Foi ontem apresentado na Biblioteca Municipal o livro “Penacova visto pela demografia”. Obra que tem como autores Paulo Cunha Dinis e Filipa de Castro Henriques.
Um estudo rigoroso que analisa a evolução da população no nosso concelho entre 1970 e 2011 e faz algumas projecções para o ano 2031 quando se realizar mais um Recenseamento Geral da População.
Nos últimos quarenta anos Penacova perdeu 2024 indivíduos (12% da sua população). A situação agravou-se ultimamente dado que durante a década 2001 -2011 se perderam 1474 habitantes, isto é, 73% do total perdido desde 1970. Tudo aponta para que o concelho continue a perder população. Por exemplo, se em 2011 a população jovem representava um oitavo da população total, em 2031 esse valor representará apenas um vigésimo. Os nascimentos atingirão metade dos verificados em 2011 e a população idosa vai passar para o dobro. Já hoje, por cada 5 óbitos só nascem 2 crianças. Em 2013 estimava-se que em Portugal o índice sintético de fecundidade era de 1,21. Ora, em Penacova já só era de 0,9, situando o nosso concelho na 270ª posição.
Da esquerda para a direita:
António Catela, Humberto Oliveira, Rute Cunha, Paulo Cunha Dinis,
Eduardo Aroso, Álvaro Aroso e José Santos Paulo
No dizer do Presidente da Câmara, presente no lançamento do livro, estaremos perante um cenário “dantesco” atingível a não muito longo prazo.
Refira-se que a Câmara Municipal foi a principal patrocinadora da publicação, que também teve o apoio da União de Freguesias S. Pedro de Alva / S. Paio do Mondego, bem como da Fundação Mário da Cunha Brito.
A obra enumera, ainda, algumas das potencialidades (e fragilidades) do desenvolvimento económico-social do concelho, aspecto que, além do problema da natalidade, se cruza com a questão da fixação (ou eventual atracção) das pessoas no território concelhio. Também o fenómeno migratório (interno e externo) é tido em conta neste estudo.
A apresentação do livro esteve a cargo de Rute Cunha, penacovense, Mestranda em Política Cultural Autárquica na Faculdade de Letras de Coimbra. A iniciar a sessão, actuou um grupo de Guitarras de Coimbra interpretando temas de Carlos Paredes, de Antero da Veiga (que em 1908 esteve no Sarau que fez parte do programa de inauguração do Mirante) e ainda um tema coimbrão que tem origem numa música de José Eliseu, um nome ilustre de Penacova.
Sobre os autores:
Paulo Cunha Dinis, que fez os primeiros estudos em Penacova e pertence a uma família de S. Pedro de Alva, é Mestre em Estudos Políticos de Área – vertente Relações Internacionais no Cáucaso do Sul pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, com a dissertação “A Geórgia e a Política Externa Russa. Uma análise do Cáucaso à luz da Teoria da Regionalização”; obteve a Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa.
Filipa de Castro Henriques é licenciada em Economia, mestre em Estatística Gestão de Informação ISEGI-UNL; assistente convidada FCSH-UNL; economista GEE-MEI e doutoranda na FCT/CEPESE/FCSH-UNL. É ainda investigadora do CEPESE nas áreas de Envelhecimento, Educação e Saúde e Análise Prospectiva e Planeamento.
domingo, julho 19, 2015
sexta-feira, julho 17, 2015
Em dia de Feriado Municipal a incontornável referência a António José de Almeida
Penacova celebra hoje o seu Feriado Municipal, evocando o nascimento de António José de Almeida que nasceu, faz hoje 149 anos, neste concelho.
Sobre esta personalidade, muito se escreveu já quer a nível nacional quer localmente.
Aqui fica um vídeo que é um extracto da série documental “Os Presidentes”, produzido para a RTP em 2011, tendo como autores Alexandrina Pereira e Rui Pinto de Almeida.
Sobre esta personalidade, muito se escreveu já quer a nível nacional quer localmente.
Aqui fica um vídeo que é um extracto da série documental “Os Presidentes”, produzido para a RTP em 2011, tendo como autores Alexandrina Pereira e Rui Pinto de Almeida.
CLIQUE NA IMAGEM PARA VISUALIZAR VÍDEO |
António José de Almeida (1866-1929) foi o sexto Presidente
da República Portuguesa (1919 a 1923). É o único eleito da Primeira República que cumpre os
quatro anos previstos na Constituição, sobrevivendo a várias crises sociais e
económicas.
Forma-se em medicina e especializa-se em doenças tropicais,
durante uma estadia em S. Tomé e Príncipe.
É um republicano empenhado e, desde o tempo de estudante, é
também conhecido pela sua retórica realizando discursos que atraem multidões.
Ainda durante a monarquia é preso devido à sua acção
revolucionária.
Após a implementação da República é nomeado Ministro do
Interior e mais tarde, durante o Governo da "União Sagrada" assume a chefia do Governo acumulando a Pasta das Colónias.
De 1919 a 1923 foi Presidente da República, como já se referiu.
domingo, julho 12, 2015
Um pouco da história do quadro de N. S. da Assunção na Igreja de Penacova
Nossa Senhora da Assunção. Igreja Matriz de Penacova. Assinado por Menah (Maria de Lurdes) e datado de 1931 |
Quem visitar a Igreja Matriz de Penacova vai encontrar do lado do Evangelho[1] um quadro de grandes dimensões representando Nossa Senhora da Assunção. No canto inferior direito está assinado por “Menah” e tem a data de 1931.
Há dias perguntámos no facebook se alguém de Penacova sabia quem foi o autor/autora desta pintura. Nenhuma resposta...
Ora, Menah, era o pseudónimo da filha de Constâncio Silva, Maria de Lurdes. Foi oferecido à Igreja em 15 de Fevereiro de 1931.
E agora perguntarão: quem foi Constâncio Silva? Este artista (1881-1949), desenhador e pintor foi "arista" em Penacova , tendo exposto em 1947, no Salão Silva Porto, dois desenhos com temáticas penacovenses, "Pinheiro de Penacova" e "Pinheiro do Mondego - Penacova". Ilustrou também O Filho do Carvoeiro – Conto fantástico para Crianças (1932) de João Augusto Simões Barreto, republicano, funcionário público e jornalista radicado em Penacova.
Constâncio Silva era amigo da família Barreto e também cunhado de António dos Santos Fonseca, outro arista, que mandou construir a conhecida vivenda em S.to António, hoje integrada no complexo do Lar de Idosos da Santa Casa da Misericórdia.
