07 janeiro, 2024

Luís Pais Amante apresenta em Penacova "A Liberdade Actual em Poesias e Opiniões"


No próximo dia 20, a partir das 15 horas, o Centro Cultural de Penacova vai ser mais uma vez palco de um importante evento cultural e social: a apresentação da obra A Liberdade Actual [em Poesias e Opiniões], de Luís Pais Amante.

Este facto já seria suficientemente relevante para justificar a abertura das portas da Casa da Cultura do Município neste início de ano. Porém, o programa transcende o lançamento do livro. O evento apresenta-se como convite especial para uma tarde de Encontro e de Celebração, homenageando a produção literária de Luís Pais Amante no último decénio e, igualmente,  todo um trajecto de vida plena que já soma algumas décadas.

Diversos poemas que fazem parte da obra literária vão ser declamados e interpretados musicalmente. Em “palco” estarão os Grupos Corais de Penacova, Divo Canto e Vox et Communio, que se associarão a este momento muito especial para o autor, família e amigos: a celebração do 70º aniversário natalício. 

O programa, abrangente que é, vai ser coordenado pela Professora Ana Paula Campos. Vão intervir  Álvaro Coimbra, Presidente do Município de Penacova, David Almeida, autor do prefácio, Humberto Matias, músico e pintor, que dirá alguns poemas, Ana Marques Lito, que fará a apresentação deste livro de poesias e crónicas, e,  obviamente, o Autor.

A fechar a tarde de Convívio, depois de os grupos corais interpretarem As Heróicas de Fernando Lopes Graça, serão cantados os Parabéns, mimados por uma fatia de bolo de aniversário e brindados com uma taça de champanhe.

Sobre a obra agora apresentada é o próprio autor que, na "Nota ao Leitor", nos revela que a mesma “nasceu no período imediatamente subsequente aos picos maiores do louco (Covid 19)” e na sequência do livro Inquietude, o seu “Livro da Pandemia”.

“Se naquele se retratava a minha atitude pessoal perante o fenómeno que, naturalmente, teve influência na minha vida e nas vidas dos que me são mais próximos, neste retrata-se o que hoje assumo como a minha Liberdade [essa palavra sem preço]…” - sublinha o autor, acrescentando que este seu livro condensa as “expressões das vivências evolutivas” que “foram – religiosamente todas – publicadas pelo Jornal da [sua] terra Penacova Actual.”

“Obrigado Pedro Viseu! Obrigado Amigos do WhatsApp! Obrigado a quem leu, a quem comentou, a quem incentivou e a quem partilhou!” - faz questão de afirmar publicamente, acrescentando um apelo: “Homenageemos todos juntos esse fenómeno – que temos a sorte de ter na nossa terra –- da Imprensa Regional, em que exercer a Liberdade é possível, sempre com todo o respeito por opiniões contrárias e sempre admitindo que a nossa acaba onde começa a do outro.” Dirá mais adiante: “Sim, este Livro é a minha homenagem pessoal ao Penacova Actual; humilde, mas genuína."

“Os principais destinatários do conjunto destes textos (em poesias e opiniões) elaborados na lógica da Liberdade que tenta ser verdadeira, desprendida, simples, humilde…mas firme!” são, conforme nos revela, “os mais velhos, os mais doentes, os mais pobres, os desempregados, os sem abrigo, que é como quem diz os que vão deixando de acreditar em tudo e em todos.”

A obra, em si, tem dois capítulos: as Poesias e as Opiniões: “Ao contrário do que sempre aconteceu nas minhas obras anteriores, a escolha da distribuição dos escritos em si mesmos e destes pelos capítulos não teve possibilidade de existir, justamente porque estão aqui publicados todos os textos inseridos no Penacova Actual, post pandemia, até Maio de 2023, uma vez que sou Colaborador do Jornal e tenho muito orgulho nisso.” - explicita igualmente Luís Amante no seu texto introdutório.

