domingo, abril 17, 2016

Toponímia Coimbrã: António José de Almeida, a Rua e o Busto


É num pequeno largo, no cruzamento das Ruas António José de Almeida e Nicolau de Chanterene que encontramos um busto de António José de Almeida. A rua com o seu nome existia já desde os inícios da década de trinta do século passado. A deliberação da Câmara Municipal de Coimbra data de 16 de Julho de 1931.A abertura desta nova artéria da cidade inseriu-se no surto de construção na zona de Celas e Montes Claros.


Bustos de António José de Almeida: 
em Coimbra (à esquerda) e em Penacova (à direita)

O busto, moldado em bronze, foi inaugurado a 5 de Outubro de 1984. Trata-se de uma obra de Cabral Antunes muito semelhante (ou mesmo cópia) à que se encontra no Largo Alberto Leitão em Penacova (5 de Outubro de 1976) e que também é da autoria do mesmo escultor.

Assenta sobre um “pedestal paralelepipédico vertical, integrado num canteiro, que se encosta a um elemento parietal em alvenaria rebocada, ligeiramente curvado, contendo uma pequena lápide em pedra com uma inscrição alusiva ao homenageado, ladeada por duas fitas metálicas com as cores da bandeira nacional.” – refere um documento do Ministério da Cultura.

Busto de António José de Almeida em Coimbra


Localização da Rua António José de Almeida


domingo, abril 10, 2016

Mistério em Agrelo

Perto do lugar de Agrelo e da ribeira do mesmo nome, num sítio conhecido por Val do Cavalo, existirá uma espécie de mina escavada de tal modo na rocha, que se torna difícil acreditar que foi feita por mão humana. Conta-se que ao fundo desse túnel há uma lagoa onde a “água não cresce nem mingua e também não corre”. A passagem é de tal modo difícil que ninguém consegue explorar o que está nas entranhas daquele monte.

À volta disto, conta-se também que, há algumas centenas de anos, certo Pároco da Freguesia da Figueira de Lorvão, chamado António de Magalhães, não resistiu à curiosidade. Mandou fazer uma bomba, com a qual trabalharam vários homens durante vinte e quatro horas, na tentativa de fazer secar toda a água da lagoa.

Depois de tirarem a maior parte, dois deles lá conseguiram avançar. Munidos de uma lanterna e a pé praticamente enxuto, conseguiram chegar a umas escadas que os levaram até uma porta que dava para uma enorme sala.

Ora, qual não foi o susto quando se lhe apresenta um conjunto de cinco enormes vultos com armas de fogo apontadas para a dita porta. Cheios de medo recuaram mas tiveram que fugir a nado pois a água tinha entretanto voltado ao nível inicial. 

O medo apoderou-se de tal modo da população que nunca mais ninguém terá tido coragem para desvendar aquele mistério. 

Alguns diziam que talvez fosse um esconderijo dos “mouros”. E quem sabe, mesmo até um esconderijo de um tesouro valiosíssimo. Então, a lagoa serviria para impedir o acesso a quem quer que fosse . Por sua vez, aquelas figuras assustadoras não passariam de um conjunto de estatuetas colossais ali colocadas precisamente para aterrorizar quem ali se atrevesse a entrar... 

Mas a verdade, só Deus sabe – diz o povo...

sábado, abril 02, 2016

Gondelim e a Lenda da Senhora da Moita

Imagem de N.Sª da Moita
(foto de Rosa Silva)

Gondelim, terra mencionada em documentos muito antigos, foi residência de importantes famílias nobres ainda antes da fundação de Portugal. O site da junta de freguesia de Penacova regista a Lenda que envolve a Senhora da Moita, cujos festejos em sua honra estão a decorrer neste fim de semana que se segue à Páscoa, como é tradição.

É também essa lenda da Senhora da Moita que o nosso colaborador das Cartas Brasileiras, reconta no livro que tem para publicação intitulado “Azulejos Portugueses - Lembranças e Mistérios”.

