quarta-feira, agosto 27, 2025

Ainda a presença do Coral Divo Canto no Festival de Llangollen


No passado mês de julho, nas terras galesas, realizou-se o “Llangollen International Eisteddfod, considerado o maior festival cultural da Europa, com início em 1947. Curiosamente, nesse mesmo ano -e pela única vez - a organização convidou emigrantes portugueses a participar. Um grupo de pessoas do Porto alugou uma carrinha e viajou até àquele local para se juntar ao evento. Este festival tem levado à cidade centenas de milhares de pessoas ao longo das décadas, reunindo culturas e idiomas diferentes.

Em 2025, assinalou-se o 80.º aniversário das Nações Unidas e, como sempre, Llangollen celebrou a criatividade e a diversidade dos povos, mantendo-se firme na defesa da paz mundial.

É através da dança, do canto, da poesia e das artes criativas que as mensagens de fraternidade são transmitidas, tanto no palco principal como nos palcos secundários espalhados pelo recinto.

As apresentações foram memoráveis: grupos de crianças, jovens e adultos mostraram, em cada encenação, a importância da união e da paz entre os povos. Demonstraram que a paz mundial começa dentro de cada um de nós.

Foram quatro dias inspiradores e emocionantes, rodeados de homens e mulheres de diferentes cores, trajes garridos e idiomas próprios, todos unidos por um mesmo propósito: Deixem-nos viver em paz! Quem dera que todos os líderes mundiais assistissem a este festival, absorvessem estas mensagens e as pusessem em prática. Afinal, se fossem picados os 4.000 participantes, o sangue correria sempre da mesma cor.

O desfile pela cidade, onde 35 países mostraram a sua identidade através das suas bandeiras, fez-me perceber como Portugal continua a ser pequeno. Recordei as palavras da minha professora de inglês, no liceu, que dizia que, em Inglaterra, Portugal era apenas conhecido pela Amália e pelo Eusébio.

Ao gritar “Portugal!”, percebi que as pessoas associavam o nome ao Cristiano Ronaldo. Houve euforia e aplausos que me tocaram profundamente: senti-me pequenina no meio daquela imensidão, mas orgulhosamente portuguesa “à beira-mar plantada”.

Um dos momentos altos foi a atuação do Divo Canto, um grupo de 30 coralistas amadores de várias idades, que sacrificam horas de descanso semanais para aprender e ensaiar. Tiveram a ousadia de subir a um palco onde já cantaram Luciano Pavarotti (durante 30 anos consecutivos) e tantos outros músicos e compositores de renome.

Foi uma sensação enternecedora. Senti o peso da responsabilidade: tinha de dar o meu melhor depois de meses de ensaios, alguns deles realizados junto a antigas campas, com mosquitos a incomodar e a entrar pela boca sempre que a abria para cantar.

No imponente palco, diante de uma plateia de várias nacionalidades, a minha missão era cantar, transmitir paz e alegria e representar Portugal em sintonia com as vozes dos meus colegas.

De repente, vi uma bandeira portuguesa erguida pela comunidade lusa de Wrexham. Vieram apoiar-nos e gritar “Viva Portugal!”. As lágrimas caíram-me de alegria, pois ali estavam representados a minha família, marido, filhos, netos e todos os portugueses espalhados pelo mundo.

À boa maneira portuguesa, os nossos conterrâneos de Wrexham ainda prepararam e levaram um delicioso caldo verde, servido no recinto para nos aquecer o estômago. Gesto solidário e cheio de carinho! Também nos mostraram a sua cidade e organizaram surpresas, incluindo uma bela refeição no restaurante Vasco da Gama.

Tivemos ainda a honra de ser convidados a cantar no encerramento do festival, numa celebração dominical na igreja medieval de St. Collen’s Church, onde se agradeceu a Deus pelos compositores e músicos que transformam vidas através da união e da paz. A viúva de Luciano Pavarotti e o diretor do festival também marcaram presença.

Passados 78 anos, um grupo português voltou a pisar aquele palco. Isso só foi possível graças à coragem e dedicação de pessoas que se entregam de corpo e alma, abdicando de muito das suas vidas para concretizar momentos assim. O Divo Canto é privilegiado por ter quem o dirija, tanto na vertente artística como na organização.

O maestro Pedro Rodrigues, jovem trabalhador noutra área profissional, dedica os seus tempos livres à paixão pela música. Com calma e persistência, vai colocando partituras e melodias nas cabeças dos coralistas ... tarefa nada fácil!

Destaco também o presidente Eduardo Ferreira, homem de causas, que trabalha incansavelmente para atingir os objetivos do grupo, muitas vezes à custa da própria saúde.

Assim, o Divo Canto vai abrindo caminhos em terras distantes, experimentando outras culturas e formas de ver o mundo.

Importa sublinhar que todos os coralistas, direção e maestro pagam as suas próprias despesas de alimentação, estadia e viagem. Recebem alguns apoios, subsídios pontuais e verbas das vendas em festas, mas estão longe de cobrir os custos.

E que fique claro: isto não é um lamento, mas sim uma informação para os mais distraídos.

Saudade Lopes







segunda-feira, agosto 25, 2025

Opinião: FOGO - A DOENÇA QUE O POVO NÃO MERECE


Fogo: a doença que o Povo não merece

É com enorme tristeza que dirijo esta minha crónica a um tema sobre o qual ando a escrever há muitos anos.

Tristeza, amargura, vergonha, até!

Morreram mais Bombeiros…
…e, só por isso, já temos todos de estar angustiados.

Pior do que isso é que “os poderes” não se conseguem entender, nem têm a coragem de assumir que erraram mesmo muito durante os anos da nossa Democracia.

