16 dezembro, 2025

Imagem da Imaculada Conceição: de Lorvão para o Museu Machado de Castro

“Imaculada Conceição” 
Séc. XVIII, madeira estofada, dourada e policromada (54,2 x 17,9 x 16 cm).

Ainda há poucos dias celebrámos a Imaculada Conceição  (8 de Dezembro). Em 2024, esteve patente ao público, no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, uma exposição subordinada ao título Machado de Castro (1731-1822): das origens à consagração, coordenada cientificamente por Sandra Costa Saldanha.

Entre as peças expostas, destacou-se a escultura “Imaculada Conceição”, originária do Mosteiro de Lorvão e actualmente à guarda daquele Museu. Trata-se de uma obra da Oficina de Lisboa, 1775-1785, em madeira estofada, dourada e policromada (54,2 x 17,9 x 16 cm).

Sobre esta imagem escreveu Diogo Lemos (1):

(...) A sua incorporação no MNMC inscreve-se no (longo) contexto de desamortização dos bens patrimoniais dos cenóbios portugueses, ao abrigo do decreto da extinção das ordens religiosas, promulgado a 30 de maio de 1834.

(…)

Iniciado apenas em 1877, o processo de gestão do espólio do Mosteiro de Lorvão delegou-se ao então Bispo Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pinto (1830-1913), sendo as peças de maior valor remetidas para o Museu Nacional da Academia de Belas Artes e Arqueologia de Lisboa e para o Museu de Arqueologia do Instituto de Coimbra (Assumpção, 1899: 169).

(…)

No que à escultura da Imaculada Conceição diz respeito, sabemos, com base nos registos de entradas de peças no MNMC1, que “a pequena imagem de madeira” foi “trazida de Lorvão para o Museu de Arte Sacra [de Coimbra] pelo Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos” (1860-1941):

(…)

A encomenda da imagem da Imaculada Conceição deverá, com grande probabilidade, situar-se durante o triénio de D. Madalena Maria Joana Caldeira (1783-1786). Patrona de um extraordinário conjunto de obras de arte, D. Madalena custeou, a título de exemplo, a execução do órgão da igreja, a gradaria de ferro com aplicações de bronze do coro e os arcazes da sacristia. Para além destas preciosas obras, a abadessa contribuiu com 1:540$000 réis para os “ornamentos e frontaes para todos os altares” (Assumpção, 1899: 114), não se verificando nos triénios adjacentes registos de despesas com outros altares – excetuando os das rainhas D. Sancha e D. Teresa, de Nossa Senhora da Vida, de São João e do Santíssimo Sacramento, custeados por D. Maria Catarina Xavier de Mendonça durante o triénio de 1780-1783 (Assumpção, 1899: 113-114). (…) A encomenda da imagem da Imaculada Conceição a uma oficina do círculo de Machado de Castro é, portanto, natural.

(…)

Obra que se assume como um modelo herdeiro de fontes iconográficas exaustivamente reproduzidas no contexto da imaginária devocional portuguesa, filia-se em três obras distintas: as célebres pinturas da Virgem de Guido Reni (1575-1642), a saber a de Nossa Senhora da Conceição, executada em 1627 e atualmente à guarda do Metropolitan Museum of Art, e a Mater Amirabilis, proveniente da coleção Bolognetti (Bolonha), executada em cerca de 1635; e a afamada Imaculada de Carlo Maratta (1625-1713), encomendada em cerca de 1660 para a capela do português Rui Lopes da Silva, na igreja de Santo Isidoro a Capo, em Roma.

(…)

Para além da posição das mãos, a imagem do mosteiro de Lorvão singulariza-se, ainda, pelo tratamento das vestes, diferenciando-se da Imaculada de Reni à guarda do Metropolitan Museum of Art. Detalhe que poderia ser entendido como mera derivação artística, assume-se como uma expressão do fenómeno da fusão de fontes iconográficas, por vezes de autorias distintas e até extemporâneas, para a criação da (nova) obra de arte.

