A apresentar mensagens correspondentes à consulta antónio josé de almeida ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta antónio josé de almeida ordenadas por data. Ordenar por relevância Mostrar todas as mensagens

sábado, março 01, 2025

Notas para a história dos Bombeiros de Penacova (I)

por José Alberto Rodrigues Costa 

Artigo publicado no jornal “Nova Esperança” aquando do  cinquentenário da Corporação (1980)


Depois de haver diversos incêndios na vila de Penacova e na altura em que ardeu a casa onde morava o Sr. Padre António Pinto é que um grupo de componentes da Filarmónica aliados a outros indivíduos e às forças vivas da Vila, levaram por diante a formação da Corporação de Bombeiros Voluntários de Penacova. 

Foi grande entusiasta desta iniciativa o mestre da filarmónica, à data Sr. António Casimiro Guedes Pessoa, e os músicos que se alistaram logo como Bombeiros. Na data da fundação da Corporação, 1930, já a filarmónica tinha cerca de 80 anos e foi ela a alma da Corporacão. 

Sem material, sem fardamentos, sem dinheiro e sem recursos, mas com uma forte vontade de levar para a frente uma iniciativa que serve o bem comum, os Bombeiros fundadores trabalhavam com as suas roupas usando apenas um cinturão e o capacete. Apenas havia uma bomba manual, que ainda hoje existe, que era tocada a braços por quatro bombeiros sendo o seu abastecimento feito com a água que as mulheres e o povo carregavam das fontes e poços, em cântaros ou baldes de cobre também pertença da Corporação. O alarme era dado por uma sineta que existia no improvisado Quartel, no andar da casa onde mora actualmente o Sr. Figueiredo (Guarda Fios) e ainda pelo repique dos sinos da Igreja.

Posteriormente o Quartel foi transferido para a casa do alpendre e capela de S. Francisco que ficava em frente das actuais instalações dos CTT. 

O 1º Comandante da Corporação foi o Sr. António Casimiro Guedes Pessoa assumindo o comando após a sua morte o Sr. Alípio Carvalho, sendo 2.° Comandante o Sr. António Esteves do Amaral Viseu, ainda junto de nós, bem como o Sr. Gualter Pereira Viseu. 

A primeira farda de cotim apareceu por volta de 1933, era usada com charlateiras e distintivos de Bombeiros na gola. Os capacetes tinham no emblema o distintivo B. M. (Bombeiro Músico) ou B. V. (Bombeiro Voluntário) que era aquele que não era executante da Filarmónica. 

Não havia nada para poder fazer sobreviver a Corporação. Os subsídios do Estado ou da Câmara Municipal ainda não existiam, não tinha sócios, e vivia apenas do trabalho dos Filarmónicos - que afinal era o seu Corpo Activo - que das festas que faziam deixavam 60% do que recebiam para que a Corporação pudesse ir para a frente.

Foram fundadores da Corporação os Senhores: 

António Esteves do Amaral Viseu, Gualter Pereira Viseu, Alípio Carvalho, Alípio da Costa Miguel, Álvaro Alberto dos Santos, Álvaro Martins Coimbra, António Casimiro Guedes Pessoa, António da Costa, António Joaquim Pinto, Augusto Luís, Evaristo Joaquim Pinto, Joaquim Correia de Almeida Leitão, Joaquim Luís, José Alberto de Almeida, José Augusto Pimentel, José Esteves do Amaral Viseu. José Gouveia Leitão, Manuel Ferreira Sales Guedes, Mário Lopes Barra, Mário Martins de Carvalho e Padre António Pinto. 


terça-feira, novembro 26, 2024

Notas breves para a história do Hospital da Misericórdia (I)

Em cima: construção original de inícios dos anos trinta; 
em baixo: após remodelação em 1961

A ideia de se construir um hospital em Penacova remonta aos inícios do século XX. Em 1901, respondendo a um repto do Jornal de Penacova, a comunidade emigrante  penacovense radicada na região de Campinas (Brasil), liderada por Álvaro Leitão, de Vila Nova, lançou uma campanha no sentido de angariar fundos para esse fim. No ano seguinte, no Pará, Abel Pinto Guedes lançou uma subscrição junto dos compatriotas emigrados. A imprensa da época refere ainda o apoio de António Pita e a oferta de um terreno por um anónimo. Para suporte institucional dessa obra havia Artur Leitão criado a Irmandade de Nossa Senhora da Guia, que para além da sua função religiosa, tinha como fim a criação e manutenção de um hospital. Falecido prematuramente não foi possível obter fundos e rendimentos suficientes. 

Cerca de quinze anos mais tarde, aquela aspiração volta ao de cima, com o legado de quinze contos feito por António Maria dos Santos (que também destinara, em testamento, uma verba para a Escola que se viria a chamar Escola Maria Máxima, em homenagem à sua mãe). Na mesma altura, Alípio Augusto dos Santos fez, igualmente,  um legado de dois mil escudos para uma futura unidade hospitalar.

Por volta de 1918 discute-se como aplicar aquelas verbas ao mesmo tempo que são feitos apelos à união da Câmara, das Juntas, das Irmandades, dos “Proprietários e Negociantes” no sentido de ser construído um edifício com alguma dimensão.

No entanto, só nos finais da década de vinte se começa a concretizar aquele propósito. Numa entrevista no Notícias de Penacova (1932) Luís Duarte Sereno, conta que verdadeiramente quem arrancou com as obras fora a Comissão Concelhia de Assistência, enquanto estava em organização a Misericórdia (1). De facto, a Irmandade de N. S. da Guia assume o estatuto de Misericórdia, tendo como Provedor Duarte Sereno. Contando também com a intervenção do Dr. Sales Guedes (2) o objectivo de criar o Hospital da Misericórdia vai ganhando forma. Conta-se que foi ele próprio que elaborou o projecto do edifício aproveitando as paredes da capela de Nª Sª da Guia, com excepção da frontaria. 

Aconteceu que, quando o edifício já estava bastante adiantada a construção, Bissaya Barreto foi convidado por Sales Guedes para visitar as obras, ficando segundo se consta, deveras “encantado” com o que via. Na sua mente germinava a ideia de construir na região centro uma casa para receber crianças pertencentes a famílias atingidas pela tuberculose. Passado pouco tempo a Junta Geral do Distrito a que presidia propõe à Misericórdia o seguinte: esta cederia à Junta Distrital o edifício em construção bem como o largo adjacente. Por sua vez, a Junta Distrital ficaria com o compromisso de apoiar a construção de um novo edifício hospitalar nas imediações e “subsidiar” o seu funcionamento. As obras contaram com o dinheiro do legado de António Maria dos Santos (15 000$00), bem como de outros legados, como o já referido de Alípio Santos e também de Manuel Lopes Serra (3 000$00) a que se juntaram 5 000$ de Evaristo Lopes Guimarães. Estas importâncias estavam na posse da Misericórdia de Coimbra e com a criação da Misericórdia em Penacova foram para esta transferidas.  

Em Janeiro de 1933 o Jornal de Penacova noticia a abertura para breve do Hospital (cuja construção havia sido "arrematada" por 71 000$00)  descrevendo o seu interior: enfermaria para mulheres com oito camas e um quarto de isolamento, outra sala idêntica para homens; sala de operações, dispensário, raios X, farmácia e laboratório; quartos particulares com casa de banho privativa, balneários públicos e alojamento para o pessoal. 

Para sustentar o funcionamento do hospital, a Misericórdia contava com: - apoio da Junta Geral do Distrito, nos termos acordados; - um subsídio anual de 10 000$00 da Câmara Municipal ; - Juntas de Freguesia, 3 000$00 destinados ao dispensário; 
- "parcos" rendimentos próprios da Misericórdia.

Poucos anos mais tarde, escreve o Dr. José Albino Ferreira: “O Castelo que fora de grande poder defensivo contra os Mouros e a capela de N. S. da Guia bom farol para os navegantes, deram lugar a novas fortalezas contra as doenças, especialmente a tuberculose”.

Em 1961 o Hospital, que se tornara exíguo e inadaptado às exigências da moderna cirurgia, teve obras de restauro e remodelação (sob alçada do empreiteiro Alípio Pereira, da Cheira) que foram solenemente inauguradas em 17 de Setembro. Nesta data foi também descerrada a lápide que deu o nome de Bissaya Barreto à rua em frente do Hospital e do Preventório.

-------
(1) A 2 de Fevereiro de 1928 reuniu a Irmandade de N. Sª da Guia para aprovar os estatutos que instituiriam a Misericórdia na vila de Penacova. Foram aprovados por unanimidade. Assinaram a acta o Juiz, Padre António Pinto e os seguintes Irmãos: Dr. Daniel Silva, Dr. Luís Duarte Sereno, Albino dos Santos Júnior, Joaquim Correia de Almeida Leitão, Joaquim Augusto de Moura Cabral e Gualter Pereira Viseu.

(2) Manuel Ferreira Sales Guedes foi Presidente da Câmara de Penacova de 5 de Novembro de 1936 até finais de 1937, sucedendo a José de Gouveia Leitão. Pertenceu à Mesa da Misericórdia, quando era Provedor o Dr. Luís Duarte Sereno. O seu mandato não foi mais longo porque entretanto saiu uma lei que proibia os Médicos Municipais, ou qualquer outro funcionário municipal, de ocupar a Presidência da Câmara. Sales Guedes era natural de Poiares (Régua).

David Almeida

Fonte: Patrimónios de Penacova – J. Leitão Couto e David Almeida, 2012








sábado, novembro 16, 2024

Reis Torgal: livro 𝙑𝙞𝙜𝙞𝙖𝙨 𝙙𝙖 𝙄𝙣𝙦𝙪𝙞𝙨𝙞çã𝙤 premiado


A Academia Portuguesa da História (APH) premeia, anualmente, 10 trabalhos publicados nesta área do saber. A lista dos 10 premiados (2024) acaba de ser divulgada. Entre eles, destacamos o Professor Doutor Luís Reis Torgal (1) que venceu o Prémio Joaquim Veríssimo Serrão / Fundação Engenheiro António de Almeida, pela obra Vigias da Inquisição, trabalho que analisa o processo “paradigmático” de Manuel Fernandes Vila Real.(2) 

Os restantes premiados foram:

Prémio Lusitânia: Do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975 – Episódios menos conhecidos, de Irene Flunser Pimentel. 

Prémio Gulbenkian/História da Presença de Portugal no Mundo: Parecer e Ser: Excursus Vital de D. António Paes Godinho, Bispo de Nanquim, de José António Falcão

Prémio Gulbenkian/História Moderna e Contemporânea: O Bobo e o Alquimista: Deformidade Física e Moral na Corte de D. João III,  de David Soares. 

Prémio Gulbenkian/História da Europa Agostinho Barbosa. L’attività spirituale del giurista e sacerdote portoghese nella Villa e Corte di Madrid, de Massimo Bergonzini.

Prémio Augusto Botelho da Costa Veiga: Segredos da Beja Romana, de José d’Encarnação. 

Prémio EMEL (Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa): Altares da Memória: o advento das micro-histórias na periferia das periferias, de Assunção Melo, 

Prémio CTT/D. Manuel I “Direitos Humanos em Portugal: História e Utopia – Das Origens à Época Contemporânea” Susana Mourato Alves-Jesus 

Prémio Câmara de Oeiras/Octávio da Veiga Ferreira: A Metalurgia do Povoado de Pragança, Cadaval, no Contexto da Idade do Bronze – I Idade do Ferro na Estremadura, de Ana Ávila de Melo.

O Prémio Santa Casa da Misericórdia de Braga/Dr. João Lobo, Amélia de Leuchtenberg: Imperatriz do Brasil, Duquesa de Bragança, de Cláudia Thomé Witte.

Da lista de galardões apenas aguarda deliberação o Prémio Pina Manique, que distingue obras sobre o período do Iluminismo à Revolução Liberal.

A entrega dos prémios será no próximo dia 4 de Dezembro, pelas 15:00, no Palácio dos Lilases, em Lisboa, numa sessão que evocará Luís de Camões, onde a historiadora Isabel Almeida proferirá uma oração de sapiência intitulada “Camões e a Incerteza”.

-------

(1) Luís Reis Torgal é professor catedrático aposentado da Universidade de Coimbra e membro fundador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra (CEIS20). Publicou diversas obras e artigos sobre vários temas de várias épocas, entre elas o tempo do Estado Novo. Neste âmbito destaca-se a obra Estados Novos, Estado Novo (Coimbra: Imprensa da Universidade, 2009). 

(2) Sinopse (Bertrand): "Depois de experiências como militar e financista, Vila Real partiu para França em 1638, onde teve um papel importante em apoio às embaixadas de Portugal e desenvolveu um labor intenso como escritor ao serviço da Restauração.

