Reconquinho.
O difícil foi fazer-se acreditar pois, coisa assim nunca se
vira. Mas, para comprovar o que afirmava, lá estava, na sua barca um bonito
ramo florido que, às escondidas,
apanhara , na praia onde as bruxas tinham feito os seus bailados e que,
tão bonito e tão diferente, nunca fora visto nestas terras.
0 nome das bruxas, esse nunca o mencionou pois, ao que
consta foi ameaçado de morte. Mas, à boca fechada,
passaram a ser apontadas certas mulheres que, pela forma isolada como viviam e
sobretudo pelo fogo do seu olhar, bem podiam ser algumas dessas tais, das que
por artes de magia eram capazes de numa
barca serrana fazer, numa só noite, uma
viagem de ida e volta à Índia.
E ainda outras coisas mais em que, só o pensar nelas, até
nos causam arrepios.
É que, como o outro, «eu cá não acredito em bruxas, mas que
existem, lá isso é verdade!...
Martins da Costa
sexta-feira, março 07, 2014
Cartas Brasileiras: notas para a história da emigração penacovense para o Brasil
Capitão Arthur Cocks
Durante algum tempo persistiu a dúvida: de qual navio Maria
Castanheira, da região de Penacova, e seus dois filhos (Lucília, minha sogra, e
Orácio) desembarcaram em Santos no dia 6 de março de 1934. Apenas para
recordar, escrevi na “carta” anterior, que no Passaporte de Desembarque
constavam os carimbos de dois navios “Highland
Brigade” e “Ruy Barbosa”.
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Navio "Ruy Barbosa" |
Ainda que nem todos os desembarques com suas listas tenham sido
digitalizados ou disponibilizados para pesquisa, os arquivos digitais do Museu
da Imigração http://museudaimigracao.org.br/acervodigital
são importante fonte de informação e bases para pesquisa. Tendo isso em mente,
encontrei que o último desembarque do Cap. Arthur no porto de Santos se deu no
dia 11/08/1940.
Acredito que a última viagem deve ter sido mesmo por volta dos anos
40, porque o Capitão aposentou-se em 1943, como comodoro, graduação na marinha de guerra
inglesa, acima de capitão-de-mar-e-guerra e abaixo de contra-almirante. Certamente, o Capt. Arthur Cocks elegantemente
vestido, charmosamente fumando seu cachimbo, surgia na noite do Jantar com o
Capitão, ostentando as honrosas condecorações na lapela:
Este segundo conjunto corresponde a várias condecorações recebidas por ter participado da Segunda Guerra.
A Gazeta de Londres, do dia 8 março de 1918 destaca
a recomendação para honras
recebidas em 31/12/1917, assinado pelo comandante do 7 º Destroier:
"Um funcionário zeloso e capaz, que tem estado desde o início da
guerra, comandando, sucessivamente: " Earnest "," P-52 "e" Rother. " Atua com o
seu navio com cuidado e habilidade; foi mencionado nos despachos em outubro de 1916, e é
novamente recomendado pelo bom trabalho, e recomendado
para o posto de
Comandante”.
O Capitão
Arthur, que trouxe muitos portugueses para o Brasil, nasceu no dia 21/11/1879, em Colyton, Beer,
Devon e faleceu em 16/11/1949, em Exmouth, Devon.
P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br
Obs: as informações sobre o Capitão Arthur Cock foram obtidas no site http://www.unithistories.com/officers/rnr_officersc.html da Reserva Naval Real.
domingo, março 02, 2014
Memórias de Teatro em Penacova no tempo em que na vila não havia um único piano…
A propósito da recente apresentação em Penacova da revista à portuguesa “Isto Só Visto!”, que fez esgotar duas sessões programadas, recordemos um episódio da história do teatro na vila.
Desde as quase esquecidas memórias das ruínas de um velho teatro que terá existido no actual “ténis”, passando pela organização de grupos cénicos mais ou menos duradouros, há registos de iniciativas e de pessoas que foram animando a vila e deixando a sua marca cultural. Por exemplo, a figura do “Prior Queiroz”, fundador da Filarmónica, que antes de seguir a carreira eclesiástica fora militar (daí, muito provavelmente, a sua vocação não só para o teatro mas também para a música, dado que as bandas militares estarão na origem das filarmónicas).
Surgem-nos também ecos de uma récita que se terá realizado em meados do século XIX, onde a Comédia “A Porta Falsa” foi o ponto alto do programa (segundo cremos, tratou-se da peça em três actos, do espanhol Ildefonso António Bermejo [1820-1892]). O espectáculo foi apresentado por alguns dos estudantes do concelho nesse tempo a estudar em Coimbra, por exemplo, o Nicolau Leitão, irmão do Conselheiro Alípio Leitão, então estudante de preparatórios, o Padre João Guedes, o Padre Casimiro e o prior Queiroz, estes três, então, estudantes do Seminário. Teria também participado “um tal António Joaquim de Paredes, que para Coimbra acompanhara, como era de uso então entre as famílias ricas, o conselheiro Alípio Leitão e os irmãos.”
