15 julho, 2024

Efemérides (2): Manuel Emídio da Silva (18.10.1858 - 15.7.1936)


Manuel Emídio da Silva faleceu há oitenta e oito anos: foi em 15 de Julho de 1936.
Por vontade expressa só no dia do funeral (11 horas do dia 16) nos jornais da manhã foi noticiada a sua morte. A Emissora Nacional deu a notícia ao meio dia e meia. Foi, assim, através da rádio, que Penacova teve conhecimento. O Presidente da Câmara, (e director do Notícias de Penacova) José de Gouveia Leitão, mandou içar a bandeira em sinal de luto nos Paços do Concelho.

O Diário de Notícias escreveu o seguinte: “Em matéria de turismo deve-se-lhe ainda, por exemplo, a vila de Penacova, uma das mais pitorescas do país, larga campanha em seu favor. Em troca, a um mirante que ali se erigiu e de onde se descortina sobre o Mondego uma paisagem deliciosa, deu a vila o nome de Manuel Emídio da Silva. Dos "Emídios" se chama também a estrada que liga os vértices Luso-Penacova-Coimbra, do chamado triângulo turístico do centro do país, em louvor popular do seu nome e de Emídio Navarro, o primeiro que deu fundos para a sua construção."

"Manuel Emídio da Silva - regista o jornal Notícias de Penacova, de 25 de Julho, nº 210- era inteiramente desconhecido em Penacova há pouco mais de trinta anos. Vindo a esta vila de passagem para visitar o Convento de Lorvão ficou de tal maneira extasiado com as paisagens de Penacova que poucos dias depois iniciava no DN uma intensíssima propaganda em favor delas. Por influência sua, incluiu a Sociedade de Propaganda de Portugal a vila de Penacova no número das terras do país que mereciam ser visitadas."

Adianta ainda : "Promoveu ele a abertura de uma subscrição entre os Penacovenses para a construção do Mirante que projectara. Foi o principal subscritor e ofereceu ainda a planta para a construção que foi elaborada a seu pedido pelo notável arquitecto Nicola Bigaglia."

Mais tarde, em 1916 veio do Luso a Penacova acompanhado do engº Vasconcelos Correia, então director da Sociedade de Propaganda de Portugal. Esta visita estará relacionada com o facto de, algum tempo depois, vir a Penacova o grande arquitecto Raul Lino escolher o local para a construção da Pergola "que a expensas daquela benemérita sociedade foi construída no largo Alberto Leitão e inaugurada em 1918."

Sobre a influência de Emídio da Silva, recorda o NP que também no Governo Provisório (1910), sendo Brito Camacho Ministro das Obras Públicas, foi dotada com verba de 3 000 escudos a estrada de Penacova para Corta Montes. "Sempre a instâncias de Emídio da Silva esta obra foi sendo dotada e quando se deu o golpe de 1926 faltavam apenas construir cerca de dois quilómetros. A parte do concelho da Mealhada já estava construída a instâncias de Emídio Navarro." A título de curiosidade acrescente-se que a Câmara Municipal "em testemunho do reconhecimento resolveu colocar na sala nobre dos Paços do Concelho os retratos daqueles dois beneméritos" - Emídio da Silva e Emídio Navarro.



10 julho, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: a Estrela

 




Por vezes as estrelas ficam

Fora da vida de viver

Estando dentro da saudade

De se ter



Não é estrela quem quer

Nem são todos

Os que não se vão esquecer

Tempos fora

Mesmo sem querer



Tive a sorte de conhecer

Uma estrela corajosa

Humilde

Cheia de crer

Grande na luminosidade

Pensante da sua liberdade



Foi hoje passear pra fora

Da nossa amizade inteira

E fica como a nossa estrela

Maior e íntegra

Que nos representou a todos

Dignamente

Até, sem nos dizer, morrer



Luís Pais Amante

In memoriam da Minha Colega de Curso e Amiga Joana Marques Vidal
 (a Maria Joana).



