23 setembro, 2014

Cartas Brasileiras: garrafa com mensagem



Não sei como o leitor ou leitora  chegou aqui; tampouco sei quem é e de onde vem.  Nem mesmo sei por qual caminho,  sei somente que caminhando pela margem do rio acabou por encontrar a garrafa, e que ao abri-la leu a mensagem que nela havia:




Como tudo agora é tão moderno, verá que a mensagem está escrita em azul, a indicar que "clicando" no texto será direcionado a um vídeo.
Se vendo o vídeo achar que ele nada signifique para você ou que o/a comova, por favor, coloque novamente a garrafa no rio, talvez logo mais à frente um outro caminhante possa encontrá-la, quem sabe dela necessite. Boa viagem!


(clique na imagem para ver o vídeo)
P.T.Juvenal Santos


21 agosto, 2014

Cartas Brasileiras: amando ou brigando por cartas

Amando ou brigando por cartas
Dizer que antigamente era assim pode dar a impressão de algo muito afastado no tempo, quando na verdade o passado está logo ali; quarenta, cinquenta, sessenta anos! Pois é, como antigamente a paixão distante era curtida e mantida na base das cartas, nas juras eternas de amor, o anúncio do rompimento, as lágrimas pela separação passavam também pelo correio. Se assim era na vida, não havia como a música popular não retratar esses momentos, daí existirem vários registros dessa época eternizados pela música.
“Devolvi” é uma dessas preciosidades, gravada primeiramente por  Nelson Gonçalves (1919-1998), cantor de muito sucesso nas décadas de 40, 50 e 60, sendo ainda apreciado pelos mais velhos. O autor português, Adelino Moreira de Castro (1918-2002) nasceu em Covêlo e faleceu no Rio de Janeiro. 
“Devolvi o cordão e a medalha de ouro / E tudo que ela me presenteou /Devolvi suas cartas amorosas / E as juras mentirosas / Com que ela me enganou. / Devolvi a aliança e também seu retrato/ Para não ver o seu sorriso /no silêncio do meu quarto...”
Mensagem” de Aldo Cabral e Cícero Nunes, composta em 1946 foi gravada inicialmente por Isaura Garcia, mais conhecida como Isaurinha Garcia (1923 -1993), uma das maiores cantoras brasileiras, a Edith Piaf brasileira.
“Quando o carteiro chegou/ E o meu nome gritou / Com uma carta na mão / Ante a surpresa tão rude / Nem sei como pude / Chegar ao portão / Vendo o envelope bonito / E no seu sobrescrito / Eu reconheci / A mesma caligrafia / Que disse-me um dia / Estou farta de ti / Porém não tive coragem / De abrir a mensagem...”
Pombo Correio composta em 1965 por Dodô e Osmar, ao ganhar letra  de Moraes Moreira em 1978, fez logo sucesso, dançada no ritmo frenético do frevo pernambucano é exigida em toda apresentação do artista.   
“Pombo correio / Voa depressa / E esta carta leva / Para o meu amor. / Leva no bico / Que eu aqui /  Fico esperando/  Pela resposta / Que é pra saber /  Se ela ainda / Gosta de mim...”
Bem mais recente, Devolva-me” música do tempo da Jovem Guarda, 1966, com Leno e Lilian foi grande sucesso entre a juventude romântica.  
“Rasgue as minhas cartas / E não me procure mais/ Assim será melhor, meu bem! / O retrato que eu te dei/ Se ainda tens, não sei / Mas se tiver, devolva-me!...”
Como essas coisas não acontecem somente aqui no Brasil, busquei na grande Amália Rodrigues (1920-1999) um exemplo das choramingas nas canções portuguesas feitas através das cartas, o que encontrei em Fado do Ciúme, música que aparece no filme Capas Negras, de 1947, que marca a primeira participação da artista no cinema.  Há no Youtube vários trechos do filme. [clique na imagem]

“Se não esqueceste /  O amor que me dedicaste, / E o que escreveste / Nas cartas que me mandaste, / Esquece o passado / E volta para meu lado, / Porque já está perdoado / De tudo o que me chamaste.”


P. T. Juvenal Santos 

25 julho, 2014

Cartas Brasileiras

Carta apaixonada, 
nem às paredes confesso.

Hoje acordei diferente.
Depois da higiene matinal corri até a cozinha onde minha mulher já tinha preparado meu pedaço de mão com manteiga, o leite pronto para ser aquecido, me aguardando; ela sempre faz isso, como porque ela faz, não que tenha fome pela manhã.
Dei-lhe um beijo de bom dia. Nossa, exclamou ela surpresa.
Pudera, foi um beijo diferente, um desses como não a beijava há muito tempo ao cair da cama. De troca recebi um suspiro como há muito não recebia.
Após o café fui para a varanda. Abri o jornal, folheei-o desinteressadamente, nada nele me despertava; também, naquela manhã! Fechei-o.
Fui para o computador. Não quis saber de emails, de mensagens pelo Twitter ou de notificações do Facebook. Busquei com certa ansiedade minha pasta com músicas; preciosidades!
E, naquela manhã em que me acordei diferente, senti uma vontade louca de ouvir Amália Rodrigues. Pus-me a escutar “Nem às paredes confesso”.
Repeti a música sei lá quantas vezes, até que resolvi buscá-la em vídeos na  Internet, quem sabe alguém tivesse postado uma interpretação. Infelizmente não tive sorte, encontrei apenas alguns slide show. 
Enfim, valeu.
            Minha mulher chegou e me perguntou o que se passava comigo, dei com os ombros. Ela comentou dizendo que eu acordara apaixonado. Apenas ri comigo mesmo, o coração apertado ao ver somente ela e eu em nossa casa, da mesma forma como chegamos após nos casarmos; somente nós e muitos sonhos.
Os filhos! Bem, os filhos cresceram e se foram. Vieram os netos, mas que também cresceram, que com seus afazeres, escola e atividades rarearam suas visitas.
Agora, novamente, nós. Por isso devo ter acordado diferente, acredito por ter, finalmente,  me dado conta de que, definitivamente, restamos ela e eu.
Por isso apenas para ela voltaram os meus beijos. Sem que tenha que dizer para mais ninguém de quem eu gosto, digo só para ela; mas não contem para ninguém!

P.T.Juvenal Santos
ptjsantos@bol.com.br