27 junho, 2025

Moinhos portugueses na emissão filatélica de 1971

 


Emissão “Moinhos Portugueses” (1971)

Foram emitidos 10 milhões de selos de $20 castanho-cinzento, castanho e preto, 10 milhões de selos de $50 azul castanho e preto, 10 milhões de selos de 1$00 cinzento castanho e preto, 3 milhões de selos de 2$00 rosa-lilás castanho e preto, 1 milhão de selos de 3$30  castanho-amarelo castanho e preto, e 1milhão de selos de 5$00 verde castanho e preto. Desenhos do pintor Candido Costa Pinto, representando os típicos moinhos - Serrano, do Litoral Beirão,Saloio da Estremadura, de São Miguel (Açores), de Porto Santo (Madeira), do Pico (Açores). Postos em circulação a 24 de Fevereiro de 1971.


MOINHOS 

Engenhos estudados para por em movimento duas pedras (mós), de forma a que entre elas se consiga esmagar (moer) os cereais transformando-os em farinha. Os primeiros foram pequenos moinhos a braços depois ampliados para aproveitamento da força do homem (principalmente escravos e condenados), e mais tarde da força de animais. 

Quando Constantino aboliu a escravidão, apareceram os moinhos-de-água (azenhas), primeiro grande passo para o aproveitamento das forças naturais. São igualmente muito antigos os moinhos-de-vento, que deram entrada na Península Ibérica com as Cruzadas, no Século XI. 

Em 1157 uma doação régia entrega a D. Gualdim Pais “Mestre Absoluto da Ordem do Templo” oito moinhos na ribeira de Alviela, declarando-se que metade do seu rendimento seria propriedade da coroa. No Século XVI existiam em Lisboa 264 atafonas (pequenos moinhos movidos pela força humana ou animal, e azenhas) e nos termos da cidade 300 moinhos. 

O moinho de vento tem a particularidade de captar a energia do vento por meio de velas (de lona na Península e de madeira nos Açores e Norte da Europa) que transmitem o movimento a um eixo ligado à engrenagem que põe em andamento as mós. Com a principal finalidade de proteger e estudar os moinhos, existe em Portugal a “Associação Portuguesa de Amigos dos Moinhos”.

FONTE: Carlos Kullberg  | Selos de Portugal - Álbum IV (1971 / 1978) | Edições Húmus Ldª |  2ª edição (Jan. 2006 


Concelho de Penacova


O Concelho de Penacova possui actualmente um dos maiores núcleos molinológicos do país, encontrando-se espalhados pelos Lugares da Atalhada, Aveleira e Roxo, Gavinhos, Paradela de Lorvão e Portela da Oliveira, 19 moinhos de vento em atividade ou em condições de funcionar, bem como 18 azenhas instaladas nos cursos do Mondego e do Alva e nas muitas ribeiras que correm no concelho.
Fonte: http://www.cm-penacova.pt/pt/pages/moinhoseazenhas 

26 junho, 2025

Da minha janela: Com o Mundo no Horizonte





… Os Açores estão à vista


Tudo por lá gira no movimento

Inter Ilhas

E nos cumes dos Vulcões


Com São Miguel a nascer pro Sol

E o Faial de costas pro Pico

Só há água de permeio

E queijo de atum rico


A Terceira apela à Comunidade

O Corvo mais à Liberdade

Talvez um pouco de “razão”

Trouxesse mais Felicidade


Baleeiros na tradição

Com São Jorge em ação

É nas boas ondas que cheira

A Graciosa ali à mão


Santa Maria virada pró mundo

Com certo ar mais profundo

Olha pra longe e releva

As Flores que não enxerga


Tudo treme em tormento

Até o ar tem ciúmes

Dos caminhos da Saudade


… Que cá chega em câmara lenta!
 

Luís Pais Amante
Casa Azul
Dedicado às minhas amizades açorianas e aos momentos felizes que por lá passei.