Este livro, uma edição da Calçada das Letras, chancela da Letras em Marcha, tem como conteúdo:

I - POESIA
1. A Liberdade Actual; 2. Hoje fui ver o “Futsal”; 3. O Abril em tempo; 4. Guerra (em directo) e indignação; 5. Como “gostar” da nossa terra?; 6. As nossas Jéssicas; 7. Juventude: ainda as “Descobertas”; 8. Um “trio” no Galinheiro; 9. Liberdade; 10. Rosa de Porcelana; 11. Deixem de lhes lixar a Pensão!; 12. iPhone, o nosso melhor amigo; 13. Terra batida no Outono; 14. Homenagem aos Militares de Abril; 15. O Natal que sinto; 16. Lágrimas por Kherson; 17. Dia soalheiro; 18. O clarear da manhã; 19. O Céu da minha Terra; 20. O “galo” já não canta; 21. Um homem e a curva; 22. As cavadas 23. Pedrógão: o que se fez; 24. A incerteza; 25. Se calhar, adiantei-me; 26. O Dia do Pai; 27. Que orgulho ser do Roxo; 28. O silêncio;  29. A Confraria da Bifana; 30. Mães de Seda; 31. Lua de Vida; 32. Campeões; 33. As Afegãs; 34. Ser Criança no dia da Mulher; 35. O Fundo da Vila; 36. As Andorinhas; 37. O carrinho Bogdan; 38. David, o Professor Avô.

II - OPINIÕES
1. Democracia = Alternância; 2. Ai a “saúde”;! 3. SNS: como fazer omeletes sem ovos?; 4. O SNS e a ministra em fim de linha; 5. E Agora, António?; 6. Incêndios: esse flagelo!; 7. Santos Silva e o Chega e … vice versa; 8. Adeus Chalana!; 9. O “tinteiro” e o “mata borrão”; 10. Pronto! …é proibido parir; 11. Os Funcionários da Justiça e a Greve; 12. Os heróis de Putin serão mesmo os veteranos?; 13. Ai Timor!; 14. Valha-Lhe Deus, Senhor Professor; 15. Falemos, então, de sujidade…; 16. Conteúdos directos de um País torto; 17. Os aviões da TAP já não irão passear de BMW; 18. O Futebol, a hipocrisia e a Entourage; 19. Não só… mas Penacova está a ficar sem gente!; 20. Ajustados, ou alinhados? ; 21. Queremos respeito pelos Professores; 22. Não manchem as Jornadas Mundiais da Juventude; 23. Parabenizo a GNR; 24. Ai ACT, ACT!; 25. A Justiça tem de funcionar? ;26. O “Tinteiro” zangou-se!; 27. Senhor Rui, auto-estradas p'ra quê?; 28. Os Trabalhadores da Imprensa e da Comunicação; 29. A “Eutanásia” incompetente; 30. Como assim Lula?; 31. A “profissão” que Abril não queria; 32. O País em suspenso!

Dando uma espreitadela às “badanas” do livro, lemos, em relação às diversas obras anteriormente publicadas:

Estes poemas... representam a alma de quem sabe amar e esperar, que protege e que cuida com paixão.
Ana Marques Lito, in Poemas a recordar, 2012

O selo da responsabilidade social parece tê-lo cunhado desde sempre nas paisagens do Mondego que quer preservar... adivinham-se nestes poemas as paisagens, os aromas, as tradições e as épocas de um Portugal interior...refiro-me a Penacova, terra onde nasceu... É preciso conhecê-la e respirá-la através da mão do poeta.
Maria José Vera,  in prefácio do Livro Conexões

Palavra a palavra em comunicação secreta escreveu um amante o que lhe ia na alma: não há cultura sem afectos.
Joana Bonifácio, in Blog - O estranho mundo dos livros

Impossível de escrever aqui fielmente a revelação efectuada sobre todas as qualidades e virtudes... designadamente como excelente pessoa, experimentado e ilustre profissional, poeta talentoso.
Leonor, in Blog - Tudo e mais alguma coisa

É devido a este magnetismo natural, a esta incondicional paixão, que o autor deste livro (re)ergueu a sua casa...aquela que possui uma não menos nostálgica gárgula de feição medieval, virada para a Rua da Costa do Sol, lugar onde brincou, namorou e dançou no fecundo período da sua adolescência. Luís Pais Amante é o poeta da Casa Azul…
José Fernando Tavares, in prefácio de Penacova Intemporal

MAIS sobre o Autor: 


05 janeiro, 2024

As Janeiras e os Reis das terras de Penacova, tal como se canta(va)m em Lorvão ...


A ADORAÇÃO DOS REIS MAGOS, GIOTTO


Ao Professor Doutor Nelson Correia Borges devemos muito do que hoje se conhece e se preserva da história e da cultura do nosso concelho, em particular de Lorvão. Além dos importantes estudos académicos que desenvolveu, Nelson Correia Borges foi ao longo de muitos anos profícuo colaborador da imprensa local. É dos inícios dos anos sessenta do século passado o texto que, nesta quadra natalícia prestes a terminar, achamos pertinente e oportuno recordar.