____

(1) Diogo Lemos é doutorando em História da Arte na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Professor assistente convidado nesta Faculdade e editor assistente da coleção “Os Mundos da História”, dinamizada pelo Centro de História da Sociedade de da Cultura. Dedica a sua atividade científica à investigação da arte portuguesa da Época Moderna. Desenvolve atividade no campo da inventariação, conservação, planeamento e gestão do património da Universidade de Coimbra.

 


11 dezembro, 2025

𝕆ℙ𝕀ℕ𝕀Ã𝕆 | Esta América? … é dos Cowboys!


Esta América? … é dos Cowboys!

Num artigo de Opinião que escrevi aqui, no Penacova Online, publicado no dia 19 de Julho de 2024, eu afirmei:


Só que, na minha modesta opinião, as coisas (em política pura) só se conseguem mudar através das pessoas (geração) que sejam portadoras de mensagens e de conhecimentos e de práticas e de tempo para que as mudanças possam operar com a necessária rapidez e consolidação. Esses atributos não reciclados, só nas gerações mais jovens (e preparadas) podem surgir. 

E isso não está a acontecer na América do mundo novo; na América estão 2 velhos a tentar manter linhas de governação esgotadas: um com quase 82 anos e outro com 78... 

Naturalmente que eu fico estupefacto com esta falta de capacidade regenerativa. Serei só eu? 


Passou mais do que um ano; foi eleito presidente um dos velhos e (logo para azar da Europa e do mundo) um homem ligado ao que de pior tem a sociedade: narcisista; voyeurista; incompetente; com ligações obscuras aos “piores mundos que existem”; fanfarrão; racista; aldrabão; e outras coisas mais… como charlatão.

Homem cuja principal acção tem sido espezinhar as pessoas, independentemente da fragilidade em que estas se encontrem.

É Donald Trump de seu nome!

E, efectivamente, passado quase um ano sobre o início de um “reinado” tão conturbado, vamos ficando com a ideia de que está ali um velho amigo de Putin (um oligarca triste, com muitos anos de “carreira”) quiçá com amizade alicerçada com serviços de colaboração ou mesmo espionagem, prestados em traição aos próprios EUA e ao Ocidente…para salvar as insolvências próprias.

…Se calhar, até, umbilicalmente ligado a “coisas muito pouco recomendáveis”!

Primeiro quis definhar o mundo todo (Organizações Internacionais insuspeitas incluídas); depois quis subjugá-lo, pondo em causa todas as “parcerias” e acordos existentes; também com a colocação em vigor de taxas comerciais disruptivas e arrogantes que constituíram, por si só, uma inequívoca punhalada nas costas dos “aliados da América”; e, finalmente, tentou abocanhar inclusive “terra de outras civilizações”, com imposição de “contratos leoninos”!

Entretanto,

Montou a farsa do seu pseudo interesse pela Paz, oferecendo-se mesmo para Prémio Nobel, como se o mundo civilizado fosse só isso: uma organização mafiosa, com a corrupção como lei de base, onde se exige isto e aquilo e se faz birrinha quando não se alcança.

Apesar de dizer uma coisa e o seu contrário sistematicamente, a verdade é que “a sua matilha” age em ataque conjunto, como se fossem cães raivosos a tentar subjugar as presas…

Trump não está sozinho na visão de um mundo unipolar, onde o mais forte (que, por norma, faz cultivar a sua personalidade) e dita a lei, roubando o mais fraco utilizando a força; segue Stalin e ressuscita o método dos Cowboys na sua famigerada guerra contra os Povos indígenas.

É a sua família e os seus “sócios de negociatas” que comandam as relações internacionais, para vergonha de uma das mais aptas organizações de política externa, construída por gerações e gerações de Políticos sérios.

Triste cena esta, convenhamos, em que os velhos se empoderam com pessoas pouco qualificadas, vindas não se sabe bem donde, que abominam o(a)s Imigrantes embora as exibam na cama e nos Eventos, como de troféus se tratassem.

Estamos todos em choque, penso eu, indiscutivelmente!

- Se tem feito mal de propósito a quem não tem capacidade para lhe fazer frente, é verdade?

