11 outubro, 2020

A colheita e a vindima no Apocalipse de Lorvão


Ao abrir o livro HISTÓRIA DE PORTUGAL EM 40 OBJETOS, publicado em 2017, encontramos um capítulo dedicado ao “Apocalipse de Lorvão”. O autor, Sérgio Luís de Carvalho, começa por referir uma observação de João Aguiar. Dizia aquele jornalista e escritor que “os irlandeses têm o Livro de Kells [1]cuja edição fac-similada se vende em qualquer livraria. Nós temos o Apocalipse de Lorvão, que não lhe fica muito atrás, e não o  temos acessível ao grande público.”

O Apocalipse de Lorvão é uma cópia do Commentarium in Apocalypsin, da autoria do chamado Beatus (Beato) de Liébana, um monge que viveu durante o século oitavo no Mosteiro de S. Martinho de Turieno, no norte de Espanha. O original perdeu-se, mas existem algumas reproduções, sendo o nosso Apocalipse (datado de 1189)  uma delas. Naturalmente, as cópias, reflectindo as especificidades dos respectivos copistas e iluminadores, resultaram diferentes entre si.

Em Lorvão, o autor deste códice ricamente iluminado foi o monge Egeas. Escrito em latim, com letra gótica a 29 linhas e 2 colunas, é formado por 221 fólios (ou folhas) com o formato de 345 x 245 mm e inclui 57 ilustrações de carácter místico e apocalíptico, que reflectem a concepção do mundo que se tinha naquele tempo e são também testemunho do quotidiano agrícola de Portugal no séc. XII.

A Colheita e a Vindima” é uma das mais conhecidas ilustrações deste códice. Cristo, o supremo juiz tem na mão uma foice com a qual se prepara para ceifar a seara seca pelo pecado e que será deitada ao fogo. De igual modo, o supremo juiz corta, através de um anjo armado com uma podoa, as latadas estéreis devido aos pecados dos homens que serão lançadas e esmagadas no lagar divino. Esta é a leitura sagrada, baseada no texto da bíblia. Mas esta iluminura espelha também as actividades da época do ano e também da época histórica. Por exemplo, Jesus e o anjo têm alfaias típicas da Idade Média, há cestas de vime no chão e lá está o lagar a funcionar. Podemos também observar o tipo de vestuário dos trabalhadores do campo. Há, ainda, cavaleiros, arcadas românicas, mobiliário e utensílios de artes várias, animais reais ou imaginários.  Ali está, mental e materialmente, muito dos primórdios do nosso país. 

Durante aquele período, o mosteiro de Lorvão afirmou-se como um dos principais centros de produção de manuscritos iluminados em Portugal. Como sabemos, o Apocalipse de Lorvão está inscrito, desde 2015, na Memória do Mundo da Unesco. 



[1] O Livro de Kells, também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800. Constitui, apesar de não concluído, um dos mais sumptuosos manuscritos iluminados que restaram da Idade Média e é considerado por muitos especialistas como um dos mais importantes vestígios da arte religiosa medieval.

04 outubro, 2020

A proclamação da República foi há 110 anos ... em Lisboa e em Penacova


RELATA O ALMANAQUE REPUBLICANO DE 1911:

“Finalmente, na manhã de quarta feira 5, as tropas monárquicas declararam-se vencidas, aderindo ao movimento e sendo hasteada no quartel general, no Castelo de S. Jorge, no Carmo, quartéis, etc., a bandeira republicana. Depois o povo, rompendo em massa, fraternizou com soldados, soltando entusiásticos vivas.

Em seguida dirigiram-se todos para a Câmara Municipal onde ia ser feita a proclamação da República.

Efectivamente, às 8 horas e meia da manhã, o Dr. Eusébio Leão, secretário do Directório, acompanhado pelo mesmo, apareceu à varanda dos Paços do Concelho e declarou implantada em Portugal o sistema republicano. Estas palavras foram recebidas pelo povo com uma ovação muito prolongada.

Depois o Dr. Inocêncio Camacho, também membro do Directório, leu os nomes dos Ministros que compõem o actual governo provisório, sendo cada nome à medida que ia sendo lido, freneticamente festejado.

