terça-feira, outubro 14, 2025
Para memória futura: infografias e lista completa de candidatos /Autárquicas '25
quarta-feira, outubro 08, 2025
Autárquicas 1976 em Penacova: recordemos os resultados e os nomes dos eleitos
Introdução
De acordo com dados da Comissão Nacional de Eleições, nestas primeiras autárquicas o PS conquistou 115 câmaras, o PPD/PSD outras 115, o CDS 37, a Frente Eleitoral Povo Unido (FEPU) 36 e o Partido Popular Monárquico (PPM) uma, a de Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real. À época havia 304 concelhos.
Apesar do empate em número de câmaras conquistadas a nível nacional, o PS obteve 33,01% dos votos, o PPD/PSD 24,3%, a FEPU 17,2% e o CDS 16,62%. A abstenção foi de 35,34%. Quanto a distritos, o PS venceu no Porto, Coimbra, Castelo Branco, Lisboa, Santarém, Portalegre e Faro; o PSD em Viana do Castelo, Braga, Bragança, Vila Real, Aveiro, Viseu e Leiria. O CDS venceu no distrito da Guarda e a coligação FEPU ganhou as Câmaras de Setúbal, Évora e Beja
Presidente: Artur Coimbra
ASSEMBLEIA MUNICIPAL
CDS, 1 186 votos; FEPU, 484; PPD, 2 133; PS, 2 135.
Eram cabeças de lista: CDS: Manuel da Silva; FEPU*: o Notícias de Penacova não refere candidato; PPD/PSD: Alípio Marques de Oliveira; PS: Eurico Almiro Menezes e Castro
Presidente (eleito pela Assembleia): Eurico Almiro Menezes e Castro
ASSEMBLEIAS DE FREGUESIA
Carvalho
CDS, 81 votos; PPD, 223; PS, 94.
Eram cabeça de lista: CDS: António Lopes; PPD: Graciano Carvalho; PS: Orlando Martins; Presidente: Graciano Carvalho
Figueira de Lorvão
CDS, 193 votos; PPD, 387; PS, 239.
Eram cabeça de lista: CDS: António Santos Pereira; PPD: Alípio Simões Marques; PS: Adriano Jegundo. Presidente: Alípio Simões Marques
Friúmes
CDS, 62 votos; PPD, 119; PS, 125.
Eram cabeça de lista: CDS: Antero Garcia de Oliveira AlvesPPD: Adelino AbrantesPS: Adelino Gaspar. Presidente: Adelino Gaspar
Lorvão
CDS, 275 votos; PPD, 331; PS, 607.
Eram cabeça de lista: CDS: Víctor Manuel Fernandes Silva; PPD: Carlos Freire Rodrigues; PS: João Carvalho da Silva. Presidente: João Carvalho da Silva
Oliveira do Mondego
CDS, 84 votos; PS, 77; PPD, 86.
Eram cabeça de lista: CDS: Mário Rodrigues; PPD: Adosindo Duarte Oliveira; PS: Manuel Ferreira Duarte. Presidente: Adosindo Duarte Oliveira
Penacova
CDS, 193 votos; PPD, 456; PS, 644.
Eram cabeça de lista: CDS: Alípio Seco do Amaral; PPD: Luís de Jesus Oliveira Amaral; PS: Vasco Pedro Silva Viseu. Presidente: Vasco Pedro Silva Viseu
São Pedro d'Alva
CDS, 132 votos; PPD, 293; PS, 256.
Eram cabeça de lista: CDS: José Martins Portugal; PPD: Luís Martins Morgado; PS: António Fernando Sousa Coimbra. Presidente: Luís Martins Morgado
Sazes
CDS, 110 votos; PPD/PSD, 101; PS, 78.
Eram cabeça de lista: CDS: Manuel Fernandes; PPD: Arlindo das Neves; PS: Américo Simões. Presidente: Manuel Fernandes
Travanca do Mondego
PPD, 84 votos; PS, 176.
Eram cabeça de lista: PPD: António Rodrigues da Assunção; PS: José Oliveira Henriques. Presidente: José Oliveira Henriques
S. Paio de Farinha Podre e Paradela da Cortiça
Nestas freguesias não houve eleições a 12 de Dezembro, dado que por terem poucos eleitores, a AF é substituída pelo Plenário dos Cidadãos Eleitores.
