É no século XIX que se dá o grande impulso do jornalismo em Portugal. A liberdade de imprensa é consagrada na Constituição de 1822. Antes da queda da Monarquia nascem os grandes clássicos do jornalismo escrito português como o Diário de Notícias (1864), O Primeiro de Janeiro (1869), O Comércio do Porto (1854) e O Século (1881). Também a nível local e regional muitos periódicos começam a ser publicados. Em Penacova, foi em 1901 que o concelho viu surgir o primeiro jornal. Considerando os 110 anos decorridos, são oito os títulos que ficam para a história: o Jornal de Penacova, A Folha de Penacova, Ecos de S. Pedro de Alva, O Progresso Lorvanense, A Voz de S. Pedro de Alva e o Notícias de Penacova, Nova Esperança e Jornal de Penacova (1997).
JORNAL DE PENACOVA
O primeiro periódico a ser publicado em Penacova foi, como já referimos o Jornal de Penacova. Surgiu a 1 de Setembro de 1901.
À sua fundação estão associados nomes como Joaquim Correia de Almeida Leitão, Júlio Ernesto de Lima Duque e Alberto Carrapatoso. No primeiro editorial escreve-se que Penacova não podia ''permanecer sequestrada dos embates do pensamento'' e afastada do ''progresso social que movimenta o vestíbulo do século XX, inundando de luz intensa a aurora secular que desponta''.
Ao longo da sua existência (1901-1937) o Jornal de Penacova assumiu diversas tendências políticas. Inicialmente afecto ao Partido Progressista, ganhará a partir de 1908 uma inequívoca feição republicana. Em Dezembro de 1907, Amândio dos Santos Cabral, chegado de S. Paulo,''compra'' o jornal, e define um ''Novo Rumo" declarando "guerra aberta com a monarquia e o ultramontanismo."
Em Janeiro de 1914, ainda com Amândio Cabral, como director e redactor principal, apresenta-se como ''Semanário Republicano Evolucionista'', numa identificação clara com a orientação política de António José de Almeida. Em 1917, Amândio Cabral regressa ao Brasil e convida Alberto de Castro, do Partido Democrático, a assumir a direcção do mesmo.
Não se publicou de Setembro de 1919 a Maio de 1920. A 26 de Julho de 1920 Alberto Lopes de Castro Pita deixa o jornal. Assume a direcção Rodolfo Silva, filho de Rodolfo Pedro da Silva. Amândio Cabral cede a propriedade à empresa "Alves e Coimbra & Cª Lda".
Em 1922 suspende a sua publicação por um período de quatro anos, só voltando a aparecer em 1926. Regressará com João Barreto como director. Este abandonará em 30 de Abril de 1927. Mário Quaresma, jovem professor a exercer em Chelo assumirá a direcção. Em 1928 este cessa as suas funções, dando lugar a Eduardo Silva, também filho de Rodolfo Pedro da Silva. Por sua vez, em Maio de 1929, surge como redactor António Casimiro Guedes Pessoa que ocupará o cargo até 9 de Agosto de 1930 fazendo equipa com o editor José Alves de Oliveira Coimbra e com o administrador Alípio Carvalho.
De 9 de Agosto de 1930 a 1 de Agosto de 1931 verifica-se nova suspensão. Regressa com Eduardo Silva que será o redactor até 30 de Julho de 1932, data em que passa a editor, assumindo a direcção o seu pai, o médico municipal aposentado, Rodolfo Pedro da Silva. Terá como administrador o advogado Mário de Andrade Assis e Santos.
Em Janeiro de 1933 Horácio Cunha assume a responsabilidade do jornal. Em 1934, Alípio Correia Leitão deixa a administração que passa para Simões da Cunha e, em 1935, Eduardo Silva aparece de novo como redactor principal, cargo que manterá até ao último número (o 1456) saído em 1 de Janeiro de 1937.
A FOLHA DE PENACOVA
No dia 19 de Janeiro de 1902 vem a lume
A Folha de Penacova. Apresenta como editor César de Morais Queiroz e como proprietário José Maria de Oliveira.