Paulo Santos faz-nos, um breve resumo: ”Idosa portuguesa retorna de sua primeira visita a Portugal, desde que imigrara para o Brasil na década de 30.” No voo de regresso àquele país senta-se ao lado de uma jovem “tripeira”, que pela primeira vez visita as Terras de Vera Cruz. “É durante a viagem que ela conta para a jovem passagens de sua vida, no Brasil, e parte dela, ainda na infância em uma aldeia de Penacova. Fala de suas aventuras e venturas, dos sonhos, das sombras, dos medos, dos encantos, dos mistérios.(...) A ficção “Azulejos portugueses” é uma viagem pela região de Penacova (Portugal), por seus lugares e tradições, no roteiro da protagonista, os encantos, as lembranças, segredos, dúvidas, angústias e alegrias; como a própria vida."

Mas, fiquemos então com a leitura de um excerto da referida obra onde se fala de Gondelim e da Lenda da Senhora da Moita:



Capela de Nossa Srª da Moita
(aguarela de Conceição Ribeiro para o livro
"Azulejos Portugueses")

“Foram para a Quinta, onde havia passado parte da infância. Apesar de serem uns minguados quilômetros, os olhos atentos absorvendo tudo, a inquietação crescendo. A primeira parada foi na capela.

Diante da igreja, as recordações vieram aos borbotões, as mulheres conversando, os homens rindo, as crianças correndo nas gostosas brincadeiras na porta da igreja ao término das missas dominicais. A avó assegurava, a imagem da capela era a mesma escondida pelos cristãos no tempo da invasão bárbara.(...) De acordo a tradição, os moradores ao perceberem estar próxima a invasão dos bárbaros, encontraram um meio de proteger a Santa. Pegaram uma trilha bem conhecida em um dos montes, e enterraram a imagem, com um sino, lá no alto, debaixo de uma moita vistosa.

O tempo passou e arrastou com ele os que haviam escondido a Santa. Felizmente, haviam contado para os filhos e netos. Todos sabiam qual era o monte, qual trilha tomar e em qual das moitas estava enterrada. A história foi passada oralmente para os descendentes.

Com o passar dos anos, os detalhes foram sendo omitidos, esquecidos, até ninguém mais saber em qual das moitas do monte a Santa tinha sido escondida. Quando os invasores foram finalmente expulsos, os habitantes desconheciam por completo a história da imagem enterrada, a tradição totalmente perdida.

Passadas centenas de anos, moradores caçando no meio da mata de um dos montes, ouviram o som do badalar de um sino, no meio do nada. Assustados fugiram, voltaram para a aldeia.

Relataram o inusitado, tinham um monte mal-assombrado. O acontecimento espalhou-se, rapidamente, de boca em boca, todos na aldeia ficaram sabendo, muitos não acreditaram, outros preferiram não duvidar, uns ficaram com medo.


Alguns daqueles homens, encorajados por companhias e armados, retornaram ao monte, e foram a um ponto no meio da mata de onde teria saído o som metálico e vibrante.

Dividiram o grupo em quatro, na direção dos pontos cardeais, saíram a procurar, embrenhando-se na mata. Os homens de um dos grupos, ao escutarem o barulho, entraram ainda mais na mata. Conforme caminhavam sentiam o som aumentar, a indicar estarem perto do local.

Aprontaram a maior gritaria. Os integrantes dos outros grupos, ao escutarem os pedidos de socorro, correram para acudir, chegaram esbaforidos.

Junto a uma enorme moita, cortaram o mato e cavaram. Encontraram um sino e ao desenterrá-lo, trouxeram a imagem de uma Santa. Admirados, ajoelhados, rezaram, e deram o nome de Nossa Senhora da Moita.”

Paulo de Tarso J. Santos nasceu em Barretos, São Paulo, em Julho de 1944. É funcionário aposentado do Banespa (antigo Banco do Estado de São Paulo), é licenciado em Matemática pelo Sedes Spientiae - PUC-SP. Em 2007, a Câmara Brasileira de Jovens Escritores editou o seu livro de ficção “Cinzas e Fumaça”. Foi cronista colaborador de “O Diário de Barretos” durante quase dez anos, com cerca de quinhentas publicações.




segunda-feira, março 21, 2016

Luís Pais Amante: conectado com a terra, com o rio, com os locais onde trabalhou, passeou e foi feliz

Luís Pais Amante, advogado e consultor em Lisboa, é natural de Penacova. No dia 12 de Março, apresentou no Centro Cultural o livro de poesia a que deu o título de “Conexões”. É o próprio autor que esclarece que o título foi escolhido “por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.”