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* A Frente Eleitoral Povo Unido (FEPU) foi uma coligação formada pelo Partido Comunista Português (PCP), Movimento Democrático Português - Comissão Democrática Presidenteral (MDP/CDE) e pela Frente Socialista Popular (FSP), para concorrer às eleições autárquicas de 1976.
CONSTITUIÇÃO DOS ÓRGÃOS AUTÁRQUICOS
Por sua vez o Notícias de Penacova de 7 de Janeiro de 1977 apresenta os nomes dos candidatos, efectivamente eleitos e empossados, para exercerem funções em 1977, 1978 e 1979. Recorde-se que inicialmente os mandatos eram de 3 anos.
CÂMARA MUNICIPAL
Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, PS; Daniel Martins Rodrigues, PSD; Francisco José Azougado da Mata, CDS; Lúcia Odete Ferreira Veiga de Almeida de Menezes e Castro, PS; Maria de Lurdes Marques, Simões Costa Amaro, PSD; Maria Fernanda de Almeida Emídio Pimentel, PS; e Armindo Rodrigues Ferreira dos Santos, PSD.
ASSEMBLEIA MUNICIPAL
Eurico Almeida Meneses e Castro, PS; Alípio Marques de Oliveira, PSD; Manuel da Silva, CDS; Belchior de Almeida Martins, PS; Manuel Joaquim Martins, PSD; Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, PS; José Pisco Silva, PSD; Joaquim Baptista Engenheiro, CDS; Armando Lopes, PSD; António de Sousa, PS; António Francisco Flórido Simões, FEPU; e Francisco Rojais Henriques, PS.
ASSEMBLEIAS DE FREGUESIA
CARVALHO
Graciano Carvalho, PSD; Manuel Gomes de Araújo, PSD; Orlando Martins, PS; António Lopes, CDS; Amândio Carvalho Rodrigues, PSD; José Marques Sousa, PSD; e Artur de Oliveira, PS.
FIGUEIRA DE LORVÃO
Alípio Simões Marques, PSD; Adriano Jegundo, PS. António Santos Pereira, CDS; Arménio Marques Carpinteiro, 'PSD; António Manuel Ferreira Morgado, PSD; Manuel Alves, PS; Mário Alves Marques, CDS; Arlindo Rodrigues de Sousa, PSD; e Vítor Dias de Oliveira, PS.
FRIÚMES
Adelino Gaspar, PS; Adelino Abrantes, PSD; José Mário dos Santos Carril, PS; Antero Garcia de Oliveira Alves, CDS; Manuel de Oliveira Henriques do Solto, PSD; Belmiro Ferreira Bernardes, PS; e Américo Reis da Silva, PSD.
LORVÃO
João Carvalho da Silva, PS; Carlos Freire Rodrigues, PSD; Aurélio Manuel de Oliveira Ferreira, PS; Vítor Manuel Fernandes da Silva, CDS; Manuel de Oliveira Rodrigues, PS; José Tomé da Fonseca Marques, PSD; António Marques Saraiva, PS; António Tomé da Cruz, CDS; e António dos Santos Calhau, PS.
OLIVEIRA. DO MONDEGO
Adosindo Duarte Oliveira, PSD; Mário Rodrigues, CDS; Manuel Ferreira Duarte, PS; Domingos da Luz Simões, PSD; Manuel dos Santos Faias, CDS; José Mendes, PS; .e José Simões Carlos, PSD.
PENACOVA
Vasco Pedro ida Silva Viseu, PS; Luís de Jesus Oliveira Amaral, PSD; Manuel Fernandes Dinis, PS; Eduardo Luís Viseu, PSD; Daniel de Figueiredo, 'PS; Alípio Seco do Amaral, CDS; Arsénio da Silva Sousa, PS; Joaquim Lopes Grilo, PSD; e Augusto Rodrigues Amaral, PS.
S. PEDRO DE ALVA
Luís Martins Morgado, PSD; António Fernando Sousa Coimbra, PS; Fernando Cordeiro Coimbra, PSD; José Martins Portugal, CDS; Américo Figueiredo Leonardo, PS; José Coimbra Manaia, PSD; Hermenegildo Santos Coimbra, PS; José Manuel Cordeiro Castanheira, PSD; e Francisco Martins Cordeiro, CDS.
SAZES DE LORVÁO
Manuel Fernandes, CDS; Arlindo das Neves, PSD; Américo Simões, PS; João Bernardes,?; Albino Alves das Neves, WS; Maria Lindanor da Conceição Antunes Cruz, PSD; e Porfirio da Silva Costa, PS.
