22 fevereiro, 2014

A lampreia com cinco metros e outras histórias

A "notícia" foi publicada em 1908. Durante muitos anos terá ficado esquecida. Ao pesquisar outros assuntos nos periódicos locais, chamou-nos a atenção o título " Lampreia Phenomenal" ,inserto no Jornal de Penacova nº 332 de 29 de Fevereiro. As dimensões estão lá, fala-se mesmo no autor de tal pescaria. Intrigante. Nunca mais se escreveu sobre o facto. Ao consultarmos o calendário de 1908 verificamos que estávamos no fim de semana anterior ao Carnaval, o que nos leva a pensar que se tratou de uma brincadeira de Entrudo. O texto aqui fica para que não haja dúvidas. Agora se foi verdade ou não...só os zoólogos poderão dizer se tais dimensões são possíveis...
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Mas de outra história queríamos falar: do livro "Penacova, o Mondego e a Lampreia". Da autoria do nosso conterrâneo, Carlos Fonseca e de Fernando Correia. Uma das melhores obras que a Câmara Municipal patrocinou nos últimos anos. Pelo seu conteúdo e também pela ilustração. Um álbum que fala não só da lampreia, mas também de outras espécies animais e vegetais do nosso concelho. Que fala ainda da geomorfologia, onde tem especial destaque o vale cavado pelo rio que nos banha . Livro que traça também o percurso histórico e cultural do concelho, freguesia por freguesia. 

E, no momento em que Penacova está a viver o seu Festival da Lampreia, é do capítulo que trata desta espécie, duma forma cientifica, rigorosa,  que gostaríamos de tratar com mais desenvolvimento. Tarefa que ainda hoje concretizaremos. Até mais logo.





17 fevereiro, 2014

Cartas Brasileiras: meteram a mão na taça

Taça Jules Rimet (1958)

A Copa do Mundo de 2014 está prestes a começar. Aqui está a maior correria, é preciso que tudo esteja pronto até lá. Temos visto manifestações nas ruas contra a realização da Copa, gente gritando atrasada, enquanto muita gente grande diz: “o Brasil” quis a Copa, então temos que dar conta do recado. Só faltava não dar.

Não foi bem o “Brasil”, ou a população que quis a Copa, foi decisão autônoma do Governo, com apoio das construtoras e da mídia, os grandes interessados. Até poderia ser verdadeiro que muitos a quisessem. Porém, com o sistema de saúde em condições precárias, sistema de transportes em verdadeira pindaíba, a segurança vivendo um enorme caos, o mundo enfrentando séria crise econômica, tudo levava a crer que não era o momento. Pior é que teremos mais gastos com Rio - Olimpíadas 2016! Com o mundo na maior crise! Era evidente que o Brasil tinha outras prioridades, e nelas não estava construir estádios. Aqui sabemos, depois da Copa muitos estádios irão se transformar em “elefantes brancos.” Mas, deixando de lado todos esses problemas, enveredo-me para um assunto mais ameno, contando um pouco de história.
Em 1958 conquistamos, na Suécia, pela primeira vez a Taça Jules Rimet. Depois, veio o “bi” em 1962 no Chile e o “tri” em 1970 no México. A terceira conquista nos garantiu a posse definitiva do troféu. A peça, obra do artesão francês Abel Lafleur, representava a Vitória com asas em forma estilizada, com os braços levantados segurando um vaso de formato octogonal. Sobre as faces da base em mármore preto havia pequenas placas em ouro, onde estavam gravados os nomes dos países campeões:  Uruguai (1930 e 1950), Itália (1934 e 1938), Alemanha (1954), Inglaterra (1966) e Brasil (1958, 1972, 1970). Medindo cerca de 30 centímetros, todo o conjunto pesava 4 quilos, sendo 3,8 quilogramas em ouro.
            O troféu  correu o país, foi exposto em praça pública, o povo fazia fila para ver a taça. Em São Paulo ela era exposta na Praça Roosevelt (ao lado da Igreja da Consolação), e ao final da tarde era levada, em um carro forte, para ser guardada na casa-forte da Matriz do Banespa; banco no qual eu trabalhava.
            Então, quando a taça chegava para ser recolhida, não havia como resistir à tentação, todos queriam tocar nela e repetir os gestos de Hideraldo Luiz Bellini, Mauro Ramos de Oliveira e Carlos Alberto Torrões, os nossos capitães. Tirar fotos nem pensar. O tesoureiro não deixou. Ah! Se existisse celular naquela época tudo teria sido registrado e postado nas redes sociais.
Pelé e a Taça Jules Rimet conquistada na Suécia em 1958.
Depois dos nossos gestos à la capitão do esquete nacional, não foram tantos mais que puderam repetir aquele gesto. Na noite de 19 de dezembro de 1983, uma segunda-feira, enquanto uma réplica estava guardada no cofre da CBF, o troféu original que estava exposto no 9° andar daquela sede foi roubado por Peralta, Luiz Bigode e Chico Barbudo, que após o roubo repassaram o produto para um argentino comerciante de ouro, Juan Carlos Hernandez, que cortou a taça em três pedaços para poder derretê-la, formar barras de ouro e vender.
E assim, o troféu disputado por tantas nações, em partidas com gosto de suor, lágrima e sangue, teve um triste fim, justamente porque caiu nas mãos de quem não poderia “meter a mão na taça.”   

P.T.Juvenal Santos