Tal terá acontecido nas férias da Páscoa de 1859 ou mesmo no domingo de Páscoa, pois “os rapazes haviam-se ensaiado no período escolar que decorre entre as férias de Entrudo e da Páscoa e os ensaios realizavam-se no Colégio de São Bento [em Coimbra] onde hoje [em 1917] é o liceu, e que era nesse tempo um acreditadíssimo colégio de preparatórios com um corpo docente composto dos mais distintos professores e de que era diretor o Dr. Manuel Xavier Pinto Homem”- conta tudo isto um interveniente, no Jornal de Penacova.
“A récita realizou-se na casa das senhoras de Lisboa como eram aqui conhecidas a mãe e a avó do Sr. José de Oliveira, casa que é hoje deste, em duas salas com comunicação, numa o palco e na outra a plateia.” Assistiu a ela “tudo quanto havia de mais distinto na sociedade de Penacova desse tempo.”
A iluminação da sala era feita “à luz de velas que ardiam em profusão em candelabros ricos.”
“-Não se admire, era isto no tempo em que Penacova não havia um único piano.”- conta um dos protagonistas do espectáculo.
“- Não me admiro nada – diz um interlocutor - progredimos sem dúvida. Quanto a iluminação, é certo que a guerra nos fez voltar ao petróleo, mas quanto a pianos, vila abaixo, é um céu aberto do dueto As Cartolinhas e As Adelaides”.
Os bilhetes “foram feitos todos à pena pelo Padre João Guedes, que tinha “uma notável vocação para o desenho e desenhava principalmente caracteres de imprensa”
Os actores saíram-se muito bem. “O ensaiador foi o prior Queiroz que antes de estudar teologia fora sargento e na vida militar contraíra o gosto pelo teatro. “
A récita foi um sucesso. O entusiasmo levou a que logo se projectasse outra para as férias grandes. Desta vez, não entrariam só os estudantes: além dos intérpretes da primeira recita actuariam também “os Carvalhos”, da Carvoeira. Chegaram a realizar-se alguns ensaios mas a família que havia cedido as instalações ficou de luto e o espectáculo ficou pelo caminho.
Desde as quase esquecidas memórias das ruínas de um velho teatro que terá existido no actual “ténis”, passando pela organização de grupos cénicos mais ou menos duradouros, há registos de iniciativas e de pessoas que foram animando a vila e deixando a sua marca cultural. Por exemplo, a figura do “Prior Queiroz”, fundador da Filarmónica, que antes de seguir a carreira eclesiástica fora militar (daí, muito provavelmente, a sua vocação não só para o teatro mas também para a música, dado que as bandas militares estarão na origem das filarmónicas).
Surgem-nos também ecos de uma récita que se terá realizado em meados do século XIX, onde a Comédia “A Porta Falsa” foi o ponto alto do programa (segundo cremos, tratou-se da peça em três actos, do espanhol Ildefonso António Bermejo [1820-1892]). O espectáculo foi apresentado por alguns dos estudantes do concelho nesse tempo a estudar em Coimbra, por exemplo, o Nicolau Leitão, irmão do Conselheiro Alípio Leitão, então estudante de preparatórios, o Padre João Guedes, o Padre Casimiro e o prior Queiroz, estes três, então, estudantes do Seminário. Teria também participado “um tal António Joaquim de Paredes, que para Coimbra acompanhara, como era de uso então entre as famílias ricas, o conselheiro Alípio Leitão e os irmãos.”
Tal terá acontecido nas férias da Páscoa de 1859 ou mesmo no domingo de Páscoa, pois “os rapazes haviam-se ensaiado no período escolar que decorre entre as férias de Entrudo e da Páscoa e os ensaios realizavam-se no Colégio de São Bento [em Coimbra] onde hoje [em 1917] é o liceu, e que era nesse tempo um acreditadíssimo colégio de preparatórios com um corpo docente composto dos mais distintos professores e de que era diretor o Dr. Manuel Xavier Pinto Homem”- conta tudo isto um interveniente, no Jornal de Penacova.
“A récita realizou-se na casa das senhoras de Lisboa como eram aqui conhecidas a mãe e a avó do Sr. José de Oliveira, casa que é hoje deste, em duas salas com comunicação, numa o palco e na outra a plateia.” Assistiu a ela “tudo quanto havia de mais distinto na sociedade de Penacova desse tempo.”
A iluminação da sala era feita “à luz de velas que ardiam em profusão em candelabros ricos.”
“-Não se admire, era isto no tempo em que Penacova não havia um único piano.”- conta um dos protagonistas do espectáculo.
“- Não me admiro nada – diz um interlocutor - progredimos sem dúvida. Quanto a iluminação, é certo que a guerra nos fez voltar ao petróleo, mas quanto a pianos, vila abaixo, é um céu aberto do dueto As Cartolinhas e As Adelaides”.
Os bilhetes “foram feitos todos à pena pelo Padre João Guedes, que tinha “uma notável vocação para o desenho e desenhava principalmente caracteres de imprensa”
Os actores saíram-se muito bem. “O ensaiador foi o prior Queiroz que antes de estudar teologia fora sargento e na vida militar contraíra o gosto pelo teatro. “
A récita foi um sucesso. O entusiasmo levou a que logo se projectasse outra para as férias grandes. Desta vez, não entrariam só os estudantes: além dos intérpretes da primeira recita actuariam também “os Carvalhos”, da Carvoeira. Chegaram a realizar-se alguns ensaios mas a família que havia cedido as instalações ficou de luto e o espectáculo ficou pelo caminho.
quinta-feira, fevereiro 27, 2014
Bombeiros Voluntários de Penacova assinalaram 84 anos de existência
Foi com o auditório cheio que foi inaugurada a
exposição “Bombeiros, escola e Sociedade", uma iniciativa que marca os 84 anos
de história da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Penacova e
concretizada em parceria com o Agrupamento de Escolas de Penacova.
Na sessão de abertura, para além da Tesoureira e da
Secretária da direção dos Bombeiros, marcaram presença o Vice-presidente do
Município que agradeceu o convite e endereçou os parabéns à Associação, a
Diretora do Agrupamento que salientou a importância desta parceria e o
Comandante do Corpo de Bombeiros que se dirigiu de uma forma particular aos
jovens presentes, incentivando-os a adquirirem práticas de vida saudáveis que
conduzam a ações preventivas. A exposição vai estar patente ao público até ao próximo dia
28.
sábado, fevereiro 22, 2014
Penacova, o Mondego e a Lampreia - uma obra que todos os penacovenses deveriam conhecer
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Veja AQUI a referência ao lançamento do livro Penacova, o Mondego e a Lampreia. |
Penacova, o
Mondego e a Lampreia” é uma obra da autoria dos biólogos Fernando Correia e de Carlos Fonseca. Depois de
um livro dedicado aos javalis, os autores publicaram em 2010, desta vez dedicada à lampreia, uma nova obra, com o apoio da Câmara Municipal de
Penacova. Ao longo das
suas cerca de 300 páginas, magnificamente ilustradas, somos presenteados com uma caracterização do concelho
de Penacova, abordando o património natural do Mondego, a evolução da lampreia em
Portugal, os factores de ameaça e conservação e muitos mais aspectos cientificamente tratados. Algumas receitas
gastronómicas feitas à base desta apreciada iguaria são também apresentadas.
Da leitura
do capítulo dedicado à lampreia ficamos
a saber que se trata de “um animal que pertence ao grupo dos peixes (em termos de evolução) mais
primitivos que chegaram até aos tempos de hoje – os Agnatas, ou peixes sem
mandíbulas.” tendo-se desenvolvido e tido "o seu pico de diversidade durante a Era Paleozóica, provavelmente durante o Câmbrico, há aproximadamente 510 a 505 milhões de anos.”
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Uma das páginas do livro |
Os sobreviventes
actuais deste grupo (lampreias e mixinas) são hoje reunidos informalmente sob a
designação de ciclóstomos (sem valor taxonómico) ou seja, animais de boca
circular.
Uma outra
nota a registar: em Portugal ocorrem dois géneros diferentes, Petromyzon e Lampetra, reunindo três
espécies diferentes: a lampreia marinha, a lampreia-de-rio e a
lampreia-de-riacho. Como
sabemos, a lampreia-marinha constitui um recurso natural associado a uma
tradição gastronómica. è o caso do concelho de Penacova, “um dos que mais fama grangeia,
estabelecida que foi esta prática comensal e de restauração, principalmente
desde os finais do século XIX. “
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Infografia sobre o Ciclo de Vida da Lampreia-Marinha |
É que “este animal é o maior ciclóstomo europeu, podendo atingir um peso superior aos 2 Kg e medir mais de um metro(a maior lampreia-marinha já capturada pesava 2,3 kg exibia um comprimento de 1,2m). Em Portugal as lampreias que regressam aos rios têm geralmente um peso e um comprimento médio de 1,3 kg e 88 cm."
Penacova, o Mondego e a Lampreia, é uma obra de leitura indispensável para o conhecimento de Penacova, em especial da sua fauna e flora, onde se destaca a “divina lampreia”.