Confessa também que vir a Penacova, tantos anos depois de a ter deixado, “continua a ser uma gratificante (re)descoberta!”. E no conjunto dos sessenta e dois poemas, ela está bem presente. “Espelho d’ Água” é um deles, merecendo especial destaque na contra-capa do livro:


Olha-se para ti, cá de cima
...e pressente-se o romance
O teu espelho, na água
Curva a mágoa num alcance
Mondego!
E sobe todo o nosso ego
E chora a rima...de relance
Olha-se para ti, cá de cima
... e logo bem se percebe
Que tudo ali se vai indo, na corrente
Seguindo um caminho consistente
Turvando a mente, ao de leve
Rio!
E ali se reflecte a felicidade da alma
E, fixando a imagem, se dá calma à idade
Absorvendo toda a aura da beldade
Processando-a com o passado persistente
Tudo o que tivemos, lá se vai
Tudo o que queremos, de lá se vem
Tudo ali se renova com beleza
Em trabalho consciente da natureza
... até tu, minha terra
Penacova!





O Dr. Luís Amante revela-nos, de coração aberto, o seu percurso de vida e ajuda-nos a compreender melhor este “seu trabalho para além do trabalho” – a escrita poética.

“Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.”

“Em Agosto de 1973, quando deixei a casa dos meus Pais, em Penacova, no Cruzeiro e fui para Lisboa, onde ainda resido, levava a certeza de querer evoluir como homem e de manter bem presentes, sempre, as bases e os ensinamentos da minha educação, da nossa simplicidade e da sua honestidade intrínseca.

Eram tempos de grandes dificuldades, há que admiti-lo sem vergonhas!

Ao longo destes anos que, entretanto se passaram – e são os anos de uma vida – tive a felicidade de ter um percurso ascendente e fui sendo titular de cargos de alguma responsabilidade.

Modestamente, embora, sei que construí coisas importantes e que me dediquei a causas interessantes.

Principalmente, sei que ajudei a consolidar uma Família e um grupo de empresas tradicionais, coesas e fraternas e solidárias e dedicadas, como as nossas, felizmente, são.

Mas continuei – ou tentei continuar – a ser a mesma pessoa humilde que nasceu numa terra do interior, gratificado pelo esforço que fizeram por si, dedicada aos seus amigos de infância, sem nunca esquecer as suas raízes.

E uma pessoa firme, por vezes dura, como somos quase todos por aqui, na Beira.

Corri mundo na minha profissão de consultor e conheci por dentro a problemática das empresas e as vicissitudes do desenvolvimento, em situações complexas e em países de onde saí chocado.

Mas sempre aproveitei, nos tempos livres que se me ofereciam, os ares puros da minha terra, o acolhimento das suas gentes, a bondade dos meus amigos e o prazer da sua boa comida, da minha pesca e das minhas caminhadas, que sempre me deliciaram, tudo servido num prato de beleza natural incomparável.

Ir à minha terra, ao fim de tantos anos, continua a ser uma gratificante (re)descoberta!

Participar, tanto quanto possível, nas questões da minha terra, constitui‑se para mim como imperativo de consciência.

E não ter terra, no sentido bem português de não ter – e manter –raízes no país profundo, tantas vezes esquecido, seria para mim um drama, na justa medida em que é aí que encontro a amizade desinte­ressada e a genuinidade do povo, essa instituição na qual tantos dizem ter a razão do seu desígnio, mas que, na realidade vão esquecendo a cada passo... Da evolução dos seus interesses particulares.

Em boa verdade, vai sendo a problemática de todo um Povo causticado – tendo como expoente os indefesos – que se torna a minha fonte privilegiada de preocupação actual, confesso.

Tenho, aliás, a sensação triste de que a minha geração das liber­dades falhou completamente quando se tratou de proteger, como se lhe impunha, os mais desprotegidos de hoje: doentes, reforma­dos, idosos, deficientes, sós, desempregados... E demais pessoas que já não têm tempo para reagir às vicissitudes do País.