TRAVANCA DO MONDEGO
José Oliveira Henriques, PS; Valdemar Ferreira Rosas, PS; António Rodrigues de Assunção, PSD; José Tasqueira Fernandes, PS; António Alves Rodrigues, PS; Jaime Saraiva de Sousa, PSD; e Eduardo Gonçalves Videira, PS.
S. PAIO DE FARINHA PODRE (designação, à época)
"Com afluência maciça realizaram-se no pretérito dia 9 (Domingo) eleições para as Juntas de Freguesia do S. Paio do Farinha Podre e de Paradela da Cortiça, freguesias que por terem menos do 300 e!eitores não elegeram Assembleias de Freguesia em 12 de Dezembro de 1976" - refere o Notícias de Penacova de 21 de Janeiro de 1977.
Em S. Paio foram mais votados os Srs. José Arménio Castanheira Cunha (Presidente), António Duarte Ramos (Secretário) o José Madeira da Fonseca (Tesoureiro).
PARADELA DA CORTIÇA
Em Paradela da Cortiça verificou-se a vitória dos Srs. Joaquim da Fonseca Almeida (Presidente), Joaquim Almeida Neves (Secretário) e Alípio Pechim de Sousa.
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VEJA UM PEQUENO VÍDEO DA RTP:
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/primeiras-eleicoes-autarquicas/
sexta-feira, agosto 22, 2025
Silveirinho, Santa Quitéria e Pedro Henriques de Abreu
Neste fim de semana a aldeia do Silveirinho (S. Pedro de Alva) vai realizar as suas festas em honra de Santa Quitéria. Não temos elementos que nos esclareçam sobre a origem deste culto nesta localidade. No entanto, sabemos que no século XVII esteve em S. Pedro de Alva um padre muito erudito que escreveu um livro sobre a vida desta santa que, segundo a tradição, foi martirizada por defender os valores da sua fé.
PEDRO HENRIQUES DE ABREU
Pedro Henriques de Abreu, licenciado em Cânones, foi Reitor da Igreja de S. Pedro de Farinha Podre entre 1632 e 1662. Nasceu em Évora de Alcobaça, mas "as datas de nascimento e óbito ficaram até hoje ignoradas" - dizem os registos.
Aparece referenciado como autor no Dicctionnaire Universel de Sciences Eclesiastiques (Paris, 1868), no Dicionário Bibliográfico Português e também no Dicionário da História da Igreja em Portugal.
Pedro Henriques de Abreu, ficou célebre devido à obra que publicou em 1651 intitulada, no original, A vida e martyrion de S. Quitéria e de suas oito irmãs, todas nascidas de hum parto, portuguezas e prothomartyres de Hespanha. O livro inclui ainda “um discurso sobre a antiga cidade “Cinania”. São raros os exemplares existentes. A Biblioteca Nacional de Portugal possui uma cópia digitalizada da mesma. Esta obra foi muito apreciada, na época, por autores portugueses.
O livro de Pedro Henriques de Abreu apresenta uma gravura de João Gomes, “figurando a Santa, decapitada, tendo a cabeça nas mãos, à altura do colo, em acto de ser coroada por uns anjos, que suspendem a respectiva coroa, por sobre a base do pescoço cortado ao meio.”
O titular da Comenda de S. Pedro, o famoso Francisco de Sousa Coutinho, que terá vivido algum tempo na Cortiça, foi seu amigo, ao ponto de lhe ter cedido "sem obrigação de pagar", os "passais" (que pertenciam à Comenda), enquanto ele fosse o vigário.
Também de Brás Garcia de Mascarenhas foi contemporâneo e mesmo amigo. Recorde-se que Brás Garcia teve inclusivamente por esta época os irmãos Manuel Garcia e Pantaleão Garcia como párocos de Almaça e de Travanca, que visitaria com toda a certeza, não deixando de aproveitar a proximidade para contactar o reitor /vigário seu amigo.
O CULTO DE SANTA QUITÉRIA
Em Portugal, o culto a Santa Quitéria terá começado no início do século XVI. Embora não seja das figuras hagiográficas mais conhecidas, a veneração desta jovem mártir está difundida um pouco por todo o país, incluindo as regiões autónomas, mas mais localizado em dioceses como Évora, Coimbra e Porto.
Na Madeira, Santa Quitéria deu nome a várias capelas: Curral das Freiras, Calheta e Madalena do Mar. Também no Funchal o Colégio / Igreja de São João Evangelista possui uma capela a ela dedicada.