A crónica começa assim:

“Antigamente, pela Natividade, em muitas terras do país era uso cantar-se e bailar-se nos templos ao som da gaita de foles, mais o tambor e a caixa. Em Lorvão só há memória de se ter dançado na igreja pela festa da Trasladação das Santas Rainhas, além da Moirisca que era em louvor de S. João ou S. Sebastião.

O Cancioneiro de Natal consta das Loas ao Menino Jesus, das Janeiras e dos Reis. Falar de todas elas numa crónica só, seria tentar «meter o Rossio na Betesga», por isso deixaremos as Loas para outra altura.

Chega o Ano Novo. Aqui entra calmamente, sem os bulícios, gritarias e estrondos das cidades. A nota principal da noite são as Janeiras cantadas de porta em porta. Formam-se ranchos de homens, de qualquer idade, que vagueiam pelo escuro das ruas, por vezes com um toque acompanhante, parando às portas de cada casa, pedindo as Janeiras e cantando em louvor do Menino Deus. Mas isto era noutros tempos, pois este costume tão típico está em vias de desaparecimento. Hoje só se cantam os «vivas» aos da casa, de qualquer forma e jeito, na mira daquilo que lhes podem dar. A descrição do nascimento do Menino Jesus, e mai'la Virgem Maria, vai pouco a pouco caindo no olvido, pois os que cantam as Janeiras não as sabem, e os que as sabem não as cantam. Ou talvez os primeiros se não queiram dar a essa maçada...

Para que de todo se não percam, vamos nestas colunas arquivar as Janeiras de Lorvão.

Ao que nos consta, para os lados de Penacova, canta-se também a mesma letra, mas com música diferente. As Janeiras de Lorvão, são, por conseguinte regionais, isto é, versão do que se canta (ou cantava) pelo concelho de Penacova.

                                         Gravura publicada no NP pelo Natal de 1963
 
Reproduzimo-las tal qual as recebemos da tradição popular, sem qualquer artifício da nossa parte para as tornar mais coerentes:

Naquela noite ditosa
que ao mundo deu alegria,
nasceu o Divino Verbo
das entranhas de Maria.

Caminhando para Belém,
pra lá chegar com de dia;
quando ele lá chegou
já meia noite seria!
S. José foi buscar lume
pra aquecer a Virgem Maria,
quando S. José chegou,
já Jesus era nascido;
nasceu nuns pobres portais,
que nem uns paninhos tinha!

Lançou as mãos à cabeça.
Uma touca que trazia,
fê-la em quatro pedaços,
Menino de Deus cobria.
Veio um anjo do Céu à terra,
ricos panos lhe trazia:
uns eram bordados a oiro,
outros a cambraia fina!

Foi o anjo para o céu,
rezando uma Avé-Maria.
Lá no céu lhe perguntaram:
Como ficou lá Maria?
Maria lá ficou boa,
na sua sala recolhida,
que lhe fez o carpinteiro
com sua carpintaria,
mandado do Padre Eterno
para sempre à Virgem Maria!

Glória seja a Deus Pai,
e a Deus Filho também;
Glória ao Espírito Santo,
para todo o sempre. Amen.

A música repete-se de dois em dois versos, repetindo-se por sua vez as três primeiras sílabas do se-gundo verso. Repare-se que a parte final respeitante à resposta do anjo é alheia ao motivo natalício. Quanto a nós deve pertencer a outro romance e ter sido aqui enxertada, Como sucedeu noutros.

Seguem-se as quadras de elogio as da casa, das quais transcrevemos algumas:

Vivam os senhores desta casa,
mais os anos que desejam,
companhia de uma rosa,
que foram buscar à igreja!

Viva lá senhora Alice,
raminho de laranjeira;
cai-lhe a flor no regaço,
ai Jesus, que tão bem cheira!

Viva lá senhor José
quando põe o seu chapéu
e vem vindo. para a porta,
parece um anjo do céu!

Viva lá senhora Maria,
Raminho de alecrim:
é a flor mais bonita
que se criou no jardim!

Viva lá senhora Teresa,
raminho de salsa crua
na janela do seu quarto
bate o sol e bate a lua!

Depois há também as quadras pedinchonas. Pede-se salpicão ou chouriça, mas qualquer coisa se aceita, os da casa já sabem como é...