Colecionador de livros, Vila Real regressou a Portugal em 1649, na comitiva do conde da Vidigueira, trazendo consigo um conjunto de obras, algumas delas proibidas pela Censura. O rei D. João IV, que terá concedido a Vila Real o título de «real cavaleiro fidalgo» da sua Casa, estava para o enviar em nova missão, em reconhecimento pelos serviços distintos que prestara em França ao serviço de Portugal, quando o Santo Ofício o prendeu por ser um «dos que leem e retêm livros de hereges ou de alguma ímpia seita».

A Inquisição, «Estado dentro do Estado», tinha como alvo preferencial os cristãos-novos e os judeus, mas estendia também as suas garras a todas as «heterodoxias» e a todos os «maus costumes». A prisão de Vila Real revela as lutas entre os poderes, da Coroa e da Igreja, e mostra como era impossível ter-se uma «outra cultura» em Portugal, sobretudo se ela afirmasse ou fizesse sobressair ideias que fossem contrárias à fé católica oficial.

E nem os cristãos-novos que apoiaram, economicamente e através da ação diplomática, a Coroa portuguesa escapavam ao castigo e execução pela Inquisição por, alegada ou efetivamente, «judaizarem», como sucedeu no processo paradigmático de Manuel Fernandes Vila Real. "


terça-feira, outubro 22, 2024

Tumultos populares: Raiva (1917) e Penacova (1918)


O lançamento de impostos tem, ao longo de todos os tempos e por toda a parte, gerado grandes revoltas e levantamentos populares. No nosso concelho, são conhecidas a “Revolta dos Sarreiros”, nos finais do século XIX e a “Revolta do Azeite” e a “Revolta dos Barqueiros”, em 1921, associadas ao imposto “Ad valorem”. Destes acontecimentos já o Penacova Online deu conta. 

Hoje, vamos fazer referência a acontecimentos de inícios de 1918 que poderíamos intitular de "Tumultos dos Industriais" relacionados com o lançamento de colectas de contribuição industrial. Também, no contexto das graves carências alimentares durante a Guerra 1914-1918, trazemos aqui a notícia da "Revolta da Raiva". Estas duas ocorrências ficaram registadas no jornal "Ecos de S. Pedro de Alva".

"Com o deflagrar da Grande Guerra acentuaram-se as debilidades que o país apresentava no que respeitava à produção de bens alimentares, nomeadamente dos cereais. Os preços aumentaram, começaram a aparecer fenómenos de açambarcamento e de contrabando. 

Por fim, depois do inverno de 1916-1917, a fome fez a sua aparição. Nesse inverno, os Aliados tinham reforçado o bloqueio à Alemanha, tendo esta reagido violentamente, coma guerra submarina no Atlântico, procurando cortar o abastecimento aos países aliados.

Em todo o lado faltavam matérias-primas e alimentos. Todos os países, beligerantes ou não, mergulharam no caos. Uns mais que outros, mas a maioria, como Portugal, sofreram uma grave crise de subsistências, inflação e fome, acompanhadas por uma crescente agitação operária e popular, greves, motins de rua, insurreições militares e revoluções." Cf. Arnold Arie Van Rossum, "A questão das subsistências no Porto, no período da Grande Guerra, 2011"

Transcrevemos as notícias publicadas por aquele jornal: 

Subsistências 1917: Agitação popular na Raiva 

O povo que luta com dificuldades para angariar os magros centavos para comprar milho, chegava à Raiva, onde esta região se costuma abastecer, e não o encontrava à venda. 

Constando que naquela povoação havia multo milho armazenado e que se negava o venda ao público, para lhe darem outro destino, e não se sujeitarem ao preço da tabela, ultimamente decretada para todo o país, medida muito acertada, o povo da freguesia de Oliveira do Mondego foi ali e verificou que existiam mais de 10  000 alqueires! Os sinos da matriz, sinetas das capelas das freguesias do Oliveira, Travanca e S. Pedro d'Alva tocaram a rebate no dia 24 e 25 do mas findo, aparecendo na Raiva milhares de pessoas. 

Para Oliveira foi uma imensidade de sacos sob a responsabilidade de pessoas idóneas, mas sem ser do acordo com o dono do milho, o que não achamos justo. 

Porque facilitasse ao povo a venda do milho pelo preço da tabela e se o comerciante não concordasse, então usassem da violência em último extremo, porque a prudência foi sempre em todos os tempos uma “senhora” multo respeitada. 