No conjunto das Festas de Santa Quitéria destacam-se as de Felgueiras e Pombeiro da Beira, aqui bem perto de nós. Igualmente em Ferrel (Peniche), em Mansores (Arouca), em Meca (Alenquer) e no Silveirinho (S. Pedro de Alva). De referir, ainda, a capela de Santa Quitéria, antiga sinagoga, em Vila Nova de Foz Côa.
Quer o Agiológio Lusitano de Jorge Cardoso (1666), quer a biografia de Frei Bento da Ascensão (1722), quer, como vimos, Pedro Henriques de Abreu, situam o nascimento e o martírio de Santa Quitéria em terras lusitanas. Por sua vez, o Martirologium Romanum , dos finais do século XVI, apresenta Santa Quitéria como mártir de Espanha, enquanto que o actual Martirologium Romanum a situa na Aquitânia (região da França).
"Jovem de linhagem influente, desde cedo consagrara a sua virgindade a Cristo e, como se negava a casar, o seu pai acabou por a decapitar, tendo surgido uma fonte no local do martírio. Outras versões referem que o seu martírio ocorreu a mando de Euric, rei dos Godos, pelo facto de professar o catolicismo. Reza a lenda que após ter sido decapitada a jovem recolheu a sua própria cabeça e, guiada por um anjo, encaminhou-se para a igreja cujas portas estavam fechadas. Porém, ao aproximar-se, abriram-se de par em par. Desceu então as escadas que conduziam à cripta e, depois de se acomodar no sarcófago previamente preparado para sua sepultura, acabou de morrer». (Cf. Quitéria, uma santa da Lusitânia nas terras de Entre-Douro-e-Minho, de Luís Alberto Casimiro (2010).
Existem muitas outras versões lendárias, quer sobre Santa Quitéria, quer sobre as oito irmãs, que também terão sido martirizadas.
Sobre o culto de Santa Quitéria no Silveirinho não conhecemos nenhum documento ou referência a esse respeito. Fica a hipótese de estar relacionado com a presença do Padre Pedro Henriques de Abreu nestas terras da Casconha.
quinta-feira, agosto 14, 2025
O culto de Nossa Senhora dos Remédios em Penacova, em Portugal e no Mundo
O culto de Nossa Senhora dos Remédios é muito antigo. Sendo originário de França, foi introduzido na Península Ibérica nos séculos XII-XIII, tendo ainda hoje uma presença marcante. Nossa Senhora dos Remédios, invocação que, na sua origem não tinha o sentido de “medicamento”, ou a relação com doenças propriamente ditas (como Nossa Senhora da Saúde) mas Senhora dos Remédios, como Mediadora (Re-mediadora) no sentido de que a Mãe de Deus, estando entre Deus e os Homens, é autêntica mediadora entre o Céu e a Terra. Este sentido de “meio / remédio” pode encontrar-se ainda hoje nas expressões “não tenho outro remédio”, isto é, não tenho outro meio, ou noutra como “é uma pessoa remediada”, isto é, que tem meios de subsistência. Esse sentido de "remédio" estará mais presente, por exemplo, nos festejos que se realizam em Rio de Moinhos. Penafiel, em honra do "Senhor dos Remédios".
Estudiosa desta temática, Ana Santiago Faria (a quem agradecemos a partilha de muita documentação sobre o assunto) fez também um levantamento do concelho de Penacova, assinalando seis localidades onde Nossa Senhora dos Remédios está presente, seja através de antigas imagens, seja da realização de festas em sua honra.
Começaremos por Travanca do Mondego, que amanhã tem a sua festa anual, precisamente, em honra de Nossa Senhora dos Remédios. A Drª Ana Faria, defende que o retábulo é do séc. XVII/XVIII e a imagem, do séc. XVI, portanto muito antiga. Muito antiga é também a festa que aqui tem lugar no dia 15 de Agosto.
Outro aspecto, talvez menos conhecido, é sublinhado por esta historiadora, há muitos anos radicada no nosso concelho. É o caso do Montalto de Penacova, que quase ninguém associa a Nossa Senhora dos Remédios. No entanto, é um facto que a imagem mais antiga (não a actual que é do séc. XX) tida como sendo do séc. XV /XVI. De pedra de Ançã, a Senhora está a sorrir e o Menino brinca com o pé. A capela tem igualmente na sua origem, a invocação de Nª Srª dos Remédios.
