sábado, junho 14, 2014
segunda-feira, junho 09, 2014
Cavaquinho em Cartas Brasileiras
Cavaquinho
em Cartas
Brasileiras
Nelson Antonio da Silva, mais conhecido como Nelson do Cavaquinho
é um dos grandes nomes da boa música brasileira; o apelido que ganhou já diz bem
qual era o forte dele. Autor de umas 400 músicas, algumas chegou até a vender
para poder se sustentar, tinham como tema o sofrimento, a ingratidão de amor, e
uma quase obsessão pela morte. Uma
composição que bem demonstra o estilo das músicas é como “Quando eu me chamar saudade”.
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Sei que amanhã / Quando eu morrer
/ Os meus amigos vão dizer/ Que eu tinha
um bom coração / Alguns até hão de chorar / E querer me homenagear / Fazendo de
ouro um violão / Mas depois que o tempo passar / Sei que ninguém vai se lembrar
/ Que eu fui embora/ Por isso é que eu penso assim / Se alguém quiser fazer por
mim / Que faça agora / Me dê as flores em vida/
O carinho / A mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me
chamar saudade / Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais. Nascido em 29 de outubro de 1911, faleceu em 18
de fevereiro de 1986.
No “chorinho” o grande intérprete
e compositor foi Waldir Azevedo (27/01/1923 – 20-09/1980). É o autor do
famoso “Brasileirinho”.
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No Brasil todo grande tocador de
cavaquinho gosta de executar essa música para mostrar sua qualidade artística e
técnica. Waldir compôs muitas outras, como “Delicado”,
“Pedacinhos do céu”.
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Waldir Azevedo com sua maestria levou o cavaquinho para uma
posição de destaque na interpretação musical, com o que deixou de ser apenas
mais um dos instrumentos de acompanhamento.
E por que falo de cavaquinho! Por tudo que tinha até então
escutado, imaginava que o cavaquinho fosse um instrumento genuinamente
brasileiro. Mas, ao ver no blog o convite para o almoço comemorativo do 20°
aniversário da Casa do Concelho de Penacova, li que uma das atrações será o
Grupo de Cavaquinhos de Rebordosa. Fiquei curioso e me pus a pesquisar sobre o
assunto tendo descoberto, o que de há muito ai já é sabido, que o
instrumento, também chamado de
braquinha, braga e machete, tem origem no Minho (Portugal), de onde espalhou,
até chegar ao Brasil.
E do Brasil mando abraços para todos.
P.T.Juvenal Santos
Nota da redacção: havia uma correcção a fazer relativa a datas de nasc / morte. Aos leitores as nossas desculpas.
segunda-feira, junho 02, 2014
Lisboa: Casa do Concelho de Penacova vai assinalar o 20º Aniversário
Adicionar legenda |
A Casa do Concelho de Penacova é uma associação regionalista, sem fins lucrativos, composta por pessoas singulares e colectivas ou equiparadas. Foi fundada em 9 de Junho de 1994, por escritura pública realizada no 20º Cartório Notarial de Lisboa, publicada no “Diário da Republica” nº 174 / 94 (III Série) de 29 de Julho de 1994. Foram fundadores José Bernardes de Oliveira, natural de S. Pedro de Alva, e António Pimentel, Carlos Augusto Luís Simões e António Vicente Cabral, naturais de Penacova. Tem a sua sede em Lisboa, na Calçada de Carriche, nº 47 B, freguesia da Ameixoeira. Logo que foram conseguidas instalações, sucedeu à LACP (Liga dos Amigos do Concelho de Penacova) que, com esse objectivo, tinha sido fundada em 15 de Junho de 1985 pelos mesmos penacovenses, e outro, José Fernandes.
