21 setembro, 2015

As Vésperas da Batalha do Bussaco descritas por Simões de Castro


Muito se escreveu (e se escreve ainda hoje) sobre a Batalha do Bussaco. Muitos e muitos  relatos ficaram registados quer pela mão de franceses, quer de ingleses e portugueses. O texto que se segue,  não trazendo nada de novo, tem no entanto a particularidade de ter como autor Augusto Mendes Simões de Castro  que,  como todos os penacovenses sabem, deu origem à designação do Penedo do “Castro” outrora conhecido por Penedo da Cheira. Simões de Castro deixou muitas obras entre as quais o “Guia Histórico do Viajante do Bussaco” onde dedica um capítulo àquele acontecimento militar que marcou a nossa região, o país, e mesmo grande parte do “mundo ocidental”.

O capítulo começa com uma sextilha de Delfim Maria d’Oliveira Mata:

Aqui a águia vencedora,
Ofuscar seu brilho de outrora
Por nossas armas já viu.
-Empolgava quasi a Europa
Mas à forte lusa tropa
O colosso sucumbiu.

Escreveu Simões de Castro na parte inicial do capítulo em causa:

“Junto dos muros do Bussaco se feriu no dia 27 de Setembro de 1810 uma famosa batalha, em que o exército anglo-luso, sob o comando de lord Wellington, ofuscou pela primeira vez a glória militar do afortunado e célebre Massena - o filho querido da Vitória, como lhe chamava Napoleão.
 
Havendo as tropas francesas invadido por duas vezes o nosso pais, sem que obtivessem vantagem decidida, a primeira em 1807 capitaneadas por Junot, e a segunda em 1809 por Soult, resolveu Napoleão mandar de novo invadir Portugal por um grande exército sob o comando do marechal Massena, que efectivamente transpôs a nossa fronteira em Agosto de 1810, depois de tomar Astorga e Ciudad Rodrigo.
 
Era Massena precedido pela grande fama de seus esplêndidos feitos militares; alcançara vitórias assinaladas, e ufanava-se de ter salvado a França com a batalha de Zurique, que havia ganhado contra os russos, e com a memorável defesa de Génova, com que facilitara a Napoleão a passagem dos Alpes. Trazia consigo generais de grande perícia; e suas tropas eram numerosas, aguerridas e valentes. Os nossos soldados eram em menor número, grande parte recrutas, que nunca se tinham encontrado em campo com o inimigo. Bem desigual era pois o partido; todavia os brios da nação tudo supriram, e o Filho Querido da Vitória, que segundo a linguagem soberba de Napoleão, vinha arrojar Wellington para o Oceano, teve de se reconhecer vencido e de evacuar o país depois de muitos revezes.
 
Entradas as tropas francesas em Portugal, o seu primeiro passo foi o cerco de Almeida. Uma terrível explosão, sucedida nos armazéns de polvora d'esta praça no dia 26 do dito mês de Agosto, obrigou a guarnição a capitular.
 
Tratou Massena imediatamente de dispor as coisas para realizar o seu plano de invasão, e ordenou aos diversos corpos do seu exercito fizessem colheitas e se provessem de viveres para dezassete dias - tempo que calculara o necessário para a conquista de Portugal.
 
No dia 20 de Setembro acamparam as tropas junto de Viseu. Esta cidade fora abandonada pelos habitantes, e Massena, encontrando-a deserta, ficou surpreendido e viu transtornados seus planos; pois não só esperava que o povo português o receberia bem, mas contava por consequência encontrar facilmente os necessários recursos para o exército prosseguir sem embaraço na sua marcha até Lisboa.
Convocou Massena os oficiais de estado maior, e alguns portugueses que trazia consigo, para o instruírem da estrada que mais conviria seguir em direcção a Lisboa, e deliberou que se marchasse pela de Tondela e que em Santo António do Cântaro se atravessasse a serra do Bussaco.
 
No dia 25 pôs-se todo o exército em movimento, e veio acampar em Tondela e cercanias. Encontrou esta vila deserta e completamente desprovida de mantimentos.
No dia 26 continuaram as tropas a sua marcha. Na ponte do Criz achou a vanguarda alguma resistência por parte dos aliados, mas depois de ligeiro combate abandonaram estes a ponte, deixando-a cortada. Repararam- na logo os Franceses e por ela pôde passar a artilharia; a cavalaria e infantaria passaram num vau pouco acima da ponte.
 
A vanguarda dos aliados continuou a afastar-se até Santo António do Cântaro, e neste ponto opôs forte resistência. Viram os franceses que lhes era impossivel vencer esta posição, e ao mesmo tempo descobriram uma força superior sobre a montanha do Galhano. Fizeram então reconhecimentos para todos os lados, mas foram rechaçados sucessivamente.
 
Nessas circunstâncias participaram a Massena (que havia ficado muito para trás) que os aliados se opunham à passagem da montanha com forças consideráveis.
 
Veio Massena reconhecer a posição, e seguidamente perguntou ao general Pamplona se julgava que os aliados ofereceriam batalha. Respondeu este que sem dúvida, visto como sobre a montanha se descobriam forças tão consideráveis. 