Continuando a percorrer o concelho, temos Contenças (Sazes) com a Capela, o Nicho, à entrada da aldeia, com imagem de N. S. dos Remédios e algumas fontes com a mesma invocação. De referir também Lufreu, cuja festa tem lugar no 1º Domingo de Setembro, sendo neste ano de 2025 de 5 a 7 do próximo mês.
Em Lorvão, a antiga imagem de Nossa Senhora dos Remédios, que chegou a ter lugar de destaque nos altares, “perdeu a identidade”, conforme reparo de Ana Faria, na medida em que actualmente está “legendada” como “Virgem e o Menino”.
E..por fim, o caso de S. Mamede, que em 2005 ainda tinha pintada na base a inscrição de Nª Sª dos Remédios, mas acabou por mudar de nome para “Senhora dos Bons Caminhos”…
Pelo país fora, temos por estes dias, aqui na região centro, os festejos de Nª Sª dos Remédios no Bom Sucesso, Figueira da Foz. Mas refiram-se mais locais, de Portugal e de Espanha onde existem igrejas e capelas dedicadas à Senhora dos Remédios. Em Portugal: Castro Verde (igreja), Fontelo-Viseu (capela), Sanfins Valença, Castelo Mendo (igreja), Torre de Moncorvo (capela), Herdade do Esporão (capela), Alcaria Ruiva-Mértola (igreja), Lamego (santuário), entre muitos outros locais; em Espanha, a lista é igualmente extensa. Refiram-se, Zamora (capela), Duenas-Palência (capela), Valência de Alcântara ...
A iconografia de Nossa Senhora dos Remédios é muito variável, mas dum modo geral a Senhora é Coroada (porque é Rainha), segura um Ceptro, é envolta por Anjos, tem o Menino no braço esquerdo (raramente do direito) e este segura um Globo / Mundo (não fosse Ele o Senhor do Mundo)…
Variável é também a data da Festa. Maioritariamente realiza-se a 8 de Setembro, seguindo-se o dia 15 de Agosto. No entanto, os festejos acontecem um pouco ao longo de todo o ano.
O culto de Nª Sª dos Remédios alargou-se a muitas partes do mundo, levado principalmente pelos portugueses, a partir da época dos Descobrimentos: Madeira, Açores, Ceuta, Canárias…Macau, Timor, Brasil… Por todo o Mundo há ainda hoje, inúmeros santuários onde se cultua esta invocação, com uma grande expressão popular, movimentando muitos milhares de pessoas nas suas romarias e festas.
A Senhora dos Remédios a partir do sec. XVII, entra em declínio, embora ainda surjam bastantes imagens com esta invocação no sec. XVIII e mesmo locais de culto (Capelas, Igrejas, ...). Mas por outro lado, nos finais do sec. XVII, ela começa a ser substituída pela Senhora da Conceição (1).
___________
(1) Um documento em que numa substituição de pároco, o Rei D. João IV, que não apenas reconquistou o trono de Portugal, após a aquele período que todos nós conhecemos de concretização da União Ibérica, com os FiIipes... aliou-se com a França e entalou a Espanha, mas necessitava do apoio e do aval do cristianíssimo Vaticano: para isso “hipotecou” o País à Senhora da Conceição, que entronizou como Rainha em Vila Viçosa, como toda a gente sabe. Mas não contente com isso, usou da “força régia” para a impôr como culto no país. E assim, todas as Igrejas e Capelas da Padroado Real, foram tendo que colocar a Senhora da Conceição e retirar as outras Senhoras que até aí eram cultuadas nesses locais. Foi o que aconteceu com a “minha” Senhora dos Remédios: nesse documento o rei diz explicitamente, que só coloca novo pároco, se os fiéis retirarem a imagem da Senhora dos Remédios e puserem no altar-mór a Senhora da Conceição. E aqui está uma das razões, porque a Sra dos Remédios desaparece, refugia-se na Sacristia3, ou nos altares laterais.... também muda de nome, muitas vezes, por outras razões.... etc... para além do desgaste do tempo e da moda!... porque os Santos e as invocações também têm modas! - salienta Ana Santiago Faria.
domingo, janeiro 26, 2025
Quando o Porto da Raiva "coalhava" de barcas e de gente...