A Casa do Concelho de Penacova tem como principal finalidade promover culturalmente os seus associados; desenvolver a solidariedade entre os naturais do concelho ou que a ele se sintam ligados por laços familiares ou de amizade; divulgar as suas belezas paisagísticas, o seu património cultural e artístico, a sua gastronomia, o seu artesanato e o seu folclore; participar no desenvolvimento do concelho e prestar apoio possível ao seu comércio e à sua indústria; defender o concelho de tudo o que possa causar-lhe danos morais ou patrimoniais; organizar eventos culturais, recreativos e outros de carácter regionalista, entre sócios e simpatizantes; favorecer a prática de modalidades desportivas; colaborar com as associações similares e com as autarquias do concelho; auxiliar, dentro do possível, os penacovenses que se encontrem carenciados.
A Casa do Concelho de Penacova é sócia fundadora da ACRL – Associação das Casas Regionais em Lisboa – fez parte do seu Conselho Fiscal de 2008 a 2010 sendo presentemente Vice-Presidente da Direcção para Área Patrimonial, Equipamento e Logística.
Veja:
http://www.casaconcelhopenacova.pt/index.htm
domingo, maio 11, 2014
Promover anualmente em Lorvão uma Semana de Cultura à volta da Música Antiga, defende Dinarte Machado
ÓRGÃO HISTÓRICO DO MOSTEIRO DE LORVÃO
. Dinarte Machado, mestre organeiro
O órgão histórico do Mosteiro de Lorvão é o
maior órgão construído em Portugal no século XVIII. É um instrumento que,
apesar da sua dimensão, não deixa de ser personalizado e seccionado em relação
à sua planificação sonora, tornando‑o um instrumento "sensível" e
deveras singular.
Foi projetado por Manuel Machado Teixeira de
Miranda, natural de Braga, organeiro e escultor, que deu início à sua construção,
instalando em primeiro lugar a caixa quase ao centro do corpo sonoro da igreja,
sendo uma parte a igreja propriamente dita e a outra o coro baixo. Este
organeiro, foi pai do escultor Joaquim Machado de Castro e, em terceiras
núpcias, pai do organeiro António Xavier Machado e Cerveira. Foi, aliás,
Machado de Castro, quem desenhou e executou a caixa deste instrumento, a sua
maior obra deste tipo, onde se expõem figuras e cenas musicais e onde os pontos
estáticos praticamente não existem. Tudo está em movimento, distribuído por
duas fachadas: a do lado do coro (a principal), e a do lado da igreja. É do
lado do coro que o organista toca e para onde estão direcionados os tubos de
palheta, com os seus ressoadores de trombetas horizontais, à boa maneira
portuguesa, cujo aspecto apenas se pode apreciar em Portugal em Espanha.
Diposição da registação na consola |
O órgão é composto por dois teclados manuais
e sessenta e dois meios registos distribuídos por vários planos sonoros
individualizados, controlados por pisantes existentes na consola, cujo som é
produzido por quase 4000 tubos. Cada pisante, anula uma secção sonora, a qual
se harmoniza com a base do instrumento, desde os registos de mutação, (reforço
da base), caixas de eco, cornetas e palhetas (trombetas). Parecendo complexa a
sua composição e "manuseamento", depois de nos integrarmos percebe‑se
exatamente o contrário. Tudo parece ter sido feito de modo a facilitar a sua utilização,
por parte do organista que o pretenda tanger.
As duas fachadas (a do coro e a da igreja)
são preenchidas com tubos de 24 palmos, os quais são sonoros. O projecto
inicial, não contemplaria o funcionamento da fachada do lado da Igreja. No entanto,
a análise rigorosa de todas as peças deste conjunto faz‑nos acreditar que tenha
sido António Xavier Machado e Cerveira quem optou por fazer este reforço sonoro
(sobre os graves), pretendendo que ambas as fachadas fossem utilizadas em
conjunto, juntando‑se a estes apenas um registo de 12 palmos e um outro de 6
palmos. O efeito desta combinação é deveras impressionante e só pode ser
experimentado neste instrumento. Este é o único órgão em Portugal com duas
fachadas desta dimensão sonora que, desafiando as leis da acústica (sonoridade
geral sendo emitida sem refletor acústico), funciona naquele espaço, na
perfeição.
