Digam-nos: Quanto custa uma CPI?
CPI significa “Comissão Parlamentar de Inquérito”; decorre no Parlamento Português e têm-no transformado numa “feira” das mais tristes que se possa imaginar; advêm -nos termos do Regime Jurídico (redação actual da Lei 5/93, de 1 de Março)- de uma interpretação evolutiva do art. 178, Constituição da República (embora não seja tão tão abrangente como se tem espalhado por aí) e “gozam dos poderes de investigação próprios das autoridades judiciais”.
Hoje em dia podem ser propostas e votadas (direito subjectivo de pendor democrático) ou impostas por iniciativa de um qualquer deputado ou Partido (direito potestativo), mesmo servindo de arma de arremesso político e pretendendo entrar pela parte mais íntima e de caráter dos políticos que têm vida profissional, até familiar, o que se manifestará num erro crasso de consequências absolutamente imprevisíveis, para quem enviesa assim a Democracia e tem tanta pressa em profissionalizar, exclusivamente, a Política.
Digamos que este mecanismo anémico de “inquirição”, como se tem verificado, é levado a efeito, vezes de mais, por pessoas sem a mínima preparação, que não constituem exemplo nenhum de nada e que usam este meio para exercer “poder” sobre outrem e para se mostrarem na televisão e, sobretudo, para “achincalhar” os inquiridos, independentemente da sua condição.
Convém relembrar que a tarefa dos políticos é fazer política em seu benefício e abono, primeiro e em abono do seu Partido, logo a seguir. Infelizmente o País pouco interessa…
Motivo pelo qual as CPI’s funcionam ad hominem, preferencialmente! Contra todos e tudo que não dê benesses aos deputados e aos partidos ou lhes traga obstáculos ao imediatismo.
- Primeira conclusão: os deputados (que são imensos, bem pagos e cheios de prerrogativas anormais, como a “impunidade”) arranjaram um mecanismo que “fabrica trabalho”, na justa medida em que um País tão pequeno não necessita de todos eles…e isso não se quer discutir.
A outro passo, como é do conhecimento público, existem na AR, como deputados, muitas -mesmo muitas- pessoas que têm ou tiveram problemas, elas próprias, com a Justiça; se se incluírem familiares na equação, então o quadro aumenta exponencialmente.
Desejam, pois, por esta via inquisitória, transformar-se em “judicialistas” dos outros.
A primeira intenção desta gente é, pois, ocupar os tempos das televisões e dos media em geral, em palcos eleitorais, que têm a vantagem de “ocultar” os seus problemas próprios, quantas vezes interferindo nas situações mais delicadas das investigações judiciais, que é o que acontece quando quebram o sigilo exigido, a que estão obrigados.
- Segunda conclusão: quando se pergunta qual será, objectivamente, a real intenção das CPI’s(?), só podemos reter que elas são um método pernicioso do exercício democrático, porquanto se encontram quase sempre “minadas” à nascença, como se tem comprovado e batem de frente com as áreas de actuação do Poder Judicial.
!… Os deputados ganham muito dinheiro (para as habilitações e experiências que lhes são conhecidas) na generalidade; sendo cada vez mais jovens e inexperientes… !
Se somarmos as “retribuições globais” de cada um(a), as multiplicarmos por catorze e as dividirmos por doze, e somarmos ao produto as regalias em espécie muito questionáveis, facilmente percebemos que o custo de cada deputado à Nação constitui uma exorbitância.
E se dividirmos esse valor individual pelo número de horas potenciais trabalhadas (52 semanas x número de horas diárias), chegaremos (com as regras da legislação laboral) ao valor/hora de cada personalidade…
Temos assim, pois, possibilidade de apurar o custo real de cada CPI!
E quantos funcionários ocupa? E quanto valem (em custo diário) as instalações utilizadas? E os seus custos de funcionamento?
-Terceira conclusão: cada Comissão de Inquérito Parlamentar custa muito -mesmo muito- dinheiro, o que não estando disponibilizado aos cidadãos torna opaco o seu exercício.
Por isso mesmo, desafio os deputados e os partidos políticos a fazerem as contas e a informarem o Povo (que tudo suporta) por exemplo dos custos totais da “CPI das Gémeas”, cuja conclusão “pífia” foi a prova provada de tudo o que eu disse acima.
E que o façam já na campanha eleitoral, que o mesmo Povo vai voltar a pagar!
A Democracia é o regime político das transparências e esta questão exige explicações…
Independentemente disso direi, já, que o Orçamento de Estado em execução (2025) tem uma dotação global de 192,08 milhões de euros, para a AR, com 44,6 milhões destinados a subvenções para campanhas eleitorais, que mais não são do que “receitas facilitadas” e apetecíveis para os Partidos puderem brincar às eleições, como têm vindo a fazer, com consequências de delapidação sucessiva do Estado e ajuda imprópria às finanças partidárias.
…Terão os candidatos a deputados coragem para tanto?
Luís Pais Amante
É com muita tristeza que vejo e ouço o que se passa em Portugal. A política desceu mesmo a níveis baixos. A discussão é sobre temas que nada ajudam a resolver os problemas. Tudo está a ser posto de parte, sem clareza e sem pessoas credíveis nos cargos públicos.
ResponderEliminarAs comissões parlamentares de inquérito (CPI) são pedidas recorrentemente pelos partidos (com assento na Assembleia da Republica) para obterem esclarecimentos sobre polémicas, sejam elas dentro ou fora do Governo. Avaliação negativa devido a nepotismo, favoritismo político e financiamento partidário pouco transparente.
ResponderEliminarPortugal tem identificados problemas estruturais que não vêm a ser corrigidos, com impacto e desgaste ao longo do tempo, revelando falta de compromisso político e baixa eficácia nas ações desenvolvidas. Existem também circunstâncias conjunturais, como a Operação Influencer, com impacto na percepção da integridade no setor publico, que contribuem para este resultado. O caminho para melhorar a reputação de Portugal e no mundo no combate à corrupção é só um: assumir o compromisso credível efetivo e agir.
Nâo há dúvidas que a discussão política à volta de questões familiares é um exemplo triste do esgotamento das ideologias e dos seus veículos na terra: os Políticos.
ResponderEliminarAss.
Eduardo Miguel BECAS
Como dizia o saudoso Pinheiro de Azevedo, o povo é sereno, assim nos vão comendo por lorpas ospoliticozinhos dos nossos tempos.Felizmente que vamos tendo textos como este muito bem escrito e elucidativo para alerter quem ande distraido
ResponderEliminarA sua análise das CPI's, focada nos seus custos (que todos pagamos), merece a minha total concordância. Se o prisma analítico fosse a sua efectiva importância a conclusão seria ainda mais dramática, ou seja, a sua total irrelevância, salvo para manter uma cambada de "eleitos do povo" (melhor dizendo dos partidos políticos) que nelas têm o seu momento de glória.
ResponderEliminarLamentável meu caro Luiz
ResponderEliminarInfelizmente, não só em Portugal.... o Brasil está um caos...
Subscrevo na íntegra meu amigo.
ResponderEliminarObrigado pela partilha
Completamente de acordo. Tanto dinheiro mal gasto. E assim vamos andando infelizmente
ResponderEliminarSubescrevo
ResponderEliminarSubscrevo integralmente o que aqui descreves/comentas e que eu também tenho comentado em publicações nestes "canais". Um dia destes vamos ter uma "reviravolta" e que ninguém vai gostar e poderá ser algo perigoso para a nossa democracia. Acrescento ainda que corremos o risco de começarmos a ter na carreira política pessoas sem experiência de vida e pergunto: qual a competência para governar o país . Vai ser pior que o que temos agora!
ResponderEliminarMais uma brilhante análise da nossa “triste” realidade. Como eu concordo com cada palavra, com cada frase. Abraço
ResponderEliminarUma análise perfeita! Subscrevo na íntegra.
ResponderEliminarObrigada Luis por me esclarecer
ResponderEliminarMuito bem!
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