No próximo sábado, pelas 21 horas vai ter lugar um Concerto de Órgão no Mosteiro de Lorvão. Depois de muitos anos de inactividade, eis que chega o ansiado momento de se fazer ouvir este Órgão Monumental.
Os organistas João Vaz (Portugal)e Harald Vogel ( Alemanha) vão estar em Lorvão |
O órgão construído por pai e filhos no século XVIII, no
Mosteiro do Lorvão, Penacova, que teve "vários períodos de abandono",
recebeu uma intervenção que o organeiro acredita ter devolvido ao instrumento
uma sonoridade idêntica à original.
Depois de algumas intervenções ao longo dos mais de 200 anos
de vida, o instrumento, que "é o maior órgão histórico construído em
Portugal", vai voltar a ser tocado no sábado, terminado um restauro que
devolve ao órgão o seu som, mas também o número de tubos iniciais - quatro mil
-, salientou Dinarte Machado, organeiro responsável pelo restauro.
O instrumento, instalado naquele mosteiro do distrito de
Coimbra, começou a ser planeado e executado por Manuel Teixeira de Miranda,
durante o século XVIII, com a colaboração do seu filho, o escultor Machado de
Castro, que criou as esculturas "que ornamentam a caixa do órgão, que é
única", contou Dinarte Machado.
Com a morte de Manuel Teixeira de Miranda, o órgão ficou
inacabado, sendo que, 14 anos depois, o seu outro filho, Machado de Cerveira,
daria continuidade ao projeto do pai, terminando a execução em 1795.
Machado de Cerveira realizou algumas alterações ao
instrumento por "exigência da evolução da música da época", o que
levou a uma ampliação do órgão, explanou.
O organeiro afirmou à agência Lusa que as alterações
perpetradas por Machado de Cerveira levaram a que o órgão tivesse um
"aspeto mais barroco" e que "fosse mais abrangente" em
termos musicais, não perdendo qualidade "quando aumentou de tamanho, o que
não é normal".
No século XIX, com uma maior aceitação da "sonoridade
francesa" do que da "sonoridade barroca", foram tiradas muitas
filas de tubos, nomeadamente as agudas", sendo que também em meados do
século XX foram novamente retirados tubos, referiu Dinarte Machado,
considerando que as intervenções "degradaram o instrumento".
"Há mais de um século que o instrumento não estava
completo" e longe do "seu som original", tendo sido repostos
cerca de dois mil tubos, frisou o organeiro.
Dinarte Machado começou o restauro do órgão há dois anos,
quando este estava "todo desmontado".
O desafio era restaurar não apenas a componente estética,
mas também a identidade sonora do instrumento, em que se procurava que o som
fosse "idêntico" ao original, apesar de a harmonização do órgão ser
sempre um trabalho "autoral", influenciado pela forma de ouvir de
cada organeiro, aclarou.
Para além dos quatro mil tubos e da caixa desenhada por
Machado de Castro, o órgão tem como especificidade a sua colocação a meio
"do corpo arquitetónico" da igreja do mosteiro, o que faz com que
"não tenha um refletor acústico".
"É um caso único em Portugal e não haverá muitos na
Europa", referiu Dinarte Machado, explanando que uma das fachadas está
virada para o coro, com um cadeiral de duas filas, e a outra fachada virada
para "a igreja e para o povo".
O concerto inaugural do órgão histórico realiza-se no
sábado, pelas 21:00, a cargo dos organistas João Vaz, de Portugal, e Harald
Vogel, da Alemanha, que "foram consultores do trabalho de restauro",
disse o organeiro.
O restauro teve um financiamento de 650 mil euros, a partir
do programa regional de aplicação de fundos comunitários Mais Centro.