09 julho, 2024

Personalidades (5): Domingos de Lemos (1693-1753)

Foi no Colégio Jesuíta da Baía que Domingos de Lemos mais se notabilizou

Domingos de Lemos nasceu no ano de 1693 em Gondelim. Ao pesquisarmos nos livros de Registos Paroquiais encontramos o assento de baptismo de “Domingos, filho de Pedro Rodrigues (?) e de Antónia de Lemos”, baptizado a 27 de Maio de 1693. A tratar-se da mesma pessoa, o que pelo apelido Lemos da mãe parece ser, há um desfasamento nas datas, em relação à síntese biográfica inserida na obra “Artes e ofícios dos Jesuítas no Brasil (1549-1760)”, publicada em 1953, que refere o seguinte:

“LEMOS, Domingos de (1694-1753). Natural de Gondelim (Penacova), onde nasceu a 27 de Maio de 1694. Entrou na Companhia [de Jesus] na Baía, com 25 anos, a 13 de Julho de 1719 (Cat. de 1725). Farmacêutico («pharmacopola»). Já o devia ser quando entrou, porque em 1722 aparece no Colégio de Olinda no exercício do cargo. Em breve voltou para o Colégio da Baía e aí residia em 1732, com o qualificativo de «insigne» em sua arte. Em 1746 e 1748 tinha dois ajudantes, donde se infere a importância do Laboratório baiano e a sua categoria de mestre. Faleceu no mesmo Colégio da Baía, depois duma actividade ininterrupta de mais de 20 anos, a 7 de Fevereiro de 1753.”

A Companhia de Jesus, apesar de se ter dedicado desde a sua fundação principalmente ao trabalho missionário e educativo, também se evidenciou na actividade farmacêutica. As más condições sanitárias com que se depararam em terras do Brasil levaram os jesuítas a serem mais do que “médicos da alma” assumindo também a missão de serem “médicos do corpo”.

Os medicamentos “importados” da Europa, eram insuficientes. Assim, os Jesuítas procuraram muitos outros nas plantas autóctones, com a ajuda dos conhecimentos das populações indígenas. Passaram a cultivá-las e a aprofundar o seu estudo. Os colégios dos jesuítas tornaram-se, deste modo, detentores de um riquíssimo receituário particular, que incluía não só as fórmulas dos medicamentos, mas também os processos de preparação.


As boticas jesuíticas eram dependências especiais dos colégios, anexas às enfermarias. A elas se recorria quando as populações eram atingidas por epidemias ou quando ocorriam casos de calamidade pública. A botica do Colégio da Baía, onde Domingos de Lemos se evidenciou, revelou-se como a mais bem estruturada de todas as que existiam na rede jesuítica, tornando-se um centro distribuidor de medicamentos para as demais boticas dos colégios do Brasil. Da reunião dos saberes e medicamentos produzidos em cada Colégio resultou (em 1776) uma importante compilação (260 receitas) intitulada Colecção de várias receitas e segredos particulares da nossa Companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil. Compostas e experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais celebres que tem havido nestas Partes.

Estas receitas, prescritas para um grande número de doenças, demonstram o importante contributo dos Jesuítas, em especial o Colégio da Baía, na história da medicina brasileira. Quando este colégio foi saqueado e sequestrado em Julho de 1760, por ordem do Marquês de Pombal, o desembargador incumbido da acção judicial logo comunicou superiormente que havia feito as diligências necessárias para se apoderar da botica do Colégio e de algumas receitas particulares.

Pode Gondelim orgulhar-se de ter sido uma importante villa onde existiu um Paço que pelos anos de 984-985 estava na posse de netos de Munia Dias e Alvito Lucides1 e, ter sido também, morada de Príncipes2 e berço de figuras importantes da nossa história. A José Pereira Baião, figura insigne das Letras e da Oratória, podemos juntar Domingos de Lemos, um penacovense ilustre inteiramente desconhecido de muitos de nós.

1 - Cf. Manuel Luís Real: “O significado da basílica do Prazo (Vila Nova de Foz Côa), na alta Idade Média duriense”
2 - Aqui se terão criado, de acordo com o Portugal Renascido, os Príncipes de Leão, Ramiro e Bermudo.