Entretanto fui fazendo poesia – a minha poesia – e fui guar­dando ou oferecendo, ou dedicando o meu hobby e passando para as folhas brancas dos livros que fui lendo todos os meus senti­mentos, todos os meus pensamentos, todas as minhas impressões e todas as minhas apreensões.

Nesses livros encontra‑se, pois, o meu património literário, parte do qual constitui este livro que eu agora vos dou.

Sensível aos argumentos das pessoas mais próximos e, princi­palmente, da minha mulher, aquiesci à presente publicação que é despretensiosa e não quer mais do que dar a conhecer o meu trabalho para além do trabalho.

Sabendo que vou espantar muita gente que ao longo dos tem­pos se cruzou comigo (colegas, colaboradores, amigos, clientes, parceiros, fornecedores, professores) o certo é que admiti chegado o momento de me revelar a todos nesta faceta singular, que admito me completa como ser humano e que agora me tempera a idade, sobremaneira.

O resto, fica sujeito ao critério a que sempre estive sujeito nas minhas múltiplas actividades profissionais e ao qual sempre, tam­bém, me submeti por inteiro: o do contraditório e da crítica.


O título Conexões foi escolhido por ser o que melhor respeita todo este percurso de ligação e interligação e coligação com o mundo e com os seus problemas – e a minha visão deles – a partir dos locais onde passei o meu tempo e independentemente dos continentes onde eles se localizaram.

Conectado com a minha terra, com o meu Rio, com as nossas casas e com os locais onde trabalhei, onde passeei e onde fui feliz, a verdade é que sobreveio sempre tempo e inspiração para ir traduzindo as experiências vividas em poesia.

Quase sempre quando escrevi nas folhas brancas dos tais livros, registei o local e, muitas vezes, a própria hora. Tal facto pretende transportar‑me para a vivência concreta daquele momento, ainda hoje quando os releio. Os poemas aqui colocados neste livro, estando sequenciados no tempo – datados – podem não ser seguidos, por esses que se lhes seguiram não terem sido para aqui seleccionados.

Dito tudo isto devo agradecer às minhas fontes de inspiração, em primeiro lugar, a minha mulher, Ana Marques Lito, a Marga­rida Ferreira, que me assistiu na compilação, ao Fernando Mão de Ferro, meu Editor e sua equipa da Colibri (Helena e Raquel) e à minha sempre amiga Maria José Vera (filha do saudoso poeta António Vera), que aqui faz o favor de me anunciar ao mundo enquanto poeta, com toda a sua bon­dade e conhecimento.

Bem hajam todos.

Aos meus leitores, bom proveito.

A Penacova e aos meus conterrâneos, muito obrigado!

Do amigo, Luís Pais Amante
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Fotos: Penacova Eventos

quarta-feira, março 09, 2016

Apontamento e homenagem aos penacovenses mortos na I Grande Guerra (no dia em que faz 100 anos que a Alemanha declarou guerra a Portugal)