Saliento que o órgão português que considero
mais bem planeado e com uma concepção admirável é o do Mosteiro de Santa Maria
de Semide, o qual também restaurámos. Aquele Mosteiro pertencia à mesma
Congregação que o Mosteiro de Lorvão e o instrumento foi construído na mesma
época por António Xavier Machado e Cerveira. A arte organeira em Portugal, que
tem o seu expoente máximo no último quartel do século XVIII, indo até ao fim da
primeira metade do século XIX (embora já em decadência), é de tal riqueza e com
uma identidade tão definida que se torna única no panorama mundial.
O órgão do Mosteiro de Lorvão é testemunho do
conjunto de mais de uma centena de órgãos desta traça portuguesa, num universo
de quase mil instrumentos existentes no país.
Página do Diário de Coimbra, de 9 de Maio |
Creio que o órgão do Mosteiro de
Lorvão virá alertar para a necessidade de manter estes instrumentos, através da
formação de novos organeiros experimentados e empenhados na preservação desta
parcela tão importante da nossa história, que outrora nos dignificou e nos fez
grandes, perante o mundo.
Hoje podemos afirmar que conservámos um número
significativo de órgãos históricos em Portugal, dignificando a sua escola de
organaria. Ignorar este facto significa perdermos a nossa identidade cultura[,
algo muito mais importante do que um esforço financeiro pontual. A perda de
identidade cultural é irrecuperável e deixa‑nos sem personalidade e sem a
dimensão suficiente para recuperarmos o tal esforço financeiro. Hoje, perante o
mundo, podemos dizer que em Portugal contactamos muitas vezes com instrumentos
no seu estado mais puro e original (eu próprio o posso testemunhar), algo que
em muitos países da Europa é de todo impossível. Assim confrontados com o
elemento original, podemos criar uma escola mais "pura" e mais
verdadeira seguindo esse ensinamento.
Tenho a esperança que em Lorvão e a partir do
ecoar deste instrumento, se crie uma semana de cultura à volta da Música Antiga,
chamando jovens e admiradores desta faceta cultural, apelando ao contacto e à
formação em Portugal de pessoas nesta área, atraindo gente das várias partes do
globo para conhecer os órgãos restaurados nesta zona e por todo o país (com
eixo em Lorvão) e dando a conhecer o nosso património nas mais variadas
vertentes culturais.
Agradecimento e compromisso
. Pedro Cartos Lopes de Miranda, Pároco de Lorvão
Para uma paróquia essencialmente rural,
apesar da proximidade à cidade de Coimbra, e cuja dimensão fica naturalmente
muito aquém duma correspondência proporcionada à obrigação natural de habitar e
cuidar de um monumento nacional com o significado da Igreja do Mosteiro de St'
Maria de Lorvão, estava também completamente fora do seu alcance esta obra que
hoje temos a alegria de chegar finalmente à sua plenitude: a obra de restauro
do seu órgão.
O investimento que tal obra supôs revela
grande coragem da parte da Direcção Regional de Cultura do Centro e do Estado
Português, coragem que o povo de Lorvão, cheios de saudades os mais velhos do
seu órgão e das liturgias por ele embelezadas, cheios de curiosidade e
esperança os mais novos, só pode agradecer encarecidamente.
Permita‑se‑me, em nome do povo católico de
Lorvão, formular um compromisso da sua parte para o futuro deste importante
instrumento do património organológico nacional: fazer tudo o que está ao seu
alcance para que o seu uso litúrgico ‑ que e o seu mais natural ‑ seja o mais
quotidiano possível, para lhe garantir a saúde e a longevidade. Penso que pelo
menos um sinal, embora inconsciente, já temos da viabilidade desse compromisso:
o modesto mas esforçado contributo dos fiéis católicos, que são quem sustenta a
vida quotidiana desta sua igreja matriz, para o orçamento tão grande desta
obra. Qual? Perguntar‑se‑á. Seja‑me permitida confissão: com a conta mensal da
energia eléctrica, que, durante as obras do órgão e outras em curso de
iniciativa pública, atingiu uma dimensão que, a ser assim perenemente, nos
levaria à ruína.
