04 dezembro, 2019

Mês a mês com o Portugal da I República (mandato presidencial de António José de Almeida)

DEZEMBRO DE 1919

1 Em carta dirigida a Aires de Ornelas, D. Manuel II critica o procedimento dos integralistas - Junta do Integralismo Lusitano declarou-se desobrigada de lealdade para com o antigo monarca em Outubro de 1919)

2 Decreto nº 6263 que agrava sobretaxas da importação, estabelece a liberdade das exportações e restringe as remessas de fundos e títulos em ouro para fora do país. Criado um Conselho Fiscalizador do Comércio Geral e Câmbios

18 Encíclica de Bento XV aos prelados portugueses, onde o Papa apoia expressamente a criação do do Centro Católico Português.

19 Descoberto em Lisboa um arsenal que se situava numa dependência de uma escola primária.

22 Cunha Leal critica o decreto de 2 de Dezembro que vem a ser modificado no dia 20, conforme o pedido de várias forças vivas. No dia 22, os ministros das finanças, da agricultura e do comércio pedem a demissão por causa deste processo.

26 Afonso Costa é feito doutor "honoris causa" pela Universidade de Estrasburgo.

29 Sá Cardoso, em entrevista ao Diário de Notícias, refere a existência de agitadores no seio da classe operária.

30 Estabelecido o regime do processo sumário para matérias relacionadas com géneros açambarcados ou adulterados.

E ainda…

Em Dezembro de 1919 forma-se o primeiro doutor em Direito por Lisboa, Jaime de Gouveia. Havia cursado em Coimbra.

Greves em Lisboa do pessoal dos eléctricos, dos pasteleiros, dos cozinheiros e dos trabalhadores do mar.

Bombas em Lisboa, Coimbra e Porto.

São afastados pelo governo na sequência de movimentações monárquicas alguns professores da universidade de Coimbra: Oliveira Salazar, Carneiro Pacheco, Fezas Vital, Magalhães Colaço e Gonçalves Cerejeira.

Surge a Legião Vermelha, à qual irão ser atribuídos a maioria dos atentados que ocorreram até 1925
A epidemia de tifo fez 2282 vítimas neste ano.

Existiam em Portugal 5000 automóveis e 2500 assinantes de telefone.

FONTES: http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=039810
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/liberalismo/lib1919.htm
http://maltez.info/respublica/Cepp/governos_portugueses/i_republica/sa_cardoso_1919.htm
História de Portugal em Datas (Círculo de Leitores)

01 dezembro, 2019

Descoberta mina de prata na Cheira


Foi descoberta por um funcionário da Câmara, quando procedia à exploração de água para abastecimento à Cheira, uma mina de prata e outros metais, localizada ao cima daquela localidade, na estrada Penacova-Botão.

A notícia é de Abril de 1934 e não parece ser mentira do primeiro de Abril dado que põe em causa a honorabilidade de algumas pessoas importantes da vila.

Muitas outras minas tinham aparecido no concelho, muitas delas nunca exploradas e sem qualquer resultado, pelo que noticiar o aparecimento de uma mina não seria propriamente novidade. O que terá merecido reparo foi o facto de ter sido registada na Secretaria da Câmara,  não em nome do Município mas em nome de uma sociedade particular.

Faziam parte dessa sociedade o Presidente da Câmara, José de Gouveia Leitão, Manuel Ferreira Sales Guedes, médico municipal, Francisco Sales Guedes, tesoureiro da Câmara, Amílcar Coimbra Leitão, advogado e Laurindo da Cunha Martins, comerciante.

A fortuna encontrada na mina da Cheira não terá passado de um sonho. Mas como seria se a exploração tivesse dado resultado? – questionou o articulista do jornal local. Ou tudo não terá passado, afinal, de uma peta do 1º de Abril daquele ano?

06 novembro, 2019

A Cavalaria de Penacova ou os cavaleiros sem cavalo...



Conta-se que em Coimbra era frequente os comerciantes da baixa para distraírem os fregueses, enquanto mediam ou pesavam as mercadorias, fazer troça da Cavalaria de Penacova.

Diziam eles que em Penacova a pobreza era  geral e atingia mesmo indivíduos de posição elevada, como eram os cavaleiros. Quando algum destes se via forçado a vir à cidade, como não tinha cavalo, fazia toda a jornada a pé. No entanto, com vergonha, tinha uma maneira engenhosa de encobrir a sua penúria.

Vestia-se e calçava-se como bom cavaleiro de botas e esporas e saía de Penacova sempre acompanhado do seu cão. Lá vinha pela Serra da Aveleira e do Dianteiro atravessando montes e vales até chegar ao fundo da Calçada do Gato, já perto de Santo António dos Olivais.

Ali, agarrava o cão e esporava-o fortemente até que as rosetas das esporas ficassem tingidas de sangue e com pêlo agarrado. Este, logo que o deixavam, fugia vertiginosamente para casa. O “cavaleiro” continuava  a pé por Santo António e Celas até entrar na cidade. Aqui as pessoas das suas relações faziam-lhe cumprimentos, com a devida consideração e ofereciam-lhe a casa perguntando logo onde tinha prendido o cavalo.

- Olhe, tenho em Santo António dos Olivais uma pessoa amiga que me faz o favor de recolher o cavalo e ter-mo devidamente tratado – dizia prontamente o cavaleiro. Quando eu tiver dado as voltas que tenho de dar, regresso e encontro-o pronto a marchar!

A cavalaria penacovense ... a história dos cavaleiros sem cavalo, são anedotas que remontam a tempos antiquíssimos. Pensa-se que esta “graçola” até terá o seu fundamento. É que, como refere Alexandre Herculano, havia realmente peões que eram elevados à categoria de cavaleiros quando se distinguiam pela bravura e feitos de armas, ainda mesmo que por falta de meios não pudessem ter nem sustentar cavalo. Aquele historiador cita mesmo o  Foral de Penacova, documento que mostra a grande importância militar do concelho e do castelo de Penacova no largo período da reconquista cristã. Estas anedotas  e historietas serão a prova indiscutível de que houve em Penacova uma falange de guerreiros cristãos que muito se notabilizaram.

Daí virá a fama da briosa Cavalaria Penacovense em que entravam cavaleiros... sem cavalo. Não tinham por falta de meios, mas tinham as esporas que haviam conquistado pelas suas provas de bravura e feitos de armas.

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Nota: Esta e outras crónicas que se seguirão têm como base um conjunto de textos publicados no jornal Notícias de Penacova nos anos trinta do séc. XX, que pensamos serem da autoria de José Albino Ferreira.