11 dezembro, 2021

Terras de "Pena Cova" no final do séc. XVII

 



O Promptuario das terras de Portugal com declaração das comarcas a que tocam tem a data de 1689. Trata-se de um manuscrito, actualmente à guarda da Biblioteca do Exército, elaborado por Vicente Ribeiro de Meireles, funcionário da Secretaria da Junta dos Três Estados.

O documento tem 364 páginas e no capítulo “Provedoria de Coimbra” vamos encontrar o nome de diversas localidades, hoje pertencentes ao concelho de Penacova, mas que nos finais do século XVII se encontravam dispersas por variadas circunscrições.

Assim, podemos ler: [grafia original]

 «A vila de Pena Cova de que é donatário o Duque de Cadaval tem ouvidor que faz as eleições, que confirma o Duque; e nesta villa não entra o corregedor da comarca; tem no termo os lugares seguintes: [sempre antecedidos do termo Aldeia]

Chão de Baixo, de Val Gonçallo, Gondelim, Carvalhal de Mansores, Vila Nova, Riba de Baixo, Riba de Cima, Ferradosa, Sanguinho, Felgar, Travasso, Roqueira, Carvoeira, Cazaes, Ervideira, Aboboreira, Aldeia Nova, Ferreira, Villa Cham, Lombada, Alveite Grande, Veade, Couchel, Branca, Pinheiro, Carvalhal de Laborins, Couço, Oliveira do Cunhedo, Venda Nova de Poyares, Pereiro de Baixo, Pereiro de Cima, Pereiro de Além, Crasto, Soutelo, Villar, Miro, Carregal, Val do Tronco, Paradella, Cortiça, Serfreu, Farinha Podre, Quintella, Silvarinho, Val da Vinha, Leborins, Ribeira, Beco, Paredes, Cunhedo, Almassa, Lagares, Travanca d’aquem e Travanca d’alem."

A Vila de Carvalho é da coroa, tem um juiz ordinário, vereadores e procurador que confirma o corregedor da comarca que entra nesta vila por correição; e no seu termo tem os lugares seguintes: 

Aldeia de Carvalho Velho, Aldeia de São Paulo, Aldeia de Carvalhais, Aldeia de Val de la Justa, Aldeia de Lourinhal e Aldeia de Penderada.

Note-se que a “aldeia” de Lorvão, "Figueiro" de Lorvão e Friúmes pertenciam, à época,  ao Termo de Coimbra.

Por sua vez, as aldeias de S. Paio, Cruz do Souto, Castinçal, Sobral, Parada e Val do Barco estavam afectas ao concelho de Óvoa

Este manuscrito refere ainda o Couto de Monte Redondo, nos seguintes termos:
 
“O Couto de Monte Redondo de que é donatária a Casa de Aveiro, tem um juiz ordinário, que confirma o corregedor da Comarca, e entra neste couto por correição, e o crime pertence ao juiz de fora de Coimbra.”

Observações:

Atente-se ao facto de se escrever Pena Cova, o que parece explicar que ainda hoje os penacovenses pronunciem Penacova com as duas tónicas “PE” e “CO”.

Outra curiosidade é “Travanca d’aquém” e “Travanca d’alem”. Ainda não há muitos anos as pessoas dali se referiam a um “Lugar de Além” como sendo a actual Portela. Terá a ver com a Travanca d’Alem?

Alguém saberá dizer onde ficava a aldeia de Chão de Baixo, no termo de Penacova? E “Cazaes”? Terá a ver com Casal?

“Roqueira”, a actual Ronqueira, teria a ver com “roca”?

“Figueiro” de Lorvão? O autor do manuscrito adverte para o facto de os nomes aqui escritos aparecerem por vezes «contra a boa pronunciação e ortografia», para “não se lhe mudar o som com que se nomeiam e são conhecidas”.

Como se verifica, ao termo de Penacova pertenciam muitas terras do actual concelho de Vila Nova de Poiares.

Quanto à actual freguesia de Sazes não conseguimos localizar, de momento, qualquer referência.