Quem fez este esforço, seguramente estará
disposto a continuá‑lo à medida das suas capacidades, para uma: "longa
vida ao órgão da Igreja do Mosteiro de Sta Maria de Lorvão."
terça-feira, maio 06, 2014
História e Arte: a propósito do Órgão do Mosteiro de Lorvão
Transcrevemos hoje o texto (publicado no folheto alusivo à inauguração do órgão) do Prof. Doutor Nelson Correia Borges, eminente historiador penacovense e o maior especialista da história do Mosteiro de Lorvão. Só se pode dar valor àquilo que se conhece. Com a divulgação deste documento, que constitui uma excelente síntese histórica e artística, pretendemos contribuir para que Lorvão se afirme cada vez mais como Centro Cultural do nosso concelho, da região e do país.
História e Arte
Nota breve
Teve a música grandes cultoras em Lorvão, em
todos os tempos. Abundam na documentação do mosteiro as referências, quer a instrumentos
musicais, quer a instrumentistas e cantoras. Os ofícios de coro exigiam
solenidade, perfeição e gravidade, conforme a determinação dos Capítulos Gerais
da Ordem de Cister e as normas codificadas no Livro de Usos e Cerimónias. O
órgão veio a assumir‑se no decurso do século XVII como instrumento
indispensável ao esplendor das cerimónias litúrgicas, graças aos
aperfeiçoamentos técnicos e estéticos de que foi sendo alvo.
A primeira referência a um órgão de tubos em
Lorvão data de 1668, o que pressupõe a sua anterior existência. Em 1719 a
comunidade decidiu mandar fazer um novo, profundamente remodelado em 1727, na
caixa e nos mecanismos, e com nova reforma em 1742. Não teve muitos anos de uso
este órgão reformado, pois foi desmontado em 1747, durante as obras de
construção do novo coro e quando se pensava em reedificar também a igreja de
forma mais grandiosa. Logo que o coro ficou pronto, cerca de 1748, e começou a
ser utilizado para o ofício divino, procedeu‑se à reinstalação do órgão
desmontado, antes que se pensasse em mandar fazer outro novo, o que só seria
possível depois de concluídas as obras da igreja.
Em 1764, quando se fizeram os retábulos do
antecoro, trabalhava-se igualmente nas tribunas ou varandins em que se viria a
instalar o novo órgão. Mas só vinte anos mais tarde, em 1784, houve
disponibilidade para avançar com a obra. Para o efeito foi contactado o
escultor e organeiro Manuel Machado Teixeira, natural de Braga e estabelecido
em Coimbra, com oficina na rua de Sobre Ribas. Manuel Machado Teixeira era pai
de Joaquim Machado de Castro e de Antônio Xavier Machado e Cerveira. Ao
primeiro comunicou o gosto pela escultura, ao segundo o da organaria. Um e outro
se distinguiram e foram figuras cimeiras na sua arte. Foi certamente devido à
avançada idade de Machado Teixeira que, à obra vultuosa que as cistercienses de
Lorvão pretendiam fazer, se associou Antônio Xavier. O contrato para a sua
execução foi celebrado em 15 de julho de 1785, mas esta sofreu contratempos
vários, como o falecimento de Manuel Machado Teixeira. Também o projeto inicial
foi ultrapassado com a adição de novos registos e outras alterações. Só em 1795
o órgão ficaria pronto e, conforme se pode ver na assinatura que Antônio Xavier
Machado e Cerveira lhe após, tem o nº 47 de fabrico. Importou em mais de sete
contos e seiscentos mil réis, verba avultada que só acabou de ser totalmente liquidada
em 1806, o que denota já algumas dificuldades financeiras na governação do
mosteiro. Com efeito, os tempos já eram bem diferentes da época áurea anterior.
É esta a explicação para o facto de, tanto as caixas do órgão como as tribunas
do antecoro, nunca terem sido pintadas e douradas como estava previsto e era
comum em todas as obras congéneres. Em 1791 levaram três demãos de aparelho,
somente. O douramento e pintura, que lhes emprestariam nova beleza e fulgor
foram sendo adiados para melhores dias, que não mais voltaram. Com isto, o
órgão de Lorvão ficou impedido de transmitir a mensagem estética visual que lhe
fora destinada.