Não foram os políticos que fizeram e desfizeram estruturas supostamente para “prevenir” os fogos?

Não foram os Ministros da Administração Interna que derreteram rios e rios de dinheiro para, como afirmaram, “resolver o problema”?

Não foram “as guerras” que distrataram os Bombeiros e que os colocam -a centenas de quilómetros de casa- a olhar pró ar?

Sinceramente!

Continuar “o jogo político” na situação calamitosa em que o nosso País se encontra, é pura e simplesmente inadmissível!

A organização política tanto andou, tanto andou, que criou uma máquina tão penosa que até custa acreditar.

Os interesses são tantos e tão transversais que já não se sabe bem “quem são os chefes e quem são os índios”.

Não há linha de comando! Há tachos…
Essa é que é essa!

Após anos de desagregação de sistemas credíveis (talvez a necessitar de modernização) eis que transformaram o fogo numa doença que o nosso Interior não merecia e o nosso Povo (que continua a ser quem paga tudo) deve começar a repudiar; a contrariar.

Tudo nos levou a Pedrogão; tudo nos continua a levar a Pedrogão.

Não há prevenção; não há organização…e o combate é mantido à distância do fogo.

Só que o combate é conhecido localmente e o resto ninguém sabe quem são os actores de tanta asneira sucessiva.

Ofereço este Poema aos Leitores:


O  F o g o


Falar sobre o Fogo

Já não traz nada de novo

Nem ensina nada a ninguém

O Fogo é um martírio pró nosso Povo

Que vive no Interior e é tratado com o desdém

Dos “acrobatas” escondidos por aí

Nos gabinetes que bem os mantêm

É anedótico o dinheiro que se aloca

Aos comedores da “pipoca” a arder

É tortuoso ver Bombeiros a morrer

Todos os anos, em calor ou a chover

E as Famílias sem saber como comer

E é vergonhoso ver as televisões

A correr só para captar ignições

E os tempos só a vender ilusões

!… Até a Ciência não se sabe

Como consome tantos milhões …!

        *

Tudo isto já mete nojo

Já causa náuseas de dor

Tudo isto é um despojo

… Que muda o País de cor!


E chamo à atenção de todos que, se calhar, nós estamos mesmo à beira do precipício.

É que começa a discutir-se a passagem da prevenção para os Municípios.

E isso, constituindo um bom princípio descentralizador, pode tornar-se num problema que “mate” o Poder Local.

Financeiramente!

Não haja ilusão: o Poder Central só quer ter sob o seu controle o que dá prestígio sem dar chatices.

Sobre as responsabilidades maiores, é só fazer contas e contabilizar o número de anos de pertença dos tais Ministros da Administração Interna.


Luís Pais Amante

Casa Azul

sexta-feira, agosto 22, 2025

Silveirinho, Santa Quitéria e Pedro Henriques de Abreu

Neste fim de semana a aldeia do Silveirinho (S. Pedro de Alva) vai realizar as suas festas em honra de Santa Quitéria. Não temos elementos que nos esclareçam sobre a origem deste culto nesta localidade. No entanto, sabemos que no século XVII esteve em S. Pedro de Alva um padre muito erudito que escreveu um livro sobre a vida desta santa que, segundo a tradição, foi martirizada por defender os valores da sua fé. 


PEDRO HENRIQUES DE ABREU

Pedro Henriques de Abreu, licenciado em Cânones, foi Reitor da Igreja de S. Pedro de Farinha Podre entre 1632 e 1662. Nasceu em Évora de Alcobaça, mas  "as datas de nascimento e óbito ficaram até hoje ignoradas" - dizem os registos. 

Aparece referenciado como autor  no Dicctionnaire Universel de Sciences Eclesiastiques (Paris, 1868),  no Dicionário Bibliográfico Português e  também  no Dicionário da História da Igreja em Portugal.

Pedro Henriques de Abreu, ficou célebre devido à obra que publicou em 1651 intitulada, no original,  A vida e martyrion de S. Quitéria e de suas oito irmãs, todas nascidas de hum parto, portuguezas e prothomartyres de Hespanha. O livro inclui ainda “um discurso sobre a antiga cidade “Cinania”. São raros os exemplares existentes. A Biblioteca Nacional de Portugal possui uma cópia digitalizada da mesma. Esta obra foi muito apreciada, na época, por autores portugueses. 

O livro de Pedro Henriques de Abreu apresenta uma gravura de João Gomes, “figurando a Santa, decapitada, tendo a cabeça nas mãos, à altura do colo, em acto de ser coroada por uns anjos, que suspendem a respectiva coroa, por sobre a base do pescoço cortado ao meio.”

O titular da Comenda de S. Pedro, o famoso Francisco de Sousa Coutinho, que terá vivido algum tempo na Cortiça, foi seu amigo, ao ponto de lhe ter cedido "sem obrigação de pagar",  os "passais"  (que pertenciam à Comenda), enquanto ele fosse o vigário.

Também de Brás Garcia de Mascarenhas foi contemporâneo e mesmo amigo. Recorde-se que Brás Garcia teve inclusivamente por esta época os irmãos Manuel Garcia e Pantaleão Garcia como párocos de Almaça e de Travanca,  que visitaria com toda a certeza, não deixando de aproveitar a proximidade para contactar o reitor /vigário seu amigo. 


O CULTO DE SANTA QUITÉRIA

Em Portugal, o culto a Santa Quitéria terá começado no início do século XVI. Embora não seja das figuras hagiográficas mais conhecidas, a veneração desta jovem mártir está difundida um pouco por todo o país, incluindo as regiões autónomas, mas mais localizado em dioceses como Évora, Coimbra e Porto.

