16 junho, 2019

“Penacova-a-Linda” na poesia e na música

Não se sabe ao certo quem pela primeira vez usou a  expressão  “Penacova-a-Linda”. No entanto, encontrámos no jornal Notícias de Penacova uma alusão a António Casimiro Guedes Pessoa (1879-1935) como sendo o seu autor. No mesmo periódico, em 1932, aparece um artigo assinado por Dora (Aurora Rodrigues) intitulado “Penacova-a-Linda”, provavelmente já uma  influência daquele penacovense.

Em 1947 Manuel de Oliveira Cabral,grande divulgador de Penacova e das suas belezas naturais, escreveu o poema “Penacova-a-Linda”. Este escritor e pedagogo, acompanhado da esposa, Estefânia Cabreira, conhecera Penacova, em 1933, na qualidade de arista, e não mais esqueceu esta terra.

Poesia de 1947, in Notícias de Penacova (1968)
A poesia de Oliveira Cabral foi musicada por Estefânia Cabreira. A composição foi executada pela Orquestra da Emissora Nacional (secção do Norte) sob a regência do maestro Resende Dias e cantada por Júlio Guimarães (uma das vozes da locução mais conhecida no Porto durante décadas e afamado cantor de tangos), tendo sido gravada em disco e em fita magnética. A pedido de Oliveira Cabral terão sido feitas expressamente duas cópias para serem oferecidas a António Feliciano de Sousa (que seria solicitador no Porto e terá construído o “Moinho do Aviador”) e António Rodrigues Amaral.

Também no jornal “Comércio do Porto”, sob o título “Belezas de Portugal” foi publicado aquele poema sobre Penacova.

Partitura da composição gravada em disco nos anos quarenta
Uma outra composição (letra e música) dos mesmos autores intitulada “A Voz do Mondego” foi publicada no Notícias de Penacova em 1947. Temos também o “Hino de Penacova”, cuja autoria é atribuída a Álvaro Alberto dos Santos. Consta que, igualmente, o Dr. Manuel Ferreira Sales Guedes terá escrito um poema sobre Penacova, “musicando-lhe uma Marcha”. Refira-se ainda a obra “Penacova”, da autoria de Joaquim Fernandes Fão, maestro da GNR e autor de inúmeras obras para Bandas Filarmónicas. Este trabalho, uma fantasia (termo que designa uma peça de carácter livre),  foi estreado em 1934, em Lisboa, num concerto da Orquestra de Saxofones e Banda da AIRFA (Banda Filarmónica da Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense).

Antes de terminar, não podíamos deixar de referir canções como "As Nevadas" e "Penacova Minha Terra"  do Mestre Alípio Borges, ainda recentemente recordadas pela Casa do Povo de Penacova.

Penacova tem vindo ao longo dos anos a inspirar muitos poetas e músicos. Uma recolha que seria interessante fazer. Desde já agradecemos todos os contributos nesse sentido.

(penacovaonline2@gmail.com)

13 junho, 2019

A Capela de Santo António em Penacova (séc. XVII)



Capela de Santo António . Foto de A. Silva Calhau

A capela de Santo António é uma construção do séc. XVII que ao longo dos tempos foi sofrendo algumas modificações. Exteriormente, sobressai um alpendre de quatro colunas na frente e uma a meio de cada lado.

No interior, podemos observar uma campa, já muito deteriorada.  Tem uma  faixa envolvente e um brasão muito corroído. Apresenta uma inscrição que aponta para a data de 1621 e nos fornece outros elementos relativos à família da pessoa sepultada.
Transcrição do texto que consta na campa
Possui um retábulo dos séculos XVII-XVIII, com imagens de Santo António e S. Francisco, do mesmo período. O púlpito tem a forma circular. Uma imagem de pedra, assente numa mísula, representa o  Anjo da Anunciação. É do séc. XVI. Outra escultura, representa uma Virgem (séc. XVII-XVIII).

De registar ainda a existência de um cálice (prata), sem ornatos, com a seguinte inscrição no listel da base: “ESTE CÁLICE HE DA IRMANDADE DE SANTO ANTÓNIO FOI FEITO ERA D. 1664 a.”

Fonte: Inventário Artístico de Portugal, 1952

25 maio, 2019

Os santeiros de Sazes



O Inventário Artístico de Portugal (volume relativo ao distrito de Coimbra, publicado em 1952) menciona  que a Igreja de Sazes tinha “muitas esculturas espalhadas pelos altares e arrecadações, obra do pároco, Padre António Abílio dos Santos”.

Assinatura do Pe António Abílio dos Santos
quando, em 1890, era pároco de Sazes

Na Exposição Distrital de 1884 pôde ser apreciado pelos visitantes uma imagem de S. João, “pequena escultura em madeira”, tendo como autor “o reverendo António Abílio dos Santos, cura na paróquia de Sazes”. A estatuária religiosa de Sazes adquirira já alguma projeção regional. É numa publicação que descreve aquele certame que se pode ler uma curiosa referência a esta arte tradicional arreigada naquela freguesia:
“Naquela pitoresca aldeia das vertentes ocidentais da serra do Bussaco é tradicional nos seus diretores espirituais a tendência para a estatuária. Durante muitas gerações ali tem existido, junto da singela e rústica igreja, uma modestíssima oficina de modelação e estátuas religiosas.”
A origem desta arte, poderíamos dizer indústria, estaria relacionada com o Convento do Bussaco: “Neste eremitério dos Carmelitas Descalços houve alguns monges que se dedicaram à arte escultural e que legaram àquele convento algumas obras de merecimento”.  Sazes fica muito próximo do Bussaco e, provavelmente, foram aqueles “frades-artistas”, ao visitarem com alguma assiduidade as aldeias circunvizinhas, a origem da indústria de imagens existente em Sazes e muito conhecida não só no concelho de Penacova mas também no de Mortágua e na região da Bairrada. [1]
Nestas terras “o prior de Sazes e o seu cura são conhecidos e apontados como artistas estimáveis, e as suas obras por lá figuram em muitas capelinhas, ermidas e paroquias.” Esta indústria de Sazes assumiu alguma dimensão e “as encomendas” passaram a ser muitas “ porque a obra agrada[va] ao consumidor e os preços [eram] modicíssimos”.
A arte terá passado de uns párocos para os outros: “Terminados os ofícios divinos, o pároco despe as vestes sacerdotais, adorna-se com a simpática blouse do artista, e ei-lo que nos surge um verdadeiro operário, modelando ou esculpindo as obras que lhe são encomendadas!”




[1]O sr. padre A. Abílio dos Santos esculpiu uma imagem do Senhor morto que se venera na Igreja de Sangalhos, próximo a Oliveira do Bairro, uma do Senhor crucificado na capela do cemitério de S. Martinho da Cortiça, concelho de Arganil, outra dita  na Igreja de Alvaiázere, outra de Nossa Senhora na capela do lugar de Monte-Novo, junto ao Bussaco, outra dita em uma capela do Souto, freguesia de Espinho, de Mortágua. É também autor de duas de Santo António, uma na Igreja da Brenha nas proximidades da Figueira da Foz, e outra n’uma capela próximo a Vale da Mó, concelho de Anadia, além de muitas outras em capelas e casas particulares.”- pormenoriza aquele documento que descreve a Exposição Distrital  de 1884.