Muito se tem escrito sobre o Porto da Raiva, não tivesse sido esta localidade ribeirinha um dos maiores portos fluviais do nosso país até meados do século XIX. A actividade portuária manteve-se, contudo, por mais um século, até meados do século XX , assumindo-se como "o principal porto serrano do Mondego, a setenta quilómetros da foz", como reconheceu Adriano Peixoto em 1947 quando escreveu o artigo "A vida de um rio", texto que consideramos ser uma das melhores referências escritas sobre a "vida" deste lugar. Um texto que a dado passo se transforma como que num filme onde há movimento, acção: a Raiva "peja-se de gente estranha. Barqueiros de todo o rio. Lenheiros e carreiros de Laborins, Travanca, Sobral, Cruz do Souto, S. Paio. Freguesia até às portas nas mercearias e vendas. O rio coalha-se de barcas. O areal coalha-se de gente. Filas de mulheres formigueiam entre o rio e a aldeia."
A VIDA DE UM RIO
Da foz do Ceira à Rebordosa, o vale do Mondego tem por vezes, a grandeza orográfica duriense. Na Rebordosa abre-se numa grande concha azul, para se fechar, convulsivamente, nas pedreiras altas da Livraria, à vista de Penacova, onde esmaece o clarão arco-irisado que, do mar às dramáticas penedias, inunda de luz o Mondego.
Cinco quilómetros adiante de Penacova, no caminho de S. Pedro de Alva, à entrada duma povoação, recortam-se no fundo branco duma placa da junta Autónoma das Estradas as letras sanguíneas desta palavra: Raiva.A localidade em si nada tem de diferente das que se deixaram para trás. Casas dum lado e doutro da estrada, entre o rio e a aba do vale. As mesmas mercearias, as mesmas vendas, os mesmos velhos parados, as mesmas crianças, as mesmas galinhas, as placas metálicas das gasolinas e óleos de todos os aglomerados à beira das estradas, os mesmos editais.
Será apenas menos luminosa e menos agrícola. À volta não há um lameiro, nem grandes hortas ou pomares. Só pinheirais. Olivedos. Silêncio. E a povoação adormecida, o rio adormecido...
No entanto, em certos dias, a Raiva é uma aldeia singular, quando vive para o rio, como nenhuma outra povoação.
Três vezes por semana, às segundas, quintas e sábados, entrega-se completamente à vida fluvial. Peja-se de gente estranha. Barqueiros de todo o rio. Lenheiros e carreiros de Laborins, Travanca, Sobral, Cruz do Souto, S. Paio. Freguesia até às portas nas mercearias e vendas. O rio coalha-se de barcas. O areal coalha-se de gente. Filas de mulheres formigueiam entre o rio e a aldeia. Os homens válidos da Raiva desprezaram o rio. São serradores ou carpinteiros. Não anda hoje no Mondego uma barca da Raiva. Não há, sequer, um barqueiro nascido na Raiva...
Carros de bois sobem e descem o areal. As mulheres conduzem, à cabeça, tábuas e pranchas que vão buscar aos «depósitos», recintos murados, nos pontos da estrada mais próximos do rio, para facilitar a carga das barcas e camionetas. O plano ao nível da água destina-se às pilhas a exportar por via fluvial. É um tosco e húmido cais. O sobreposto é de construção mais caprichosa. Domina-o uma pérgola que lhe da o ar de um mirante. À primeira vista parece fantasia de um rude natural que tivesse regressado muito rico e a quem desse, ostentosamente, para embelezar a terra, mandando fazer aquilo... Mas sabe-se depois que a pérgola não é uma inutilidade, antes uma construção indis- pensável à cubicagem da madeira, um ester de cimento armado, caiado a branco e rosa.
Os carros de bois transportam a lenha armazenada nos barracões dispersos pelo povoado. A lenha é empilhada, separadamente, à proa e à ré, e as barças carregadas ganham a linha dos «juncos». Quando são muitas, forma-se em frente do lugar uma verdadeira aldeia lacustre.
Em várias manhãs chegam a reunir-se mais de cem.
Por volta do meio dia começa a largada.
As barcas contornam a serrazinha da Mougueira que, do Poente, avança sobre a Raiva e se queda defronte, na margem direita, revestida de pinheiros e eucaliptos. O rio, desobstruído, torna a ser remansoso e verde. A branda corrente leva as barcas, as madeiras, as lenhas, os barqueiros, a vozearia. E a essa hora, quando a sereia da fábrica de serração lança o seu prolongado mugido, o som tem acordes de búzio, evocando o que quer que seja do oceano distante. Ligada a visão da azáfama no areal à voz lamentosa da sereia e à perspectiva da localidade, tomada do sul, tem-se por instantes a ilusão da vida de um porto interior de um grande canal. O eco dos motores da fábrica, abafado pela vegetação, é tal qual o ruído das hélices dos vaporsitos espadanando a água. E a voz da sereia, o grito dos barcos que abandonam o porto a voz das últimas barcas que deixam a Raiva...
