Edição do Jornal de Penacova de 8 de Outubro de 1910 |
Mais ou menos por esta hora (oito
e meia da manhã) Penacova recebe a notícia: ali para os lados de Santo António ouviu-se
um forte “Viva a República” que ecoou por toda a vila. Daí a pouco o largo
Alberto Leitão já estava cheio de gente entusiasticamente aclamando a
instauração do Regime Republicano em Portugal.
Os ecos deste dia 6 de Outubro de
1910 chegam-nos através do periódico que se publicava desde Setembro de 1901, o
Jornal de Penacova. A notícia é conhecida de muitos penacovenses. Muitos deles
ainda conservam um exemplar da edição de 8 de Outubro. Por altura do Centenário
da República publicámos, com o apoio da Câmara Municipal, o livro Penacova e a
República na Imprensa Local. Aí, procurámos ir um pouco mais além do relato que
é feito naquele jornal, enquadrando os acontecimentos no clima político que
antecedeu o 5 de Outubro bem como nos momentos decisivos que se seguiram.
De modo a assinalar a efeméride, deixamos
alguns apontamentos baseados naquilo que escrevemos na referida obra:
“A notícia da Implantação da
República em Portugal foi trazida a esta vila pelo nosso correligionário
Joaquim Serra Cardoso1, na quinta -feira, pelas 8 e meia horas da manhã” –
escreve o Jornal de Penacova – que explicita: “o nosso amigo tinha ido na
véspera para Coimbra, e assim teve a honra de trazer em primeira mão a grata
notícia. Logo ao chegar ao Ramal de Santo António, o nosso amigo soltou um
estridente Viva a República que foi ouvido na vila o que fez com que o nosso
director [Amândio dos Santos Cabral] corresse ao seu encontro, dirigindo-se
logo ao Largo Alberto Leitão, onde imediatamente se juntavam muitos cidadãos aclamando
a República.”
E prossegue o relato: “Pouco depois, uma comissão Republicana
composta dos nossos correligionários dr.
Rodolfo Pedro da Silva, dr. António Moncada, José Pedro Henriques, José Alves
de Oliveira Coimbra e o nosso director percorreu a vila convidando os cidadãos
para assistirem à proclamação da República nos Paços do Concelho, ao meio dia. A
notícia fora anunciada por uma salva de 31 morteiros e grande número de
foguetes. Imediatamente ''foi suspenso o trabalho em toda a vila, pois que
todos queriam pormenores do faustoso acontecimento.''
Conta-se, de seguida, o episódio
da subida ao telhado da Câmara para desfraldar a bandeira verde rubra: “Como as
repartições da Câmara Municipal estivessem fechadas, o nosso director subiu por
uma escada ao telhado do edifício dos paços do concelho e ali, no meio de
aclamações entusiásticas do povo, que se achava no largo, hasteou a bandeira
vermelha e verde, augusto símbolo da pátria redimida, a qual foi saudada com
entusiásticos vivas e por nova salva de 31 morteiros e inúmeros foguetes.”
“Ao meio dia da tarde [assim se
dizia] apareceu nesta vila o nosso correligionário sr. Leonel Serra [de Miro],
a cavalo, e empunhando uma bandeira branca onde se lia – PAZ – acompanhado de
muitos populares, que saudavam a República.”
Só no dia 7 (porque no dia 6
haviam fechado todas as repartições públicas) foi exarado no livro de actas da
Câmara o Auto de Aclamação.
“Ontem, cerca das duas horas da
tarde, na sala das sessões da Câmara, no meio do maior entusiasmo, foi lavrado
o auto que noutro lugar publicamos, da aclamação da República, sendo logo
assinado por todos os cidadãos presentes, levantando-se muitos vivas à
República, à Pátria portuguesa, etc. “
Também, de acordo com os relatos
do jornal, apareceu pouco depois, no largo Alberto Leitão um ''numeroso grupo
de correligionários da freguesia de S. Pedro de Alva que foi recebido no meio
do maior entusiasmo, indo logo todos assinar o auto”.
Em seguida, ''todos os cidadãos
que estavam no Largo Alberto Leitão se dirigiram para a nossa redacção –
conclui o Jornal de Penacova – fazendo-nos uma calorosa e penhorante
manifestação, sendo-lhes aqui oferecida uma taça de champanhe, trocando-se
numerosos brindes, sempre no meio do maior entusiasmo. Este periódico transcreve na íntegra o texto exarado no livro
de Actas das Sessões da Câmara:
“Aos seis dias do mês de Outubro
do ano de 1910 pelas 12 horas do dia, nesta vila de Penacova e no Largo Alberto
Leitão, fronteiro aos Paços do Concelho, foi entusiasticamente aclamada a
República Portuguesa, proclamada em Lisboa no dia cinco do corrente, e hasteada
abandeira republicana no edifício acima referido. E não podendo este auto ser
lavrado logo após a aclamação, em virtude de estarem ausentes as autoridades
administrativas deste concelho e fechadas as portas da câmara municipal sendo impossível,
por isso, sem violência haver-se o competente livro das actas das sessões da
mesma câmara, se lavra hoje,7 do corrente, o presente Auto de Aclamação da
República Portuguesa, que vai ser assinado pela Comissão Republicana Local,
pelas pessoas que tomaram parte naquela manifestação e ainda pelas demais
presentes a este acto que espontaneamente o queiram fazer. Depois de lido por mim,
Alípio de Sousa Correia Leitão, secretário da Câmara que o escrevi. “
Penacova por volta de 1910 |
O documento é assinado por cerca
de sessenta pessoas. A ordem aqui apresentada não corresponde ao original. Optámos
pela ordem alfabética:
Abílio Augusto Fernandes, Alberto
Cabral de Nascimento Palma, Alípio Serra Cardoso, Amândio dos Santos Cabral,
Américo Pinto Guedes, Aníbal Duarte de Vasconcelos, António Carlos Pereira Montenegro,
António Casimiro Guedes Pessoa, António Correia da Silva, António Gomes Freire
de Almeida e Silva, António Henriques Fonseca Júnior, António Joaquim Dias,
António Lopes da Costa Carvalho, António Seiça Ferrer de Saldanha Moncada,
Armando Alberto Pimentel, Athalyba Duarte Sousa, Augusto Ribeiro de Almeida,
Carlos Mendes, Constantino António Carvalho, Daniel da Silva, Eduardo Pedro da
Silva, Eduardo Silva, Fernando Miguel, Francisco Augusto Guedes, Francisco de
Almeida Ventura, Francisco da Costa Gonçalves, Francisco Sousa Júnior, Heitor
Ribeiro de Almeida, Henrique de Assumpção, Henrique Freire Garcez, Henrique
Silva, João Augusto Simões Barreto, João Casimiro Guedes Pessoa, Joaquim
Augusto de Carvalho, Joaquim Cabral Júnior, Joaquim Madeira Marques, Joaquim Pereira
Castanheira, Joaquim Pita d’Eça Aguiar, Joaquim Serra Cardoso, José Alves de
Oliveira Coimbra, José António de Almeida Júnior, José Augusto Monteiro Júnior,
José Augusto Ribeiro, José de Almeida Coimbra, José de Matos Vieira, José dos
Santos Silva, José Maria Marques, José Maria Pereira Pimentel, José Pedro
Henriques, José Ventura de Almeida, Leonel Lopes Serra, Luís Pereira de Paiva
Pita, Manuel Maria Ralha, Manuel Correia da Silva, Manuel Maria Ferreira,
Manuel Silva, Rodolfo Pedro da Silva, Rodolfo Silva, Silvério de Amaral Guedes e Urbano
Ferreira da Natividade.