A lampreia com cinco metros e outras histórias
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CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR |
Mas de outra história queríamos falar: do livro "Penacova, o Mondego e a Lampreia". Da autoria do nosso conterrâneo, Carlos Fonseca e de Fernando Correia. Uma das melhores obras que a Câmara Municipal patrocinou nos últimos anos. Pelo seu conteúdo e também pela ilustração. Um álbum que fala não só da lampreia, mas também de outras espécies animais e vegetais do nosso concelho. Que fala ainda da geomorfologia, onde tem especial destaque o vale cavado pelo rio que nos banha . Livro que traça também o percurso histórico e cultural do concelho, freguesia por freguesia.
E, no momento em que Penacova está a viver o seu Festival da Lampreia, é do capítulo que trata desta espécie, duma forma cientifica, rigorosa, que gostaríamos de tratar com mais desenvolvimento. Tarefa que ainda hoje concretizaremos. Até mais logo.
quarta-feira, fevereiro 19, 2014
segunda-feira, fevereiro 17, 2014
Cartas Brasileiras: meteram a mão na taça
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Taça Jules Rimet (1958) |
A Copa do Mundo de 2014 está prestes a começar. Aqui está a maior correria, é preciso que tudo esteja pronto até lá. Temos visto manifestações nas ruas contra a realização da Copa, gente gritando atrasada, enquanto muita gente grande diz: “o Brasil” quis a Copa, então temos que dar conta do recado. Só faltava não dar.
Não foi bem o “Brasil”, ou a população que quis a Copa, foi decisão autônoma
do Governo, com apoio das construtoras e da mídia, os grandes interessados. Até
poderia ser verdadeiro que muitos a quisessem. Porém, com o sistema de saúde em
condições precárias, sistema de transportes em verdadeira pindaíba, a segurança
vivendo um enorme caos, o mundo enfrentando séria crise econômica, tudo levava
a crer que não era o momento. Pior é que teremos mais gastos com Rio - Olimpíadas
2016! Com o mundo na maior crise! Era evidente que o Brasil tinha outras
prioridades, e nelas não estava construir estádios. Aqui sabemos, depois da
Copa muitos estádios irão se transformar em “elefantes brancos.” Mas, deixando
de lado todos esses problemas, enveredo-me para um assunto mais ameno, contando
um pouco de história.
Em 1958 conquistamos, na Suécia, pela primeira vez a Taça Jules
Rimet. Depois, veio o “bi” em 1962 no Chile e o “tri” em 1970 no México. A terceira
conquista nos garantiu a posse definitiva do troféu. A peça, obra do artesão francês Abel Lafleur, representava a Vitória com
asas em forma estilizada, com os braços levantados segurando um vaso de formato
octogonal. Sobre as faces da base em mármore preto havia pequenas placas
em ouro, onde estavam gravados os nomes dos países campeões: Uruguai (1930 e
1950), Itália (1934 e 1938), Alemanha (1954), Inglaterra (1966) e Brasil (1958,
1972, 1970). Medindo cerca de 30 centímetros , todo o conjunto pesava 4
quilos, sendo 3,8
quilogramas em ouro.
O troféu correu o país, foi exposto em praça pública,
o povo fazia fila para ver a taça. Em São Paulo ela era exposta na Praça Roosevelt (ao
lado da Igreja da Consolação), e ao final da tarde era levada, em um carro
forte, para ser guardada na casa-forte da Matriz do Banespa; banco no qual eu trabalhava.
Então, quando a taça chegava para
ser recolhida, não havia como resistir à tentação, todos queriam tocar nela e
repetir os gestos de Hideraldo Luiz Bellini, Mauro Ramos de Oliveira e Carlos
Alberto Torrões, os nossos capitães. Tirar fotos nem pensar. O
tesoureiro não deixou. Ah! Se existisse celular naquela época tudo teria sido
registrado e postado nas redes sociais.
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Pelé e a Taça Jules Rimet conquistada na Suécia em 1958. |
Depois dos nossos gestos à la
capitão do esquete nacional, não foram tantos mais que puderam repetir aquele
gesto. Na noite de 19 de dezembro de 1983, uma segunda-feira, enquanto uma réplica estava
guardada no cofre da CBF, o troféu original que estava exposto no 9° andar
daquela sede foi roubado por Peralta, Luiz Bigode e Chico Barbudo, que após o
roubo repassaram o produto para um argentino comerciante de ouro, Juan Carlos
Hernandez, que cortou a taça em três pedaços para poder derretê-la, formar
barras de ouro e vender.
E assim,
o troféu disputado por tantas nações, em partidas com gosto de suor, lágrima e
sangue, teve um triste fim, justamente porque caiu nas mãos de quem não poderia
“meter a mão na taça.”
P.T.Juvenal Santos
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