O movimento portuário da Raiva está circunscrito à exportação de madeiras e lenhas. A camionagem não ousa eliminar a concorrência das barcas. Por duzentos e cinquenta escudos uma barca leva a igual distância as mesmas dez toneladas que uma camioneta não transporta por menos de seiscentos ...
A Raiva é ainda o principal porto serrano do Mondego, a setenta quilómetros da foz. Porém, até meados do século XIX foi dos maiores portos fluviais portugueses.
Nessa época o seu tráfego não se limitava à drenagem florestal. Compreendia toda a exportação e importação económicas. Mais ainda. Registava um extraordinário movimento de passageiros!
À Raiva chegavam a cavalo ou em carros de bois, vindos de toda a Beira, os que se dirigiam para Coimbra ou a outros portos de jusante e ali tomavam as barcas: estudantes, fabricantes de tecidos, negociantes, recoveiros, almocreves. Para cima de quinhentas unidades constituíam então a frota do Mondego.
Na Raiva havia grandes armazéns de cereais, legumes e batatas, que a Beira exportava para o baixo río. Do mar, as barcas levavam à Raiva o sal e o peixe que a Beira consumia: o vinho da Bairrada e das Gândaras; muita mercadoria que distribuíam pelo alto distrito os armazéns de víveres das duas cidades do rio; e os lentes e os estudantes coimbrões, com as suas famílias e a criadagem, que iam passar as férias às terras natais.
Militarmente, o porto teve acção importantíssima em determinada altura da Guerra Peninsular. A ele convergiam, transportadas pela barcas serranas, os mantimentos, as municões e o gado para as forças anglo-lusas que perseguiam as hostes francesas em retirada.
E na Raiva existiam, inclusivamente, os mais vastos estaleiros do rio.
Dessa remota opulência restam somente recordações e ruínas.
A nota evocadora mais viva é a feira, que continua a efectuar-se no quinto dia da semana, apesar de ter perdida quase tudo da sua importância de outrora.
Por causa da feira da Raiva tiveram de ser transferidos os dias das audiências na Comarca de Penacova. O tribunal ficava às moscas. Faltavam as testemunhas. Faltavam os jurados. E não sei até se alguma vez chegaram a faltar os réus...
A mais impressionante, no entanto, é a das ruínas dos armazéns, tão tristes que a aldeia as abandonou, furtando-se ao seu convívio e à sua contemplação: casas meio destelhadas, outras sem teto, paredes caídas, entre as quais crescem as silvas e as figueiras bravas. Duas ou três servem de currais. As pedras tombadas entulharam as ruas. Ninguém lhes mexeu...
A Raiva nova estende-se para o norte, em busca de solo firme onde possa edificar a sua perenidade. Alia-se à estrada parecendo não fazer caso do rio...
segunda-feira, dezembro 16, 2024
"Muitos são os fatores que nos levam hoje a olhar de uma forma inquieta e temerosa, para o futuro demográfico do concelho"
"Muitos são os fatores que nos levam hoje a olhar de uma forma inquieta e temerosa, para o futuro demográfico do concelho": é num estudo do ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas), da Universidade de Lisboa, que esta afirmação é sublinhada. Trata-se de um trabalho na área da demografia (1), intitulado “Penacova: uma década depois” assinado por Jaime Ferreira Simões, Joana Araújo Pereira e Mariana Leal Lã-Branca, que analisa os dados dos Censos 2021 em comparação com os do recenseamento de 2011.
“Penacova, um município da Beira Litoral, encerra na sua história demográfica uma fiel demonstração da crise, que o interior de Portugal enfrenta desde o primeiro quarto do séc. XX”, é outra das conclusões que ali são apresentadas.
Do estudo em causa, salientamos os seguintes aspectos:
- Durante a ultima década (2011-2021), o município de Penacova, revela uma redução em cerca de 14% na sua população em relação a 2011, reduzindo de 15 251 habitantes para 13 113.
- a sede do concelho apresenta também ela, ao longo da última década uma similar evolução demográfica negativa de 13,21%.
- Em termos percentuais, Carvalho (2) e Lorvão (3) foram as freguesias que mais população perderam na última década. Ambas apresentam evoluções demográficas negativas superiores a 19%, sendo que Carvalho se destaca por se verificar uma diminuição de 19,98% dos seus residentes.
