C h e i r a v a a A b r i l
Luís Pais Amante
Podia ter sido em
Março, em Maio, quiçá em Junho
O momento para
rebentar a pólvora junta no barril
Mas foi em Abril…
Abril era o mês sem
tempo, sem ar cinzento, primaveril
No ano andámos no
pressentimento preso na mudança
Em Março não deu
p’ra ser
Se calhar deu-se com
a língua no dente
Talvez o entusiasmo
se tenha congelado
O Soldado ficado
atrapalhado
Ou o Major,
descoordenado
Certo é que não
deu pra “construir” Revolução
Então, nessas horas
de esperança
Começara 1974
Na Faculdade demos
corda ao sapato
Uns chevrolet’s
foram postos a arder
Uns vidros foram
partidos a derreter
Uns tropeções
ocorreram sem saber
Umas corridas
valentes aos “gorilas”
E uma crença grande
num amanhecer
Diferente
Podia ter sido muito
antes de ter sido
A junção de uma
quase toda Nação
Para nos dar
carácter e legitimação
Mas foi em Abril…
Abril 25 em dia,
antecipou Maio em 1
O Militar pôs-se ao
lado do Trabalhador
Os rios passaram a
correr em Liberdade
Dos céus vieram
sons de Fraternidade
E nós, na
Universidade, Estudantes
Começámos a sonhar
E, com ingenuidade,
a equacionar
Vai haver
oportunidades em Igualdade?
Apesar de espalhado
o cheiro em Cravo
Sadio e bom, fresco
em frisson, desde lá
Ainda não se
conseguiu dar Igualdade cá
Sequer democrática,
pá
E isso não pode
deixar de nos fazer pensar
Porque, em boa
verdade
Sem Igualdade
básica, Democracia não há
Minha Gente!
Luís Pais Amante | Casa Azul
Memórias:
Recordando o Dia 25, as cumplicidades e os sonhos…