Na Madeira, Santa Quitéria deu nome a várias capelas: Curral das Freiras, Calheta e Madalena do Mar. Também no Funchal o Colégio / Igreja de São João Evangelista possui uma capela a ela dedicada. 

No conjunto das Festas de Santa Quitéria destacam-se as de Felgueiras e Pombeiro da Beira, aqui bem perto de nós. Igualmente em Ferrel (Peniche), em Mansores (Arouca), em Meca (Alenquer) e no Silveirinho (S. Pedro de Alva). De referir, ainda, a capela de Santa Quitéria, antiga sinagoga, em Vila Nova de Foz Côa.

Quer o Agiológio Lusitano de Jorge Cardoso (1666), quer a biografia de Frei Bento da Ascensão (1722), quer, como vimos, Pedro Henriques de Abreu, situam o nascimento e o martírio de Santa Quitéria em terras lusitanas. Por sua vez, o Martirologium Romanum , dos finais do século XVI, apresenta Santa Quitéria como mártir de Espanha, enquanto que  o actual Martirologium Romanum a situa na Aquitânia (região da França). 

"Jovem de linhagem influente, desde cedo consagrara a sua virgindade a Cristo e, como se negava a casar, o seu pai acabou por a decapitar, tendo surgido uma fonte no local do martírio. Outras versões referem que o seu martírio ocorreu a mando  de Euric, rei dos Godos, pelo facto de professar o catolicismo. Reza a lenda que após ter sido decapitada a jovem recolheu a sua própria cabeça e, guiada por um anjo, encaminhou-se para a igreja cujas portas estavam fechadas. Porém, ao aproximar-se, abriram-se de par em par. Desceu então as escadas que conduziam à cripta e, depois de se acomodar no sarcófago previamente preparado para sua sepultura, acabou de morrer». (Cf. Quitéria, uma santa da Lusitânia nas terras de Entre-Douro-e-Minho, de Luís Alberto Casimiro (2010).

Existem muitas outras versões lendárias, quer sobre Santa Quitéria, quer sobre as oito irmãs, que também terão sido martirizadas.

Sobre o culto de Santa Quitéria no Silveirinho não conhecemos nenhum documento ou referência a esse respeito. Fica a hipótese de estar relacionado com a presença do Padre Pedro Henriques de Abreu nestas terras da Casconha. 



quinta-feira, agosto 14, 2025

O culto de Nossa Senhora dos Remédios em Penacova, em Portugal e no Mundo


O culto de Nossa Senhora dos Remédios é muito antigo. Sendo originário de França, foi introduzido na Península Ibérica nos séculos XII-XIII, tendo ainda hoje uma presença marcante.  Nossa Senhora dos Remédios, invocação que, na sua origem não tinha o sentido de “medicamento”, ou a relação com doenças propriamente ditas (como Nossa Senhora da Saúde) mas Senhora dos Remédios, como Mediadora (Re-mediadora) no sentido de que a Mãe de Deus, estando entre Deus e os Homens, é autêntica mediadora entre o Céu e a Terra. Este sentido de “meio / remédio” pode encontrar-se ainda hoje nas expressões “não tenho outro remédio”, isto é, não tenho outro meio, ou noutra como “é uma pessoa remediada”, isto é, que tem meios de subsistência. Esse sentido de "remédio" estará mais presente, por exemplo, nos festejos que se realizam em Rio de Moinhos. Penafiel, em honra do "Senhor dos Remédios".

Estudiosa desta temática, Ana Santiago Faria (a quem agradecemos a partilha de muita documentação sobre o assunto) fez também um levantamento do concelho de Penacova, assinalando seis localidades onde Nossa Senhora dos Remédios está presente, seja através de antigas imagens, seja da realização de festas em sua honra.

Começaremos por Travanca do Mondego, que amanhã tem a sua festa anual, precisamente, em honra de Nossa Senhora dos Remédios. A Drª Ana Faria, defende que o retábulo é do séc. XVII/XVIII e a imagem, do séc. XVI, portanto muito antiga. Muito antiga é também a festa que aqui tem lugar no dia 15 de Agosto. 

Outro aspecto, talvez menos conhecido, é sublinhado por esta historiadora, há muitos anos radicada no nosso concelho. É o caso do Montalto de Penacova, que quase ninguém associa a Nossa Senhora dos Remédios. No entanto, é um facto que a imagem mais antiga (não a actual que é do séc. XX) tida como sendo do séc. XV /XVI. De pedra de Ançã, a Senhora está a sorrir e o Menino brinca com o pé. A capela tem igualmente na sua origem, a invocação de Nª Srª dos Remédios.

Continuando a percorrer o concelho, temos Contenças (Sazes) com a Capela, o Nicho, à entrada da aldeia, com imagem de N. S. dos Remédios e algumas fontes com a mesma invocação. De referir também Lufreu, cuja festa tem lugar no 1º Domingo de Setembro, sendo neste ano de 2025 de 5 a 7 do próximo mês.

Em Lorvão, a antiga imagem de Nossa Senhora dos Remédios, que chegou a ter lugar de destaque nos altares, “perdeu a identidade”, conforme reparo de Ana Faria, na medida em que actualmente está “legendada” como “Virgem e o Menino”.

E..por fim, o caso de S. Mamede, que em 2005 ainda tinha pintada na base a inscrição de Nª Sª dos Remédios, mas  acabou por mudar de nome para “Senhora dos Bons Caminhos”…

Pelo país fora, temos por estes dias, aqui na região centro, os festejos de Nª  Sª dos Remédios no Bom Sucesso, Figueira da Foz. Mas refiram-se mais locais, de Portugal e de Espanha onde existem igrejas e capelas dedicadas à Senhora dos Remédios. Em Portugal: Castro Verde (igreja), Fontelo-Viseu (capela), Sanfins Valença, Castelo Mendo (igreja), Torre de Moncorvo (capela), Herdade do Esporão (capela), Alcaria Ruiva-Mértola (igreja), Lamego (santuário), entre muitos outros locais; em Espanha, a lista é igualmente extensa. Refiram-se, Zamora (capela), Duenas-Palência (capela), Valência de Alcântara ...

A iconografia de Nossa Senhora dos Remédios é muito variável, mas dum modo geral a Senhora é Coroada (porque é Rainha), segura um Ceptro, é envolta por Anjos, tem o Menino no braço esquerdo (raramente do direito) e este segura um Globo / Mundo (não fosse Ele o Senhor do Mundo)…

Variável é também a data da Festa. Maioritariamente realiza-se a 8 de Setembro, seguindo-se o dia 15 de Agosto. No entanto, os festejos acontecem um pouco ao longo de todo o ano.

O culto de Nª Sª dos Remédios alargou-se a muitas partes do mundo, levado principalmente pelos portugueses, a partir da época dos Descobrimentos: Madeira, Açores, Ceuta, Canárias…Macau, Timor, Brasil… Por todo o Mundo há ainda hoje, inúmeros santuários onde se cultua esta invocação, com uma grande expressão popular, movimentando muitos milhares de pessoas nas suas romarias e festas.

A Senhora dos Remédios a partir do sec. XVII, entra em declínio, embora ainda surjam bastantes imagens com esta invocação no sec. XVIII e mesmo locais de culto (Capelas, Igrejas, ...). Mas por outro lado, nos finais do sec. XVII, ela começa a ser substituída pela Senhora da Conceição (1).

___________

(1) Um documento em que numa substituição de pároco, o Rei D. João IV, que não apenas reconquistou o trono de Portugal, após a aquele período que todos nós conhecemos de concretização da União Ibérica, com os FiIipes... aliou-se com a França e entalou a Espanha, mas necessitava do apoio e do aval do cristianíssimo Vaticano: para isso “hipotecou” o País à Senhora da Conceição, que entronizou como Rainha em Vila Viçosa, como toda a gente sabe. Mas não contente com isso, usou da “força régia” para a impôr como culto no país. E assim, todas as Igrejas e Capelas da Padroado Real, foram tendo que colocar a Senhora da Conceição e retirar as outras Senhoras que até aí eram cultuadas nesses locais. Foi o que aconteceu com a “minha” Senhora dos Remédios: nesse documento o rei diz explicitamente, que só coloca novo pároco, se os fiéis retirarem a imagem da Senhora dos Remédios e puserem no altar-mór a Senhora da Conceição. E aqui está uma das razões, porque a Sra dos Remédios desaparece, refugia-se na Sacristia3, ou nos altares laterais.... também muda de nome, muitas vezes, por outras razões.... etc... para além do desgaste do tempo e da moda!... porque os Santos e as invocações também têm modas! - salienta Ana Santiago Faria.


 




 



terça-feira, agosto 12, 2025

O "Palito Métrico", lavrado no Lorvão da Pachorra...


“Os palitos (...) serviram mesmo de título para um folheto intitulado Palito Métrico, publicado em 1746. Trata-se de um texto irónico sobre os costumes universitários, produzido por António Duarte Ferrão, pseudónimo de João da Silva Rebelo (1710-1790), que teve muitas outras edições e acrescentos. 

É uma colectânea de poemas, cartas e recomendações escritas em latim macarrónico, cujo título completo é: Palito Métrico, lavrado no Lorvão da Pachorra com a Ferramenta da Cachimónia embrulhado no titulo de Calouriada e oferecido aos Regalões do Parnaso no Esquipático Pires de um Poema Mestiço, por António Duarte Ferrão, Oficial de Estudante na Universidade de Coimbra. 

Descodificando o título: métrico, na poética, implica uma estrutura em verso, pelo que se infere que cada verso foi laboriosamente tratado à mão como um palito, utilizando a ferramenta (canivete) da pachorra, isto é, muita paciência, embrulhado no título de calouriada, ou seja, inspirado na vida dos caloiros (estudantes universitários do primeiro ano), e oferecido aos Regalões do Parnaso, isto é, aos que se regalam com Parnaso, sendo este termo alusão ao Monte Parnaso que, na mitologia grega, era residência do deus Apoio e das musas, e que passou a designar a poesia em geral, bem como o conjunto dos poetas. "

In Na Espuma do Outro Lado do Tempo, tomo I, J. Alveirinho Dias, ed de autor, ebook, 2025

“Em 1746 foi editado em Coimbra um folheto de 14 páginas intitulado Palito Métrico, o qual contava, em versos humorísticos, as desventuras de um novato (caloiro) que veio do país longínquo até Coimbra, para fazer matrícula e exame de entrada na Universidade. 

Para além de mil peripécias que lhe aconteceram pelo caminho – nas quais perdeu o macho, o farnel e o criado – mal chegou a Coimbra, o desgraçado caiu nas mãos dum grupo de veteranos que o fizeram passar tratos tais que o moço se viu obrigado a regressar à terra, chumbado e sem ter conseguido entrar para a Universidade. 

Mas como ao chegar a casa foi recebido em festa, não teve coragem de contar o sucedido e fez-se passar por doutor; até que, descoberto o embuste, o pai lhe passou um atesto de pancada em cima do lombo e o mandou guardar cabras.

Desta obra-prima se publicaram pelo menos 11 edições ao longo de 200 anos, sob designações diversas, sendo a mais comum Palito Métrico e Correlativa Macarrónea Latino-Portuguesa, abreviadamente, Palito Métrico.

 Blogue Penedo da Saudade, set 2011

“O "Palito Métrico" está inserido numa obra mais vasta denominada "Macarronea Latino-Portugueza" que, além do "Palito", contém outras obras de diversos autores, todas escritas em latim macarrónico - umas em prosa, outras em verso.

Teve inúmeras edições e funcionou durante largas décadas como breviário das praxes académicas de Coimbra. 

O título, aliás, baseia-se numa praxe antiga que obrigava os caloiros a medirem determinada distância com um palito…É, assim, o antecessor do Código da Praxe de Coimbra.

 Blogue Notas e Melodias, Julho 2008


sexta-feira, agosto 08, 2025

Crónicas do Avô Luís (2): O que saber sobre as Crianças



O que saber sobre as Crianças

A nossa crónica de hoje incide sobre uma temática importante, que aqui tento desenvolver de Avô, para Avós; mas é mais abrangente do que isso.

Incide sobre a realidade do nosso País e sobre as crianças que cá estão, uma vez que entendo ser esse o nosso interesse maior.

Dos horrores que se praticam a todos os momentos no mundo, falaremos noutra ocasião, embora os abominemos.

É muito importante conhecer (e isso hoje em dia é simples, com recurso a aplicações disponíveis no telemóvel) o que diz a Constituição da República Portuguesa, no seu art. 69 e 74; A Convenção sobre os Direitos da Criança, adoptado pela ONU; A Carta dos Direitos Fundamentais da Europa, art. 24; Lei n. 147/99, sobre a Proteção de Crianças e Jovens em perigo; e os Códigos Civil, de Processo Civil, bem como Legais com efeito Penal e de Processo Penal, nas partes aplicáveis.

Antes do nascimento, o nascituro (designação legal dada ao feto antes do parto) já tem direitos.

O direito à vida que coloca em confronto a nossa sociedade, quando se discute a questão do aborto -porquê e com que limites e onde- hoje praticamente resolvida com a adopção razoável da convivência dos direitos da criança com os direitos da mulher, embora com subsistência de “guerrilhas extremistas” que são conhecidos.

Quando nascidas, integram a existência da criança os direitos civis que resolvem, através da atribuição das responsabilidades parentais, questões como: viver onde e com quem? em que condições; receber quanto a título da designada “pensão de alimentos”; estudar onde; ter acesso a que tipo de saúde.

São designados por direitos que “defendem os superiores interesses das crianças” e têm seguimento próximo - e bem - do nosso Ministério Público.

Aliás,

É importante dizer que os direitos acima subsistem até à maioridade, mas após isso, mediante a observância de sucesso escolar, eles perduram até ao fim da escolaridade superior.

O beneficiário, neste caso, tem de interpôr uma ação judicial contra os próprios pais ou o que não ajude nessa missão, que hoje é civilizacional!

Entrando nas questões da escolaridade, a criança/adolescente, está protegida, hipoteticamente, desde bebé.

Digo hipoteticamente porque todos sabemos que isso “está em equação no papel” (creches gratuitas para todos, por exemplo) mas não se constitui como realidade em muitas partes do nosso País.

Todavia,

A Constituição da República Portuguesa adoptou o direito ao ensino e à igualdade de todos às mesmas oportunidades no seu art. 74!

Beneficiar de bom tratamento (tanto do ponto de vista da alimentação, como da saúde, como da educação) - que têm correspectividade cível - abrange, ainda, a não prática de bons tratos, porque os maus tratos, têm observância punível criminalmente.

Finalmente - o que muitos de nós não saberemos - a nossa Lei da Família, digamos assim, confere direitos aos Avós, por entender que essa “Instituição” deve beneficiar do convívio com os netos e esses têm o direito de conviver com os Avós.

Direitos são Direitos!

De facto,

Esses direitos (direito de visita e comunicação e direito à manutenção da relação familiar, através do convívio) estão estabelecidos no art. 1.878, do CC!

Um parêntesis para realçar que tudo isto se eleva em proteção e em responsabilização quando tratamos de crianças e jovens com deficiências e / ou doenças incapacitantes.

Do que acima vos transmito, com muita lealdade e sem querer entrar em polémicas - que, para o caso, são desnecessárias - surge, de imediato, uma pergunta:

- Se assim é, se o nosso quadro normativo é tão completo, qual o motivo pelo qual tantas crianças e jovens não têm apoio nenhum e chegam mesmo a morrer sem ninguém ser penalizado?

A resposta é simples e está ligada ao facto de a nossa Sociedade se encontrar num estádio de degradação grande, inclusive, muito tristemente, ao nível dos poderes públicos e dos que estão ligados a esta temática, que andaram tempo de mais direcionados para “negociatas”, “discussões estéreis” e “aproveitamentos indevidos” de incompetentes …

… Mesmo muito, muito grande!

Luís Pais Amante

Casa Azul

quarta-feira, agosto 06, 2025

Alexandre Herculano nos Discursos de Alves Mendes

A trasladação dos restos mortais de Alexandre Herculano, do jazigo da Família Gorjão, em Santa Iria da Azóia, para a Sala do Capítulo no Mosteiro dos Jerónimos, ocorreu em 1888. O autor do discurso central das cerimónias foi Alves Mendes, esse ilustre penacovense, essa figura proeminente da Oratória Sagrada. 

O Discurso, intitulado “Herculano”, proferido no Templo de Belém, em 28 de Junho de 1888, encontra-se publicado. Aqui fica um excerto dessa intervenção que, na nossa opinião, revela o alto nível cultural de Alves Mendes. Vale a pena ler…


(…) A Historia é uma ressurreição; fazer história é refazer a vida. Eis a máxima grandeza de Herculano: ele exumou do cemitério dos séculos, recomposta, rediviva, palpitante, a origem e formação do seu país. 

Parece que o poder dum só homem, por hercúleo que ele fosse, jamais chegaria a tanto. Pois chegou o poder de Herculano. Desamparado de governos, desamparado de incentivos, desamparado de meios, pobre trabalhador plebeu! À custa do próprio esforço, sozinho, levantou monumentalmente, irreversivelmente a sua obra: deu-lhe traça e carreou-lhe pedra e cimento. Foi tudo! Cabeça e braço, arquitecto e operário, olho perspícuo investigando os factos e pulso amestrado ferindo a luz. Foi tudo, fez tudo! 

Só um prodígio de talento e um prodígio de vontade vingariam tamanha empresa; e Herculano era esse prodígio. Herculano era o critério e a tenacidade em pessoa: era o génio histórico, o senso histórico feito homem.

Da história deve estar ausente a paixão, porque a história é um processo sereno; e à história deve estar presente a filosofia, porque a história é uma ciência. Sobre a onda dos acontecimentos chamada vida dum povo, corre o vento das ideias chamado espírito dum século. O historiador tem a julgar aqueles com a imparcialidade de juiz e tem a ponderar estas com a sagacidade de filósofo. Fez tudo isso e foi tudo isso Herculano: foi, como os grandes historiadores antigos, inflexo juiz, e foi, principalmente, como os grandes historiadores modernos, profundo filósofo.

Juntou à história, que é uma ciência experimental, uma ciência de factos, a filosofia, que é uma ciência de leis, uma ciência de princípios; à história, que é o fenómeno, a filosofia que é a razão do fenómeno; à história, que é a realidade, a filosofia, que é o ideal; à historia, que é a existência na corrente da sua transformação contínua, a filosofia, que é o pensamento na fulgurância da sua perene luz. Opulentou-se, enfim, com uma das maiores conquistas deste século, a Filosofia da História; e dotou a sua gente, dignificou a sua gente com uma das maiores obras portuguesas, com uma obra crítica, com uma obra-prima no seu género e, no seu influxo, só comparável aos Lusíadas: a História de Portugal.

Quando a justiça de Deus põe a pena na deste rei da poesia, da literatura e da história, este potentado que dominava com autoridade absoluta as mais vastas e mais formosas províncias do saber, depõe um dia a sua pena de ouro, o seu ceptro de diamante, e troca abruptamente o império das letras pelo cultivo dos campos! 

Fique a tremenda culpa a quem toca.  Fique, e seja ela implacavelmente castigada, justiçada nesse supremo tribunal humano que tem nome de Posteridade. É certo que a grande perda nacional, o grande luto nacional devem assinar-se desde essa hora sinistra, negra, em que a moderna geração portuguesa assim ficou orfanada do seu mentor e do seu mestre. (...)

Alves Mendes, Discursos (inéditos e dispersos) 1886-1888, A. M. Pereira, 1889 


terça-feira, agosto 05, 2025

Quando Penacova era ponto obrigatório de visita de altas individualidades...

O triângulo Coimbra - Penacova - Bussaco foi, nos primórdios do turismo no nosso país, um dos circuitos mais divulgados  pela Sociedade de Propaganda de Portugal.  A beleza natural da Mata do Bussaco, a paisagem e património de Penacova e a ligação histórica com Coimbra, eram motivos fortes para essa "propaganda". 

A conclusão da estrada que liga Penacova ao Luso, a "estrada dos Emídios", assim designada porque à história da sua construção ficaram ligados quer Emídio Navarro, quer Emídio da Silva, permitiu que a Penacova afluíssem muitos mais visitantes. Na época, a Câmara de Penacova, "em testemunho do reconhecimento", resolveu colocar na sala nobre dos Paços do Concelho os retratos daqueles dois "beneméritos". 

Neste recorte da GAZETA DE COIMBRA, de 1921,  fala-se da urgência da conclusão daquela estrada, da importância turística de Penacova nos anos 20, do Hotel Altina, dos projectos para a construção de um Hotel em Penacova …


Coimbra e Penacova em foco

O SR. MINISTRO DA INSTRUÇÃO. OS PARLAMENTARES ESTRANGEIROS. A CONCLUSÃO DA AFAMADA ESTRADA DE PENACOVA AO BUSSACO. UM PRÉMIO DE 500 ESCUDOS

"O Sr. Reitor da Universidade ofereceu, domingo, ao Sr. Dr. Júlio Martins, ilustre Ministro da Instrução, um passeio e um almoço em Penacova, que foi servido pelo Hotel Altina, tendo tomado parte num e noutro, alguns professores da Universidade e o deputado Sr. Dr. Manuel José da Silva, chefe de gabinete daquele ministro. 

Antes do almoço, que foi servido pelas 13 horas, visitaram os distintos excursionistas, o histórico Mosteiro de Lorvão, que fica distante de Penacova oito quilómetros. 

O sr. Ministro da Instrução, que ainda não conhecia o lindo passeio, mas de cuja beleza já tinha ouvido falar com admiração, mostrou-se verdadeiramente encantado com os seus variados, formosíssimos e pitorescos aspectos, reconhecendo que a Penacova está reservado um brilhante futuro. 

Sua Excelência, quando foi informado da próxima construção dos projectados hotéis de turismo de Coimbra e de Penacova, bem assim da próxima conclusão da estrada de ligação com o Bussaco, afirmou a alguns amigos que esta cidade, com tão preciosos elementos, ficará possuindo o mais lindo e atraente passeio do país que ninguém que viajar em Portugal, deixará de aqui vir para o conhecer e o gozar. 

Sabemos que os parlamentares estrangeiros, que a esta cidade virão nos dias 28 e 29 de Maio, também ali irão, devendo em Penacova ser-lhes também servido um almoço ao ar livre, no mais lindo parque daquela vila. 

Para se conseguir a rápida conclusão da estrada de ligação com o Bussaco, continuam a fazer-se os maiores esforços, tendo a Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra solicitado ao Conselho de Turismo, à repartição de Turismo e à Sociedade Propaganda de Portugal, a sua valiosa intervenção junto do Sr. Ministro do Comércio. 

É tal a importância que em Lisboa se liga ao futuro turístico desta estrada, que a Sociedade de Propaganda de Portugal comunicou à  Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra que estabelecera um prémio de 500 escudos para ser conferido ao empreiteiro, se este a concluir até Junho próximo. "

in Gazeta de Coimbra | 14 de Abril de 1921 


domingo, agosto 03, 2025

Filarmónica Lorvanense: "uma história de Boa-Vontade e amor, a uma terra e à música"

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Brochura que inclui um breve historial da FBVL e a partitura do Hino da Filarmónica


As comemorações do 105º Aniversário da Filarmónica Boa Vontade Lorvanense (FBVL) decorreram no dia 1 de Agosto, prolongando-se até ao dia seguinte. Pelas 18.30 de sexta feira, a FBVL concentrou-se junto à sede, para dar início à cerimónia do hastear das bandeiras e executar o Hino da Filarmónica e o Hino Nacional.

Seguiu-se uma romagem, em marcha, até ao cemitério local, onde a Filarmónica executou uma peça de homenagem e foi guardado um minuto de silêncio em memória de sócios, dirigentes e executantes falecidos. 

Às 19 horas, teve lugar a Sessão Solene comemorativa, sendo a Mesa de Honra constituída por António Fonseca, presidente da Assembleia Geral, Sandra Morgado, vice-presidente da Federação das Filarmónicas do distrito de Coimbra, David Almeida, autor da brochura “Filarmónica Boa Vontade Lorvanense – um século de Música", David Nunes, Maestro da FBVL, Mauro Carpinteiro, presidente da Direção da FBVL, Mário João Escada, presidente da Junta de freguesia de Lorvão e Álvaro Coimbra, presidente da Câmara Municipal de Penacova.

Após as respectivas intervenções, realizou-se um jantar convívio nos jardins do Mosteiro de Lorvão, animado pela Banda Rock lorvanense "Orelhuda". 

No dia 2, à noite, as comemorações encerraram com um concerto pela FBVL com a participação do Padre João Paulo Vaz, músico e cantor, e responsável pelas paróquias do concelho de Penacova.

Vídeo de Sandra Ralha,  na sua página do Facebook



No prefácio da pequena brochura / historial, Mauro Carpinteiro, classifica a FBVL como  "uma das mais marcantes" instituições  "do panorama cultural do Concelho de Penacova, da região e do país",  transportando em si "uma história de Boa-Vontade e amor, a uma terra e à música." 

"Toda a história se faz de factos e momentos, factos alguns que, nestes 105 anos, pretendemos deixar registados através do trabalho que aqui se apresenta."- refere igualmente.  

"É a música, sempre a música, que aqui se deixa assinalada com a publicação do nosso hino, como lembrança de que a nossa história são memórias, mas sobretudo são as melodias, compassos com notas e pausas, na pauta que faz a nossa vida" - sublinha.

Recorda ainda que este trabalho nos transporta "à memória deixada escrita na imprensa, desde 1921 até aos nossos dias: da caricata e atribulada necessidade de “uma música” na Procissão do Santíssimo, que fintasse os efeitos da excomunhão do Pe. Seabra, até à inauguração da nossa belíssima nova sede, já neste ano". 


Agradece "ao Prof. David Almeida, pela investigação e textos" e ao "Maestro David Nunes, pelo trabalho gráfico.", terminando com uma palavra de gratidão "aos músicos e diretores de hoje e de sempre, que deram vida e alma à Filarmónica Boa Vontade Lorvanense.

O jornal Diário de Coimbra dá nota, na edição de hoje, das Comemorações do 105º Aniversário da FBVL:



quinta-feira, julho 31, 2025

"125 Nomes da História de Penacova": novo livro apresentado no Dia do Município '25

 

O jornal A COMARCA DE ARGANIL, na edição de hoje, publica a notícia do lançamento do livro 125 NOMES DA HISTÓRIA DE PENACOVA, que aborda os percursos de vida de figuras marcantes do concelho, de A a Z, de Abel Fernandes Ribeiro a Zulmira da Fonseca... (veja aqui ).  Além da transcrição do texto de A Comarca, ficam também algumas fotografias do evento.


"Integrada no programa das comemorações do Dia do Município (17 de Julho), que assinala a data
de nascimento do ilustre penacovense António José de Almeida, teve lugar no Auditório Municipal a apresentação do livro 125 Nomes da História de Penacova da autoria de David Almeida. 

Com prefácio de Ana Santiago Faria e apresentação de Maria da Luz Pedroso, esta obra tem a chancela editorial da Câmara Municipal de Penacova. A sessão foi presidida por Álvaro Coimbra, presidente da Câmara.

Na nota de apresentação, assinada por Álvaro Coimbra, lê-se que o livro "125 Nomes da História de Penacova é uma obra de inegável valor histórico, cultural e identitário” para o município, na medida em que ”ao reunir, com rigor e sensibilidade, os percursos de vida de figuras marcantes”, este trabalho é mais do que “um repositório biográfico”, assumindo-se como “um verdadeiro testemunho da memória coletiva de Penacova” e, igualmente, como “um contributo inestimável para a preservação da identidade e para a valorização do conhecimento histórico no plano municipal” ou mesmo como “uma referência fundamental para todos quantos estudam ou se interessam pela história viva” do secular concelho.

Ana Santiago Faria, Licenciada em História, Investigadora e Mestre em História e, igualmente, em Turismo, agraciada com a Medalha de Honra do Município de Penacova em 2009, escreveu no prefácio que o livro agora apresentado, mostra a “preocupação” do autor “em dar a conhecer aos públicos de agora e do futuro, nomeadamente a todos os que têm ligação familiar ou afectiva a Penacova, as figuras
que no passado, marcaram indelevelmente” o concelho. Salienta, de igual modo, que “o trabalho de investigação a que há muito se dedica” lhe permite “apresentar homens e mulheres nascidos em Penacova, ou de algum modo a ela ligados, que pelas suas qualidades humanas, souberam empenhar-se no desenvolvimento da sua terra e do seu País, abraçando causas diversas e pondo os seus carismas ao serviço de todos.” Enquanto historiadora e cidadã empenhada e interveniente, frisa também a “importância da História Local e Regional, no contexto da História Nacional, que ajuda a edificar e a melhor compreender, contribuindo através das vivências comuns, para o desenvolvimento de uma consciência de pertença a uma comunidade. “

Por sua vez, Maria da Luz Pereira Pedroso, Professora, Mestre em Gestão e Administração Escolar e Vereadora do Município de V. N. de Poiares, ao apresentar a obra classificou o autor, David Almeida, como um verdadeiro “curador e guardião de memórias”, um “detective de histórias esquecidas”, um “contador de vidas que merecem ser contadas, algumas dramáticas, outras heróicas e muitas surpreendentes”, algumas delas que podiam muito bem inspirar um romance histórico “daqueles que se lêem de uma assentada.”

“Conseguiu reunir, com paciência de arqueólogo e coração de penacovense, 125 nomes que moldaram, inspiraram e deram forma ao que é hoje Penacova. E não, não é um catálogo telefónico antigo, ou um dicionário é muito mais do que isso” – sublinhou ainda.

Escrevendo “com emoção e responsabilidade ao nível educativo para as gerações vindouras (fazendo com que a memória local, não seja apenas um eco distante, mas sim, uma força viva, que inspira, educa e une), sem qualquer interesse financeiro”, ofereceu este seu trabalho ao concelho, “um documento do qual todos nos devemos orgulhar, que resgata do esquecimento, tudo aquilo que merece ser lembrado.”

Ao usar da palavra, o autor referiu-se à relação entre Memória e História, afirmando que “mais do que um trabalho científico, que implicaria a análise crítica e interpretação dos acontecimentos, este é um livro de memórias”, uma espécie de “Memorial”, na medida em que, “directa ou indirectamente, assume algum carácter de homenagem póstuma a muitas pessoas, não só àquelas que aqui nasceram e viveram, mas igualmente àquelas que, deixando o seu berço, se fixaram noutros pontos do país e do mundo”, quer ainda, a muitas outras “que, por adopção, se tornaram verdadeiros penacovenses, colocando as suas vidas ao serviço desta terra.”

Referiu que o livro não trata só de “individualidades que atingiram elevados patamares sociais e políticos”, mas também de “pessoas que no seu dia-a-dia se dedicaram, porventura com menor visibilidade, mas com o mesmo empenho, na construção do bem comum. Pessoas que, por diversos motivos, se tornaram conhecidas, admiradas e respeitadas, no meio social e cultural em que viveram.”

Na introdução, David Almeida esclarece que além destes 125 “verbetes” de carácter biográfico, seria “de toda a justiça, incluir, em jeito de apêndice e como memorandum para futuros estudos e/ou publicações, uma listagem de muitos outros nomes que merecem ser recordados: combatentes da I Grande Guerra e da Guerra do Ultramar, que tombaram no campo de batalha, liberais penacovenses, alguns deles inocentes, que não escaparam ao pelotão de fuzilamento durante a Guerra Civil (1832 a 1834), comandantes dos Bombeiros que nos quase cem anos de existência se dedicaram à causa humanitária, professores e educadores, médicos, dirigentes associativos, políticos, beneméritos…”.

Assim, no capítulo “Proposta de Guião para um segundo volume” são referidos mais 200 nomes, com maior ou menor desenvolvimento, mas que fornecem alguns dados que podem ser o ponto de partida para posteriores investigações.

Quer no texto introdutório, quer na sessão de apresentação, o autor salientou que mais do qualquer compensação financeira ou interesse comercial – que não tem, bem pelo contrário – é “muito gratificante saber que este trabalho de longas horas pode vir a ser útil para futuras e mais aprofundadas investigações” sobre o município e, pode, igualmente, “ser um contributo para a preservação da memória local e para uma melhor compreensão de alguns aspectos da história de Penacova, fortalecendo, desse modo, a identidade, a coesão e o sentido de pertença” a este território, que é
Penacova. 

Agradeceu a presença da vasta assistência e, a terminar, deixou um agradecimento especial à Câmara Municipal de Penacova, na pessoa do seu Presidente, Álvaro Coimbra, tendo em conta “a valorização deste trabalho e subsequente edição com a chancela do Município”, o que muito o “honra”."