17 novembro, 2016

Cartas brasileiras: as santas lá de casa

Santo de casa não faz milagre, dizem alguns incrédulos; mal sabem eles.
Em minha casa havia duas santas, minha mãe, milagreira no cotidiano para dar conta dos oito filhos, trabalhar e cuidar da casa, chegou primeiro, junto com seu amor, meu pai, e a outra santa, a imagem da Imaculada Conceição.
Uma linda imagem linda, tinha mais de um metro. Chegou em 26 de maio de 1956, comprada por meu pai em São Paulo. O dinheiro obteve através de uma lista que fez passar entre amigos, como o arrecadado foi maior do que o necessário, dou a sobra para a Matriz do Divino Espírito Santos.
Houve a festa da coroação, teve até banda de música. A coroa banhada a ouro e incrustrada com pedras preciosas foi doação de uma família barretenses; o quantum, por questão de segurança, deixo de informar; a preciosidade tem também valor sentimental, e agora já histórico.
Em uma anotação que deixou, ele nos pediu, quando partisse para junto de mamãe, deveríamos levar a Santa para uma igreja, capela ou entidade religiosa, não queria que fosse para o cemitério; não queria visitas de buscadores de milagres. Ele se foi em agosto de 2007. Assim, seguindo as instruções dele, a Santa foi doada para na Casa da Catequese Paulo VI, localizada na avenida 23 entre as ruas 12 e 14, Barretos.
Por iniciativa, creio que do vigário, no pano de fundo do pedestal onde se encontra a Santa, está escrito: “Eis aqui tua Mãe”. Que lindo!
Mesmo estando tão longe da minha cidade natal, posso rezar e fazer meus pedidos. Aprendemos, é através dela que Deus nos ouve, ainda que não nos responda.Escreveu Exupéry em sua obra inacabada Cidadela: “sabemos que Deus ouve nossas preces quando Ele não nos responde”.
     
P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br


14 novembro, 2016

Feira do Mel e do Campo animou fim de semana


A edição de 2016 da Feira do Mel e do Campo encerrou este domingo com um balanço “muito positivo”, reconhecido por expositores e visitantes - lê-se na página oficial do Município. É essa nota de imprensa que publicamos:

Fotos: site do município

"O mel e os produtos do campo uniram-se, no Parque Verde de Penacova, durante os três dias do certame, a muita animação musical, ao tradicional magusto oferecido pelo município e a momentos de franco convívio entre a população local e os visitantes.


Humberto Oliveira, Presidente do município de Penacova, adianta que “muito do sucesso da Feira do Mel e do Campo se deve à forma dinâmica e empenhada, à força, motivação e proatividade, como os expositores e/ou produtores que aqui se encontram ajudam a alimentar e cimentar esta Feira, que se pretende que cresça a cada ano que passa, sendo já, um evento de grande destaque regional, movendo visitantes de vários concelhos vizinhos que apreciam a qualidade do evento e o saber receber do povo penacovense”.
Por seu lado, Fernanda Veiga, Vereadora do Pelouro do Turismo da Câmara Municipal de Penacova, salienta que, “nesta edição da Feira do Mel e do Campo, partilhámos com os visitantes o melhor que se faz no nosso território, no que diz respeito aos recursos primários/endógenos, de uma forma digna e meritória para todos os produtores, destacando, nomeadamente os produtores locais, ajudando a projetar a sua imagem, mostrando o seu dinamismo, e acima de tudo, a qualidade dos seus produtos”.
Fernanda Veiga, destacou igualmente, a qualidade da animação musical, fator de atração adicional ao evento que nesta edição contou com as atuações do Grupo de Concertinas do Caneiro, Grupo de Cavaquinhos da União Popular da Rebordosa, Grupo Cantar Travanca do Mondego, Flora do Mondego, DJ Nuka, Mónica Sintra, Ruizinho de Penacova e Quim Barreiros, que encerraram o certame em clima de grande festa.
Também o Festival Gastronómico “Mês dos Míscaros e do Sarrabulho” marcou presença neste evento fazendo-se representar por alguns dos restaurantes aderentes a esta iniciativa gastronómica do município, que se prolongará até meados de dezembro em 14 restaurantes do concelho e que permite, mesmo aos mais céticos, descobrir uma das maravilhas da gastronomia local."

Fotos: Penacova Online




30 outubro, 2016

A visitar: exposição temporária "Scriptorium Medieval" em Lorvão



O termo “Scriptorium” significa, literalmente, "local para escrever". Nos mosteiros medievais da Europa, o scriptorium era um complemento da bibliotecaA maior parte da escrita monástica era feita em pequenos espaços, em reentrâncias dos claustros ou nas celas dos próprios monges. Sabemos da existência de um importante scriptorium no Mosteiro de Lorvão, onde foram produzidas obras primas hoje consideradas Memória do Mundo pela UNESCO.
Para mostrar um pouco  do mobiliário , dos instrumentos e dos materiais, encontra-se em Lorvão, cedida pela Santa Casa da Misericórdia de Coimbra, uma interessantíssima exposição que nos últimos anos tem corrido o país. Com assessoria científica da Prof.ª Doutora Maria José Azevedo Santos, esta exposição foi estruturada inicialmente no âmbito da exposição "Santa Cruz de Coimbra – A Cultura Portuguesa Aberta à Europa na Idade Média", no contexto das iniciativas Porto Capital Europeia da Cultura 2001.