Disse então Massena, convencidíssimo e em tom de oráculo: — «Eu não me persuado que Lord Wellington se arrisque a perder a sua reputação; mas se o faz, je le tien: demain nous finirons la conquête du Portugal, si en peu de jours je noyerai le léopard.»
Mal diria Massena que dentro de poucas horas haviam as coisas de suceder tanto pelo contrário do que esperava!

09 setembro, 2015

Cartas Brasileiras - Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos

Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos

Para eximir-me de algum deslize, adianto que sou “beia” em assunto de rodeio, mas não quero ser um “mofete”, espero não levar um “pialo” nessa minha tentativa.
Em agosto, Barretos, minha cidade natal, fica agitada. No dia 25 é comemorado o aniversário da cidade (161 anos) e durante dez dias Festa do Peão de Boiadeiro (20/08-30/08). Haja quem ponha restrição ao nome da festa, deveria ser Festa do Peão de Rodeio, por contar com a participação dos astros, enquanto o peão de boiadeiro se refere mais precisamente ao profissional que lida dia a dia no campo.

Não vai aqui nada de bairrismo pela escolha do tema dessa carta, já deixo claro, o evento não mais me causa arrepios, talvez porque a pele ressecada pelos meus passados setenta anos consiga controlar meus eosinófilos. Independentemente de tudo, vamos em frente. Aliás, a festa, realizada pelos Os Independentes, vai além dos espetáculos protagonizados pelos peões, que disputam diversos prêmios em diversas modalidades, haja shows de cantores.
O que me traz é a curiosidade da fala dos peões, a linguagem oficial atrás dos “bretes”. Se no futebol existe a Maria Chuteira, mulher que dá de cima dos jogadores, existe a correspondente a “Maria Breteira”, não largam do pé dos moços.
Os peões, na maioria jovens, se põem “traiados”, ninguém quer ser “carregado” ou “guaiaca”, e as “chayenes”, muitas delas usando “sedém no talo”, identificam facilmente um “faiado”, até mesmo as “dirrubadas” sabem quem é quem.
Bebida forte é um “trago”, pão duro é “escorpião no bolso”, e quem “está com medo para que veio”, é porque mal chega já quer ir embora. Existem muitas outras expressões usadas, a Internet pode ser fonte para consulta.

P.T.Juvenal Santos – ptsantos@bol.com.br
  
Abeia braba (abelha brava): Peão fraco, que não consegue ficar em cima do animal.
Abeia (abelha) ou beia:  quem em não entende nada de rodeio; inexperiente, peão iniciante.
Brete: cercado, curral, local onde os animais do rodeio ficam antes das provas de montarias começarem.
Carregado: Quem usa roupa country com muitas franjas e bordas.
Chayene: moça com traje típico vistoso com franjas,
Dirrubada (derrubada, caída): Péssimo rodeio; mulher feia
Guaiaca: Cinto de couro com vários compartimentos; peão mal trajado ou com roupa velha.
Faiado (falhado): cowboy de araque.
Mofete: pessoa chata
Pialo: tombo
Sedém: espécie de corda atada na virilha dos cavalos para fazê-lo pular mais.
Sedém no talo: Calça jeans bem apertada.
Traiado ou na traia: Adepto de roupa country legítima e completa (camisa listrada, chapéu bonito, botas e fivelas novas)




08 setembro, 2015

Marcas do progresso chegaram ao Mont'Alto...em 1947

A romaria ao Mont'Alto continua a marcar a vida de Penacova num misto de Fé,  Tradição e Convívio. Muitas "histórias" vividas ao longo dos tempos podiam ser recordadas...

Nos finais do século XIX o percurso era feito a pé e os carros de bois transportavam os farnéis para aliviar o peso da caminhada:

"O Joaquim Catarino e o Benêjo andavam a trote a juntar os farnéis para os carros de bois da D. Maria da Pureza enquanto na casa da D. Joaquina de Melo e da D. Natividade se fazia outro tanto. Só pelas onze horas é que deslizava a caravana com os carros cobertos de verdura para ser mais fresco." 
                                                                                 Recorte de jornal

Outros tempos...

Mais tarde aparecem os automóveis, as camionetas, as motorizadas...
Quem se lembra do ano em que pela primeira vez subiu ao "Monte Alto" uma camioneta... ( a "Vagarosa Ligeira" ?) e uma moto?
Terá sido em 1947... E felizmente o fotógrafo estava lá!

A "triunfal" chegada da "camionete" do
Sr. Heliodoro do Casal
No ano seguinte alguém recordou em verso tão importante acontecimento:

TRANSFORMADO EM CARRO DE ASSALTO
FOI A PRIMEIRA VEZ UMA CAMIONETE
SEM ESTRADA À Sª DO MONTE ALTO
EM SETEMBRO DE MIL NOVECENTOS
E QUARENTA E SETE

ISTO COM GRANDE ALEGRIA
SEM PENSAR NO GASTO DA MOTA
FOI AO MONTE ALTO NO MESMO DIA
SEVERINO FIGUEIREDO DA MOTA

HOJE NOVECENTOS E QUARENTA E OITO
QUE JÁ VAMOS SEM SUSTO
IMITAI ESTES BEM FOITO
PORQUE JÁ VAMOS SEM CUSTO

AVANTE PROGRESSO

Nota: agradecemos ao Sr. José Alberto Costa a cedência da imagem bem como do recorte com as quadras alusivas.