CEMITÉRIO DE RICHEBOURG ONDE SE
ENCONTRAM OS RESTOS MORTAIS DE
MILITARES PENACOVENSES
Faz hoje 100  anos que  Portugal entrou na Primeira Guerra Mundial. Em Fevereiro de 1916, a Inglaterra pediu  ao Estado português o apresamento de todos os navios alemães e austro-húngaros que estavam ancorados na costa portuguesa. Uma vez acatado esse pedido, a Alemanha declarou guerra ao nosso país em  9 de Março de 1916 (apesar dos combates que se vinham já travando em África desde 1914).
Em 1917, as primeiras tropas portuguesas, do Corpo Expedicionário Português, seguiam para a guerra na Europa, em direcção à Flandres.
Neste esforço de guerra, chegaram a estar mobilizados quase 200 mil homens.
As perdas atingiram milhares de mortos e feridos, além de custos económicos e sociais muito superiores à capacidade nacional.
Penacova também teve as suas vítimas: no Memorial dedicado aos “FILHOS DA NOSSA TERRA SOLDADOS DE PORTUGAL MORTOS DA GRANDE GUERRA” e que se encontra ao fundo da Pérgola, constam os nomes de Eduardo Pereira Viseu (Penacova), João dos Santos (Carvoeira), António Couceiro (Ronqueira), Alípio da Cruz (Riba de Baixo), Domingos Serafim Henriques (Carregal), António Carvalho (Rebordosa), Daniel Alves (Aveleira), Artur Branco (Cácemes), Manuel da Costa (Cácemes) e Manuel Alves (Palheiros).
Nos arquivos militares constam cerca de 120 sargentos e praças naturais dos mais diversos lugares de Penacova e que pertenceram ao Corpo Expedicionário Português.É também possível consultar muitos Boletins Individuais destes militares. Aí, somos confrontados com o seu percurso desde a data do embarque até ao momento do desembarque. Louvores, mas também punições. Tudo aí está registado.
Por exemplo, sobre o malogrado combatente Daniel Alves, soldado nº 432 do 2º Batalhão de Infantaria / Infantaria 35, sabe-se que era casado com Maria de Jesus e filho de Estêvão Alves e Bernarda de Nossa Senhora. Natural da Aveleira, embarcou em Lisboa em 15 de Abril de 1917 e morreu em França em  Agosto desse mesmo ano. “Faleceu na 1ª linha, por virtude de ferimentos recebidos em combate em 14 de Agosto de 1917, sendo sepultado no cemitério de Pont du Hem” – refere o Boletim Individual. Recorde-se que mais tarde os restos mortais de muitos militares portugueses foram trasladados para o Cemitério Português de Richebourg. É precisamente aí que podemos encontrar actualmente a campa deste soldado, conforme se pode ver na gravura.
Lápide da sepultura de Daniel Alves
em Richebourg

No referido monumento, existente em Penacova, consta, como referimos, o nome de Manuel Alves, natural dos Palheiros. No entanto, nos documentos de arquivo, encontramos  um mesmo nome com a mesma naturalidade, mas que terá desembarcado com vida em Lisboa em 15 de Junho de 1919. Era solteiro, filho de António Alves e Maria de Jesus. Tratar-se-á da mesma pessoa?
Falemos também de Artur Branco. Primeiro Cabo, nº 50 da 4ª Companhia, embarcou em Maio de 1917. Faleceu em Pont du Hem “por ter sido ferido involuntariamente por um seu camarada em 2 de Junho de 1917, sendo sepultado no cemitério daquela localidade, coval A8."
Era solteiro, natural de Lorvão, filho de Caetano Branco e de Joaquina das Neves.
Boletim
de Daniel Alves
Recorde-se que além de defenderam o território nacional, incluindo as ilhas atlânticas, os soldados portugueses estiveram presentes na frente de Angola (18 000) em 1914-1915; em Moçambique, (30 000) entre 1914 e 1918; e em França, (mais de 56.000) em 1917 e 1918. Em todas as frentes se travaram combates, mas os efectivos portugueses só participaram numa batalha, a Batalha de La Lys, na Flandres, no dia 9 de Abril de 1918.

No total, Portugal perdeu cerca de 8 000 homens, a que se somam mais de 16.000 feridos e mais de 13.000 prisioneiros e desaparecidos.

Neste Centenário da I Grande Guerra (1914/18-2014/18) prestemos homenagem a todos os portugueses - e em especial aos penacovenses - que se bateram nos campos de batalha deste trágico conflito. 

segunda-feira, março 07, 2016

Penacova na Literatura Portuguesa

Está a Literatura Portuguesa (principalmente a Literatura de Viagens) semeada de referências a Penacova. Um levantamento que, segundo cremos, está por fazer. Existe de facto material suficiente para coligir numa antologia o muito que se escreveu sobre este recanto que viu nascer muitos de nós. Nem todas as terras deste nosso Portugal se poderão orgulhar do mesmo. E, se alargarmos o conceito estrito de literatura aos textos publicados, em prosa e em verso,  em revistas e jornais, locais e nacionais, o volume aumenta significativamente. Algumas dessas referências a Penacova são já conhecidas dos penacovenses, como será o caso do trecho que de seguida publicamos, mas muitas outras haverá que são quase ou totalmente desconhecidas. Quem sabe um dia consigamos ter tempo e engenho para levar por diante uma obra que inclua estes e muitos outros aspectos da vida de Penacova (concelho) ao longo dos tempos e que permanecem por aí, dispersos, em letra de imprensa, seja em livros, seja em muitos jornais e revistas.


ANTERO DE FIGUEIREDO
(1866-1953)
(...) Eu cogitava nestas cousas enquanto o automóvel, que me levava, fugia pela estrada de Coimbra a Penacova, - bela entre as mais belas, sugestiva entre as mais sugestivas - a acompanhar as curvas do Mondego, marginado, de cá, de outeiros socalcados de campos e de parques; de lá, de montes, uns brandos, cobertos de pinhais novos e verdinhos, ou de velhos pinhais de copas espessas; outros,  de penedias violentas da idade das convulsões. A estrada volta-se e revolteia-se como cobra perseguida. Às  vezes, numa curva decidida para um lanço recto e longo, de costas para o rio, ela parece querer fugir, emancipar-se de tanto enlevo; mas logo, noutra curva vencida, em sentido contrário, lá se torna, chamada pelo encantamento do Mondego - pela sedução das suas margens permanentemente insinuantes na sua variedade feita de bosquetes tenros, de florestas duras, de hortas fartas, de trigais amarelinhos, de penedias agrestes, de laranjais perfumados, - de panoramas de surpresa maravilhadora. E assim todo o tempo, até que se avista num alto, num promontório, em fundo de pinhais e penhascos violáceos e amarelos, sobre o areal largo do Mondego, o casario branco e acastelado da alcandorada Penacova.
Agora, desde o leito do rio, trepa-se sempre por uma estrada às laçadas, sob árvores, como a da Ribeira de Santarém à cidade, como a de Tondela, pelo vale de Besteiros, ao Caramulo.
+++

Que extraordinário assunto para pintar que não é este vale de Penacova, visto do Penedo do Castro, da Carvoeira, da Senhora do Monte Alto; vasto, luminoso, colorido, com seu rio, campos, montes e serras ; ou, mais simples e ameno, visto da Senhora da Guia, capelinha no alto de um cone de verduras de árvores e de socalcos de campos, sobre farta várzea de milheirais de ouro e olivedos de cinzas prateadas, que vão, uns e outros, longe, até às colinas de lá , onde, a meia encosta, pousa o lugar da Carvoeira — manchas de casais brancos, esparsos entre verdes postos na tinta estamenha dos montes nus que, por esse lado, confinam a paisagem. De cá, nos longes, - pinhais de alto a baixo; próximo, - cumiadas com pinheiros ralos a escalarem lombas de margaças lilases, que a luz poente pintará com a tinta das copas das olaias floridas. Em baixo, panos azuis de um rio, quási sem água, parado num areal amarelo. Defronte, descendo até o Mondego, a pique, como os penedos das Portas do Rodam, sobre o Tejo, formidáveis rochas estratificadas. Amarelentas e musgosas, o sol da tarde transformá-las há num colossal «bloco» de ouro esverdinhado. Na campina, fitas de estradas; nos altos, riscos vermelhos - carreirinhos - a subir os montes, por entre penedos e pinheiros de troncos ardosiados; E aqueles moinhos, a um de fundo, como monges de longada (para onde ?) na crista da serra, além ! ...
(...)

Excerto de obra de 1919

domingo, fevereiro 28, 2016

VELAS AO VENTO...O MOINHO DO SENHOR LINO

Moinho do Sr. Lino Branco, em Gavinhos
Foto de José Alexandre Henriques (2010)

Ainda com a recente passagem pela Portela da Oliveira no pensamento, pesquisámos na internet “história dos moinhos de vento em Portugal”. Foi assim que nos cruzámos com esta interessante reportagem sobre os moinhos de Gavinhos, feita em 2010 e intitulada "Velas ao Vento". Sabendo que o autor (que não conhecemos pessoalmente) apenas pede,com toda a justeza,  que se indique a respectiva fonte, não resistimos a publicar aqui este apontamento. 