- Freguesias como Figueira de Lorvão, União das freguesias de Oliveira do Mondego e Travanca do Mondego e União das freguesias de São Pedro de Alva e São Paio de Mondego, apresentam evoluções demográficas similares, todas elas rondando os 12% de perda populacional aferida entre Censos.
- As duas freguesias que registam as menores oscilações são Sazes do Lorvão e União das freguesias de Friúmes e Paradcla, sendo que estas registam evoluções demográficas negativas de 4,81% e 6,55% respetivamente.
- Lorvão e a sede de concelho, Penacova, encerram em si a responsabilidade de 55,40% da redução populacional do município na última década.
- Os números da mortalidade no município de Penacova continuam a revelar-se elevados.
- A população do concelho está cada vez mais envelhecida, tornando a mortalidade naturalmente elevada.
- As faixas etárias predominantes em Penacova são compostas por indivíduos com idades compreendidas os 50 e os 69 anos.
- Em 2011, “muitos foram aqueles que, também de Penacova, emigraram na esperança de alcançar novas oportunidade, empurrando o saldo migratório do município para valores historicamente negativos”.
- Em dez anos, o município perdeu cerca de 30% da sua população infantil.
- Verifica-se uma redução significativa do número de filhos por mulher, passando de 34,4 filhos por mil mulheres para 25,8 filhos pelas mesmas mil mulheres.
- Regista-se uma contração da taxa bruta de natalidade de 7,5 % em 2011 para 4,6% cm 2021.
- Em 2021, no grupo etário entre os 0 (zero) e os 19 (dezanove) anos apenas existiam 1806 indivíduos (no total concelhio de 13 113).
- Verifica-se um decréscimo da taxa de matrimónios de 2011 para 2021, bem como um aumento da taxa de divorcialidade.
- O número de mulheres viúvas é bastante superior ao número de homens viúvos quer em 2011, quer em 2021.
- O número de solteiros é mais baixo em 2021 devido á saída de jovens para estudar ou trabalhar fora do concelho.
- Redução no número de crianças por agregado
- Os agregados familiares de 4 ou mais pessoas, são hoje e cada vez mais, reflexo da dependência e não da renovação geracional.
- A população de Penacova se encontra praticamente dividida a meio entre população ativa e inativa.
- Dentro da população ativa, os empregados representam mais de 90%, o que nos leva a concluir que a taxa de empregabilidade é positiva no concelho (recorde-se que o número de residentes do município são 13113 pessoas)
- O número de reformados representa mais de 60% da população inativa, “o que é demonstrativo do envelhecimento da população do município de Penacova.
“O envelhecimento da população é um resultado natural da evolução científica e tecnológica. As evidências mostram ao longo da nossa história contemporânea, que as políticas públicas pró-natalistas em momento algum se revelaram eficazes.
A redução do número de filhos por mulher é um fenómeno global, alimentado por alterações sucessivas na estrutura e funcionamento das famílias, pelas dinâmicas das sociedades desenvolvidas contemporâneas e, sobretudo, pelas opções tomadas pela mulher na modernidade.
Conclui-se assim como emergente, uma consciencialização global de que os territórios precisam, então, criar políticas públicas que proporcionem qualidade de vida em todas as idades, que acompanhem as gerações em todo o curso de vida, garantindo apoio às famílias nas suas diversas configurações. “
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(1) publicado na plataforma ISSUU em 2022
(2) “A freguesia de Carvalho, que lidera tragicamente esta análise demográfica em termos percentuais, apresenta uma perda de 84 homens e 85 mulheres nos últimos dez anos. Esta perda, quando comparada aos valores que o saldo demográfico negativo da sede concelho apresenta, podem parecer baixos. No entanto, esta freguesia experimentou uma redução de um quinto dos seus habitantes. “
(3) “Aqui, o cenário além de diferente torna-se deveras preocupante. Lorvão apresenta percentagens muito aproximadas daquelas que se registam em Carvalho, sendo que, desta vez os resultados socioeconómicos podem em si encerrar uma dimensão superior. Lorvão, é historicamente uma referência socioeconómica do concelho. Durante décadas. Lorvão manteve uma atividade industrial considerável, de extrema importância para a economia local. Apraz-nos assim salientar a importância negativa inerente a uma redução em cerca de 19%, daqueles que são os seus residentes, apresentando assim um saldo demográfico negativo de 755 indivíduos nos últimos dez anos. “
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