20 junho, 2025

Penacova 1932: paisagem de sonho e beleza


Vista de Penacova 
Atendendo à existência do Mirante e à inexistência
do Preventório podemos situar a foto entre 1908 e 1932


No início dos anos trinta, durante cerca de meia dúzia de anos, Maria Lúcia Vassalo Namorado, viveu em Penacova, dado que o seu marido Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, funcionário público, natural de Lorvão, onde nasceu em 1900, foi colocado nesta vila. Maria Lúcia era sobrinha de Maria Lamas e foi uma escritora e jornalista de renome. Curiosamente, essa carreira jornalística passou também pelo Notícias de Penacova onde deixou muitos escritos. Refira-se que o marido foi um dos fundadores deste periódico. Lúcia Namorado criou  e dirigiu durante muitos anos a prestigiada revista "Os Nossos Filhos" , onde podemos ler muitas referências a Penacova, inclusivamente fotografias de bebés da vila. Existem estudos académicos sobre Lúcia Namorado, onde se refere a sua relação com a nossa terra.

***

Pequenina, modesta, privada ainda hoje de comodidades modernas, embora distanciada apenas cerca de 20 quilómetros de Coimbra, a que a liga uma lindíssima estrada, Penacova impõe-se pelo acaso da sua situação caprichosa, a meio de uma paisagem privilegiada de beleza. Particularidade singular, talvez única na nossa Terra, essa paisagem, sendo grandiosa é, ao mesmo tempo, limitada. Como se a natureza entendesse que os olhos tinham ali pasto bastante para alimentar sucessivas e atentas contemplações.

Rodeia-a uma infinidade de montes: uns cónicos e rochosos; outros, de ondulações suaves, grandes extensões de pinhais salpicados e  de povoados - nódoas claras que, surgindo dentre a romaria  verde,  alegram a vista e fazem lembrar sorrisos cândidos e saudáveis. No vale, amplo e luminoso, duma claridade doce de aguarela, passa o rio silencioso e manso, estorcendo-se em curvas airosas que descobrem, ora à direita, ora à esquerda, areais onde as lavadeiras coram a roupa, e onde o milho que viceja e amadurece nas ínsuas vizinhas, depois de loiro e descasulado, é estendido para secar.
Cortando as águas límpidas do rio, que deixam ver as areias de oiro cantadas pelos Poetas, deslizam, carregadas de madeira, as barcas negras e muito esguias, de grande proa revirada; os barqueiros, tisnados, conduzem-nas à vara, penosamente, correndo sobre os bordos, num esforço exaustivo, prodigioso de equilíbrio; e só quando o vento sopra a faina abranda um pouco: nas barcas escuras incha e resplandece a brancura duma vela.

É assim aquele vale de cores macias e duma serenidade extática. Ao centro eleva-se uma colina semeada de oliveiras e coroada por uma povoação que dir-se-ia, na verdade, uma rainha no trono - tal como está debruçada para o Mondego, do alto duma penha erguida numa cova.
É a vila de Penacova uma das mais antigas da Península; nela , porém, nada nos fala da sua vetustez, pois nem sequer do seu remotíssimo castelo existem vestígios. Vários investigadores afirmam que é de origem cantábrica, mas parece assente que a primeira notícia desta vila data do tempo do conde D. Henrique.

D. Sancho I mandou-a povoar e deu-lhe em 1193 foral que foi confirmado em Coimbra por D. Afonso II; D. Manuel I deu-lhe novo foral em Lisboa, no ano de 1513.

É hoje muito visitada por pessoas atraídas pela justa fama dos seus encantos naturais, e tem um grupo de bons amigos empenhados em a dotar com melhoramentos, dentre os quais se destaca o esplêndido edifício do preventório, prestes a funcionar – obra cujo largo alcance social é desnecessário encarecer.
A população,  que é pobre, emigra facilmente, sobretudo para as Américas.

A principal indústria do concelho é dos palitos, que se intensifica na freguesia de Lorvão – cova sombria, triste, contraste profundo da beleza colorida e sonhadora de Penacova: nessa aldeiasita se desmorona o velhíssimo mosteiro do mesmo nome, outrora riquíssimo e agora desmantelado, mas onde ainda se encontram jóias artísticas de raro valor, belas evocações de páginas distantes da nossa História maravilhosa.


18 de Outubro de 1932
MARIA LÚCIA