No seu blogue CANDEIA VERDE, José Alexandre Rodrigues Henriques começa por salientar que no distrito de Coimbra existem muitos moinhos de vento, principalmente no concelho de Penacova e explica, de seguida, algumas diferenças que se verificam entre os moinhos desta zona e os da parte mais a sul da Beira Litoral. 
“Os moinhos de Penacova são bastante diferentes dos que se podem encontrar noutras partes do distrito, mais a sul, como por exemplo os moinhos de Monte de Vez em Penela, na serra de Janeanes, ou em Santiago da Guarda, estes últimos já no concelho de Ansião, distrito de Leiria. Enquanto os moinhos das serras de Penacova são construídos em pedra, de forma redonda, os outros de que faço referência são totalmente em madeira e de formato triangular. Outra diferença significativa é o modo de fazer o posicionamento do mastro de forma a colocar as velas de acordo com a direcção e força do vento, de modo tirar o maior rendimento possível do mesmo quando ele sopra de forma suave ou moderada, ou fazer diminuir a sua incidência directa nas velas, quando é muito forte o que poderia fazer rodar as engrenagens do moinho com velocidade excessiva. Para efectuar esta manobra, nos moinhos de Penacova, o moleiro faz rodar o capelo ou cúpula do moinho, enquanto nas estruturas de madeira todo o corpo do moinho gira em volta de um eixo cravado no solo, tendo duas rodas de pedra que rodam num círculo também construído em pedra, podendo assim as suas quatro velas triangulares receberem o vento de frente”.
Dos poucos moinhos que ainda se estão em pleno funcionamento, conforme reconhece José Alexandre, foi ainda possível  encontrar um a funcionar em pleno: “Este moinho situa-se em Gavinhos, numa elevação rochosa de quartzito fronteira à localidade e de onde se avista através de um vale comprido e profundo, a vila de Penacova.”
Conta-nos de seguida como se desenrolou este contacto quer com o moinho quer com o moleiro.
“Não foi fácil encontrar o moinho a funcionar, sendo necessário deslocar-me três vezes ao local, não tendo na primeira visita obtido qualquer sucesso, pelo que voltei lá uma segunda vez, encontrando nessa altura o moleiro a fazer a manutenção do seu moinho, mais precisamente a picar as mós, pelo que decidi voltar lá mais tarde. À terceira foi de vez e pude, finalmente, ao som do vento a bater nas velas e do ruído da mó a girar, apreciar detalhadamente todo o funcionamento do moinho, ouvindo as explicações do moleiro, o senhor Lino, uma pessoa simpática que gosta de partilhar os seus conhecimentos e os transmite com gosto aos visitantes.
Quando o inquiri sobre o passado do lugar, quando todos aqueles moinhos funcionavam, notei alguma nostalgia nas suas palavras: “Nessa altura é que era bom, fazíamos companhia uns aos outros e havia trabalho para todos. Só aqui eram catorze, vinte e seis em Portela de Oliveira e muitos outros espalhados por aí. Hoje sou só eu que faço este trabalho”.
Essa intensa actividade dos moinhos, conheceu-a em miúdo, tendo entretanto trabalhado na área construção civil e sido emigrante, tendo voltado ao seu moinho por gosto a esta arte.
Despedi-me do senhor Lino. Cá fora uma brisa ligeira fazia rodar suavemente as velas do moinho; uma imagem de rara beleza, enquadrada pela magnífica paisagem e pelo céu azul de um entardecer calmo e quente de Julho. Naquele momento já não se encontrava ninguém no monte e o grande número de pessoas que ali tinham chegado durante a tarde, em dois autocarros, já tinha abandonado o local.
Sentei-me numa pedra e fiquei durante alguns minutos a observar o moinho e a paisagem, sentindo o agradável sopro da brisa fresca, que atenuava os efeitos do sol, cujos raios, naquele momento, tinham já os reflexos com a tonalidade própria do entardecer…
Foi então, naquele momento, que o ambiente no local se transfigurou completamente: Os moinhos estavam todos com as suas velas desfraldadas e a rodar movidos pelo vento que, subitamente, parecia ter passado a soprar com mais força! Estavam a chegar ao monte carroças carregadas com sacos de milho e trigo que eram descarregadas por camponeses de braços fortes e tez escurecida pelo sol, protegidos por enormes chapéus de palha. Partiam burros com sacos de farinha pendurados nas albardas. Os moleiros, com a sua roupa branca e os braços nus e enfarinhados, conversavam com os camponeses que iam chegando e partindo, trazendo e levando notícias…
De repente estremeci e regressei à realidade. O moinho do senhor Lino, que continuava a trabalhar, era o único testemunho vivo daquele passado que, por momentos, foi real na minha imaginação. Abandonei o local, feliz por aqueles bons momentos ali passados.
https://www.youtube.com/watch?v=8g4f0BQoeG4&feature=youtu.be&ab_channel=JoalexHenry
Clique na imagem para visualizar vídeo 
Refere o autor do blogue: Neste vídeo pode ver-se o engenho em movimento. O movimento de rotação do mastro é trasmitido, através das engrenagens do moinho, à mó de cima, chamada andadeira. O cereal é depositado no tegão (espécie de gamela, situada por cima da mó) e passa pela calha de madeira, a quelha. O cereal vai caindo no olho da andadeira, por acção do chamadouro (a pequena roda que gira em cima da mó), que faz vibrar a quelha, fazendo cair o cereal para ser esmagado de acordo com a velocidade da mó, uma vez que a rotação da andadeira é variável, consoante a força com que  o vento sopra nas velas.