Qual o resultado? 

Veio uma força de cavalaria e guarda Republicana, que fez conduzir outra vez as sacas com milho para a Raiva, com a promessa de ali ser vendido pelo preço da tabela na próxima quinta feira. 

Concorreu também muito povo da freguesia de S. Pedro d'Alva com o digno regedor José Correia de Brito à frente, que pela sua prudência conduziu o povo de forma a mais uma vez provar que é ordeiro, tendo a felicidade de dar com um homem muito delicado, que comandava a força militar, evitando assim, quem sabe, muitas desgraças. Lamentamos sempre casos desta natureza, mas é bom que todos se compenetrem que o povo menos favorecido da sorte precisa auxílio e não que o explorem.                                        

                                                *  *  *

A propósito deste lamentável acontecimento, têm vindo a esta redacção muitas pessoas pedir que tornemos bem público o motivo do levantamento do povo, que deseja ser ordeiro, mas que não quer ser prejudicado como o foi no ano findo.

Que o povo dos lugares da Paredes e Raiva, foram os que mais sofreram com a falta e carestia do milho, tendo de procurar milho ou farinha a uma distância de 20 quilómetros, nas moendas do Feijoal, no concelho de Arganil. E quantas vezes ali foram e nem uma nem outra coisa traziam? E quanto valia o tempo perdido? 

Todavia sabiam, que à porta lhe passavam  centenares de carros de milho, que metiam em barcas e lá iam Mondego abaixo em direcção a Coimbra! 

E para onde ia esse milho? 

Despachado para as estações mais próximas do mar e dali era encaixotado e metido em navios como vidraça, e uma  vez em  Vigo, os açambarcadores recebiam por cada alqueire uma libra em ouro e lá ia para a Infame Alemanha! 

É isto que o povo declara, e a ser assim, é um crime do alta traição e lesa pátria, estar a auxiliar-se quem nos está sugando o sangue, roubar-nos milhares de vidas e a cavar a nossa autonomia que tanto custou aos nossos antepassados.

Sendo assim, o povo tem razão; cremos que seja, porque o ano findo foi fértil em milho em todo país, que chegava e de sobra para o consumo do continente, sem precisar-se de o importar das nossas possessões.

Pertence ao Governo tomar medidas enérgicas, que o momento é terrível. 

 

Tumulto 

No dia 28 do mês de Dezembro findo, um grande número de pessoas das freguesias de Lorvão e Figueira, apresentaram-se na repartição de Finanças de Penacova, ao que parece, com o fim de reclamar perante o sr. Almeida e Sousa, digno secretário de finanças, contra o lançamento de algumas colectas de contribuição industrial. 

Recebidos por sua ex. com toda a urbanidade, explicou-lhes a maneira legal do lançamento das referidas colectas e indicou-lhes o melhor modo de fazerem as suas reclamações, mas o povo fechando os ouvidos, partiram, à saída, os vidros duma porta da repartição. 

Compareceu a Guarda Republicana e o sr. António Casimiro, digno secretário da administração, que conseguiram dispersar o grupo, sem haver felizmente desgraças a lamentar. 

Se há movimentos populares que se justificam pelo fim que visam e pela ordem como são feitos, outro tanto não sucedeu com o actual, em que certamente os seus promotores se deixaram embarrilar por aqueles que os queriam explorar.

O povo deve organizar os seus movimentos com ordem e em defesa de causas justas, tendo em vista os interesses de todos.

Só deverá fazer uso da força, e então, ser enérgico, quando as suas justas e ordeiras reclamações não forem atendidas. 

Se nas repartições do concelho há empregados atenciosos que sabem  avaliar o esforço e trabalho do contribuinte, outro tanto não sucede com alguns, que além de escamotearem o povo ainda o tratam com maneiras bruscas e pouco atenciosas. Oxalá que estes aproveitem com o caso sucedido; que fiquem sabendo que o povo é soberano, que estão ali para o atender e tratar com urbanidade seja qual for a sua condição, por isso recebem do Estado os seus vencimentos, que o mesmo povo paga. "

sábado, outubro 05, 2024

No 5 de Outubro evocar António José de Almeida

A 31 de Outubro de 1937 era inaugurado em Lisboa o monumento a António José de Almeida, oito anos após a sua morte. Um projeto do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro e do escultor Leopoldo de Almeida. 

