17 janeiro, 2018

Cartas brasileiras: a milagrosa imagem de Nossa Senhora da Moita (Gondelim)



Sabia eu do que contam, história ou lenda, mas, até então, não havia encontrado registro. Por sorte, ou o que mais possa ser, encontrei relatos em um livro publicado em 1712. 

Os princípios e origem desta Santa Imagem são mais por tradições do que por escrituras, são dos “ tempos imemoriais”, não se sabe o tempo do aparecimento. 

Contam, em um vale distante de Gondelim, a um “tiro de mosquete”, perto de uma ribeira que desagua no Mondego, havia uma mata de carvalhos muito fechada, com tojos, urzes, silvas, e outros matos semelhantes. Metida no tronco de um carvalho, encontrou-se a Imagem da Senhora, um sino, e uma campainha. Não se sabe quem foi o venturoso ou os venturosos que encontraram o tesouro, consta apenas que trouxeram a notícia, ou a ouviram de moradores de Gondelim para que fosse buscá-la.

Imagem que se venera em
 Gondelim-Penacova
Por não ter onde guardá-la, a colocaram na casa de algum venturoso Obede-Edom. Porém, dizem, a Senhora deveria gostar mesmo muito do lugar onde estava anteriormente, pois fugiu repetidas vezes para a mesma árvore, ou mata de carvalhos, para aquela tosca concha em que se manifestou. 

Os devotos de Gondelim não querendo mais contrariá-la, resolveram a edificar uma ermida junto ao lugar do seu aparecimento, e a colocaram no altar mor, no meio de um retábulo de madeira dourada, com “asseio assistida, conforme os cabedais, e possibilidades daqueles moradores, com ornamentos, e ornatos necessários para assim se dizer missa”. 

Tem mordomos anuais, que se elegem, e estes são os que festejam a Senhora, o que fazem na primeira Quarta-Feira depois da Páscoa, dia da sua manifestação. Neste dia é muito grande o concurso das romagens e nele concorrem várias procissões, é o dia dos perdões, assim chamam. 

A sagrada Imagem é uma escultura formada em pedra, a altura é pouco mais de dois palmos, tem sobre o braço esquerdo o Menino Deus, com as roupas formadas na mesma pedra; ambas as Imagens pela sua rara perfeição, dizem, só pode ser obra dos Anjos, por não haver entre os homens artífices capazes. 

A Imagem encontra-se sobre uma peanha de madeira dourada, e com umas roupas de seda, e desde que se manifestou nunca foi pintada, está em uma encarnação tão bela, e tão rica, que parece encarnada de poucos dias. 

Tem os enfermos grande fé e devoção na Santíssima Imagem, são inumeráveis os milagres, existindo na ermida muitas memórias oferecidas para perpetuar a lembrança das mercês, sem que os moradores tenham tido o cuidado de fazer os registros. 

Estes, os moradores e devotos, somente se contentam por tê-la por sua singular protetora, sendo a Senhora da Moita, e ela em si, com sua beleza e formosura é um contínuo milagre. 

Santuário Mariano e História das Imagens Milagrosas de Nossa Senhora... (Lisboa,1712)
Tomo IV Livro II Título XCII pg. 645 a 647



30 dezembro, 2017

Votos de Bom Ano 2018


Apesar de, nos últimos tempos, o Penacova Online ter registado menor actividade, contamos, a partir de Janeiro, recuperar o ritmo habitual, naquele que será o Ano Europeu do Património Cultural.

Para todos os leitores deste blogue os nossos melhores votos de um Bom 2018!
David Almeida

15 dezembro, 2017

Cartas brasileiras: Uma Coisa Leva a Outra


Estando um dia a pesquisar sobre Gondelim encontrei “Portugal Antigo e Moderno”,  livro publicado em 1886, tendo como autor Augusto Soares de Azevedo Barbosa Pinho Leal.

Curioso, deixando de lado o que me levara até ele, passei a folheá-lo ao acaso, quando me deparei com a Rebelião no Convento de Santa Clara, tema da minha última Carta Brasileira.

Fazendo as folhas correrem encontrei o grande incêndio de Lisboa, as penúrias vividas pela corte, o atentado contra o Rei D. José I, em 1758, e por consequência a desgraça dos Távoras; uma família de nobres executada em praça pública, no mesmo dia, por terem, supostamente, participado do atentado. A Marquesa de Távora, D. Leonor, que foi decapitada, teria dado um pito em seu algoz, reclamou, quando ele tentou afastar o colar que ela trazia no pescoço.

Para saber um pouco mais sobre o rei, um link me levou ao Museu da Torre do Tombo, e após a leitura do que me interessava, vi em uma das abas do site uma chamada sobre a Inquisição em Portugal. Na sequência encontrei o processo contra Hyppólito José da Costa; pela minha ignorância, até então, um ilustre desconhecido.

Logo fiquei sabendo, o brasileiro tinha ido para o cárcere por ser “pedreiro livre”, como se intitulam os maçons. A curiosidade ficou mais aguçada porque um grande amigo pertence a essa confraria. Fui então saber que o “réu” vem a ser o patrono da imprensa brasileira.

Para mostrar por completo o achado ao amigo, me meti a transcrever os 156 arquivos digitalizados do processo, e nisso estou até agora metido.

O português utilizado em 1811, ano em que acontece o julgamento, bem como as caligrafias dos escrivães são dificuldades que enfrenta quem se mete a buscar encrenca, na base de uma coisa leva a outra. E, muitas vezes, nem quebrando a cabeça consegui decifrar o que escreveram.

P.T.Juvenal Santos

Notas:
1)    O arquivo do processo contra Hyppólito José da Costa pode ser visto através do link: http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=4522454
2)      Por exigência da fonte, o desenho da execução, de autor desconhecido, foi obtido em