- Se tem “reduzido a escombros” o Direito Internacional, é igualmente verdade?

- Se pretende reduzir o mundo à perpetuação de meros negócios suspeitos, ainda é verdadeiro?

- Se tem como objectivo aumentar aquilo que dizem ser a sua fortuna, ou salvar as trapalhadas em que se vai metendo, verdade, verdade?

- Se tem humilhado - a mando de terceiros - quem tem demonstrado coragem e verticalidade acima do comum (como os Ucranianos), ainda verdade, também?

Agora ter a ousadia de tentar dar lições ao Mundo Livre - como ainda é a nossa Velha Europa Democrática - acerca de governança e de Liberdade, não só é verdade, como é inadmissível, pura e simplesmente!

A Europa tem estado demasiado descansada, numa ligação de dependência relativamente à América, especialmente no lado militar, sim.

A nossa Europa pode não ser exemplar, mas não será nunca o que aquele “oráculo maltrapilho” nos diz; constituímos - todos juntos - uma civilização muito, muito antiga, mas adaptada aos tempos modernos, com um razoável sentido de solidariedade e com uma vida que não passa só por “comer hambúrgueres”…

É sabido do despeito americano pelo nosso modo de viver há muito tempo; … e sobre o resto do “presságio” xenófobo, bom seria que os EUA olhassem para si próprios… para os horrores das comunidades de droga que criaram, para o desemprego como regra, para o armamento civil, com as nefastas consequências de um Farwest empolgado, que faz vítimas diariamente, que são, sobretudo, Crianças.

Por muito que nós Europeus possamos “dever à América do post guerra” - e devemos alguma coisa, certamente - certo é que não podemos andar a vida inteira a pagar isso; ou a ouvir baboseiras; ou a manter cordialidade para com “brutos normalizados”, que passam a vida a dar cabo uns dos outros a tiro.

À nossa custa muito evolui a economia americana, com níveis de consumo lucrativo em excesso para os bens e serviços dali originários, que, diga-se - destacando-se na indústria da guerra - não ultrapassam os nossos em indústria de conforto e vida digna e avanço tecnológico com investigação.

Se a NATO é a OTAN, muito se deve à dedicação e investimento de todos nós Europeus, incluindo os nossos militares que nada ficam a dever aos americanos e eles bem o sabem.

Daí eu achar que (a manter-se esta posição louca de um velho pouco recomendável) e dos seus “capangas”, o que devemos fazer é, pura e simplesmente, dar-lhes um pontapé num sítio qualquer que doa muito, como estão a fazer - com sucesso - os Canadianos.

Não nos podemos deixar enxovalhar… até porque muito pouco aprendemos, hoje em dia, com gente desta espécie, onde a doutrina é a regra da perpetuação no Poder, para disso retirar lucros equivalentes  “a roubo” aos mais desfavorecidos do mundo desgraçado que por ali anda!

Ou não será?

Luís Pais Amante


08 dezembro, 2025

A Nossa Casa [Azul]

A nossa Casa


Casa, no sentido mais latino

É o refúgio, físico e emocional

Dá-nos confiança, segurança

E tem um traço sentimental

Como tu, Casa Azul, afinal

Aqui implantada, recuperada

A olhar o Vale profundo

Colocado à nossa frente

Na perspectivação do mundo

Onde ficas deveras eloquente


Neste ângulo donde te vejo

Hoje, aqui sentado e despojado

Vê-se que estás virada a Sul

Que o tom do teu azul cobalto

Ultrapassa os limites da beleza

E traz contributos à natureza

Porque “o sonho é azul”

Azul da mente, se transparente

E “O Rio é azul”

Cor da alegria da sua corrente


O Sol que (de poente) te ilumina

[Na minha objectiva empolgada]

Está como que em exaltação

Lembra os símbolos da união

E é franqueado a todos nós

Para te podermos ter com sofreguidão

Com amor, carinho e devoção

 “Dá esperança à Vida futura”

Num tempo de ingratidão

… Onde o Céu ainda continua azul!


Luís Pais Amante

Casa Azul