14 novembro, 2021

Memórias de Paradela da Cortiça: o livro, a lenda da terra e o fascínio pelo passado



Só agora nos chegou às mãos este livro publicado em 2012. Agradeço à Dr. Arménia Coimbra a oferta desta obra, por intermédio do amigo José Eduardo Almeida Correia. Falo de “Memórias de Paradela da Cortiça” de Maria de Lourdes Pereira Morgado.

São cerca de 120 páginas que nos falam da “vida sã e simples de quem nasceu, cresceu e morreu, dedicando parte de si ao torrão natal” e nos transmitem “algo que vem sendo contado de geração, em geração” - escreve a autora logo na primeira página.

Conta-nos mais adiante que “do convívio com as pessoas da aldeia” lhe ficou “o fascínio pelo passado” que agora “recorda com saudade”.

Trata-se de um registo importante da histórica e tradições de Paradela, que evoca monumentos, lendas, tradições, dias festivos, profissões, habitação, gastronomia, vida escolar, agricultura, vida social, individualidades, pessoas típicas e estórias curiosas.

É com um olhar poético que Maria de Lourdes Morgado parte para nos transmitir este seu saber e a grande afeição pela sua terra: “A nossa Paradela, com as suas casas brancas e telhados vermelhos, a Igreja com a sua torre simples, os nossos canteiros e as nossas flores… Olhamos o azul do céu e contemplamos o mais belo quadro que jamais algum pintor conseguiu pintar sem ser o Criador.”

Ao longo do livro as memórias jorram de página em página, por vezes de um modo quase caótico, não esperando por uma qualquer lógica de espaço e de tempo (que poderia até prejudicar esta torrente de recordações). E no tempo se perde a Lenda de Paradela.

O livro de Lourdes Morgado não podia deixar de a registar. Façamos um resumo com base no seu texto:

Paradela seria uma pequena aldeia situada num lugar chamado Casal, perto das Poeiras. Nesses tempos, o cemitério era no sítio da Cabeça dos Finados, junto à Cumeada.

A dada altura, a terra foi assolada por uma grande “febre” e alguns habitantes da aldeia morreram por ela vitimados.

Ali viviam três irmãos piedosos que logo se entregaram à oração, pedindo ajuda divina para tão grande calamidade. Certa noite tiveram um sonho no qual uma voz lhes disse para irem a determinado sítio onde encontrariam, escondido nuns escombros, um nicho com uma imagem. Deveriam trazer a imagem para a aldeia e aí construírem uma igreja onde a venerariam. E mais: a voz dissera também para mudarem o povoado para o lado do sol.

Acordaram perturbados e aperceberam-se que todos tinham tido o mesmo sonho. No dia seguinte lá partiram seguindo o destino que em sonho lhes havia sido indicado. Ao fim de algum tempo encontraram a imagem, que era de S. Sebastião, e envoltos naquele mistério, regressaram à sua terra, “radiantes e cheios de fé”, aquela fé que “ainda hoje perdura nos paradelenses”.

Mudaram a localização do povoado e, apesar de a igreja ter demorado alguns anos a ser construída, desde logo começaram a venerar a santa imagem.

Assim, S. Sebastião passou a ser o protector da aldeia. Vieram muitas epidemias, como a cólera do século XIX e a pneumónica de 1918, e Paradela sempre foi salva da “peste”, não morrendo ninguém. Também nas guerras os soldados de Paradela sempre sobreviveram aos combates e nunca sofreram qualquer mutilação.

Por tudo isso “o nosso São Sebastião é bem digno da nossa devoção” – conclui Maria de Lourdes Morgado.

“Memórias de Paradela da Cortiça”, um livrinho que nos fala-nos das “tradições perdidas” que muitas vezes “só existem nas nossas memórias”, mas que agora, muitas delas, ao ficarem registadas em letra de forma, perdurarão, certamente, por mais uns longos anos se, para tanto, este precioso livro for devidamente divulgado e estimado por todos os naturais e residentes em Paradela.

Contracapa: pensamos ser um retrato da autora








14 outubro, 2021

"Quem foi quem na toponímia de Penacova" retrata algumas das personalidades que marcaram a vida do concelho

O jornal "A Comarca de Arganil" de hoje, 14 de Outubro, noticiou o lançamento do 1º volume dos "Cadernos de Toponímia", que decorreu no dia do feriado comemorativo da Implantação da República. Para memória futura, transcrevemos o texto publicado naquele periódico.

"Em dia de comemoração do 5 de Outubro, e integrado no programa do município para assinalar a Implantação da República em Portugal, realizou-se no Salão Nobre dos Paços do Concelho a apresentação do livro Quem foi quem na toponímia de Penacova: antropo-topónimos das vilas de Penacova, Lorvão e S. Pedro de Alva. Trata-se do primeiro volume de uma colecção que pretende não apenas analisar o caso de ruas, praças e largos com nomes de personalidades marcantes, mas todos os casos de toponímia das muitas localidades do concelho de Penacova.

Este trabalho integra-se, em parte, na dinâmica que levou à criação em 2019 de uma Comissão Municipal de Toponímia, de que o autor é membro convidado, juntamente com o Prof. Reis Torgal. O Regulamento Municipal de Toponímia e Numeração de Polícia, entrado em vigor a 1 de Fevereiro de 2020, é também resultado do trabalho dessa Comissão, coordenada pela Vereadora com o Pelouro da Toponímia, Drª Sandra Ralha.

O livro, de 80 páginas, apresenta uma síntese biográfica das vinte e quatro personalidades que constam da toponímia das três vilas referidas: Abel Rodrigues da Costa (1902-1990), Adelino Prista da Fonseca Hortelão (1901- c. 1980), Alberto José da Silva Sousa Leitão (1844-1889), Alípio de Oliveira Sousa Leitão (1839-1906), Álvaro Barbosa Ribeiro (1921-1999), António Alves Mendes da Silva Ribeiro (1838-1904), Artur Soares Coimbra (1918 -1976), Augusto César Barjona de Freitas (1834-1900), David Ubaldo da Silva Leitão Cardoso de Oliveira (1803-1879), Evaristo Lopes Guimarães (1857-1926), Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo (1836-1892), Fernando Baeta Bissaya Barreto Rosa (1886-1974), Francisco Manuel Lumbrales de Sá Carneiro (1934 -1980), Homero António Daniel José Pimentel (1914-1987), João António Gomes (1890-1983), João Martins da Costa (1921-2005), Joaquim Maria Leite (1829-1896), José António de Almeida (1819-1901), José Horácio de Moura (1908-1995), José Maria de Oliveira Matos (1847-1924), José Maria Viegas Pimentel (1899 -1964), Maria Amélia de Orleães (1865-1951), Mário da Cunha Brito (1890-1953) e Maurício Vieira de Brito (1919-1975).

Tem a assinatura de David Almeida, autor que nas palavras do Professor Doutor Luís Reis Torgal, prefaciador e apresentador, “já é conhecido em Penacova e a quem é reconhecida a sua qualidade de procurar ser rigoroso, consultando todas as fontes que é possível, ou que lhe é possível, dado que este tipo de trabalho é complementar da sua nobre função de professor.”

Também na Nota de Apresentação, o Presidente da Câmara, Dr. Humberto Oliveira, reafirmou o apreço pelo autor, designadamente “pelo seu empenhado esforço em partilhar” com os penacovenses o “seu conhecimento e o seu amor pela História Local” dando-nos a conhecer “elementos que fazem a diferença” no campo da História de Penacova.

A terminar a apresentação o autor agradeceu ao Professor Doutor Luís Reis Torgal “todo o incentivo e apoio na concretização deste trabalho” e a “honra que lhe concedeu ao escrever o prefácio”. À Câmara Municipal, em especial ao seu Presidente, Dr. Humberto Oliveira, à Dr.ª Sandra Ralha, responsável pelo pelouro da Toponímia e ao Vereador da Cultura, Dr. João Azadinho, deixou também um agradecimento pelo “interesse e a disponibilidade para a publicação” de mais um trabalho da sua autoria.

Do programa das comemorações constou também a assinatura do contrato de doação de películas fotográficas de Luís Francisco da Cunha e Menezes, fotógrafo penacovense, bem como a deposição de uma coroa de flores junto ao busto de António José de Almeida."