Viva lá senhor João
assentado na cortiça:
deite a faca ao fumeiro
e dê p’ra cá uma chouriça!

Viva lá o senhor António
assentado num esteirão:
deite a faca ao fumeiro,
dê pra cá um salpicão!

Passam a outra casa, depois de receberem, quando recebem, o prémio da cantoria, e voltam a repetir as mesmas quadras, mudando os nomes.. Geralmente o produto das Janeiras, ou dos Reis é consumido naquilo a que hoje chamamos «jantar de confraternização».

Nos Reis, ou melhor, Reises, como por aqui se diz, é aplicável tudo o que dissemos sobre as Janeiras. A mesma música e as mesmas quadras pedinchonas e elogiosas. Difere, como é lógico, a narrativa bíblica, que o povo parafraseou à sua maneira em quadras belas e ingénuas:

Nobre casa, honrada gente,
escutai, ouvi-lo-eis:
uma cantiga tão linda
que se canta pelos Reis!

São chegados os três reis
da parte do Oriente,
visitar a Deus Menino,
Alto Deus Omnipotente.

Foram a casa de Herodes,
por ser o maior reinado:
que lhes ensinasse o caminho
donde Jesus era nado.

Herodes com seu malvado,
com seu perverso maligno,
foi ensinar os reis,
às avessas o caminho.

Os três reis como eram santos,
a estrela os foi seguindo.
A estrelinha se foi pôr
em cima de uma cabana.

A cabana era pequena,
não cabiam todos três;
adoraram Deus Menino
cada um por sua vez.

Ofereceram ao Menino:
oiro, mirra e incenso;
não lhe ofereceram mais nada,
porque Ele era o Deus Imenso!

Glória seja a Deus Pai
e a Deus Filho também;
glória ao Espírito Santo,
para todo o sempre. Amen.

A festa da Natividade, tão querida do povo português, originou um Cancioneiro de Natal, do qual oferecemos aos nossos leitores as Janeiras e os Reis das terras de Penacova, tal como se cantam em Lorvão.

«Vamos adorar o Deus Menino em Belém, entre os pastores!”

10 de Dezembro de 1962

CORREIA BORGES






28 dezembro, 2023

Monte lauribano in finibus Gallecie

 


O infante Ramiro, filho de Ordonho II, rei da Galiza, e neto de Afonso III das Astúrias, terá nascido no ano 900. Reza a história que foi criado por D. Onega e marido, Conde Diogo Fernandes, em terras bem próximas de nós, entre Coimbra e Viseu. Nesta cidade teve a sua Corte entre 926 e 931,  já com o título de Ramiro II. O Rei Ramiro foi um “esforçado guerreiro e bom político” que acabou por se tornar figura lendária, recorda Jorge de Alarcão. 

Ramiro, personagem ao longo dos tempos gravada na memória popular, foi recuperada por Almeida Garrett com o romance popular “Miragaia” incluído no primeiro volume do “Cancioneiro”.

Tem esta espécie de introdução a ver com os tempos em que as terras de Lorvão faziam parte do reino de Leão integrando a região da Galiza. Recorde-se que os limites meridionais desta região nos séculos IX e X começaram por ser o rio Minho, depois o Douro e por fim a linha do Mondego. Nesta fronteira mais a sul pontificavam a estratégica cidade muralhada de Coimbra e o importante Mosteiro de Lorvão. 

A designação de “Gallaecia” aplicava-se assim a todo o território até ao Mondego.  Os poderes Asturo-Leoneses assim o entendiam quando se referiam à periferia ocidental dos seus domínios.

Sobre este aspecto vamo-nos cruzar de novo com Ramiro II: em 933, um documento de Lorvão, por ele assinado situava aquele cenóbio “in finibus Gallecie”. 

Trata-se do documento nº 37 dos “Portugaliæ Monumenta Historica” (PMH) / Diplomata et Chartae. uma coletânea de textos da história de Portugal.  Publicada pela Academia das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1917, dividida em quatro secções: Scriptores (autores), Leges et Consuetudines (leis e costumes), Diplomata et Chartae (diplomas e cartas) e Inquisitiones (inquirições). As primeiras três foram compiladas sob a direção de Alexandre Herculano anteriormente a 1873, e a última, Inquisitiones, entre 1888 e 1897, após a sua morte. Os documentos datam da Idade Média e são primariamente escritos em latim medieval e língua galego-portuguesa.