Imagens da exposição patente em Lorvão

No desdobrável que acompanha a exposição podemos ler:

Entrou num scriptorium. Ou melhor, está num "palco" onde se pretende representar um centro de cópia de manuscritos, de um qualquer mosteiro ou catedral, da Idade Média, no Ocidente Europeu.
Aqui encontra e pode admirar o mobiliário, os instrumentos, os materiais e os utensílios indispensáveis à tarefa complexa e exigente de reproduzir um saltério, uma bíblia, um missal ou outro livro litúrgico.
Em espaços semelhantes a este, foram copiados, de Portugal à Itália, da Espanha à Suiça, milhares de códices.
Copistas, mas também correctores, iluminadores, encadernadores, e outros artesãos da arte de fazer códices, foram os principais responsáveis pela constituição de preciosas bibliotecas que nem a incúria dos homens nem a voragem do tempo conseguiram destruir.

Pelos scriptoria dos séculos VIII a XIII, e por todo o pessoal que citámos, na maior parte dos casos sem rosto e sem nome, mas, igualmente, pelo pergaminho, pelas penas e pelas tintas, passou inquestionavelmente, a divulgação da cultura monástica europeia.
Todavia, desta magnífica empresa de transcrever livros, deram os copistas, muitas vezes, no final das suas obras, um testemunho condoído e melancólico. A grande maioria daqueles homens considerava a cópia uma louvável mas muito penosa tarefa. É a referência à dor, à dor física, que domina os seus desabafos. Uma múltipla dor (dos dedos, da mão, das costas, dos olhos) causada por um trabalho que parecia não ter pressa de chegar ao fim. Como a ideologia cultural da escrita proclama: "Era preciso matar o corpo para que a escrita nascesse.”

O que podemos observar neste conjunto expositivo? (vamos seguir algumas das notas do referido desdobrável):

Mesa de trabalho horizontal (banca), própria para a elaboração de documentos avulsos
Pergaminho - pele de animal que, depois de preparada, proporciona uma superfície com dois lados (o do pêlo e o da carne) para nela se escrever.
Pele de peixe - utilizada para polir os pergaminhos na sua preparação.
Pedra-pomes - rocha vulcânica seca, porosa e leve. Serve para polir o pergaminho e até afiar o bico da pena.




Fac-simile do "Apocalipse de Lorvão" produzido
em finais do séc XII neste Mosteiro e assinado pelo
monge Egeas






Facas - servem para cortar as peles, raspar o pergaminho, talhar as penas, corrigir os erros dos copistas.
Canivetes - instrumentos usados no talhe (dar forma à ponta da pena, geralmente fendida ao meio) das penas das aves.
Cornos - chifres de animal utilizados como tinteiros.
Penas - penas de ave que, depois de serem talhadas nas pontas servem para escrever.
Dedais - objectos para proteger os dedos quando se cose o pergaminho.
Compassos - servem para traçar círculos, medir, ou fazer a pautagem no pergaminho (ponta seca).
Espátula - instrumento de madeira utilizado para juntam as tintas moídas.
Sovelas - instrumentos constituídos por uma espécie de agulha, direita ou curva, com que se faziam os orifícios nas folhas de pergaminho para, unindo-os, estabelecer o pautado.
Caixa destinada a guardar os instrumentos necessários para escrever
Pena talhada - pena de ave, talhada. Com tinta serve para escrever.
Régua - instrumento de madeira utilizado no traçado das linhas rectas.
Tabuinhas enceradas com seu estilete - destinam-se a receber escritos.
Palmatória - castiçal em barro, para colocar velas, que serviam para iluminar.
Ampulheta - instrumento que serve para calcular o tempo (o tempo que a areia gasta em passar de um dos cones para o outro).
Tesouras - serviam para cortar os pergaminhos, os fios e as penas.
Novelos de fio - linha para coser rasgões no pergaminho.
Reprodução de iluminuras antigas - iluminura é um tipo de pintura decorativa aplicado às letras capitulares (letras maiúsculas que iniciam o capítulo). O termo também se aplica aos elementos decorativos e representações que surgem nos livros da Idade Média.
Armário destinado a guardar manuscritos e outras peças relativas à escrita
Almofarizes com seus pilões - serviam para machucar e macerar os bugalhos e gomas arábicas destinadas à preparação das tintas.
Goma arábica - resina produzida por diferentes árvores do género da Acácia. Ingrediente de receitas de tinta de escrever.
Sulfato de ferro - sal metálico utilizado na preparação das tintas deescrever. Associado a um agente tanino (noz de gralha) produz um precipitado castanho ou negro (tinta).
Agulhas - serviam para coser os pergaminhos.
Tábuas - placas de madeira destinadas à encadernação dos livros. Forravam-se com pele ou tecido
Vassouras.
Nozes de galha ou bugalhos - elemento principal na preparação das tintas negras de escrever, porque são ricas em tanino.
Móvel fixo com superfície inclinada. Adapta-se fundamentalmente à cópia de livros permitindo o emprego de folhas de formato grande
Frascos com tintas de escrever - líquidos vermelho e preto.
Candeia - objecto de metal com bico por onde sai a torcida. Deita-se-lhe azeite e acende-se para dar luz.
Penas de ave talhadas - compõe-se de duas partes: a haste e as barbas.

SOBRE ESTA TEMÁTICA VEJA: