terça-feira, julho 15, 2014
sexta-feira, julho 04, 2014
Órgão de Lorvão vai fazer-se ouvir de novo: hoje, com o organista João Vaz e a participação do Coro Mediae Vox Ensemble
Organista : Prof.JOÃO VAZ
Coro : MEDIAE VOX ENSEMBLE
Promovido pelo Centro Cirúrgico de Coimbra www.ccci.pt
Aberto ao público em geral
Colaboração:
-Paróquia de Lorvão.
-Junta de Freguesia de Lorvão
Trata-se do 3º Concerto do Órgão Histórico do Mosteiro de Lorvão, após o restauro e concerto inaugural de 3 de Maio de 2014.
Fonte: Rui Batista
Coro : MEDIAE VOX ENSEMBLE
Promovido pelo Centro Cirúrgico de Coimbra www.ccci.pt
Aberto ao público em geral
Colaboração:
-Paróquia de Lorvão.
-Junta de Freguesia de Lorvão
Trata-se do 3º Concerto do Órgão Histórico do Mosteiro de Lorvão, após o restauro e concerto inaugural de 3 de Maio de 2014.
Fonte: Rui Batista
segunda-feira, junho 30, 2014
Coral Divo Canto vai apresentar espectáculo inédito em Penacova
No próximo Sábado à noite
(dia 5 de Julho - 21 horas) em frente à Câmara de Penacova vai acontecer
um espetáculo inédito por estes lados, que ninguém deve perder!
Graças
à coragem, à paciência e sobretudo à competência do Maestro Pedro André Rodrigues e às
excelentes vozes das solistas que interpretam Orfeu, Eurídice e Amor (Ana
Carolina Rodrigues, Carolina Simões e Joana Carvalho, respetivamente), os
Penacovenses e todos aqueles que ali se desloquem podem assistir à ópera Orfeu & Eurídice, uma imortal
história de amor, composta
por Christoph W. Gluck, aqui apresentada pelo Grupo Coral Divo Canto, de
Penacova, com as participações dos professores Júlio Dias ao Piano e
Gonçalo Rocha na flauta transversal e da Escola de Ballet de Penacova e
Silveirinho.
É assim um excelente pretexto para ir até Penacova, onde para além do espetáculo, dá ainda para nos deliciarmos com uma saborosa nevada e com a deslumbrante paisagem.
Lá nos encontraremos!
Eduardo Ferreira
sábado, junho 14, 2014
segunda-feira, junho 09, 2014
Cavaquinho em Cartas Brasileiras
Cavaquinho
em Cartas
Brasileiras
Nelson Antonio da Silva, mais conhecido como Nelson do Cavaquinho
é um dos grandes nomes da boa música brasileira; o apelido que ganhou já diz bem
qual era o forte dele. Autor de umas 400 músicas, algumas chegou até a vender
para poder se sustentar, tinham como tema o sofrimento, a ingratidão de amor, e
uma quase obsessão pela morte. Uma
composição que bem demonstra o estilo das músicas é como “Quando eu me chamar saudade”.
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Sei que amanhã / Quando eu morrer
/ Os meus amigos vão dizer/ Que eu tinha
um bom coração / Alguns até hão de chorar / E querer me homenagear / Fazendo de
ouro um violão / Mas depois que o tempo passar / Sei que ninguém vai se lembrar
/ Que eu fui embora/ Por isso é que eu penso assim / Se alguém quiser fazer por
mim / Que faça agora / Me dê as flores em vida/
O carinho / A mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me
chamar saudade / Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais. Nascido em 29 de outubro de 1911, faleceu em 18
de fevereiro de 1986.
No “chorinho” o grande intérprete
e compositor foi Waldir Azevedo (27/01/1923 – 20-09/1980). É o autor do
famoso “Brasileirinho”.
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No Brasil todo grande tocador de
cavaquinho gosta de executar essa música para mostrar sua qualidade artística e
técnica. Waldir compôs muitas outras, como “Delicado”,
“Pedacinhos do céu”.
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Waldir Azevedo com sua maestria levou o cavaquinho para uma
posição de destaque na interpretação musical, com o que deixou de ser apenas
mais um dos instrumentos de acompanhamento.
E por que falo de cavaquinho! Por tudo que tinha até então
escutado, imaginava que o cavaquinho fosse um instrumento genuinamente
brasileiro. Mas, ao ver no blog o convite para o almoço comemorativo do 20°
aniversário da Casa do Concelho de Penacova, li que uma das atrações será o
Grupo de Cavaquinhos de Rebordosa. Fiquei curioso e me pus a pesquisar sobre o
assunto tendo descoberto, o que de há muito ai já é sabido, que o
instrumento, também chamado de
braquinha, braga e machete, tem origem no Minho (Portugal), de onde espalhou,
até chegar ao Brasil.
E do Brasil mando abraços para todos.
P.T.Juvenal Santos
Nota da redacção: havia uma correcção a fazer relativa a datas de nasc / morte. Aos leitores as nossas desculpas.
segunda-feira, junho 02, 2014
Lisboa: Casa do Concelho de Penacova vai assinalar o 20º Aniversário
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Adicionar legenda |
A Casa do Concelho de Penacova é uma associação regionalista, sem fins lucrativos, composta por pessoas singulares e colectivas ou equiparadas. Foi fundada em 9 de Junho de 1994, por escritura pública realizada no 20º Cartório Notarial de Lisboa, publicada no “Diário da Republica” nº 174 / 94 (III Série) de 29 de Julho de 1994. Foram fundadores José Bernardes de Oliveira, natural de S. Pedro de Alva, e António Pimentel, Carlos Augusto Luís Simões e António Vicente Cabral, naturais de Penacova. Tem a sua sede em Lisboa, na Calçada de Carriche, nº 47 B, freguesia da Ameixoeira. Logo que foram conseguidas instalações, sucedeu à LACP (Liga dos Amigos do Concelho de Penacova) que, com esse objectivo, tinha sido fundada em 15 de Junho de 1985 pelos mesmos penacovenses, e outro, José Fernandes.
A Casa do Concelho de Penacova tem como principal finalidade promover culturalmente os seus associados; desenvolver a solidariedade entre os naturais do concelho ou que a ele se sintam ligados por laços familiares ou de amizade; divulgar as suas belezas paisagísticas, o seu património cultural e artístico, a sua gastronomia, o seu artesanato e o seu folclore; participar no desenvolvimento do concelho e prestar apoio possível ao seu comércio e à sua indústria; defender o concelho de tudo o que possa causar-lhe danos morais ou patrimoniais; organizar eventos culturais, recreativos e outros de carácter regionalista, entre sócios e simpatizantes; favorecer a prática de modalidades desportivas; colaborar com as associações similares e com as autarquias do concelho; auxiliar, dentro do possível, os penacovenses que se encontrem carenciados.
A Casa do Concelho de Penacova é sócia fundadora da ACRL – Associação das Casas Regionais em Lisboa – fez parte do seu Conselho Fiscal de 2008 a 2010 sendo presentemente Vice-Presidente da Direcção para Área Patrimonial, Equipamento e Logística.
Veja:
http://www.casaconcelhopenacova.pt/index.htm
domingo, maio 11, 2014
Promover anualmente em Lorvão uma Semana de Cultura à volta da Música Antiga, defende Dinarte Machado
ÓRGÃO HISTÓRICO DO MOSTEIRO DE LORVÃO
. Dinarte Machado, mestre organeiro
O órgão histórico do Mosteiro de Lorvão é o
maior órgão construído em Portugal no século XVIII. É um instrumento que,
apesar da sua dimensão, não deixa de ser personalizado e seccionado em relação
à sua planificação sonora, tornando‑o um instrumento "sensível" e
deveras singular.
Foi projetado por Manuel Machado Teixeira de
Miranda, natural de Braga, organeiro e escultor, que deu início à sua construção,
instalando em primeiro lugar a caixa quase ao centro do corpo sonoro da igreja,
sendo uma parte a igreja propriamente dita e a outra o coro baixo. Este
organeiro, foi pai do escultor Joaquim Machado de Castro e, em terceiras
núpcias, pai do organeiro António Xavier Machado e Cerveira. Foi, aliás,
Machado de Castro, quem desenhou e executou a caixa deste instrumento, a sua
maior obra deste tipo, onde se expõem figuras e cenas musicais e onde os pontos
estáticos praticamente não existem. Tudo está em movimento, distribuído por
duas fachadas: a do lado do coro (a principal), e a do lado da igreja. É do
lado do coro que o organista toca e para onde estão direcionados os tubos de
palheta, com os seus ressoadores de trombetas horizontais, à boa maneira
portuguesa, cujo aspecto apenas se pode apreciar em Portugal em Espanha.
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Diposição da registação na consola |
O órgão é composto por dois teclados manuais
e sessenta e dois meios registos distribuídos por vários planos sonoros
individualizados, controlados por pisantes existentes na consola, cujo som é
produzido por quase 4000 tubos. Cada pisante, anula uma secção sonora, a qual
se harmoniza com a base do instrumento, desde os registos de mutação, (reforço
da base), caixas de eco, cornetas e palhetas (trombetas). Parecendo complexa a
sua composição e "manuseamento", depois de nos integrarmos percebe‑se
exatamente o contrário. Tudo parece ter sido feito de modo a facilitar a sua utilização,
por parte do organista que o pretenda tanger.
As duas fachadas (a do coro e a da igreja)
são preenchidas com tubos de 24 palmos, os quais são sonoros. O projecto
inicial, não contemplaria o funcionamento da fachada do lado da Igreja. No entanto,
a análise rigorosa de todas as peças deste conjunto faz‑nos acreditar que tenha
sido António Xavier Machado e Cerveira quem optou por fazer este reforço sonoro
(sobre os graves), pretendendo que ambas as fachadas fossem utilizadas em
conjunto, juntando‑se a estes apenas um registo de 12 palmos e um outro de 6
palmos. O efeito desta combinação é deveras impressionante e só pode ser
experimentado neste instrumento. Este é o único órgão em Portugal com duas
fachadas desta dimensão sonora que, desafiando as leis da acústica (sonoridade
geral sendo emitida sem refletor acústico), funciona naquele espaço, na
perfeição.
Saliento que o órgão português que considero
mais bem planeado e com uma concepção admirável é o do Mosteiro de Santa Maria
de Semide, o qual também restaurámos. Aquele Mosteiro pertencia à mesma
Congregação que o Mosteiro de Lorvão e o instrumento foi construído na mesma
época por António Xavier Machado e Cerveira. A arte organeira em Portugal, que
tem o seu expoente máximo no último quartel do século XVIII, indo até ao fim da
primeira metade do século XIX (embora já em decadência), é de tal riqueza e com
uma identidade tão definida que se torna única no panorama mundial.
O órgão do Mosteiro de Lorvão é testemunho do
conjunto de mais de uma centena de órgãos desta traça portuguesa, num universo
de quase mil instrumentos existentes no país.
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Página do Diário de Coimbra, de 9 de Maio |
Creio que o órgão do Mosteiro de
Lorvão virá alertar para a necessidade de manter estes instrumentos, através da
formação de novos organeiros experimentados e empenhados na preservação desta
parcela tão importante da nossa história, que outrora nos dignificou e nos fez
grandes, perante o mundo.
Hoje podemos afirmar que conservámos um número
significativo de órgãos históricos em Portugal, dignificando a sua escola de
organaria. Ignorar este facto significa perdermos a nossa identidade cultura[,
algo muito mais importante do que um esforço financeiro pontual. A perda de
identidade cultural é irrecuperável e deixa‑nos sem personalidade e sem a
dimensão suficiente para recuperarmos o tal esforço financeiro. Hoje, perante o
mundo, podemos dizer que em Portugal contactamos muitas vezes com instrumentos
no seu estado mais puro e original (eu próprio o posso testemunhar), algo que
em muitos países da Europa é de todo impossível. Assim confrontados com o
elemento original, podemos criar uma escola mais "pura" e mais
verdadeira seguindo esse ensinamento.
Tenho a esperança que em Lorvão e a partir do
ecoar deste instrumento, se crie uma semana de cultura à volta da Música Antiga,
chamando jovens e admiradores desta faceta cultural, apelando ao contacto e à
formação em Portugal de pessoas nesta área, atraindo gente das várias partes do
globo para conhecer os órgãos restaurados nesta zona e por todo o país (com
eixo em Lorvão) e dando a conhecer o nosso património nas mais variadas
vertentes culturais.
Agradecimento e compromisso
. Pedro Cartos Lopes de Miranda, Pároco de Lorvão
Para uma paróquia essencialmente rural,
apesar da proximidade à cidade de Coimbra, e cuja dimensão fica naturalmente
muito aquém duma correspondência proporcionada à obrigação natural de habitar e
cuidar de um monumento nacional com o significado da Igreja do Mosteiro de St'
Maria de Lorvão, estava também completamente fora do seu alcance esta obra que
hoje temos a alegria de chegar finalmente à sua plenitude: a obra de restauro
do seu órgão.
O investimento que tal obra supôs revela
grande coragem da parte da Direcção Regional de Cultura do Centro e do Estado
Português, coragem que o povo de Lorvão, cheios de saudades os mais velhos do
seu órgão e das liturgias por ele embelezadas, cheios de curiosidade e
esperança os mais novos, só pode agradecer encarecidamente.
Permita‑se‑me, em nome do povo católico de
Lorvão, formular um compromisso da sua parte para o futuro deste importante
instrumento do património organológico nacional: fazer tudo o que está ao seu
alcance para que o seu uso litúrgico ‑ que e o seu mais natural ‑ seja o mais
quotidiano possível, para lhe garantir a saúde e a longevidade. Penso que pelo
menos um sinal, embora inconsciente, já temos da viabilidade desse compromisso:
o modesto mas esforçado contributo dos fiéis católicos, que são quem sustenta a
vida quotidiana desta sua igreja matriz, para o orçamento tão grande desta
obra. Qual? Perguntar‑se‑á. Seja‑me permitida confissão: com a conta mensal da
energia eléctrica, que, durante as obras do órgão e outras em curso de
iniciativa pública, atingiu uma dimensão que, a ser assim perenemente, nos
levaria à ruína.
Quem fez este esforço, seguramente estará
disposto a continuá‑lo à medida das suas capacidades, para uma: "longa
vida ao órgão da Igreja do Mosteiro de Sta Maria de Lorvão."
terça-feira, maio 06, 2014
História e Arte: a propósito do Órgão do Mosteiro de Lorvão
Transcrevemos hoje o texto (publicado no folheto alusivo à inauguração do órgão) do Prof. Doutor Nelson Correia Borges, eminente historiador penacovense e o maior especialista da história do Mosteiro de Lorvão. Só se pode dar valor àquilo que se conhece. Com a divulgação deste documento, que constitui uma excelente síntese histórica e artística, pretendemos contribuir para que Lorvão se afirme cada vez mais como Centro Cultural do nosso concelho, da região e do país.
História e Arte
Nota breve
Teve a música grandes cultoras em Lorvão, em
todos os tempos. Abundam na documentação do mosteiro as referências, quer a instrumentos
musicais, quer a instrumentistas e cantoras. Os ofícios de coro exigiam
solenidade, perfeição e gravidade, conforme a determinação dos Capítulos Gerais
da Ordem de Cister e as normas codificadas no Livro de Usos e Cerimónias. O
órgão veio a assumir‑se no decurso do século XVII como instrumento
indispensável ao esplendor das cerimónias litúrgicas, graças aos
aperfeiçoamentos técnicos e estéticos de que foi sendo alvo.
A primeira referência a um órgão de tubos em
Lorvão data de 1668, o que pressupõe a sua anterior existência. Em 1719 a
comunidade decidiu mandar fazer um novo, profundamente remodelado em 1727, na
caixa e nos mecanismos, e com nova reforma em 1742. Não teve muitos anos de uso
este órgão reformado, pois foi desmontado em 1747, durante as obras de
construção do novo coro e quando se pensava em reedificar também a igreja de
forma mais grandiosa. Logo que o coro ficou pronto, cerca de 1748, e começou a
ser utilizado para o ofício divino, procedeu‑se à reinstalação do órgão
desmontado, antes que se pensasse em mandar fazer outro novo, o que só seria
possível depois de concluídas as obras da igreja.
Em 1764, quando se fizeram os retábulos do
antecoro, trabalhava-se igualmente nas tribunas ou varandins em que se viria a
instalar o novo órgão. Mas só vinte anos mais tarde, em 1784, houve
disponibilidade para avançar com a obra. Para o efeito foi contactado o
escultor e organeiro Manuel Machado Teixeira, natural de Braga e estabelecido
em Coimbra, com oficina na rua de Sobre Ribas. Manuel Machado Teixeira era pai
de Joaquim Machado de Castro e de Antônio Xavier Machado e Cerveira. Ao
primeiro comunicou o gosto pela escultura, ao segundo o da organaria. Um e outro
se distinguiram e foram figuras cimeiras na sua arte. Foi certamente devido à
avançada idade de Machado Teixeira que, à obra vultuosa que as cistercienses de
Lorvão pretendiam fazer, se associou Antônio Xavier. O contrato para a sua
execução foi celebrado em 15 de julho de 1785, mas esta sofreu contratempos
vários, como o falecimento de Manuel Machado Teixeira. Também o projeto inicial
foi ultrapassado com a adição de novos registos e outras alterações. Só em 1795
o órgão ficaria pronto e, conforme se pode ver na assinatura que Antônio Xavier
Machado e Cerveira lhe após, tem o nº 47 de fabrico. Importou em mais de sete
contos e seiscentos mil réis, verba avultada que só acabou de ser totalmente liquidada
em 1806, o que denota já algumas dificuldades financeiras na governação do
mosteiro. Com efeito, os tempos já eram bem diferentes da época áurea anterior.
É esta a explicação para o facto de, tanto as caixas do órgão como as tribunas
do antecoro, nunca terem sido pintadas e douradas como estava previsto e era
comum em todas as obras congéneres. Em 1791 levaram três demãos de aparelho,
somente. O douramento e pintura, que lhes emprestariam nova beleza e fulgor
foram sendo adiados para melhores dias, que não mais voltaram. Com isto, o
órgão de Lorvão ficou impedido de transmitir a mensagem estética visual que lhe
fora destinada.
Há que distinguir no órgão a parte de
organaria da de marcenaria, escultura e talha. Quer uma quer outra são do mais
alto nível, o que confere a este instrumento o estatuto de verdadeira obra‑prima
entre os órgãos históricos nacionais. Embora não haja referência documental
direta ao nome do escultor e entalhador, é sabido que António Xavier Machado e
Cerveira se instalou em Lisboa na oficina de Joaquim Machado de Castro, ao
Tesouro Velho, e como era estreita a colaboração profissional entre ambos, é
lógico que, absorvido e entregue aos trabalhos de organaria, deixasse para a
oficina do irmão a fatura da caixa do órgão laurbanense, que ele próprio também
contratara.
Contudo, nem seria necessária esta dedução
documental. Basta olhar para a escultura decorativa, para o filiar estilisticamente
na arte de Machado de Castro. O parentesco é por demais evidente em certos
pormenores que quase têm o valor da marca da sua oficina ou da sua assinatura.
Graciosos anjos‑músicos esvoaçam em movimentos delicados, enquanto outros se
quedam em diversas atitudes, tangendo com brio variados instrumentos.
Especialmente encantador é o relevo em moldura arrendada, da fachada da igreja,
com cinco anjos dispostos assimetricamente, movimentando‑se sobre nuvens em
diferentes e graciosas atitudes e posições. São uma exaltação de Cister,
mostrando ostensivamente os atributos de S. Bernardo: três livros, emblemáticos
dos seus inumeráveis escritos, um báculo, a mitra abacial e uma pena.
Provavelmente teria sido também Machado de Castro o delineador de toda a caixa,
onde se patenteiam bem os princípios estéticos que o norteavam, isto é, os de
um barroco classicista, com algum racionalismo de concepção, decorrente da
filosofia das Luzes e tão característico da época rococó, bem patente na disposição
e articulação dos diversos corpos. Foram utilizadas na execução madeiras de
castanho e pinho de Flandres.
Com este alentado e belo instrumento ficaram
as monjas laurbanenses habilitadas e estimuladas para a prática de música
litúrgica no mais alto grau de perfeição. Muitas delas foram exímias
organistas, como se documente pelos assentos dos livros de óbitos.
Nelson
Correia Borges,
Historiador
segunda-feira, maio 05, 2014
Mosteiro de Lorvão: ainda o concerto inaugural do órgão histórico
A inauguração do órgão do mosteiro de Lorvão realizou-se no dia 3 de Maio, à noite, conforme previsto. Contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura e da respectiva Delegada Regional além das autoridades locais civis e religiosas. Noite memorável para Lorvão e para o concelho de Penacova. A Igreja (incluindo a parte do Coro) foi pequena para acolher a multidão (assim podemos falar) que quis estar presente neste momento tão especial e ansiado. A página do Penacova Actual no Facebook publicou inúmeras fotografias sobre este acontecimento.
Dada a importância histórico-cultural deste órgão, tomamos a liberdade de publicar alguns textos que fazem parte do desdobrável disponibilizado na ocasião.
Por hoje, deixamos aos leitores o depoimento de João Vaz, organista de renome internacional, que juntamente com Harald Vogel, derem corpo ao Concerto Inaugural. Posteriormente, publicaremos textos do historiador Nelson Correia Borges e de Dinarte Machado, mestre do restauro.
CLIQUE PARA AMPLIAR
(Obs: esta disposição do texto e cor de base não corresponde ao original.
Pedimos desculpa aos autores. Move-nos tão só a intençao de divulgar
e valorizar ainda mais este tesouro cultural)
sábado, maio 03, 2014
Um Órgão com (muita) história...
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Separador do livro Doçaria Conventual de Lorvão, de Nelson Correia Borges (2013) |
É muito provável – segundo alguns historiadores - que em tempos mais recuados já existisse um órgão em Lorvão.
Todavia, o primeiro órgão de que há notícia terá sido o que em 1718 mandou fazer a abadessa D. Cecília d’Eça e Castro. Entretanto, a abadessa D. Maria da Trindade resolveu reformá-lo, mudá-lo de local, acrescentar-lhe mais registos e dourar-lhe a caixa.
A partir de 1748 dão-se as obras de reconstrução da Igreja que se prolongaram por cerca de vinte anos. Depois das obras, as religiosas quiseram dotar o mosteiro com um órgão mais grandioso.
Coube a D. Madalena Maria Joana de Vasconcelos Caldeira (1783-1786) materializar esse objectivo.
Na obra de Nelson Correia Borges, Doçaria Conventual de Lorvão (2013) escreve aquele autor: “ Em 1785, a mesma abadessa empenhou-se na obra do novo órgão, mas já era o canto de cisne da renovação artística de Lorvão: a caixa foi aparelhada e ficou à espera de uma pintura e douramento que nunca mais chegou e o pagamento da despesa arrastou-se por vários anos. É uma realização do que melhor se fazia no reino, já que a parte harmónica e técnica foi executada por António Xavier Machado e Cerveira e a caixa e escultura saiu da oficina de seu meio-irmão, Joaquim Machado de Castro.”
Só ficou concluído em 1795. Poucos anos depois surgem as invasões francesas que a par de outros factores conduzem à decadência de Lorvão e do seu órgão.
Depois de muitas décadas, em 1955, voltou a fazer-se ouvir, depois do restauro feito pela Firma João Sampaio (Filhos), Lda.
“Foram introduzidas modificações nos foles e na cobertura do teclado. Os primitivos foles eram em forma de cunha e necessitavam de dois homens que tinham de se revezar com frequência. Foram substituídos por um único fole paralelo, instalado em sala contígua, com a vantagem de fornecer sempre a mesma pressão de ar. O seu conjunto harmónico é constituído por cerca de dois mil e quinhentos tubos de metal e madeira.” – escreveu Nelson Correia Borges em 1968 no Notícias de Penacova.
Naquela data já o órgão estava outra vez inutilizado. Lamenta o referido cronista que “depois de importantes obras de restauro levadas a cabo em 1955 pela DGEMN e que fizeram voltar o alentado instrumento ao seu antigo esplendor, dum momento para o outro elas ficassem inutilizadas parcialmente por injustificável incúria, em virtude de ter-se dado infiltração de água das chuvas durante umas obras de reparação do telhado”.
Os anos passaram, muitas pessoas e entidades foram pugnando pelo seu restauro. Depois de muitas vicissitudes, só hoje, 3 de Maio de 2014, vai ser possível ouvi-lo de novo na sua majestade e imponência.
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Capa do jornal Díário de Coimbra de 2 de Maio |
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Díário de Coimbra , 2/5/2014 |
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