  VER TEXTO ORIGINAL AQUI

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Museu do Moinho Vitorino Nemésio reabriu depois de importantes obras de remodelação e musealização

Foi em 2000 que foi inaugurado o Museu do Moinho Vitorino Nemésio, tendo, como grande impulsionador o Dr. Leitão Couto, enquanto assessor cultural da Câmara Municipal, presidida pelo Engº Maurício Marques.

Na ocasião esteve o Professor José Hermano Saraiva, que no livro de visitas deixou escrito:

“Agradeço a Penacova este reencontro com um amigo que foi dos mais primorosos lapidadores da palavra portuguesa”.

”Agradeço esta piedosa recolha de recordações que evocam o pão das hóstias que comungamos e também as côdeas do pão que o Diabo amassou.”

Ontem, o Museu reabriu depois de sofrer obras de remodelação e musealização que vieram trazer uma nova imagem àquele espaço e certamente atrair ainda mais visitantes.

Penacova possui um extraordinário património molinológico, felizmente preservado em grande parte. Que mais este passo nesse sentido tenha continuidade pois muito há ainda a fazer para recuperar e promover esta riqueza que temos nas nossas mãos.

O Museu pode ser visitado todos os dias das 10 às 18,entre 16 Outubro e 14 de Março, e das 10 às 17, entre 15 de Março e 15 de Outubro.

Tivémos a honra e o privilégio de sermos convidados para este acto de (re)inauguração. Partilhamos com os nossos leitores as imagens que captámos.











Fernanda Veiga, Vereadora da Cultura, 
conduziu esta primeira visita ao novo espaço












Da esq. para a d.ta: 
Presidente da Junta de Sazes, Presidente da Assembleia 
Municipal, Presidente da Câmara, Director do Museu da 
Presidência da República e Vereadora da Cultura. 
Da mesa fez também parte 
uma representante da Direcção Regional da Cultura.







No Moinho Vitorino Nemésio o Sr. Lino, 
veterano dos moleiros penacovenses, 
fez uma demonstração...apesar de o vento não ter
ajudado...

O nosso antigo colega de estudos e amigo, 
Fernando Lopes, 
Presidente da Câmara de Castanheira de Pera



Mesmo com pouco vento, as velas ainda
 exerceram a sua função...

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Cartas Brasileiras: recolhendo os tapetes

Quando minha mãe vinha nos visitar - foram tão poucas vezes, porque morávamos longe, em outra cidade – minha mulher recolhia os tapetes, para evitar que ela pudesse tropeçar e cair.
E chegou nosso primeiro neto. Assim que ele começou a andar, trocamos as maçanetas das portas, optamos por outras menos perigosas, mais abauladas, e novamente ela recolheu os tapetes do chão.
Minha mãe se foi, nosso neto cresceu.

Um dia desses vi minha mulher recolhendo os tapetes do chão, para eu não cair; menino ou velho!
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do Penacova Online