28 dezembro, 2023

Monte lauribano in finibus Gallecie

 


O infante Ramiro, filho de Ordonho II, rei da Galiza, e neto de Afonso III das Astúrias, terá nascido no ano 900. Reza a história que foi criado por D. Onega e marido, Conde Diogo Fernandes, em terras bem próximas de nós, entre Coimbra e Viseu. Nesta cidade teve a sua Corte entre 926 e 931,  já com o título de Ramiro II. O Rei Ramiro foi um “esforçado guerreiro e bom político” que acabou por se tornar figura lendária, recorda Jorge de Alarcão. 

Ramiro, personagem ao longo dos tempos gravada na memória popular, foi recuperada por Almeida Garrett com o romance popular “Miragaia” incluído no primeiro volume do “Cancioneiro”.

Tem esta espécie de introdução a ver com os tempos em que as terras de Lorvão faziam parte do reino de Leão integrando a região da Galiza. Recorde-se que os limites meridionais desta região nos séculos IX e X começaram por ser o rio Minho, depois o Douro e por fim a linha do Mondego. Nesta fronteira mais a sul pontificavam a estratégica cidade muralhada de Coimbra e o importante Mosteiro de Lorvão. 

A designação de “Gallaecia” aplicava-se assim a todo o território até ao Mondego.  Os poderes Asturo-Leoneses assim o entendiam quando se referiam à periferia ocidental dos seus domínios.

Sobre este aspecto vamo-nos cruzar de novo com Ramiro II: em 933, um documento de Lorvão, por ele assinado situava aquele cenóbio “in finibus Gallecie”. 

Trata-se do documento nº 37 dos “Portugaliæ Monumenta Historica” (PMH) / Diplomata et Chartae. uma coletânea de textos da história de Portugal.  Publicada pela Academia das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1917, dividida em quatro secções: Scriptores (autores), Leges et Consuetudines (leis e costumes), Diplomata et Chartae (diplomas e cartas) e Inquisitiones (inquirições). As primeiras três foram compiladas sob a direção de Alexandre Herculano anteriormente a 1873, e a última, Inquisitiones, entre 1888 e 1897, após a sua morte. Os documentos datam da Idade Média e são primariamente escritos em latim medieval e língua galego-portuguesa.


22 dezembro, 2023

Boas Festas 2023

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21 dezembro, 2023

O Lagar do Pisão (re)visitado por Arménio Simões no seu “Trilho do Tempo”


Em 2015 ao visitar a Feira Cultural de Coimbra detive-me num dos espaços onde a par da exposição de gaitas artesanais de cana se encontrava um à venda um curioso livro sobre memórias etnográficas. Tudo da autoria de Arménio Simões, um engenheiro reformado, com quem estabelecemos uma pequena conversa.

Sobre o livro, de acordo com o prefácio, trata-se de “um vasto e rigoroso testemunho, no qual as crendices, as alfaias, os engenhos, os processos relativos à moagem, são tratados com enorme fidelidade.”

Analisando melhor a obra intitulada Trilho do tempo: etnografia do século XX ao redor de Almalaguês (2013) deparámo-nos com uma preciosa referência ao “Lagar do Pisão” (Lorvão) com fotografias extraordinárias e curiosas informações recolhidas junto do proprietário, Sr. Alípio Marques, que o autor oportunamente contactou. 

Ao falar dos lagares de azeite, escreve Arménio Simões: 

“Curiosamente, assim como o início do século XX coincidiu com o aparecimento do lagar movido por eletricidade e a morte lenta do de vara que se havia de prolongar até meados do século, o mesmo se havia de verificar na seguinte viragem com o aparecimento duma terceira geração de diferente tecnologia, diferindo pela morte súbita do lagar de prensas hidráulicas que até meados do século ainda manteve o tradicional sistema de separação do azeite por meio de tarefas onde se verificava que o azeite é como a verdade, vem sempre ao de cima, até quando substituído pelo sistema mecânico duma máquina centrifugadora.”

Depois de referir diversos exemplos da região de Almalaguês o autor faz uma incursão até à região de Penacova: 

“Em Lorvão, ano de 2011, no concelho de Penacova e por gentileza do Senhor Alípio, seu então proprietário, tivemos acesso a um exemplar de azenha e duas varas, ainda em razoável estado de conservação.



Tendo-o comprado como parte integrante dos terrenos que pertenceram ao mosteiro, e no culminar duma série de transmissões de propriedade que o levaram até ele, o Senhor Alípio começou por recuperá-lo e lhe dar uso durante algum tempo, e enquanto rentável, após o que se sucederam alguns anos de deteriorante inatividade até quando resolveu recuperá-lo como peça de estimativo valor museológico familiar, não obstante a própria longevidade de que anos o não impediam.

Conservando uma das duas grandes varas originais e feita de pinheiro manso, a outra, do lado esquerdo, mandou fazê-la em 1945, para o que usou um dos seus próprios eucaliptos com cerca de cinco toneladas e arrancado nas proximidades de onde demorou dois dias a percorrer uma distância de quinhentos metros, sobre dois eixos e puxado por duas juntas de bois, não obstante o acentuadamente favorável declive do terreno.” 

Estas informações, bem como o registo fotográfico (que será da primeira década deste século) vêm completar os elementos que nos aparecem em diversos escritos (por exemplo Patrimónios de Penacova, de Leitão Couto e David Almeida) e na página da Direcção Geral do Património Cultural / Sistema de Informação para o Património Arquitectónico).

É aí, sob o título “Conjunto Arquitectónico Rural de Pisão - Portugal, Coimbra, Penacova, Lorvão” que encontramos os dados oficiais sobre este património do nosso concelho, protegido legalmente (Portaria n.º 637/2010, DR, 2.ª série, n.º 164, de 24 de agosto 2010)  como CIP - Conjunto de Interesse Público.

O Lagar insere-se num conjunto mais alargado de arquitectura agrícola, que inclui também  um grupo de Azenhas, um  Forno de Cal e uma casa anexa de tipologia rural. 


Sublinha a DGPC “o particular significado a nível histórico-social e etno-tecnológico do conjunto”, dado que, à data ( 2011) o lagar de azeite conservava ainda “todo o equipamento essencial a um lagar de varas, sendo um exemplar tipológico que se salienta pela sua originalidade e raridade, assim como as azenhas, estando uma delas ainda em funcionamento.” Graças à sensibilidade cultural dos herdeiros do Sr. Alípio Marques o conjunto conhecido como Lagar do Pisão mantém ainda as características e o estado de conservação acima descrito.

Este espaço rural rural, situado num vale a Norte do Lorvão, tem uma “envolvente paisagística de grande beleza panorâmica” onde predominam “o riacho, que corre ao lado do lagar de azeite e azenha de menores dimensões, a casa frente à azenha destacada com forno de cal na encosta.” 

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Fontes:http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2663; Arménio Simões, Trilho do tempo: etnografia do século XX ao redor de Almalaguês