04 outubro, 2017

Breve apontamento sobre a proclamação da República em Penacova

A versão corrente dos acontecimentos sobre a implantação da República em Penacova passa, geralmente, pelo relato feito pelo Jornal de Penacova de 8 de Outubro de 1910 e pouco mais. Poder-se-á invocar o Auto de Aclamação onde constam algumas dezenas de assinaturas de muitos penacovenses. Um pouco tidos quase como lendários, poderão ainda ser referidos alguns episódios inusitados como aquele em que Amândio Cabral subiu por uma escada ao telhado dos Paços do Concelho para bem alto içar a bandeira verde-rubra. 

Além do relato oficial que podemos encontrar, quer nas actas das sessões dos órgãos municipais, quer noutros documentos dispersos, dispomos ainda de alguns periódicos locais, onde se destaca o Jornal de Penacova, que – apesar do seu carácter partidário, nalgumas fases da sua existência – nos fornece um vasto conjunto de informações que nos permite compreender melhor as dinâmicas duma época que tem como marca fundamental a mudança de regime político. 

Em Penacova, o republicanismo não nasceu no dia 5 de Outubro, ou melhor, no dia 6, quando nesta vila foi conhecida a notícia. Também aqui, o ideário republicano vinha germinando há alguns anos, por acção de homens formados na academia coimbrã, médicos e juristas, de braço dado com emigrantes chegados do Brasil. 

Ainda na vigência da Monarquia (1908) constitui-se a primeira Comissão Municipal Republicana e no dia 1 de Agosto de 1909 tem lugar o célebre comício de S. Pedro de Alva. Com a implantação da República as adesões aumentam, quer pela acção militante dos núcleos de Penacova e de S. Pedro de Alva, quer pela influência discreta de António José de Almeida, que tinha no concelho um grupo de amigos e simpatizantes e uma tribuna privilegiada de propaganda e de mobilização: o Jornal de Penacova. 
(…)
A 12 de Outubro, pelas 16 horas, toma posse uma primeira Comissão Administrativa Republicana, na sequência do Decreto com força de Lei, de 8 de Outubro, dimanado do Ministro do Interior. Comissão que tinha a seguinte composição: Efectivos: António de Seiça Ferrer de Saldanha Moncada, José Alves de Oliveira Coimbra, José Maria Marques, João António de Almeida, Manuel Correia da Silva, José Pedro Henriques e José Augusto Ribeiro. Substitutos: Bacharel Alípio Barbosa de Oliveira Coimbra, Eduardo Pedro da Silva, Francisco da Costa Gonçalves, Joaquim de Almeida Coimbra, Leonel Lopes Serra, Luís Pereira de Paiva e Pita e Urbano Ferreira da Natividade. 

Preside à reunião José Pedro Henriques, por ser o mais velho dos presentes e ser habitual este procedimento. Uma vez realizado o escrutínio, Amândio Cabral é eleito presidente, ficando António Moncada na vice-presidência.
(…)
As "mexidas" também se verificaram ao nível das freguesias. Nomeadas pelo Governador Civil, sob proposta do Administrador Amândio Cabral, tomaram posse, nos primeiros dias de Janeiro, as respectivas Comissões Administrativas. Registemos apenas os nomes dos presidentes das mesmas: 
Freguesia de Carvalho: António Simões; Figueira: António Gomes de Carvalho; Friúmes: António dos Santos Carril Júnior; Lorvão: Clemente Luís Ralha; Oliveira: Maximino César Augusto Henriques; Paradela: António Oliveira Neves; Penacova: António Casimiro Pessoa Júnior; S. Paio: José Marques da Fonseca; S.Pedro de Alva: Joaquim de Almeida Santos; Sazes: José Manuel de Andrade; e Travanca: Jerónimo Jacinto Henriques. 

Do livro Penacova e a República na Imprensa Local, editado pelo Município de Penacova em 2011, tendo como autor David Almeida e prefácio do historiador Luís Reis Torgal.

Sobre esta obra pode consultar:





27 setembro, 2017

Batalha do Bussaco foi há 207 anos

Muito se escreveu sobre a célebre Batalha do Bussaco. Em jeito de efeméride, aqui fica um mapa retirado do 3º volume de uma extensa obra sobre a Guerra Peninsular:
v. 1. 1807-1809. From the treaty of Fontainebleau to the Battle of Corunna.
v. 2. Jan.-Sept. 1809. From the Battle of Corunna to the end of the Talavera campaign
v. 3. Sept. 1809-Dec. 1810. Ocaña, Cadiz, Bussaco, Torres, Vedras.
v. 4. Dec. 1810-Dec. 1811. Masséna's retreat, Fuentes de Oñoro, Albuera, Tarragona.
v. 5. Oct. 1811-Aug. 31, 1812. Valencia, Ciudad Rodrigo, Badajoz, Salamanca, Madrid.
v. 6. Sept. 1, 1812-August 5, 1813. The Siege of Burgos; the Retreat from Burgos; The Campaign of  Vittoria; The Battles of the Pyrenees.
v. 7. August 1813-April 14, 1814. The capture of St. Sebastian; Wellington's invasion of          France;battles of the Nivelle, the Nive, Orthez and Toulouse