Maria de Lurdes aprendeu a pintar com o pai, um nome famoso do meio artístico da época. Foi graças a esta ligação do mundo artístico nacional a Penacova, nos tempos "áureos" do Turismo nesta vila, que o património penacovense pode contar hoje com esta interessante obra.
Em 1976, o Pintor João Martins da Costa (falecido há precisamente 10 anos) executou alguns trabalhos de restauro, retocando e envernizando este bonito quadro que representa a padroeira de Penacova, Nossa Senhora da Assunção.
[1] Na
celebração de costas para o povo, o celebrante lia a epístola do lado direito
do altar (o “lado da epístola”), após o que lia o evangelho, do outro lado (o
“lado do evangelho”).
terça-feira, julho 07, 2015
Cartas Brasileiras: Assombração
Barretos, minha cidade natal, está localizada
ao norte do estado de São Paulo, distante 424 km da capital. É conhecida pela
Festa do Peão de Boiadeiro, que lá ocorre todo ano na última semana de agosto; um
quase resquício da atividade pecuária que havia na região, ou ainda um
explícito interesse econômico para manter a tradição.
De região pecuária para a citricultura,
agora canavieira, seguindo a política governamental para produção de álcool
combustível, é cana a perder de vista, e com ela o picumã das queimadas; ainda
vamos só comer cana.
Contudo, não é esse o
assunto dessa carta, quero falar sobre uma
cidade distante 51 quilômetros da minha, ou seja, Bebedouro, cujo nome se deve ao
fato de ter nascido à beira de um córrego que era procurado pelos tropeiros,
que lá paravam para dar de beber ao gado.
Também, não tanto sobre a
cidade, e sim a respeito das estranhas aparições, uma assombração, uma mulher
vestida de noiva que atormentava quem passasse à noite pelo cemitério
Foi no começo dos 90. Testemunhas assustadas diziam ter visto a
noiva correndo, as vestes esvoaçantes, um fantasma ou alma do outro mundo. Rapidamente
a notícia se espalhou, aparecendo logo quem a explicasse. Diziam tratar-se de uma
jovem que morrera após experimentar o vestido
de noiva, e que havia sido enterrada com ele. A tenebrosa aparição ganhou a
imprensa, até um boletim de ocorrência policial teria sido registrado. Nem os
mais corajosos se arriscavam a passar pelo local durante a noite.
Conta-se que um coveiro, homem acostumado, resolveu encarar a alma
penada. E, na escuridão, estando diante de uma cova para um sepultamento que
aconteceria na manhã seguinte, viu a
noiva dentro dela, chamando-o pelo dedo indicador. Quase morreu de susto, e deu
entrada na aposentaria.
Como assombração não deve existir, a de Bebedouro tinha tudo para
ser uma farsa, e era. O pior, ou o mais engraçado, a noiva fantasma não era
ninguém se não o meu irmão que morava do outro lado da rua do cemitério. Brincalhão,
resolveu assustar os transeuntes, correndo pelo cemitério à noite com o vestido de noiva da mulher. Só ele
mesmo!
Acreditar em bruxas e duendes,
nenhum de nós acredita, entretanto como dizem os espanhóis: “pero que hay,
hay”. Há fantasma de todo tipo, como aqueles que metem no bolso o dinheiro que
seria para a Educação, Saúde e Segurança. Se a população não usar nas próximas
eleições o voto como Afugenta Fantasma seguiremos vivendo em um mundo
mal-assombrado.
P.T.Juvenal Santos – ptjsantos@bol.com.br
sexta-feira, junho 26, 2015
Coral Divo Canto apresenta hoje Orfeu & Eurídice
O Coral Divo Canto vai apresentar, hoje, pelas 21:30, no Centro Cultural
de Penacova, a Ópera Orfeu & Eurídice.
É graças a um trabalho intenso, de grande qualidade, feito
de esforço, paixão e persistência, quer do seu Maestro, Pedro Rodrigues, quer
de todos aqueles que ao longo destes anos passaram pelo grupo, que Penacova
pode hoje assistir a mais um momento alto de cultura.
Passo a passo, esta nossa terra vai recuperando o lugar que em finais do século XIX e primeira metade do século
XX ocupou. Nesses tempos, com
características mais elitistas, se pensarmos nos eventos artísticos que amiúde
se realizavam no “palacete” do casal Raimunda e Joaquim de Carvalho (edifício
da actual Casa de Repouso) com a presença de altas figuras da cultura nacional.
Pela mão de Raimunda Martins de Carvalho, essa paixão pela cultura, acabou por ser
também transmitida e generalizada a
muita gente de Penacova que com ela aprendeu as artes do canto, da música
instrumental e do teatro. Falamos nesta figura penacovense como poderíamos
recordar muitas outras. Correndo o risco de
sermos injustos, diríamos que na segunda parte do século passado, estas
manifestações culturais foram decaindo ao ponto de praticamente chegarmos a poder contar apenas os
grupos etnográficos e folclóricos e as filarmónicas enquanto agentes culturais activos.
Assistimos hoje, e o trabalho do Coral Divo Canto é um dos
excelentes exemplos disso, a um renascer
e a um multiplicar efervescente de iniciativas de qualidade, que pouco a pouco
vão alargando os horizontes da cultura. O espectáculo de logo à noite é, na
nossa opinião, um evento paradigmático
desta dinâmica local.
O espectáculo em causa já foi apresentado no Largo Alberto Leitão em
2014 - tricentenário do nascimento de Gluck
- e no Mosteiro de Lorvão, já em 2015, aquando do capítulo da Confraria da
Lampreia. Desta vez, num espaço diferente, num verdadeiro palco, com outras
possibilidades de sonoplastia e luminotecnia, aguarda-se que constitua um momento
ainda mais intenso e cativante. Mesmo para quem já assistiu, cremos que não será de perder
este serão que vai marcar a história cultural de Penacova.
Christoph Willibald Ritter von Gluck (1714 - 1787) foi um
dos mais importantes compositores do seu tempo. Foi considerado o grande
reformador da ópera clássica por equilibrar a importância da música e da acção
dramática. A ópera “Orfeu e Eurídice” é a obra mais representativa dessa
tendência. Foi escrita em 1762 e apresentada em Viena, em italiano. Em 1774 foi
reelaborada para ser cantada em língua francesa na Ópera de Paris.
Gluck |
O mito de “Orfeu e Eurídice” é relatado nas “Geórgicas” de
Virgílio, e foi utilizado como argumento de outras óperas na história da
música, desde “Orfeo” de Monteverdi (1607) até Offenbach, com sua opereta
“Orfeu no Inferno” (1858).
Terminamos
com o apelo que o Coral Divo Canto faz na sua página do facebook: “Não perca a oportunidade de ser surpreendido com as mais
diversas sensações e emoções que só se conseguem transmitir por este que é sem
duvida o mais completo género artístico.
A ópera está de volta a Penacova, e desta vez será
protagonizada pelos seus conterrâneos. Apareça! “
Leituras complementares:
O MITO DE ORFEU
Orfeu era
filho do deus Apolo e da ninfa Calíope; do pai herda uma lira
que, uma vez tocada por si, revela um canto do qual, pela sua magia, ninguém
consegue livrar-se.
O deus dos casamentos,
Himeneu, selou o amor de Orfeu e Eurídice, mas não foi capaz de lhes garantir
o êxito da relação. Os maus presságios iniciais concretizaram-se quando a bela jovem,
pouco depois, foi assediada por Aristeu. Ao escapar desta perseguição,foi
picada por uma serpente o que provocou a sua morte.
Incapaz de
aceitar este desenlace, Orfeu vai atrás da sua amada até ao mundo dos mortos.
Aí, tocando a sua lira, leva Caronte a guiá-lo ao longo do rio Estige amenizando
o sofrimento das almas e conseguindo mesmo entorpecer Cérbero, que, diante de Hades, acaba por verter algumas lágrimas. Comovido e dando ouvidos aos apelos da esposa Perséfone, permite que Orfeu entre para buscar Eurídice, impondo,
no entanto, uma condição: a jovem regressaria com Orfeu ao mundo dos vivos, mas
Orfeu não poderia olhar para ela até estar novamente no mundo da luz. Foi
conseguindo aguentar mas quando já estava quase a chegar ao fim dos escuros
túneis, quis certificar-se se Eurídice o estava a acompanhar. Ao olhar para
ela, esta transformou-se novamente num fantasma, deu um grito e voltou para o mundo dos mortos.
Orfeu estava
proibido de a seguir e, deseperado, esperou, jejuando, sete dias junto ao lago. A angústia
apoderou-se dele e não conseguiu a partir daí, enamorar-se por mais nenhuma
jovem. Cansadas de serem rejeitadas, as Mênades, furiosas, retalham o seu corpo
lançam a cabeça ao Rio Hebrus.
As musas tiveram
compaixão deste horrível acto, juntaram os restos mortais e sepultaram-nos no
Monte Olimpo.
Agora sim, no reino dos mortos, Orfeu já se podia juntar
a Eurídice.
Na versão de
Glück, os amantes recebem uma nova oportunidade do Amor, que permite a Orfeu
buscar Eurídice ao reino dos mortos, propiciando o reencontro definitivo de
ambos sem que ele tenha que morrer também.
SONETO DE EURYDICE
Eurydice
perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.
Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.
Porém nem nas marés nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.
E devagar tornei-me transparente
Como morta nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.
Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.
Porém nem nas marés nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.
E devagar tornei-me transparente
Como morta nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.
Sophia de Mello Breyner Andresen,
in Tempo Dividido, 1954
domingo, junho 14, 2015
Cartas brasileiras: Dia de São Valentim...
No Brasil, 12 de junho é o Dia dos
Namorados.
Em Portugal e
em muitos países, a data é comemorada no dia de São Valentim (dia 14 de
fevereiro), porque, segundo apurei, estaria relacionada com uma antiga festa
romana que homenageava Juno, a deusa romana das mulheres e do casamento. E também
por causa do bispo Valentim que se opôs às ordem do imperador Cláudio II
(213-270 AC), que teria proibido o casamento durante as guerras, por acreditar serem
os solteiros eram melhor nos combatente.
Deixando o romantismo de
lado, na noite de 14 de fevereiro de 1929, em um galpão de Chicago ocorreu o
massacre praticado por integrantes da gang de El Capone contra bandidos rivais;
a história americana registra o fato como St. Valentine Day ´s Massacre.
E por que lembrar Capone
justo agora! Apenas porque ele só acabou preso ao cair na “malha fina” do
imposto de renda americano, tendo logrado escapar de tudo o mais, por contar
com a assistência jurídica dos melhores advogados do país.
Pois bem, aqui no Brasil
temos vivido uma sequência de escândalos. No maior deles, no mais recente, um
esquema criminoso “saqueou” a maior empresa brasileira, e envolve endinheirados
empresários, as maiores construtoras do país e diretores da Petrobras, empresa
que tem a União (o país) como principal acionista, cabendo ao Governo nomear os
diretores, ainda que indicados pelos partidos da “base aliada”. Só um
ex-diretor se propôs a devolver algo em torno de US$100 milhões.
Apenas para lembrar, em
outro caso, hoje sabido bem menor, o Processo do Mensalão, mas não tão menos
vergonhoso, um ex-Chefe da Casa Civil acabou preso em penitenciária e agora
cumpre prisão domiciliar, isso em tempo de governos ditos sociais.
É de se admirar o destaque
que tem sido dado ao caso FIFA, que envolveria US$150 milhões em subornos,
quando o falcatrua contra a PETROBRAS, a propina e desvios estão estimada em de
US$2 bilhões, conforme registra o balanço da empresa recentemente publicado.
E, então é de se
perguntar: por que o Governo fica fiscalizando e controlando salário de
professores e assalariados ao invés de bem tomar conta da dinheirama da gentalha
que mete a mão!
P.T.Juvenal Santos
..................................
Notas:
Notas:
1. Obrigado pelo comentário sobre os 107 anos do Mirante
"O resgate desse acontecimento somente poderia vir de alguém com a sensibilidade do blogueiro David de Almeida. Centenas de comentários deveriam estar comemorando a data; os penacovenses estão em falta, quer por si mesmos quer por seus descendentes. Ainda que distante, emocionei-me com o relato."
"O resgate desse acontecimento somente poderia vir de alguém com a sensibilidade do blogueiro David de Almeida. Centenas de comentários deveriam estar comemorando a data; os penacovenses estão em falta, quer por si mesmos quer por seus descendentes. Ainda que distante, emocionei-me com o relato."
2. Recordemos o porquê das Cartas Brasileiras:
domingo, maio 31, 2015
Mirante Emídio da Silva faz hoje 107 anos
[recolha de penacovaonline] |
O Mirante Emídio da Silva,
construído no local do antigo miradouro do Monte da Senhora da Guia, também conhecido por Mirante do Castelo, foi inaugurado há 107 anos. Foi precisamente a 31 de Maio de 1908.
construído no local do antigo miradouro do Monte da Senhora da Guia, também conhecido por Mirante do Castelo, foi inaugurado há 107 anos. Foi precisamente a 31 de Maio de 1908.
Um pouco da história do mirante: certo dia, o Dr. Manoel Emigdyo da Silva, eminente figura do jornalismo, da engenharia, da cultura, visitou Penacova e ao
chegar ao Mirante do Castelo terá ficado maravilhado com a beleza da paisagem.
Com o seu apoio e do Presidente da Câmara, Dr. José
Albino Ferreira, o mirante nasceu. Foi
desenhado pelo prestigiado arquitecto italiano, radicado em Portugal, Nicola
Bigaglia, também projectista da Casa dos Cedros no Buçaco.
[ recolha de penacovaonline] |
A inauguração do Mirante no fim de semana de 30 e 31 de Maio
de 1908 foi um acontecimento marcado por grandes festejos, em que Emídio da
Silva – e uma comitiva da alta sociedade lisboeta – foi recebido em apoteose. Centenas de pessoas esperaram a caravana automóvel na zona da
Várzea, pelas cinco da tarde de sábado, com flores e foguetes ao som da
Filarmónica Penacovense.
À noite, junto ao mirante, a iluminação com balões
venezianos pendurados nas oliveiras, juntamente com fogueiras, deram a luz
necessária para que o arraial abrilhantado por um rancho de tricanas de
Penacova e pela veia artística da cantadeira de quadras populares Emília
Carolina fosse um êxito.
[recolha de penacovaonline] |
No dia seguinte, domingo, o Dr. Alfredo da Cunha, director
do Diário de Notícias, descerrou a lápide que ainda hoje se encontra no local
com a inscrição “ Mirante Emidgyo da Silva-31-5-908”, ao que se seguiu o
discurso emocionado do homenageado, bem como outras intervenções. A festa terá
perdido algum brilho, porque um intenso aguaceiro se abateu sobre Penacova a meio das cerimónias. No entanto o entusiasmo de alguns penacovenses, entre
eles, Alves Coimbra, António Casimiro e Amândio Cabral, levou a que erguessem
aos ombros por entre a multidão o Dr. Emídio da Silva, que deixou Penacova,
segundo relatos escritos da época, consternada pela partida, acenando
simbolicamente com lenços brancos.
Este evento foi notícia destacada e muito desenvolvida no Diário de Notícias, ilustrada por fotografias, o que não era muito comum nos jornais da época.
quarta-feira, maio 27, 2015
Visitar Lorvão em 1909: a visão de Emídio da Silva
Publicamos hoje o terceiro texto de um conjunto de escritos sobre Lorvão.Já transcrevemos a opinião, que consideramos injusta, de Magalhães Colaço (1913) e também o relato de Lino d´Assunção (finais do séc. XX). Agora, um trecho de Emídio da Silva, publicado em 1909.
"O Mosteiro de Lorvão foi um
dos mais notáveis do país e apesar de se encontrar hoje (1909) em ruínas, e
mesmo arrasado em parte, é ainda um monumento de subido valor histórico e um
repositório de arte muito curioso e interessante. O convento fica ao fundo de
um estreito vale, ocupando um local aprasível que se nos impõe pela sua austera
beleza e que podia ser no Verão concorridíssimo, dada a frondosa arborização da
encosta adjacente ao mosteiro e a frescura dos deliciosos mananciais de água que
vêm dos granitos da montanha.
Mas a laboriosíssima aldeia não
tem sequer ainda uma estrada que a ligue às outras do país e para se ir lá, de
Penacova, pela estrada do Botão, tem de se deixar esta dois ou três quilómetros
de Penacova e seguir a pé ou em burro por uma extensa ladeira que leva a descer
30 minutos!...
E no entanto, Lorvão bem merecia
que os poderes públicos tivessem olhado um pouco mais para ela pois a simpática
aldeia não vive passivamente da tradição dos seus monumentos, como outras de
Portugal mas do constante e esforçado labor dos seus filhos que desde os de
mais tenra idade até aos da mais provecta, se dedicam inteiramente à fabricação
dos palitos de dentes, que tem ali o maior centro de produção do concelho de
Penacova, do qual constitui, como é sabido, a indústria mais importante.
Mas se os poderes públicos deixam
quase ao abandono os restos do grandioso mosteiro que é um monumento nacional !
O seu pitoresco claustro foi demolido e as cantarias vendidas ou roubadas! No
esplêndido templo, de grandes e nobres proporções chove como na rua e o
magnificente coro que é um dos melhores exemplares da nossa época do rococó
está destinado a desaparecer, atacado pelo caruncho ou pelas mesmas mãos que
destruíram o claustro…
Quando vou a Lorvão e ainda lá
encontro perdida naquelas ruinas solitárias, como um náufrago que escapou a cem
porcelas, a custódia de prata dourada guarnecida de pedrarias – uma relíquia da
nossa arte sumptuária do século XVIII – esquecida e inapreciada na vasta
igreja, hoje sertaneja, e vejo ao mesmo tempo abandonados os sarcófagos de
prata que contêm os restos das infantas, filhas de D. Sancho I, não posso
deixar de fazer as mais amargas reflexões acerca da conservação que Portugal
dedica aos seus monumentos."
segunda-feira, maio 25, 2015
Lorvão: impressões da visita de Lino d'Assumpção em finais do séc. XIX
A descida [entre Chelo e Lorvão] vai
sempre por entre pinhais, na meia encosta abrupta e pedregosa, ao fim da qual
(...) se ouve correr a água, embora se não veja. O sol está alto e mordente;
sol cruel, implacável pressagio certo de tempestade, e cuja lividez estampa no
terreno estratificado e amarelo a sombra esburacada dos pinheiros que
rumorejam brandamente.
Além. onde a orreta se alarga, vêem-se bois pequenos lavrando a
terra escura e fraca, que vai sendo semeada com punhados de milho, e das rodas
duma azenha, cujo ruído melancólico e rítmico chega até nós, levantam-se
pulverizações douradas pela luz do sol. Nas bifurcações indecisas guiam-me
rodadas fundas dos carros. E cantam melros e pintassilgos.