Há que distinguir no órgão a parte de
organaria da de marcenaria, escultura e talha. Quer uma quer outra são do mais
alto nível, o que confere a este instrumento o estatuto de verdadeira obra‑prima
entre os órgãos históricos nacionais. Embora não haja referência documental
direta ao nome do escultor e entalhador, é sabido que António Xavier Machado e
Cerveira se instalou em Lisboa na oficina de Joaquim Machado de Castro, ao
Tesouro Velho, e como era estreita a colaboração profissional entre ambos, é
lógico que, absorvido e entregue aos trabalhos de organaria, deixasse para a
oficina do irmão a fatura da caixa do órgão laurbanense, que ele próprio também
contratara.
Contudo, nem seria necessária esta dedução
documental. Basta olhar para a escultura decorativa, para o filiar estilisticamente
na arte de Machado de Castro. O parentesco é por demais evidente em certos
pormenores que quase têm o valor da marca da sua oficina ou da sua assinatura.
Graciosos anjos‑músicos esvoaçam em movimentos delicados, enquanto outros se
quedam em diversas atitudes, tangendo com brio variados instrumentos.
Especialmente encantador é o relevo em moldura arrendada, da fachada da igreja,
com cinco anjos dispostos assimetricamente, movimentando‑se sobre nuvens em
diferentes e graciosas atitudes e posições. São uma exaltação de Cister,
mostrando ostensivamente os atributos de S. Bernardo: três livros, emblemáticos
dos seus inumeráveis escritos, um báculo, a mitra abacial e uma pena.
Provavelmente teria sido também Machado de Castro o delineador de toda a caixa,
onde se patenteiam bem os princípios estéticos que o norteavam, isto é, os de
um barroco classicista, com algum racionalismo de concepção, decorrente da
filosofia das Luzes e tão característico da época rococó, bem patente na disposição
e articulação dos diversos corpos. Foram utilizadas na execução madeiras de
castanho e pinho de Flandres.
Com este alentado e belo instrumento ficaram
as monjas laurbanenses habilitadas e estimuladas para a prática de música
litúrgica no mais alto grau de perfeição. Muitas delas foram exímias
organistas, como se documente pelos assentos dos livros de óbitos.
Nelson
Correia Borges,
Historiador
segunda-feira, maio 05, 2014
Mosteiro de Lorvão: ainda o concerto inaugural do órgão histórico
A inauguração do órgão do mosteiro de Lorvão realizou-se no dia 3 de Maio, à noite, conforme previsto. Contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura e da respectiva Delegada Regional além das autoridades locais civis e religiosas. Noite memorável para Lorvão e para o concelho de Penacova. A Igreja (incluindo a parte do Coro) foi pequena para acolher a multidão (assim podemos falar) que quis estar presente neste momento tão especial e ansiado. A página do Penacova Actual no Facebook publicou inúmeras fotografias sobre este acontecimento.
Dada a importância histórico-cultural deste órgão, tomamos a liberdade de publicar alguns textos que fazem parte do desdobrável disponibilizado na ocasião.
Por hoje, deixamos aos leitores o depoimento de João Vaz, organista de renome internacional, que juntamente com Harald Vogel, derem corpo ao Concerto Inaugural. Posteriormente, publicaremos textos do historiador Nelson Correia Borges e de Dinarte Machado, mestre do restauro.
CLIQUE PARA AMPLIAR
(Obs: esta disposição do texto e cor de base não corresponde ao original.
Pedimos desculpa aos autores. Move-nos tão só a intençao de divulgar
e valorizar ainda mais este tesouro cultural)
sábado, maio 03, 2014
Um Órgão com (muita) história...
Separador do livro Doçaria Conventual de Lorvão, de Nelson Correia Borges (2013) |
É muito provável – segundo alguns historiadores - que em tempos mais recuados já existisse um órgão em Lorvão.