Duque de Wellington
(gravura publicada no referido livro)


24 setembro, 2017

Grupo Etnográfico de Lorvão preserva em CD património popular musical

Foi hoje lançado o segundo CD do Grupo Etnográfico de Lorvão tendo como título “louro vão". Recorde-se que já o primeiro trabalho discográfico (1999) - “Lauribano” – remetia para a lenda do “loureiro oco”, em torno da toponímia de Lorvão. A sessão, que decorreu no Claustro do Mosteiro de Santa Maria de Lorvão, contou com a presença do Presidente da Federação do Folclore Português, Prof. Doutor Daniel Café. Também presentes na mesa, o Presidente da Associação Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, Prof. Doutor Nelson Correia Borges, o Presidente da Câmara Municipal de Penacova, Dr. Humberto Oliveira, a Vereadora da Cultura, D. Fernanda Veiga, o Presidente da Junta de Freguesia de Lorvão, Rui Baptista, e também o Editor, Emiliano Toste.

O trabalho agora apresentado e que dá corpo ao 32º volume da coletânea "Folclore Português" inclui vinte temas do repertório do Grupo: CANÇÃO DOS PALITOS, VERDE GAIO DE LORVÃO, MALHÃO DE LORVÃO, AS TRÊS MARIAS, VIRGEM QUERIDA, SÃO JOÃO DE LORVÃO, VIRA DA TI PITORRA, AI LI, AI LI, AI LÉ, VIRA DE LORVÃO, SENHOR LADRÃO, OH QUE PRAIA TÃO LINDA E TÃO BELA, VIRA ESPANHO, LESTALADO, CANTAR AO MENINO, ACORDAI, GLÓRIA IN EXCELSIS DEO, PASTORINHOS DO DESERTO, INFANTE SUAVÍSSIMO, JANEIRAS e MORENINHA.

“Durante séculos ecoaram no estreito Vale de Lorvão as vozes das monjas de S. Bernardo, entoando no coro do seu mosteiro os ofícios divinos, acompanhados pelo som mavioso e potente do órgão, desde ainda antes do dia clarear até o silêncio da noite tudo envolver. Como podiam ficar indiferentes as gerações de Lorvanenses a esta educação musical, a este excitar do sentido auditivo?” - lê-se no folheto que acompanha o CD. 

Continuando a leitura deste texto assinado pelo Professor Nelson Correia Borges percebemos ainda melhor as raízes musicais das gentes de Lorvão, bem como a razão de ser de todo este projecto que conta já com quase três décadas de existência:

“O gosto pela música e pelo canto tornou-se quase genético. As gentes de Lorvão notaram-se pelo seu gosto de cantar, pelas vozes e pela capacidade de tudo lhes “ficar no ouvido”. A própria maneira de falar refletia este gosto pela frase musicada.” 
Foto retirada da "contracapa" do CD

“O património popular musical de Lorvão é uma riqueza pouco vulgar: cantigas religiosas e profanas, cantigas dançadas que atravessaram gerações e seria lastimável deixar cair no esquecimento. Por isso se constituiu o Grupo Etnográfico de Lorvão que mediante um aturado e profundo trabalho de pesquisa e de reconstituição é o garante da preservação deste património imaterial, que mais do que nenhum outro, define e individualiza a mulher e o homem de Lorvão. E neste mundo em transformação cada vez mais acelerada é importante que as gerações vindouras possam construir o futuro sobre raízes solidamente alicerçadas no nosso chão.”

A poucos meses do Ano Europeu do Património Cultural 2018 em que iremos, com mais insistência, ouvir falar da “ligação das pessoas e das comunidades com o seu património, as suas tradições e os seus saberes” e da necessidade de promover cada vez mais todo um conjunto de “estratégias de desenvolvimento local na perspetiva da exploração do potencial do património cultural”, o lançamento deste trabalho vem, antecipadamente, alimentar a esperança e mesmo a certeza de que muito disso é possível, quando uma comunidade (pessoas, instituições, poderes autárquicos) adquire consciência dos seus valores culturais e trabalha no sentido de os conhecer, proteger e conservar.


Fotos: Penacova Online