Lorvão: bilhete postal em 1926 |
Cruzo-me no caminho com raros homens
de estatura pequena e cara rapada, vestidos de briche , e mulheres sem beleza,
de tez encarquilhada, saias sombrias colhidas nas ancas, anágua pela cabeça, ou lenço traçado na cara, que
quase lhes tapa a boca, deixando escapar na testa umas farripas de revolto
cabelo, que melhor se lhe chamaria estopa; pés descalços e deformados,
carregando pesados cestos que lhes achatam os crânios; e tanto homens como
mulheres correspondem à minha saudação com um reenvio religioso. Interrogados —
questão de passar o tempo — que tal ia a lavoura, respondiam:
— Tchoveu, mais foi poucatchinho
: mas Deus Nosso Senhor, assim como manda o pouco, pode mandar o muito, se
quiser.
Uma vez chegado a Lorvão,
encontra “ao soalheiro das portas”, sentadas, “mulheres e crianças cortando e
afeiçoando em palitos os troncos brancos do salgueiro.”
E a descrição prossegue com
grande pormenor:
Ao cabo da rua principal, e
fazendo esquina para o largo do mosteiro, encontra-se, á esquerda, a venda do
Carlos. Loja suja, dividida por um balcão negro, ao longo do qual vai e vem com
passo lento, gesto mole e aborrecido, o dono da casa, quando não anda por
Espanha fazendo negócio.
Era a hora do maior concorrência.
Mulheres e crianças entravam de xaile pela cabeça, e a troco de palitos levavam
bacalhau, açúcar, arroz, café, petróleo, azeite, vinho, broa, fósforos ou papel
de cor. O palito é ali a moeda corrente. Para as transacções entre o merceeiro
e os seus fregueses não há necessidade do intermédio nem da Casa da Moeda com
as cédulas, nem do Banco de Portugal com as notas. O Carlos recebe os maços,e
examina-os quase papel por papel, como um usurário examinaria uma peça de ouro
suspeita. Ele bem sabe que se o poderem enganar que não deixam de o fazer;
portanto, só depois de verificar se a moeda lhe serve é que dá a fazenda que
lhe pedem e ela representa. Muitas vezes a moeda sofre uma depreciação que ele
arbitra, atendendo á qualidade ou imperfeição do fabrico; outras então
rejeita-a sem dó, como se fossem notas falsas: sem reparar que esses macinhos
em que à pressa se juntaram lascas tortas, escuras, mal aparadas, representam
uma fraude da fome que, ao meio dia, desejaria roer um bocado de broa. E como
esta. saída do forno, cheira bem e abre o apetite! Não resisto ao desejo de a
provar e de reconhecer que em tal ocasião me soube como se fosse a melhor
iguaria.
Verificada a qualidade dos
palitos, o Carlos atira com eles para diversos repartimentos, segundo a
qualidade, e depois exporta-os por sua conta. A média das compras anuais anda
por uma dúzia de contos de réis. Dizem que perto de mil pessoas se ocupam neste
fabrico, tão simples como primitivo.
In As freiras de Lorvão : ensaio de monographia monastica / T. Lino
d'Assumpção,1899
domingo, maio 17, 2015
O que de pior se terá escrito sobre as gentes de Lorvão
Lançámos, há
dias no Facebook, algum “suspense” ao escrever “O QUE DE PIOR SE ESCREVEU SOBRE
AS GENTES DE LORVÃO...NUMA REVISTA DE ÂMBITO NACIONAL...EM 1913”, prometendo, a
curto prazo, voltar ao assunto nestas páginas do PenacovaOnline.
De facto, na
revista “Ilustração Portuguesa” foi publicado um texto, profusamente ilustrado (como é uso dizer-se), onde a par de sentimentos de algum pesar perante o estado
decadente do Mosteiro de Lorvão (que em 1910 havia sido declarado monumento
nacional), Magalhães Colaço (tratar-se-á de João Maria Telo de Magalhães Colaço
[1893-1931], professor de Direito em Coimbra?), lança um anátema contra os habitantes de
Lorvão, como se fossem eles os culpados de todo aquele “pesadelo de sombras e
de tristeza” reconhecido pelo articulista.
Pese embora
o mérito de alertar para o estado lastimoso do mosteiro e também de retratar de
algum modo a vida social e económica ligada à manufactura dos palitos, este
artigo, continuamos a achar, está ferido de uma concepção preconceituosa
da pobreza, que, sem dúvida, existia em Lorvão, tal como em todo o país na época em que o autor escreve.
O artigo
intitula-se “Palitos de Lorvão”. Como dissemos, inclui algumas preciosidades
fotográficas, tem aspectos positivos... mas, quase nos custa trazer à baila os
seguintes parágrafos:
“...toda essa gente que lastimei é
gente sem moral, sem coração, nem estímulos, é a escória, vendida em hasta pública,
do género humano – que já não presta.”
“Quando as últimas freiras foram
sepultadas, toda a legião dos nus e miserandos veio refugiar-se no convento ,
fazendo das celas desertas a casa paupérrima de indigentes...”
“Com os seus 1200 habitantes, Lorvão
não tem casas: todas se comunicam, escancaradas, porque todos vivem na mesma
promiscuidade vil.”
“Os homens fortes, são madraços
famosos a quem o descanso, o sol e o vinho puxaram a pescoceira farta ,
abasteceram o tronco e puseram aos olhos todo o brilho gorduroso dos alcoólicos
professos. Toda a freguesia, esssas mil e duzentas pessoas, trabalha em palitos
– dez minutos antes de comer. Levanta-se tudo tardissimo, e se lhes falta o
café, como quem toma do realejo para conseguir esmolas, eles se dispõem ao
trabalho, em semi-círculo, homens, mulheres e crianças de ambos os sexos.”
Para quem
tiver mais tempo, curiosidade e paciência para ler, deixamos aqui, em grafia actualizada, o
texto integral.
Oportunamente, daremos continuidade ao tema, referindo textos
de Lino d’ Assumpção e de Emídio da Silva publicados em 1899 e em 1909,
respectivamente, bem como de Cabral de Moncada e outros, relacionados com Lorvão nos finais do séc-XIX e inícios do séc- XX.
PALITOS DE
LORVÃO
Fica-se comovido e absorto, à vista do Lorvão. O vale fundo, sombrio,
tristíssimo, onde jazem os despojos do convento. Já não merece aquele nome rude
– Lorvão – nome rápido e áspero com o quer que seja do ressoar longínquo de
séculos bárbaros e no qual ainda ecoa o ruído dessas terríveis tempestades das
almas e dos elementos que rebentaram naquele vale onde apenas cabe o mosteiro.
Que apagada tristeza, que confrangida piedade a dos meus olhos, fitando o velho
rosto do enorme convento esquecido. Já não tem portão a antiga entrada para o
terreiro antigo, em quadrilátero, sem vidro os caixilhos cheios de erva,
negríssimas a s grades de ferro de todas as janelas, a que assomam grupos
inteiros de famílias acolhidas ao convento. E que rogos lamentosos os destas
pedras, que preces combalidas as destas janelas – olhos do mosteiro - a
balbuciarem transidas, que não as trespassem mais os ventos e cóleras do céu.
Mas como pode remir-se o velho mosteiro arruinado, grande, hirto, na sua
magreza de cadáver? Quando as últimas freiras foram sepultadas, toda a legião dos
nus e miserandos veio refugiar-se no convento , fazendo das celas desertas a
casa paupérrima de indigentes, ao relento prefrindo o frio que sofre quem vive
nestas celas de pedra e ferro...
Pobre mosteiro de Lorvão! Para que hás-de morrer aos poucos,
sem freiras que te lisonjeiem, sem madres abadessas que te mandem restaurar,
pintar olheiras que fossem mascarar-te a velhice, fazer chalrear nos teus
claustros, ornamentar de graças o teu coro sumptuosíssimo, povoar formosas as
tuas celas que foram encantadas e refazer
de ti o mosteiro opulento do tempo dos antigos reis - quando a altiva Filipa d’Eça, de sangue azul,
neta de El-Rei D. Manuel I, e monja eleita contra tenção de D. João III, leva a
revolta às assembleias do coro e debatia com o régio amo e recorria para Roma
distante e poderosa, soprando tempestades desse pequenino vale, onde a natureza
é arida e e os deuses espalharam a
miséria e a inópia?
O velho convento geme dolorido nas friagens das noites
chuvosas, acalma suas dores a os luares de quem ja ouviu louvores nos lábios
das freiras, quando à Cerca desciam a beijar seus pares, se a manhã traz uma réstea
de sol, todo ele se espreguiça os membros como o calor benéfico da natureza
lhes sarasse as chagas e o aliviasse da
torpeza promíscua dos seus centos de habitantes.
Pobre mosteiro de Lorvão, bendito e louvado quem te talhasse
a tumba! Pobre mosteiro, mosteiro velho das lendas, ergue a tua voz pela noite
e canta a tua vida gemendo...
...
E como há aqui quem sorria, cante, e case tão jubilosamente,
como no dia em que visitei Lorvão?
Só depois me informaram: toda essa gente que lastimei é gente
sem moral, sem coração, nem estímulos, é a escória, vendida em hasta pública,
do género humano – que já não presta. Com os seus 1200 habitantes, Lorvão não
tem casas: todas se comunicam, escancaradas, porque todos vivem na mesma
promiscuidade vil.
Os homens fortes, são madraços famosos a quem o descanso, o
sol e o vinho puxaram a pescoceira farta , abasteceram o tronco e puseram aos
olhos todo o brilho gorduroso dos alcoólicos professos. Toda a freguesia,
esssas mil e duzentas pessoas, trabalha em palitos – dez minutos antes de
comer. Levanta-se tudo tardissimo, e se lhes falta o café, como quem toma do
realejo para conseguir esmolas, eles se dispõem ao trabalho, em semi-circulo,
homens mulheres e crianças de ambos os sexos. Tomam da navalha e dos vimes de
salgueiro branco, abrem-nos em quatro e, afirmando-os sobre um pequeno protector
de couro que os envolve do joelho esquerdo até ao pé, aí adoçam a madeira, afiam-na em ponta, com duas ou três passagens
rápidas de canivete. Voltam essas pontas, marcam nos vimes a altura conveniente
ao palito, cavando a madeira e vergam, partem quatro hastes de cada vez. Aí estão
os palitos que eles enrolam e vendem em maços a três vinténs. Vinténs? Olhem a
fantasia...No Lorvão, desde que as freiras abalaram, já não há moeda alguma - de
metal. A moeda é o palito, o autêntico, cujo maço vale uns tantos gramas de
café ou farinha, uns tantos decilitros de vinho. O homem da venda e da tenda
recebe palitos, não recebe dinheiro, mas examina a moeda com um escrúpulo, com um rigor de quem conferisse velhas
assinaturas em pergaminhos antiquissimos. Aquilo tudo é pesado, medido, contado
e retribuido em género, de que eles fazem o almoço. Só despertam de novo para a
hora de jantar. Há pão? Não há. E lá se têm de afiar mais uns palitos . . . Não
trabalham, - mas não são exploradores, haja de confessar-se. Essas hastes, vendem-nas
de graça, e nas raparigas, nem um ar de coqueterie
a rogar mais uma espórtula de generosidade ao estranho que os compra. Por
vezes, apenas um leve sorriso a quem se abeira, como esse que dispensaram ao
meu companheiro de viagem .
Lorvão prolifica prodigiosamente. É que nada há tão
semelhante à opulência desmedida como a miséria crassa: aquela cria bastardos
sem temor, esta alimenta filhos sem cuidado. E, como era de prever depois de se
ter visto, esta gente, que anda sempre de canivete em punho, nunca o enfia pelo
seu semelhante. Em Lorvão há todos os dias insultos, ameaças, injúrias,
arrenegos, e, contudo, raro se marca um homicídio. Para tudo esta gente traz perdida
a energia...
E quem há-de explicar que assim floresçam, entre a lama,
algumas carinhas lindas de raparigas, cujos pés patinham detritos, cujos
corações sabem todas as amarguras - todas casam já mães -, emergindo umas
cabecitas lindas, olhos como gemas, gemas preciosas de côr e de suavidade?
Quem sabe? serão estes tipos de ciganas, netas ainda das
freiras lindas e graciosas que morreram d'amor ... cansadas? Aquela, mais
formosa ainda de lenço em touca, será neta de alguma abadessa?
Lá entram no terreiro do convento cheio de relva, por onde correm míseros garotos esfaimados.
Parece, no século XVIII, a hora sombria
das sopas distribuidas aos pobres que viviam nas abas do mosteiro.
Olho as janelas altas, gradeadas do negro ferro antigo, a querer ver
as freiras de mantos brancos. E vejo ainda as mesmas pobres, com mantos negros
de miséria. Caem horas da torre. Lorvão é agora um pesadelo de sombras e de
tristeza...
Magalhães Colaço
sexta-feira, maio 01, 2015
O QUE RESTA DO PAÇO DOS DUQUES DE CADAVAL
Fonte da Granja |
Quem não conhece
a Fonte da Granja? Pensar-se-á que não passa de mais uma construção ao longo da
Estrada Verde (N110). Para uns, aquele arco foi simplesmente talhado aquando da
construção do chafariz. Para outros, seria
originário de Lorvão, tal como as colunas do Mirante Emídio da Silva.
Ora, o arco
que ali se conserva contém em si a memória de uma parte importante da história
de Penacova. As colunas do Mirante, essas sim, terão essa origem, mas no caso
da Fonte da Granja, aquele pormenor não será mais do que (possivelmente o
único) vestígio do Paço dos Duques de Cadaval. Esta informação consta de uma
obra do nosso ilustre conterrâneo, Catedrático de História, Nelson Correia
Borges.
É também de
um outro penacovense ilustre, Dr. José Albino Ferreira [1],
o texto que a seguir transcrevemos e que nos fornece informações preciosas
sobre a influência dos Duques de Cadaval em Penacova. Conta então, José Albino
Ferreira:
Com a implantação do regime liberal,
pela vitória definitiva do partido constitucional, por toda a parte se refundiu
e transformou a vida social dos portugueses. As antigas casas dominantes
desapareceram ou decairam. As fortunas das famílias antigas que em geral se
mantiveram ligadas ao partido miguelista estavam muito comprometidas por
virtude das invasões francesas e depois pela guerra civil.
Em Penacova aconteceu o mesmo. Eram
donatários da vila de Penacova, primitivamente, os condes de Odemira. Esta casa
fundiu-se mais tarde, por casamento, com dos duques de Cadaval e assim ficou a
ser donatário de Penacova o Duque de Cadaval. Era este Senhor que superintendia
em todos os serviços judiciais e administrativos. Nomeava o Juiz e demais
funcionários públicos.
Tinha em Penacova o seu Paço, com
capaela anexa, no sítio onde agora está a Casa do Tribunal[2].
Tinha em Penacova o seu capelão e procurador, pois era proprietário de muitas
terras, lagares e azenhas, e recebia delas as rendas e foros.
O Duque de Cadaval era o Governador Militar de Lisboa
quando os miguelistas foram vencidos pelas tropas liberais em Almada. Como
visse que não podia manter-se em Lisboa, retirou com as tropas fiéis, e assim,
depois da Cionvenção de Évora Monte e termo da Guerra Civil, emigrou para
França, não voltando a Portugal.[3]
Como consequência, resolveu o Duque de Cadaval vender
todos os bens que possuia em Penacova.
Fotomontagem: Penacovaonline |
O Paço foi destruido por um incêndio e depois vendido
à Câmara de Penacova, que ali construiu[4] o
edifício dos Paços do Concelho e o Largo Fronteiro que hoje tem o nome de
Largo Alberto Leitão.
Tinha a Casa de Cadaval uma Capela
anexa ao Paço, que foi destruída pelo incêndio, uma capela lateral na Igreja de
Penacova, onde ainda está o escudo das armas dos Duques de Cadaval. É uma
capela ampla com sacristia. O estilo é de boa renascença.
Com o desaparecimento da fortuna da
Casa de Cadaval em Penacova, desapareceu o capelão, o procurador e e mais
pessoal. Com o incêndio desapareceram muitos documentos que, certamente,
dariam luz para a história de Penacova.
[1] Oriundo
da freguesia de Sazes, era formado em Direito, foi notário em Penacova e foi
também Presidente da Câmara quer no tempo da monarquia (era-o aquando da inauguração do Mirante) quer mais tarde já no regime republicano. Curiosamente também era Padre (sem
paróquia atribuída mas celebrava missa). Personalidade marcante do nosso
concelho e tão pouco conhecida e valorizada.
[2] Texto
escrito nos anos quarenta do séc. XX
[3] Ainda hoje a Família Cadaval vive em
França e só vem a Portugal com curta demora.,; mas conserva o seu apego à
pátria. Os varões, chegando à idade própria, cumpremos seus deveres militares,
segundo me consta.
[4] Inaugurado
a 1 de Janeiro de 1869 sendo presidente da câmara Constantino Almeida Amaral.
sábado, abril 25, 2015
O 25 de Abril de 1974 em Penacova
Como em muitos pontos do país, a
notícia da Revolução foi recebida em Penacova com um misto de entusiasmo e de
apreensão por parte da população em geral.
Foi só no dia 1 de Maio que as manifestações públicas e mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município (recorde-se que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro).
Dessa Comissão faziam parte Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.
Tomou posse a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a ser também o Engº Castro Pita.
Teófilo Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do Partido Comunista Português era professor e director do Ciclo Preparatório de Penacova desde 1971.
Perante as dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as ideias de esquerda.”
Consumada a intenção de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril e 31 de Dezembro de 1976.
Refere o jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”
Foi só no dia 1 de Maio que as manifestações públicas e mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município (recorde-se que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa Ribeiro).
Dessa Comissão faziam parte Fernando Ribeiro Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.
Tomou posse a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a ser também o Engº Castro Pita.
Teófilo Marques da Silva, natural do Porto, licenciado em História, militante do Partido Comunista Português era professor e director do Ciclo Preparatório de Penacova desde 1971.
Perante as dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente, tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as ideias de esquerda.”
Teófilo Luís Alves Marques da Silva (2 de Maio 74 a Agosto de 75: nesta data pede a demissão ficando em funções durante mais algum tempo)) e José Alberto Costa (24 de Abril de 76 a 31 Dez 76) |
Consumada a intenção de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril e 31 de Dezembro de 1976.
Refere o jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”
domingo, abril 12, 2015
Cartas brasileiras: Não me importam os motivos
Santo Deus, e meus ouvidos! Pelo que está escrito no Apocalipse, é
sofrimento para ninguém botar defeito. Os anjos chegarão fazendo muito barulho;
na primeira trombeta o fogo jogado sobre terra irá causar “um arraso”,
queimará um terço das árvores e das ervas. Na segunda trombeta, lança-se fogo e
sangue sobre o mar, matando um terço das criaturas e destruindo um terço dos
navios. E em cada uma delas, até à sétima, desgraças para ninguém botar
defeito. Quando o terceiro anjo tocar sua trombeta cairá do céu uma
grande estrela ardendo como uma tocha, cairá sobre a terça parte dos rios, e
sobre as fontes das águas. Ao som da quarta trombeta o Sol a Lua e as estrelas trarão
escuridão, um terço do dia parecerá noite. Ainda com os ouvidos doendo, com os
tímpanos quase estourados, ouviremos a quinta trombeta anunciando uma estrela
que caindo do céu abrirá um grande abismo; gafanhotos e escorpiões cobrirão a
terra, quem não tiver o sinal de Deus na testa pode esperar o pior. Na sexta trombeta
mais dor. Das cabeças dos cavalos, como cabeças de leões, sairão fogo e
enxofre. Nessa altura um terço dos homens já terá morrido. Não bastassem os
ouvidos, a dor não irá parar com a sétima, a trombeta final anunciando o novo
reino do Senhor.
clique na imagem para ouvir |
Será que não daria para trazerem junto Artie Shaw e sua
orquestra, quem sabe Benny Godman. Por que não Ray Anthony! Talvez Lester
Young. As opções são tantas que não há desculpas; dispenso os motivos; por Deus
apenas façam. Ou não basta ouvir as ambulâncias desesperadas gritando pedindo
passagem, presas pelo trânsito caótico, lá dentro uma mulher para dar a luz, um
idoso nos últimos suspiros ou uma criança chorando.
P.T.Juvenal Santos ptjsantos@bol.com.br
quinta-feira, abril 09, 2015
Lorvão: Memória e Tradição
Em parceria com a Associação
Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, o município de Penacova, promove, no âmbito das Comemorações dos 300
anos da Trasladação das Santas Rainhas Teresa e Sancha, e do Dia Internacional
dos Monumentos e Sítios, o Colóquio Internacional "Lorvão: Memória e
Tradição", bem como um conjunto de outras iniciativas, anuncia a página da Câmara Municipal.
Fica a transcrição:
Fica a transcrição:
Tendo como objetivo, nas palavras de Fernanda Veiga,
Vereadora da Cultura do município, "sensibilizar os cidadãos para a
importância do património na nossa sociedade, o tema do Dia Internacional dos
Monumentos e Sítios - "Conhecer, Explorar, Partilhar" - chama a atenção para a necessidade de conhecermos o
Património e a sua potencialidade enquanto recurso vital para um
desenvolvimento harmonioso, bem como para a imprescindibilidade de o
partilharmos, entendendo-o como legado e possibilidade de futuro.
É neste âmbito e, tendo como, premissa base a importância do
conhecimento, para melhor explorar a potencialidade dos recursos patrimoniais
na sociedade contemporânea, partilhando ideias, saberes, perspetivas,
preservando a identidade local e a ligação profunda às comunidades, que nos
dias 17 e 18 de abril, o município de Penacova comemora o seu Património, com
um programa dirigido a todos os públicos e que terá como, expoente, o Colóquio
Internacional "Lorvão: Memória e Tradição", que terá lugar pelas
14H30, do dia 17 de abril, no Mosteiro de Lorvão".
O colóquio, cuja sessão de abertura será presidida pelo
Presidente do município de Penacova, Humberto Oliveira, conta, na sua Sessão de
Abertura, com a presença de representantes da Junta de Freguesia de Lorvão, da
Direção Regional da Cultura do Centro, da Consejeria de la Cultura da Junta de
Castilla y Léon, do Ayuntamiento de Cabezón de Pisuerga, da Associação
Pró-Defesa do Mosteiro de Lorvão, será moderado pelo Prof. Doutor Luís Reis
Torgal, tendo como intervenientes: Arq. Fábio Nogueira, "A Evolução do
Mosteiro e o Condicionalismo que impôs ao lugar de Lorvão"; Mestre Paula
Silva, "Cultura e Património Imaterial de Lorvão"; Prof. Doutor
Humberto Figueiredo, "O Património, as Comunidades e o
Desenvolvimento"; D. Victor Pesquera, "A História do Mosteiro de
Santa Maria de Palazuelos". Às comunicações dos palestrantres seguir-se-á,
um momento para debate, após o que será realizada uma visita guiada ao Mosteiro
de Lorvão e sua envolvente.
Ainda no dia 17 de abril, e logo pela manhã, o Projeto
PENANIMA, realizará uma recriação histórica no Pátio do Mosteiro de Lorvão,
dirigida ao público infantil e, à noite, pelas 21H30, a Igreja do Mosteiro de
Lorvão será palco, pelas 21H30, de um Concerto realizado em parceria pela
Escola de Artes de Penacova e o Conservatório de Música de Coimbra, com a
apresentação das classes do Prof. Rodrigo Carvalho e das Profs. Joaquina Ly e
Maria José Nogueira, respetivamente. A segunda parte do concerto estará a cargo
dos Profs. Rodrigo Carvalho e Júlio Dias.
No dia 18 abril, o município promove, a partir das
09H30, uma Caminhada na Ribeira de
Arcos, seguida de Almoço no Forno Comunitário de Lorvão. Os interessados em
participar nesta iniciativa deverão concentrar-se pelas 09H00 em Penacova
(saída dos autocarros junto ao edifício da Câmara Municipal de Penacova) ou em
Lorvão, pelas 09H15 (saída dos autocarros junto ao Mosteiro de Lorvão).
A participação no Colóquio "Lorvão: Memória e
Tradição", bem como na "Caminhada na Ribeira de Arcos" é de
acesso gratuito.
As Comemorações dos 300 anos da Trasladação das Santas
Rainhas Teresa e Sancha decorrerão até 18 de outubro, com um conjunto de
iniciativas culturais, religiosas e gastronómicas diversificadas, organizadas
em parceria entre o Município de Penacova, a Associação Pró-Defesa do Mosteiro
de Lorvão e a Paróquia de Lorvão, contando com o apoio institucional da Junta
de Freguesia de Lorvão, Direção Regional da Cultura do Centro, Diocese de
Coimbra, Grupo Etnográfico de Lorvão, Filarmónica Boa Vontade Lorvanense e
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Penacova.
FONTE: site da Câmara Municipal
Subscrever:
Mensagens (Atom)