Tal como refere o primeiro editorial "Penacova que ainda há uns meses estava bem longe de ter imprensa sua, passa agora a ter dois periódicos."
A Folha de Penacova surge em nítido confronto com o Jornal de Penacova, que "alcunhava" de Canudo. Afirma-se no referido editorial: ''Militamos na política que foi a de nossos pais, naquela mesmíssima política que já foi a de todo este concelho, e à qual se deve tudo que por aí há de melhor. Se certos farroncas tiveram o desplante de a renegar, não podemos nós outros abjurá-la.''
O jornal afirma-se, assim, como afecto ao Partido Regenerador, "honrando a memória de Fernando de Melo". Durante a sua curta duração (terminará com o 12.º número a 10 de Abril de 1902) iremos assistir a um cerrado ataque a Júlio Ernesto de Lima Duque, militar-médico, genro do Conselheiro Alípio Leitão e membro influente do Partido Progressista.
A Folha de Penacova vem a terreiro defender o Administrador do Concelho, Alfredo de Pratt, do Partido Regenerador, que estava a ser atacado por Lima Duque no sentido de ser afastado do cargo
ECOS DE S. PEDRO D'ALVA
No dia 1 de Maio de 1915 surge o Ecos de S. Pedro de Alva, periódico que manterá durante três anos uma publicação regular. Este quinzenário apresenta-se como ''Defensor dos Interesses da Casconha'' e assume-se como "consumação duma velha aspiração" de todos os ''republicanos convictos'' que pugnavam por aquela região com um espírito profundamente regionalista.
Sob a direcção de Manuel Gentil da Natividade, professor, tinha como administrador António Nunes de Oliveira Serra.
No conjunto das suas edições destaca-se o jornal de 1 de Abril de 1916 onde a toda a largura da primeira página se anuncia a formação do Governo da "União Sagrada" com fotografias de António José de Almeida, Afonso Costa e Bernardino Machado.
Interessante é também a notícia com título destacado "A Casconha tem Amigos queridos! O Chafariz de S. Pedro de Alva é um facto!" (1 de Fevereiro de 1917) anunciando o arranque dos estudos e prospecções tendo em vista a construção daquela tão ansiada obra, por influência do "querido amigo, o ilustre Senador, Sr. Lima Duque".
Por inviabilidade financeira, o jornal acaba ao fim de 3 anos. A 1 de Setembro de 1918 sai o último número
PROGRESSO LORVANENSE
A 23 de Janeiro de 1921 vem a lume o
Progresso Lorvanense, semanário ''Independente, defensor dos Interesses da Região''.
Joaquim Jerónimo Rosa da Silva é o editor e director, enquanto Manuel Ferreira Pedrosa assume a administração. O jornal é propriedade do ''Lorvanense Club''.
No editorial afirma a sua isenção política dizendo que ''não tem política partidária'' mas sim uma ''política de fomento''.
De 23 de Outubro de 1921 a 2 de Abril de 1922 suspende a publicação. Em 11 de Junho de 1922 regressa com o n.º 41, sendo agora propriedade da Empresa Industrial de Lorvão.
O período em que é publicado corresponde a uma fase conturbada da vida local: a exoneração do Padre Carlos Fernandes Seabra, mal aceite pela maioria da população, facto a que o jornal dá acolhimento em defesa do presbítero. O caso foi mesmo apelidado de Cisma de Lorvão, dado que só "as povoações da Serra haviam ficado fiéis à Igreja."
Ao longo do curto período de existência dominam os conflitos quer com padres do concelho, quer com o Bispo de Coimbra. Terminará a publicação com o n.º 68, em 15 de Outubro de 1922. Lorvão só voltará a ter alguma voz na imprensa local quando, em Dezembro de 1952, José Manuel Rodrigues (Pároco) e Edmar Guimarães de Oliveira, lançarão a Página da Freguesia de Lorvão, de periodicidade quinzenal, integrada no Notícias de Penacova.
A VOZ DE S. PEDRO DE ALVA
Decorridos dez anos sobre a extinção do Ecos de S. Pedro de Alva, o Alto Concelho vê surgir um novo periódico, agora com o título A Voz de S. Pedro de Alva.
Assumindo-se como ''Quinzenário Republicano Independente e Regionalista'', o primeiro número vem a lume no dia 16 de Abril de 1928, sob a direcção de Francisco Cordeiro dos Santos, tendo como editor e administrador Eduardo Pedro da Silva.
No primeiro editorial, ''Ao que vimos…'', é claramente expressa a missão a que o periódico se propõe: ''Faremos tudo quanto em nós caiba para trazermos à Casconha os melhoramentos a que tem juz, já que tão esquecida tem sido por aqueles que de nós só se lembram em ocasiões de eleições.''
Enquanto foi publicado, além da defesa dos interesses da Casconha, manteve acesa a chama republicana. Este jornal desempenhou um papel importante de defesa dos ideais da I República num período em que o Golpe Militar de 28 de Maio já se tinha verificado.
É n' A Voz de S. Pedro de Alva que podemos encontrar a notícia desenvolvida sobre a morte, em 1929, de António José de Almeida.
Publicar-se-á até 12 de Abril de 1934, dia em completará o sexto ano de vida. À data, Eduardo Pedro da Silva, farmacêutico, cunhado de António José de Almeida, acumulava as funções de director, editor e proprietário
NOTÍCIAS DE PENACOVA
O
Notícias de Penacova, que teve uma existência de quase 50 anos, nasce a 26 de Março de 1932 assumindo-se como ''Semanário Regionalista''.
Enquanto primeiro director e proprietário surge o nome de José de Gouveia Leitão (filho do Conselheiro Artur Leitão) e terá como editor João Barreto (que estivera ligado ao Jornal de Penacova).
O redactor principal é Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, natural de Lorvão e escrivão do Julgado Municipal de Penacova de 1931 a 1937. O administrador era o professor e delegado da Junta Escolar, José Joaquim Nunes.
Apresenta-se como ''integrado na corrente que de norte a sul se desenha''. Passado um ano de publicação, o jornal assume-se como afecto do "nacionalismo triunfante".
Até 1937 coexistirá com o Jornal de Penacova num clima de alguma tensão. Nas últimas décadas de existência será marcado pelas figuras do Professor e Delegado Escolar Joaquim de Oliveira Marques, do Padre Manuel Marques (Manuel do Freixo) e do Arcipreste, e mais tarde Cónego, Manuel Vieira dos Santos (que era o seu proprietário).
Com a morte deste em 1966, a gestão passa para a Igreja de Penacova. Após o 25 de Abril de 1974 Joaquim de Oliveira Marques é "saneado" e passarão a ser os sucessivos párocos de Penacova os seus directores. Por motivos financeiros, terminará em 8 de Dezembro de 1978.
NOVA ESPERANÇA
Refira-se que no ano de 1979, Penacova não terá nenhum jornal, mas em Janeiro de 1980 surgirá o Nova Esperança, sob a égide do Prof. Egídio Fialho Santos e do P.e António Oliveira Veiga e Costa, pertença da Fábrica da Igreja de Oliveira do Mondego. Terminou a sua publicação em 31 de Dezembro de 2011.
JORNAL DE PENACOVA (II)
O título
Jornal de Penacova é recuperado quando, em 1997, surge no concelho um novo jornal, de periodicidade mensal, fundado e dirigido por Álvaro Coimbra e tendo como redactor Alípio Padilha.
Propriedade da Penapress, publicou-se durante cerca de 10 anos, marcando positivamente o panorama jornalístico concelhio.
Deixamos aqui, muito resumidamente, o percurso da imprensa periódica penacovense. Percorrendo os milhares de páginas dos diversos jornais, muitas delas amarelecidas pelo tempo, podemos encontrar valiosos elementos para o conhecimento da história local e para a compreensão do que Penacova foi no século passado e pretende ser neste século XXI
Texto baseado em
David Almeida, Penacova e a República na Imprensa Local, Edição da Câmara Municipal de Penacova. 2011
Publicado no jornal NOVA ESPERANÇA, edição de Dezembro de 2011