A revista "Ilustração" publicou uma reportagem destacada sobre esta prestigiosa homenagem.

Durante o Estado Novo (1933-1974), o monumento acabaria por se transformar num local de "romaria" da oposição ao regime, em datas simbólicas como o 5 de outubro. Nessas ocasiões, a homenagem seguia muitas vezes para junto do jazigo de António José de Almeida no Cemitério do Alto de S. João.

Revista "Ilustração" nº 286, 16 de Novembro de 1937




𝓐𝓷𝓽ó𝓷𝓲𝓸 𝓙𝓸𝓼é 𝓭𝓮 𝓐𝓵𝓶𝓮𝓲𝓭𝓪
António José de Almeida nasceu em Vale da Vinha a 17.07.1866 e faleceu em Lisboa a 31.10.1929.

Formado em Medicina pela Universidade de Coimbra (1895) aderiu logo nessa época ao Partido Republicano e em 23 de Março de 1890 publicou na folha académica Ultimatum o artigo «Bragança, o último», que lhe custou a pena de três meses de prisão.

Exerceu medicina em Angola e depois, em São Tomé e Príncipe até 1903, após o que estagiou em Paris e regressou a Lisboa onde abriu o seu primeiro consultório, na Baixa, primeiro na Rua Áurea, que depois transferiu para Largo do Camões nº 6 – 1º (hoje, Praça Dom João da Câmara), onde ganhou fama de médico dos pobres.

A sua carreira política foi intensa. Começou por ser eleito deputado pelo círculo oriental de Lisboa (1906) e integrou a Maçonaria (1907) ainda antes da proclamação da República. 

Exerceu depois as funções de Ministro do Interior do Governo Provisório (1910-1911). Em 1912 fundou o Partido Republicano Evolucionista. Foi Chefe do Governo da chamada «União Sagrada» e Ministro das Colónias (1916-1917) e ainda Presidente da República (1919-1923).

É de destacar o seu papel na reforma do Ensino Superior, sobretudo no estudo da medicina e na criação das Universidades de Lisboa e do Porto, bem como a sua visita ao Brasil em Setembro de 1922 por ocasião do Centenário da  Independência daquele país, de que Luís Derouet fez reportagem: Duas Pátrias – O que foi a visita do Sr. Dr. António José de Almeida ao Brasil.

António José de Almeida colaborou em vários periódicos e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). Em 1934, foram coligidos os seus principais artigos e discursos e publicados em 3 volumes sob o título Quarenta anos de vida literária e política

domingo, setembro 15, 2024

In memoriam: Joaquim Leitão Couto (15.9.1940 - 25.6.2024)

Completaria hoje, 15 de Setembro, 84 anos de vida o Dr. Joaquim Leitão Couto. Tive a honra e o privilégio de com ele conviver quer no campo político, quer enquanto co-autor de algumas das suas obras publicadas. 

O Penacova Online presta aqui e agora uma simples homenagem a esta figura ilustre do nosso concelho, publicando alguns recortes de imprensa online e impressa, aquando do seu falecimento, que muito dizem da sua pessoa como médico, como político e como grande amigo de Penacova. 


In SPOT- SOCIEDADE PORTUGUESA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA

Faleceu na terça-feira, dia 25 de junho, aos 83 anos, o Dr. Joaquim Leitão Couto, nascido em Viseu, em 1941 [NR:1940]. Foi um notável médico cuja vida e carreira deixaram marcas profundas, criando um legado de serviço e dedicação ao próximo que será lembrado por muitos.

Desde cedo, o Dr. Joaquim Leitão Couto demonstrou uma vocação para o serviço comunitário e uma paixão pela Medicina. Após se formar, radicou-se em Coimbra, onde se destacou como Assistente na Faculdade de Medicina e como chefe do Serviço de Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Sob sua liderança, o serviço de Ortopedia tornou-se uma referência na região, graças à sua dedicação incansável e à sua busca pela excelência no atendimento aos pacientes.

O Dr. Joaquim Leitão Couto não se limitou apenas à sua prática médica. O seu compromisso com o bem-estar das pessoas levou-o a Penacova, terra da sua esposa, falecida em 2009. Lá, tornou-se uma figura central, envolvido em várias instituições locais, incluindo os Bombeiros e a Santa Casa da Misericórdia. A sua dedicação a Penacova era evidente e incansável, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da comunidade, tanto no âmbito social quanto cultural.