Todavia, o primeiro órgão de que há notícia terá sido o que em 1718 mandou fazer a abadessa D. Cecília d’Eça e Castro. Entretanto, a abadessa D. Maria da Trindade resolveu reformá-lo, mudá-lo de local, acrescentar-lhe mais registos e dourar-lhe a caixa.
A partir de 1748 dão-se as obras de reconstrução da Igreja que se prolongaram por cerca de vinte anos. Depois das obras, as religiosas quiseram dotar o mosteiro com um órgão mais grandioso.
Coube a D. Madalena Maria Joana de Vasconcelos Caldeira (1783-1786) materializar esse objectivo.
Na obra de Nelson Correia Borges, Doçaria Conventual de Lorvão (2013) escreve aquele autor: “ Em 1785, a mesma abadessa empenhou-se na obra do novo órgão, mas já era o canto de cisne da renovação artística de Lorvão: a caixa foi aparelhada e ficou à espera de uma pintura e douramento que nunca mais chegou e o pagamento da despesa arrastou-se por vários anos. É uma realização do que melhor se fazia no reino, já que a parte harmónica e técnica foi executada por António Xavier Machado e Cerveira e a caixa e escultura saiu da oficina de seu meio-irmão, Joaquim Machado de Castro.”
Só ficou concluído em 1795. Poucos anos depois surgem as invasões francesas que a par de outros factores conduzem à decadência de Lorvão e do seu órgão.
Depois de muitas décadas, em 1955, voltou a fazer-se ouvir, depois do restauro feito pela Firma João Sampaio (Filhos), Lda.
“Foram introduzidas modificações nos foles e na cobertura do teclado. Os primitivos foles eram em forma de cunha e necessitavam de dois homens que tinham de se revezar com frequência. Foram substituídos por um único fole paralelo, instalado em sala contígua, com a vantagem de fornecer sempre a mesma pressão de ar. O seu conjunto harmónico é constituído por cerca de dois mil e quinhentos tubos de metal e madeira.” – escreveu Nelson Correia Borges em 1968 no Notícias de Penacova.
Naquela data já o órgão estava outra vez inutilizado. Lamenta o referido cronista que “depois de importantes obras de restauro levadas a cabo em 1955 pela DGEMN e que fizeram voltar o alentado instrumento ao seu antigo esplendor, dum momento para o outro elas ficassem inutilizadas parcialmente por injustificável incúria, em virtude de ter-se dado infiltração de água das chuvas durante umas obras de reparação do telhado”.
Os anos passaram, muitas pessoas e entidades foram pugnando pelo seu restauro. Depois de muitas vicissitudes, só hoje, 3 de Maio de 2014, vai ser possível ouvi-lo de novo na sua majestade e imponência.
Capa do jornal Díário de Coimbra de 2 de Maio |
Díário de Coimbra , 2/5/2014 |
quinta-feira, maio 01, 2014
Órgão do Mosteiro de Lorvão: depois do restauro o Concerto Inaugural há tantos anos esperado
No próximo sábado, pelas 21 horas vai ter lugar um Concerto de Órgão no Mosteiro de Lorvão. Depois de muitos anos de inactividade, eis que chega o ansiado momento de se fazer ouvir este Órgão Monumental.
Os organistas João Vaz (Portugal)e Harald Vogel ( Alemanha) vão estar em Lorvão |
O órgão construído por pai e filhos no século XVIII, no
Mosteiro do Lorvão, Penacova, que teve "vários períodos de abandono",
recebeu uma intervenção que o organeiro acredita ter devolvido ao instrumento
uma sonoridade idêntica à original.
Depois de algumas intervenções ao longo dos mais de 200 anos
de vida, o instrumento, que "é o maior órgão histórico construído em
Portugal", vai voltar a ser tocado no sábado, terminado um restauro que
devolve ao órgão o seu som, mas também o número de tubos iniciais - quatro mil
-, salientou Dinarte Machado, organeiro responsável pelo restauro.
O instrumento, instalado naquele mosteiro do distrito de
Coimbra, começou a ser planeado e executado por Manuel Teixeira de Miranda,
durante o século XVIII, com a colaboração do seu filho, o escultor Machado de
Castro, que criou as esculturas "que ornamentam a caixa do órgão, que é
única", contou Dinarte Machado.
Com a morte de Manuel Teixeira de Miranda, o órgão ficou
inacabado, sendo que, 14 anos depois, o seu outro filho, Machado de Cerveira,
daria continuidade ao projeto do pai, terminando a execução em 1795.
Machado de Cerveira realizou algumas alterações ao
instrumento por "exigência da evolução da música da época", o que
levou a uma ampliação do órgão, explanou.
O organeiro afirmou à agência Lusa que as alterações
perpetradas por Machado de Cerveira levaram a que o órgão tivesse um
"aspeto mais barroco" e que "fosse mais abrangente" em
termos musicais, não perdendo qualidade "quando aumentou de tamanho, o que
não é normal".
No século XIX, com uma maior aceitação da "sonoridade
francesa" do que da "sonoridade barroca", foram tiradas muitas
filas de tubos, nomeadamente as agudas", sendo que também em meados do
século XX foram novamente retirados tubos, referiu Dinarte Machado,
considerando que as intervenções "degradaram o instrumento".
"Há mais de um século que o instrumento não estava
completo" e longe do "seu som original", tendo sido repostos
cerca de dois mil tubos, frisou o organeiro.
Dinarte Machado começou o restauro do órgão há dois anos,
quando este estava "todo desmontado".
O desafio era restaurar não apenas a componente estética,
mas também a identidade sonora do instrumento, em que se procurava que o som
fosse "idêntico" ao original, apesar de a harmonização do órgão ser
sempre um trabalho "autoral", influenciado pela forma de ouvir de
cada organeiro, aclarou.
Para além dos quatro mil tubos e da caixa desenhada por
Machado de Castro, o órgão tem como especificidade a sua colocação a meio
"do corpo arquitetónico" da igreja do mosteiro, o que faz com que
"não tenha um refletor acústico".
"É um caso único em Portugal e não haverá muitos na
Europa", referiu Dinarte Machado, explanando que uma das fachadas está
virada para o coro, com um cadeiral de duas filas, e a outra fachada virada
para "a igreja e para o povo".
O concerto inaugural do órgão histórico realiza-se no
sábado, pelas 21:00, a cargo dos organistas João Vaz, de Portugal, e Harald
Vogel, da Alemanha, que "foram consultores do trabalho de restauro",
disse o organeiro.
O restauro teve um financiamento de 650 mil euros, a partir
do programa regional de aplicação de fundos comunitários Mais Centro.
sexta-feira, abril 25, 2014
Memórias do 25 de Abril em Penacova
A notícia da
Revolução foi recebida em Penacova, como em muitos pontos do país, com um misto
de entusiasmo e de apreensão por parte da população em geral. Foi só no dia 1
de Maio que as manifestações públicas e
mais significativas se fizeram sentir. Neste dia, muitas pessoas se
concentraram em frente da Câmara Municipal e de seguida tomaram parte numa
sessão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Foi enaltecido o Movimento das
Forças Armadas e foi eleita uma Comissão para gerir o Município ( recorde-se
que o Presidente da Câmara no momento do 25 de Abril era o Dr. Álvaro Barbosa
Ribeiro).
Dessa
Comissão faziam parte Fernando Ribeiro
Dias, Manuel Ribeiro Santos, Rui Castro Pita, Joaquim Manuel Sales Guedes
Leitão, José Marques de Sousa, Teófilo Luís Alves Marques da Silva, Américo
Simões, Adelaide Simões, Artur José do Amaral, Artur Manuel Sales Guedes
Coimbra, António Coimbra Soares e António de Sousa.
Tomou posse
a 2 de Maio e de entre os seus elementos foi escolhido para presidir à mesma o
Dr. Teófilo Luís Alves Marques da Silva, ficando como vice-presidente, António
de Sousa. O terceiro elemento com mais responsabilidades no executivo passou a
ser também o Engº Castro Pita.
Teófilo Luís Marques da Silva (Foto do Jornal de Penacova 2002) |
Perante as
dificuldades em satisfazer os anseios das populações e também confrontados com
algumas atitudes como aquela em que Castro Pita foi agredido em plena sessão da
Câmara, a Comissão apresenta a demissão em Agosto de 1975, mantendo-se
entretanto em funções por mais algum tempo. Em entrevista concedida em 2002 ao
Jornal de Penacova, Teófilo Marques recorda o ambiente que se viveu em Penacova
no 25 de Abril.”A revolução dos cravos foi recebida com grande júbilo, pelo
menos, por parte das pessoas com quem eu contactava. Claro que esse sentimento
positivo não era unânime, havia pessoas que estavam mais identificadas com o
ideal do Estado Novo, mais “encostadas” ao antigo regime e, naturalmente,
tinham as suas próprias ideias que não coincidiam com as que tinham levado à
revolta de Abril. Por mim, eu já há muito que assumia a minha tendência para as
ideias de esquerda.”
José Alberto Costa (Foto do Jornal de Penacova 1998) |
Consumada a intenção
de se demitir, a Comissão, reunida com os representantes locais dos Partidos entendeu
indigitar para Gestor Municipal, o 1º Sargento de Infantaria, José Alberto
Costa, que exerceu essas funções entre 24 de Abril e 31 de Dezembro de 1976.
Refere o
jornal Notícias de Penacova que “depois de muito instado e sendo indivíduo
sempre pronto a dar o seu melhor a bem do País, militar irrepreensível, acabou
por aceitar e a população penacovense congratulou-se com o facto; estava
garantida a continuidade da obra municipal, iniciada pela Comissão
Administrativa cessante e que neste jornal foi bem demonstrada.”
Em Dezembro
de 1976 têm lugar as primeiras eleições para as Autarquias Locais, saindo
vencedor o Partido Socialista, passando a presidir à Câmara Municipal o Dr.
Artur Manuel Sales Guedes Coimbra e à Assembleia Municipal o Dr. Eurico Almiro
Meneses e Castro. Nesse acto eleitoral, nas listas para a Câmara, o PS obteve
2081 votos, o PPD, 2029, o CDS, 1302 e a FEPU, 550 votos.
Recorde-se
que nas eleições legislativas de 25 de Abril de 1976 o PPD havia vencido com
3041 votos, seguido do PS com 2884, CDS com 978 e PCP com 515.
Recordemos
mais um ou dois episódios que se encontram registados na imprensa local.
No dia 6 de
Outubro de 1974, milhares de pessoas em todo o pais decidiram responder ao
apelo para a realização de um dia de trabalho voluntário para a Nação. Também
em Penacova a iniciativa foi acolhida. “Mostrar desta maneira que comungamos
num Portugal ressurgido…Que ajudamos de alguma maneira a economia nacional com
o produto do nosso esforço. Procedendo assim mostramos obras e não paleio que
disso está o mundo cheio. É assim que se vê quem são os Democratas” – escrevia Luineses no NP.
Um outro
apontamento refere-se à tomada do “Lar das Enfermeiras” (em Lorvão) pelo povo em Agosto de 1975 para servir de Casa do Povo.
Escreve o jornal “ O
Povo entusiasmado com o que ouve na rádio e lê nos jornais, resolveu tomar uma
atitude, tomando as instalações do lar”.
De referir, por
último que a imprensa local foi cautelosa perante a revolução. Só no dia 4 de
Maio o “Notícias de Penacova” dá algum destaque aos acontecimentos .O editorial
“Mudança de Rumo” mantém contudo muitas reticências quanto ao correcto uso da
liberdade restituída ao povo português.
quinta-feira, abril 24, 2014
Notas para a história do 25 de Abril em Penacova
Leia amanhã neste espaço alguns apontamentos sobre a vivência do 25 de Abril e dos momentos que se lhe seguiram.
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