17 abril, 2016

Toponímia Coimbrã: António José de Almeida, a Rua e o Busto


É num pequeno largo, no cruzamento das Ruas António José de Almeida e Nicolau de Chanterene que encontramos um busto de António José de Almeida. A rua com o seu nome existia já desde os inícios da década de trinta do século passado. A deliberação da Câmara Municipal de Coimbra data de 16 de Julho de 1931.A abertura desta nova artéria da cidade inseriu-se no surto de construção na zona de Celas e Montes Claros.


Bustos de António José de Almeida: 
em Coimbra (à esquerda) e em Penacova (à direita)

O busto, moldado em bronze, foi inaugurado a 5 de Outubro de 1984. Trata-se de uma obra de Cabral Antunes muito semelhante (ou mesmo cópia) à que se encontra no Largo Alberto Leitão em Penacova (5 de Outubro de 1976) e que também é da autoria do mesmo escultor.

Assenta sobre um “pedestal paralelepipédico vertical, integrado num canteiro, que se encosta a um elemento parietal em alvenaria rebocada, ligeiramente curvado, contendo uma pequena lápide em pedra com uma inscrição alusiva ao homenageado, ladeada por duas fitas metálicas com as cores da bandeira nacional.” – refere um documento do Ministério da Cultura.

Busto de António José de Almeida em Coimbra


Localização da Rua António José de Almeida


10 abril, 2016

Mistério em Agrelo

Perto do lugar de Agrelo e da ribeira do mesmo nome, num sítio conhecido por Val do Cavalo, existirá uma espécie de mina escavada de tal modo na rocha, que se torna difícil acreditar que foi feita por mão humana. Conta-se que ao fundo desse túnel há uma lagoa onde a “água não cresce nem mingua e também não corre”. A passagem é de tal modo difícil que ninguém consegue explorar o que está nas entranhas daquele monte.

À volta disto, conta-se também que, há algumas centenas de anos, certo Pároco da Freguesia da Figueira de Lorvão, chamado António de Magalhães, não resistiu à curiosidade. Mandou fazer uma bomba, com a qual trabalharam vários homens durante vinte e quatro horas, na tentativa de fazer secar toda a água da lagoa.

Depois de tirarem a maior parte, dois deles lá conseguiram avançar. Munidos de uma lanterna e a pé praticamente enxuto, conseguiram chegar a umas escadas que os levaram até uma porta que dava para uma enorme sala.

Ora, qual não foi o susto quando se lhe apresenta um conjunto de cinco enormes vultos com armas de fogo apontadas para a dita porta. Cheios de medo recuaram mas tiveram que fugir a nado pois a água tinha entretanto voltado ao nível inicial. 

O medo apoderou-se de tal modo da população que nunca mais ninguém terá tido coragem para desvendar aquele mistério. 

Alguns diziam que talvez fosse um esconderijo dos “mouros”. E quem sabe, mesmo até um esconderijo de um tesouro valiosíssimo. Então, a lagoa serviria para impedir o acesso a quem quer que fosse . Por sua vez, aquelas figuras assustadoras não passariam de um conjunto de estatuetas colossais ali colocadas precisamente para aterrorizar quem ali se atrevesse a entrar... 

Mas a verdade, só Deus sabe – diz o povo...

02 abril, 2016

Gondelim e a Lenda da Senhora da Moita

Imagem de N.Sª da Moita
(foto de Rosa Silva)

Gondelim, terra mencionada em documentos muito antigos, foi residência de importantes famílias nobres ainda antes da fundação de Portugal. O site da junta de freguesia de Penacova regista a Lenda que envolve a Senhora da Moita, cujos festejos em sua honra estão a decorrer neste fim de semana que se segue à Páscoa, como é tradição.

É também essa lenda da Senhora da Moita que o nosso colaborador das Cartas Brasileiras, reconta no livro que tem para publicação intitulado “Azulejos Portugueses - Lembranças e Mistérios”.

Paulo Santos faz-nos, um breve resumo: ”Idosa portuguesa retorna de sua primeira visita a Portugal, desde que imigrara para o Brasil na década de 30.” No voo de regresso àquele país senta-se ao lado de uma jovem “tripeira”, que pela primeira vez visita as Terras de Vera Cruz. “É durante a viagem que ela conta para a jovem passagens de sua vida, no Brasil, e parte dela, ainda na infância em uma aldeia de Penacova. Fala de suas aventuras e venturas, dos sonhos, das sombras, dos medos, dos encantos, dos mistérios.(...) A ficção “Azulejos portugueses” é uma viagem pela região de Penacova (Portugal), por seus lugares e tradições, no roteiro da protagonista, os encantos, as lembranças, segredos, dúvidas, angústias e alegrias; como a própria vida."

Mas, fiquemos então com a leitura de um excerto da referida obra onde se fala de Gondelim e da Lenda da Senhora da Moita:



Capela de Nossa Srª da Moita
(aguarela de Conceição Ribeiro para o livro
"Azulejos Portugueses")

“Foram para a Quinta, onde havia passado parte da infância. Apesar de serem uns minguados quilômetros, os olhos atentos absorvendo tudo, a inquietação crescendo. A primeira parada foi na capela.

Diante da igreja, as recordações vieram aos borbotões, as mulheres conversando, os homens rindo, as crianças correndo nas gostosas brincadeiras na porta da igreja ao término das missas dominicais. A avó assegurava, a imagem da capela era a mesma escondida pelos cristãos no tempo da invasão bárbara.(...) De acordo a tradição, os moradores ao perceberem estar próxima a invasão dos bárbaros, encontraram um meio de proteger a Santa. Pegaram uma trilha bem conhecida em um dos montes, e enterraram a imagem, com um sino, lá no alto, debaixo de uma moita vistosa.

O tempo passou e arrastou com ele os que haviam escondido a Santa. Felizmente, haviam contado para os filhos e netos. Todos sabiam qual era o monte, qual trilha tomar e em qual das moitas estava enterrada. A história foi passada oralmente para os descendentes.

Com o passar dos anos, os detalhes foram sendo omitidos, esquecidos, até ninguém mais saber em qual das moitas do monte a Santa tinha sido escondida. Quando os invasores foram finalmente expulsos, os habitantes desconheciam por completo a história da imagem enterrada, a tradição totalmente perdida.

Passadas centenas de anos, moradores caçando no meio da mata de um dos montes, ouviram o som do badalar de um sino, no meio do nada. Assustados fugiram, voltaram para a aldeia.

Relataram o inusitado, tinham um monte mal-assombrado. O acontecimento espalhou-se, rapidamente, de boca em boca, todos na aldeia ficaram sabendo, muitos não acreditaram, outros preferiram não duvidar, uns ficaram com medo.


Alguns daqueles homens, encorajados por companhias e armados, retornaram ao monte, e foram a um ponto no meio da mata de onde teria saído o som metálico e vibrante.

Dividiram o grupo em quatro, na direção dos pontos cardeais, saíram a procurar, embrenhando-se na mata. Os homens de um dos grupos, ao escutarem o barulho, entraram ainda mais na mata. Conforme caminhavam sentiam o som aumentar, a indicar estarem perto do local.

Aprontaram a maior gritaria. Os integrantes dos outros grupos, ao escutarem os pedidos de socorro, correram para acudir, chegaram esbaforidos.

Junto a uma enorme moita, cortaram o mato e cavaram. Encontraram um sino e ao desenterrá-lo, trouxeram a imagem de uma Santa. Admirados, ajoelhados, rezaram, e deram o nome de Nossa Senhora da Moita.”

Paulo de Tarso J. Santos nasceu em Barretos, São Paulo, em Julho de 1944. É funcionário aposentado do Banespa (antigo Banco do Estado de São Paulo), é licenciado em Matemática pelo Sedes Spientiae - PUC-SP. Em 2007, a Câmara Brasileira de Jovens Escritores editou o seu livro de ficção “Cinzas e Fumaça”. Foi cronista colaborador de “O Diário de Barretos” durante quase dez anos, com cerca de quinhentas publicações.