08 dezembro, 2025

A Nossa Casa [Azul]

A nossa Casa


Casa, no sentido mais latino

É o refúgio, físico e emocional

Dá-nos confiança, segurança

E tem um traço sentimental

Como tu, Casa Azul, afinal

Aqui implantada, recuperada

A olhar o Vale profundo

Colocado à nossa frente

Na perspectivação do mundo

Onde ficas deveras eloquente


Neste ângulo donde te vejo

Hoje, aqui sentado e despojado

Vê-se que estás virada a Sul

Que o tom do teu azul cobalto

Ultrapassa os limites da beleza

E traz contributos à natureza

Porque “o sonho é azul”

Azul da mente, se transparente

E “O Rio é azul”

Cor da alegria da sua corrente


O Sol que (de poente) te ilumina

[Na minha objectiva empolgada]

Está como que em exaltação

Lembra os símbolos da união

E é franqueado a todos nós

Para te podermos ter com sofreguidão

Com amor, carinho e devoção

 “Dá esperança à Vida futura”

Num tempo de ingratidão

… Onde o Céu ainda continua azul!


Luís Pais Amante

Casa Azul

As obras de conservação e restauro do Mosteiro e a presença de Salazar em Lorvão

Cem anos ´decorridos sobre a data de extinção das Ordens Religiosas, decretada em 1834, o Mosteiro de Lorvão tinha atingido tal grau de ruína que chegou a estar iminente a sua derrocada, especialmente da Igreja. As obras foram sendo adiadas e só por volta de 1940 se começou a vislumbrar uma solução para evitar essa “catástrofe” a nível de património cultural. Por esta altura, Salazar esteve em Lorvão para se inteirar do andamento das obras em curso. O jornal A Comarca de Arganil (31/10/1944) noticiou essa deslocação do Chefe do Governo. 

“Ontem,  a população de Lorvão, sede desta freguesia, teve o agradável ensejo de voltar a ver na sua terra o eminente Chefe do Governo, sr. dr. Oliveira Salazar. 

Foi inesperada esta visita, motivo por que não pode ser tributada a s. ex.ª, com pesar de todos os lorva- nenses, a homenagem de que era justamente merecedor. 

Mostra o sr. Presidente do Conselho, com a sua comparência em Lorvão, que se interessa a valer por que o notável Mosteiro, que muito honra o nosso concelho, seja restaurado o mais breve possível, para que os seus inúmeros visitantes não levem dali má impressão.

Era cerca do meio-dia quando o sr. dr. Oliveira Salazar chegou, vindo na sua companhia de mais três pessoas, sem dúvida técnicos das repartições dependentes da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. 

A sua demora foi de duas horas, percorrendo todas as dependências, entre elas o Museu, e interessando-se vivamente pelos mais pequeninos detalhes das obras em curso. Quis saber o número de operários que nelas têm trabalhado e há quanto tempo estavam paradas. 

O guarda do Mosteiro, sr. Manuel Gaudêncio, prestou todos os esclarecimentos pedidos pelo ilustre Chefe do Governo. Finda a visita, o sr. dr. Oliveira Salazar e a sua comitiva tomaram um pequeno lanche ao ar livre, junto do Mosteiro, após o que se retiraram pela estrada de Penacova - a mesma por onde tinha vindo. 

As obras de restauro estão paralisadas há uns oito dias e nelas têm trabalhado diariamente cinco operários, debaixo da direcção do respectivo encarregado, sr. Máximo. Os serviços feitos têm sido os escoramentos dos tetos e paredes, como preliminares das grandes obras a realizar.” 

Recorde-se, muito resumidamente, todo o processo de recuperação arquitectónica e artística* deste Monumento Nacional.

A situação de quase ruína e a iminência de ruptura, em especial das estruturas da zona da Igreja, por cedência das fundações, já tinham sido reconhecidas em vistorias efectuadas em 1916 e em 1923. Estas “patologias graves” ao nível da estrutura, só na década de quarenta começaram a ser intervencionadas, sob a tutela da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Assim, em 1943 (prolongando-se por toda a década) foram iniciadas as obras mais inadiáveis de conservação e reparação, estabilizando a estrutura do cunhal norte da cabeça da Igreja, em ruptura iminente, como se referiu. Estas operações foram coordenadas pelo arquitecto Amoroso Lopes (1913 - 1995), técnico  igualmente responsável pela construção, anos mais tarde, da cúpula do Panteão Nacional (Lisboa), e entregues ao empreiteiro Manuel Jesus Cardoso. 

Numa segunda fase, que se prolongou até cerca de 1960, procedeu-se à reconstrução e consolidação dos espaços do mosteiro, repondo a traça seiscentista, e recuperando paredes, coberturas, pavimentos e vãos. Tentou-se também recuperar retábulos, pinturas e esculturas. 

No final da década de cinquenta (1957) o Ministério das Obras Públicas considera estar concluída a recuperação de maior vulto deste valioso património lorvanense. 

Os anos sessenta ficam marcados com a adaptação do edifício do antigo dormitório a Hospital Psiquiátrico, sob a tutela do Ministério da Saúde. Unidade que funcionou de 1960 a 2012. Em 1984 tinha 330 camas e empregava mais de 170 pessoas, sendo 70% do lugar de Lorvão e arredores. 

*Confrontar Lorvão: um mosteiro e um lugar, Tânia Sofia Lopes Antunes, 2013 (tese de Mestrado) 

01 dezembro, 2025

Crónicas do Avô Luís (6) - Natal: uma “receita” familiar!

 


Natal: uma “receita” familiar!

Estamos a chegar ao Natal.

Essa época extraordinária que vai passando de geração em geração ao longo dos anos (muitos), transformando a vida das Crianças e, igualmente, dos Adultos.

É a dinâmica familiar que nós (todos) vamos construindo em “formas consuetudinárias” de festejo.

A minha idade já passou por vários momentos de Natal; o próximo será o 71 (septuagésimo primeiro)!

E, nestes anos todos [desde os tempos das carências generalizadas das Famílias] fomos adaptando a Época à realidade evolutiva dos hábitos de consumo.

Não me canso de recordar os tempos do Natal à lareira, com um “frio de rachar” e tudo à volta cheio de geada.

As expectativas das prendas que se resumiam a roupa ou calçado, agigantando-se quando surgia um chocolate ou um rebuçado.

O reboliço do dia seguinte a exibir “os despojos”!

A crença -até muito tarde- de que era o Pai Natal que tratava uns muito bem e outros muito mal.

Até que (com o nascimento dos membros do Clube da Netaria) a reunião familiar passou a ser literalmente “engolida” pelos embrulhos das prendas.

E, paulatinamente, cada um dava uma prenda a cada qual e todos davam as suas próprias prendas às Crianças.

Era um “regabofe” completamente em contra-ciclo com o recolhido que o Natal exige, pelo menos para quem foi educado na Fé Cristã.

… quase não sobrava tempo para se conversar, contar as experiências, ler contos, ouvir música natalícia, brindar e degustar o momento.

Até surgir o “cheiro bom da consoada” …

Percepcionado o desfazamento do consumo puro e duro, com o objecto do festejo (que, na minha Opinião modesta, deve ser singelo, desprendido, centrado no convívio são) evoluiu-se para uma solução drástica de “excluir prendas para adultos”…

E essa simples decisão poupou metros quadrados aos papeis de embrulho e deu mais espaço à Sala, que num certo momento era ocupada por bonecos, bonequinhos, pilhas, trotinetas, bicicletas;… eu sei lá?

As nossas Crianças - tal como as outras - adoravam as prendinhas e os papéis de embrulho enquanto foram mais pequenas (digamos até aos 3/4 anos).

Agora (5/6/7) já escolhem as prendas que querem e, por vezes, os adultos repetem as prendas ou as Crianças (pura e simplesmente) não gostam delas e fazem “birras”!

As coisas renovavam-se em caracterizações descaracterizadas.

Havia que mudar a situação.

E evoluiu-se de novo para outra solução hipotética, mais radical.

Qual, perguntarão os Leitores?

Cada Criança vai ter um envelope com o seu nome, que começará a circular em breve pelos membros da Família; cada Adulto lá colocará o que entender; os Pais adquirirão o que melhor satisfizer as necessidades do momento.

Achámos todos [Família Democrática] que, deste modo:

1. se combateria o desperdício;
2. ⁠se punha freio ao consumismo;
3. ⁠se pouparia o ambiente, tornando-o mais amigo;
4. ⁠se arranjaria mais espaço para a Festa de Natal, com convívio mais apropriado aos tempos que por aí andam;
5. ⁠tempos esses que (queiramos ou não) são tempos de carência e preocupação…

Na prática - esperamos nós - criar-se-à uma recriação mais apropriada à simplicidade do nascimento do Menino Jesus, que anda esquecido nas Celebrações.

O que me levou a escrever esta “Crónica do Avô Luís”, que até com o Natal condiz e se limita a partilhar uma experiência que pode ser aproveitada por outras Famílias (abertas às inovações, até no amor às Crianças)!

Dentro daquela lógica de que não vale a pena perder tempo com o que já está inventado ou em execução.

… Vamos esperar para ver!


Luís Pais Amante

Casa Azul, 
com desejos de Boas Festas aos seguidores do Blogue e aos Amigos!