02 março, 2014

Memórias de Teatro em Penacova no tempo em que na vila não havia um único piano…

A propósito da recente apresentação em Penacova da revista à portuguesa “Isto Só Visto!”, que fez esgotar duas sessões programadas, recordemos um episódio da história do teatro na vila.

Desde as quase esquecidas memórias das ruínas de um velho teatro que terá existido no actual “ténis”, passando pela organização de grupos cénicos mais ou menos duradouros, há registos de iniciativas e de pessoas que foram animando a vila e deixando a sua marca cultural. Por exemplo, a figura do “Prior Queiroz”, fundador da Filarmónica, que antes de seguir a carreira eclesiástica fora militar (daí, muito provavelmente, a sua vocação não só para o teatro mas também para a música, dado que as bandas militares estarão na origem das filarmónicas).

Surgem-nos também ecos de uma récita que se terá realizado em meados do século XIX, onde a Comédia “A Porta Falsa” foi o ponto alto do programa (segundo cremos, tratou-se da peça em três actos, do espanhol Ildefonso António Bermejo [1820-1892]). O espectáculo foi apresentado por alguns dos estudantes do concelho nesse tempo a estudar em Coimbra, por exemplo, o Nicolau Leitão, irmão do Conselheiro Alípio Leitão, então estudante de preparatórios, o Padre João Guedes, o Padre Casimiro e o prior Queiroz, estes três, então, estudantes do Seminário. Teria também participado “um tal António Joaquim de Paredes, que para Coimbra acompanhara, como era de uso então entre as famílias ricas, o conselheiro Alípio Leitão e os irmãos.”

Tal terá acontecido nas férias da Páscoa de 1859 ou mesmo no domingo de Páscoa, pois “os rapazes haviam-se ensaiado no período escolar que decorre entre as férias de Entrudo e da Páscoa e os ensaios realizavam-se no Colégio de São Bento [em Coimbra] onde hoje [em 1917] é o liceu, e que era nesse tempo um acreditadíssimo colégio de preparatórios com um corpo docente composto dos mais distintos professores e de que era diretor o Dr. Manuel Xavier Pinto Homem”- conta tudo isto um interveniente, no Jornal de Penacova.

“A récita realizou-se na casa das senhoras de Lisboa como eram aqui conhecidas a mãe e a avó do Sr. José de Oliveira, casa que é hoje deste, em duas salas com comunicação, numa o palco e na outra a plateia.” Assistiu a ela “tudo quanto havia de mais distinto na sociedade de Penacova desse tempo.”

A iluminação da sala era feita “à luz de velas que ardiam em profusão em candelabros ricos.”

“-Não se admire, era isto no tempo em que Penacova não havia um único piano.”- conta um dos protagonistas do espectáculo.

“- Não me admiro nada – diz um interlocutor - progredimos sem dúvida. Quanto a iluminação, é certo que a guerra nos fez voltar ao petróleo, mas quanto a pianos, vila abaixo, é um céu aberto do dueto As Cartolinhas e As Adelaides”.

Os bilhetes “foram feitos todos à pena pelo Padre João Guedes, que tinha “uma notável vocação para o desenho e desenhava principalmente caracteres de imprensa”

Os actores saíram-se muito bem. “O ensaiador foi o prior Queiroz que antes de estudar teologia fora sargento e na vida militar contraíra o gosto pelo teatro. “

A récita foi um sucesso. O entusiasmo levou a que logo se projectasse outra para as férias grandes. Desta vez, não entrariam só os estudantes: além dos intérpretes da primeira recita actuariam também “os Carvalhos”, da Carvoeira. Chegaram a realizar-se alguns ensaios mas a família que havia cedido as instalações ficou de luto e o espectáculo ficou pelo caminho.


27 fevereiro, 2014

Bombeiros Voluntários de Penacova assinalaram 84 anos de existência

Foi com o auditório cheio que  foi inaugurada a exposição “Bombeiros, escola e Sociedade", uma iniciativa que marca os 84 anos de história da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Penacova e concretizada em parceria com o Agrupamento de Escolas de Penacova.

Na sessão de abertura, para além da Tesoureira e da Secretária da direção dos Bombeiros, marcaram presença o Vice-presidente do Município que agradeceu o convite e endereçou os parabéns à Associação, a Diretora do Agrupamento que salientou a importância desta parceria e o Comandante do Corpo de Bombeiros que se dirigiu de uma forma particular aos jovens presentes, incentivando-os a adquirirem práticas de vida saudáveis que conduzam a ações preventivas. A exposição vai estar patente ao público até ao próximo dia 28.


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22 fevereiro, 2014

Penacova, o Mondego e a Lampreia - uma obra que todos os penacovenses deveriam conhecer

Veja AQUI a referência ao lançamento do livro
Penacova, o Mondego e a Lampreia.

Penacova, o Mondego e a Lampreia” é uma obra da autoria dos biólogos Fernando Correia e de Carlos Fonseca. Depois de um livro dedicado aos javalis, os autores publicaram em 2010, desta vez dedicada à lampreia, uma nova obra, com o apoio da Câmara Municipal de Penacova. Ao longo das suas cerca de 300 páginas, magnificamente ilustradas, somos presenteados com uma caracterização do concelho de Penacova, abordando o património natural do Mondego, a evolução da lampreia em Portugal, os factores de ameaça e conservação e muitos mais aspectos cientificamente tratados. Algumas receitas gastronómicas feitas à base desta apreciada iguaria são também apresentadas.

Da leitura do  capítulo dedicado à lampreia ficamos a saber que se trata de “um animal que pertence ao grupo dos peixes (em termos de evolução) mais primitivos que chegaram até aos tempos de hoje – os Agnatas, ou peixes sem mandíbulas.” tendo-se desenvolvido e tido "o seu pico de diversidade durante a Era Paleozóica, provavelmente durante o Câmbrico, há aproximadamente 510 a 505 milhões de anos.”


Uma das páginas do livro

Os sobreviventes actuais deste grupo (lampreias e mixinas) são hoje reunidos informalmente sob a designação de ciclóstomos (sem valor taxonómico) ou seja, animais de boca circular.

Uma outra nota a registar: em Portugal ocorrem dois géneros diferentes, Petromyzon e Lampetra, reunindo  três espécies diferentes: a lampreia marinha, a lampreia-de-rio e a lampreia-de-riacho. Como sabemos, a lampreia-marinha constitui um recurso natural associado a uma tradição gastronómica. è o caso do concelho de Penacova,  “um dos que mais fama grangeia, estabelecida que foi esta prática comensal e de restauração, principalmente desde os finais do século XIX. “

Infografia sobre o Ciclo de
Vida da Lampreia-Marinha

Ainda sobre a "lenda" da “lampreia fenomenal” pescada em 1908, concluímos, pelo que este livro nos informa, que terá sido mesmo uma brincadeira de Carnaval. 
É que “este animal é o maior ciclóstomo europeu, podendo atingir um peso superior aos 2 Kg e medir mais de um metro(a maior lampreia-marinha já capturada pesava 2,3 kg exibia um comprimento de 1,2m). Em Portugal as lampreias que regressam aos rios têm geralmente um peso e um comprimento médio de 1,3 kg e 88 cm."

Penacova, o Mondego e a Lampreia, é uma obra de leitura indispensável para o conhecimento  de Penacova, em especial da sua fauna e flora, onde se destaca a “divina lampreia”.