Foi imediatamente enviado a todos os ministros dos negócios estrangeiros dos outros países um telegrama anunciando o advento da República e a nomeação do governo provisório. Depois tratou o governo de promulgar todas as medidas precisas para a manutenção da ordem e segurança da cidade. Enviaram-se telegramas para todas as cidades e vilas mandando hastear a bandeira republicana. Em todas as povoações a notícia dessa proclamação foi recebida com o maior entusiasmo, fraternizando o povo com o exército.

Conhecida na cidade a proclamação da república, o entusiasmo foi enorme. Das janelas desfraldavam-se as bandeiras republicanas e aos ecos da Portuguesa e da Marselhesa e ao estalejar dos foguetes juntavam-se os vivas à República, à pátria e à liberdade.

Como que por encanto, a capital adquiriu um aspecto de extraordinária animação. As ruas encheram-se de povo. Muitas carruagens e automóveis começaram a circular, levando todos os carros bandeiras encarnadas e verdes. Quase todos os populares traziam nos casacos fitas com as mesmas cores.

Todos mostravam nos semblantes a satisfação e a alegria por haverem terminado as cenas de sangue. E bem assim foi visto que os republicanos estavam decididos a vencer ou morrer. Disse um marinheiro que estava a bordo de um dos cruzadores, que a marinha iniciou o movimento revolucionário com perto de 900 homens, dispostos a não abandonar o seu posto e a irem até ao fim, havendo a certeza de que, se o movimento tem sido dominado em terra, resultaria uma guerra civil, com uma mortandade como não haveria memória. (…)

in Almanaque da República, 1911

EM PENACOVA:

Só no dia 6 de manhã a notícia chegou a Penacova. Joaquim Serra Cardoso “tinha ido na véspera para Coimbra, e assim teve a honra de trazer em primeira mão a grata notícia”. Ao chegar ao ramal de Santo António, “soltou um estridente Viva a República que foi ouvido na vila”. Pouco depois, uma comissão republicana composta por Rodolfo Pedro da Silva, António Moncada, José Pedro Henriques, José Alves de Oliveira Coimbra e Amândio Cabral, percorreu a vila convidando os cidadãos para assistirem, ao meio dia, à proclamação da República nos Paços do Concelho.

A notícia fora anunciada por uma salva de 31 morteiros e grande número de foguetes. Em toda a vila o trabalho ''foi suspenso, pois que todos queriam pormenores do faustoso acontecimento.''

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27 setembro, 2020

Os 210 anos da Batalha do Bussaco

Um ano diferente para o projeto " Caminhos da Batalha do Bussaco" - podemos ler hoje na página do Município. "Este ano não tivemos os nossos passeios encenados, as nossas atividades que de forma diferente tentam levar de uma forma lúdica e cativante a história da Batalha do Bussaco e a sua importância nesta região. Este vídeo é uma retrospetiva do nosso trabalho até aqui realizado, mas é também uma homenagem ao grande responsável pela existência deste projeto. Em memória do "General" Luís Rodrigues."


No entanto, desenvolveu-se um programa que começou em Penacova , onde o Presidente da Federação Europeia das Cidades Napoleónicas, Charles Bonaparte, foi recebido pelo Presidente da Câmara, Humberto Oliveira.

A visita ao Centro de Interpretação “Mortágua na Batalha do Bussaco”, no Município de Mortágua, foi outro ponto.

De referir também que o Presidente da Federação Europeia de Cidades Napoleónicas, Charles Bonaparte, descendente de Napoleão Bonaparte plantou, uma oliveira na Mata Nacional do Bussaco, símbolo da Paz. Um ato de duplo significado: celebrar o Dia da Cooperação Europeia e marcar a integração do projeto europeu Interreg NAPOCTEP na Federação Europeia das Cidades Napoleónicas.

Além da assinatura do Protocolo de integração teve também lugar a apresentação de um vídeo promocional do projeto NAPOCTEP, “De Almeida ao Bussaco: na Rota das Invasões Francesas"









FONTE: Município de Penacova e CIM - Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra