19 outubro, 2017

Poetas penacovenses (IV): ... e a nossa beleza ardeu


O Penacova Online tem na sua linha editorial a divulgação do património natural e belezas paisagísticas do nosso concelho. Nesta hora de luto, concelhio e nacional, em que jamais esqueceremos o que vimos naquela manhã de segunda-feira passada, autêntico  "day after" apocalíptico, ao percorrer o alto concelho, tragicamente atingido, dizíamos, nesta hora difícil, associamo-nos ao sentimento de Luís Pais Amante, aqui expresso neste texto intitulado "...e a nossa beleza ardeu".
Foi ontem, num dia trágico
Daqueles que não foi Deus que nos deu
Que nas nossas serras e outeiros verdes
Nas nossas encostas florescentes
O inferno aconteceu
Veio travestido de fogo
Intenso
Em bolas
Empurrado por ventos de maré
Suspenso
Monstruoso
Medonho
Desgovernado
Este incêndio malvado
Corria voraz atrás do tempo da paz
Sacrificando-o
Alimentava-se de tudo quanto lhe aparecia à frente
E, num repente
Cortou-nos o cabelo da beleza natural
Sorveu-nos o sangue bom do suor rural
Empertigou-se como se tivesse vida forte
De estupor
E matou-nos gente amiga com nome sem sorte
Nossos conterrâneos, amigos
Causando-nos muita dor
Consternação
E estupefação
O rasto deste abalo intenso e brutal
Que cheirará por aí a massacre sobrenatural
Não pode ficar escondido sozinho no nosso tempo
Nem esquecido na parte mais íntima do nosso pensamento
Terá que ser sempre lembrado como se fosse um desgraçado
... até porque ele nos ofendeu!

Luís Pais Amante
Telheiras Residence
16Out17, 21h30

Horrorizado com o que se passou na minha terra, Penacova


08 outubro, 2017

Pintor João Martins da Costa: depois de Penacova a homenagem em Matosinhos


A primeira exposição retrospetiva sobre a obra do pintor Martins da Costa foi inaugurada ontem em Matosinhos. Até finais de Janeiro pode ser visitada no Museu Quinta de Santiago.


Também o livro “Contos Vividos” foi apresentado ao público “portuense”, depois de ter sido lançado em Penacova em Julho de 2016. Na cerimónia esteve presente Humberto Oliveira, presidente da Câmara de Penacova, entidade que editou a obra, e Álvaro Coimbra, que a partir das crónicas de Martins da Costa publicadas, quer no “Jornal de Penacova”, quer no jornal “Nova Esperança”, idealizou este livro, cuja publicação  contou com o apoio da Família Martins da Costa e a concepção gráfica de Diogo Rocha (OMdesign), neto do artista.

Conforme referiu Helder Pacheco, a obra (e o exemplo de vida deste “homem luminoso”) não pode ficar confinada às colecções particulares, a esta exposição e a este livro. É muito, mas é muito pouco. Deu o exemplo de Júlio Resende e de Nadir Afonso, à volta dos quais existem Fundações e Pólos Culturais, em Gondomar e em Chaves, respectivamente. Neste sentido,  lançou mesmo o desafio para que um projecto semelhante fosse concretizado, precisamente, em Penacova.

Descobrimos nesta exposição João Martins da Costa nascido em Coimbra, habitando no Porto, viajando pelo Mundo, e refugiando-se em Penacova, local onde terá vivido uma infância feliz e cujo abrigo procurou e encontrou, aproveitando as coisas simples da vida, vivendo genuinamente todos os momentos, respirando a beleza pura da natureza.”- escreve  Cláudia Almeida -Museóloga no Museu Quinta de Santiago - no excelente catálogo da exposição que, refira-se, inclui também um texto inédito de Maria Leonor Barbosa Soares sobre a vida e a obra de Martins da Costa.




















05 outubro, 2017

Desterritorialização e filiação ao lugar: Aldeia da Luz, Vilarinho das Furnas, Foz do Dão…

Ana Maria Cortez Vaz dos Santos Oliveira apresentou em 2011 à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra uma Dissertação de mestrado em Geografia Humana (Ordenamento do Território e Desenvolvimento), onde estuda os processos de desterritorialização e filiação ao lugar. O seu estudo incide na Aldeia da Luz (Alqueva) mas dedica também um capítulo à Foz do Dão.

Escreve esta investigadora na introdução que “a problemática do processo de desterritorialização é pertinente e actual. “ Salienta também que “o vínculo, a filiação, o apego, o laço que nos une a determinado território está sujeito a riscos que podem ter origem em múltiplos factores e circunstâncias como, entre outros, a guerra, a crise económica, o desemprego, qualquer tipo de confinamento espacial, cheias, sismos, movimentos de vertente ou, como no caso que se analisará neste trabalho, a construção de grandes infra-estruturas, como barragens."
Referindo-se à Aldeia da Luz, afirma que “apesar da velha aldeia ter desaparecido na paisagem, esta continua presente na memória e na identidade das populações.”

O mesmo poderíamos dizer da aldeia da Foz do Dão. Nesse sentido, transcrevemos um excerto, aconselhando a leitura integral e o estudo deste trabalho académico.

“A aldeia de Foz do Dão pertencia à freguesia da Óvoa, município de Santa Comba Dão e foi submersa aquando a construção da barragem da Aguieira. Com Foz do Dão, também as localidades de Breda, Senhora da Ribeira e Barra da Asna ficaram submersas pela albufeira da barragem da Aguieira.
A aldeia de Foz do Dão marcava, como o próprio nome indica, o local onde o rio Dão desaguava no rio Mondego. A sua população tinha como principais actividades a agricultura de subsistência, a extracção de areia e a pesca, principalmente de lampreia e sável.
A barragem da Aguieira fechou as comportas em Junho de 1980, dando-se início ao enchimento da respectiva albufeira e posterior submersão das aldeias.
Figura 16- Foz do Dão, aquando a visita do Professor António Salazar à aldeia.
De salientar que a única infra-estrutura que não foi destruída para a submersão da aldeia foi a ponte.
Fonte: fozdodao.blogspot.com, consultado em Maio de 2010.
[Gravura publicada na  pág. 54 desta Dissertação de Mestrado]
Este processo de quebra da topofilia ocorre na década de (19)80, num período politico bastante diferente do vivido no processo de desterritorialização da população de Vilarinho da Furna, embora ambos se caracterizem por serem ex-situ, colectivos e totais. Isto é, os processos implicaram a deslocação da população, atingiram a comunidade, a sociedade das aldeias, e em ambos os casos, houve uma quebra total do vínculo com o território, dado que as aldeias ficaram submersas. No entanto, também não se registaram intervenções de cariz psicológico ou de auxílio e assistência social às populações desterritorializadas.
Uma nota importante e de bastante valor para as populações sujeitas a processos de desterritorialização é a transladação dos corpos que se encontram nos cemitérios destas povoações que serão submersas. Enquanto que em Vilarinho da Furna não houve transladação do cemitério, em Foz do Dão foi autorizado que os indivíduos que quisessem transladar os corpos dos seus entes para cemitérios mais próximos, o poderiam fazer. Houve assim uma mudança também dos territórios simbólicos.

A população que residia em Foz do Dão procurou assim novos territórios e a reterritorialização passou pelos concelhos vizinhos de Penacova, Mortágua e outras localidades no município de Santa Comba Dão. Foi criado entretanto o Bairro Nova Foz do Dão, em Óvoa, que será o lugar com maior concentração de pessoas naturais e antigos residentes de Foz do Dão.
Ao contrário de Vilarinho da Furna, sobretudo da divulgação através das obras de Jorge Dias e de Miguel Torga, Foz do Dão não serviu de representação para escritores ou realizadores, daí que a informação sobre a aldeia, que está submersa seja muito escassa."

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