Além destas atividades, o ortopedista também se envolveu ativamente na vida política e cultural de Penacova. Entre 1979 e 1982, presidiu a Câmara Municipal, onde trabalhou incansavelmente para o progresso do concelho. Mais tarde, assumiu a presidência da Assembleia Municipal, continuando a sua missão de servir a comunidade. A sua paixão pelo património levou-o a ser um dos grandes mentores do Museu do Moinho Vitorino Nemésio, na Portela de Oliveira, uma obra que reflete o seu amor pela história e pela cultura local.

Em reconhecimento à sua contribuição inestimável para a comunidade, o Dr. Joaquim Leitão Couto foi distinguido com a Medalha Municipal de Honra de Penacova, em 2022, durante as comemorações do feriado municipal. Esta distinção, a mais alta do município, é um testemunho do impacto duradouro do seu trabalho e da sua dedicação à terra que amava.

O desaparecimento do Dr. Joaquim Leitão Couto marca o fim de um ciclo de uma vida dedicada ao serviço dos outros. Deixa uma herança de bondade, conhecimento e serviço que continuará a inspirar todos aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer.

Obrigado, Dr. Joaquim Leitão Couto, pela sua dedicação e ensinamentos que deixa.

Até sempre


In CORREIO DA BEIRA SERRA


O médico e antigo presidente da Câmara Municipal de Penacova Joaquim Leitão Couto faleceu esta madrugada. Natural de Viseu, vivia em Coimbra e tornou-se, ao longo dos anos, uma referência incontornável de Penacova, concelho de onde era natural a esposa, falecida em 2009.

Assistente da Faculdade de Medicina, foi chefe de Serviço do Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e manteve sempre uma forte intervenção na sociedade civil, o que o levou a conquistar a presidência da Câmara Municipal de Penacova entre 1979 e 1982. Além disso, também presidiu à Assembleia Municipal.

Em Penacova, Joaquim Leitão Couto deu muito de si, associando-se aos Bombeiros, à Santa Casa da Misericórdia e a outras instituições. Publicou também várias obras de várias obras sobre o património concelhio. Foi um dos mentores do Museu do Moinho Vitorino Nemésio, na Portela de Oliveira, do qual foi um dos grandes mentores. Uma obra que o Município de Penacova reconheceu, distinguindo Joaquim Leitão Couto, em 2022, nas comemorações do feriado municipal, com a atribuição da Medalha Municipal de Honra, a mais alta distinção do município.


In CM-PENACOVA


Joaquim Leitão Couto foi presidente da câmara de Penacova entre 1979 e 1982.

Natural de Viseu, viveu em Coimbra, mas com um carinho especial pelo concelho de Penacova, de onde era natural a esposa, falecida em 2009.

Na carreira médica foi chefe do serviço de ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra e assistente da Faculdade de Medicina.

Na gestão autárquica deixou a sua marca em vários domínios. Foi autor e co-autor de várias publicações relacionadas com o património local: "A rota dos moinhos e espaços de lazer nos rios", "Patrimónios de Penacova", "De Coimbra a Lorvão pela estrada verde", entre outros.

Foi responsável pela recolha e restauro de dezenas de peças que hoje fazem parte do espólio do Museu do Moinho Vitorino Nemésio.

Em 1980 organizou na Portela de Oliveira uma grande homenagem ao escritor açoriano que juntou vultos da literatura como Natália Correia e David Mourão Ferreira.

Em 2022, foi distinguido com a Medalha de Honra, a mais alta condecoração municipal.


In DIÁRIO DE COIMBRA

Terça, 25 de Junho de 2024

Faleceu o médico e antigo autarca Joaquim Leitão Couto

O médico Joaquim Leitão Couto faleceu esta madrugada. Natural de Viseu, vivia em Coimbra e tornou-se, ao longo dos anos, uma referência incontornável para as gentes de Penacova, concelho de onde era natural a esposa, falecida em 2009.

Assistente da Faculdade de Medicina, foi chefe de Serviço do Ortopedia dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Uma dedicação ao próximo que ultrapassou as fronteiras da medicina e, além de uma forte intervenção na sociedade civil, o levou a assumir uma intervenção política ativa, assumindo a presidência da Câmara Municipal de Penacova entre 1979 e 1982, município onde também presidiu à Assembleia Municipal.

Penacova, uma terra onde Joaquim Leitão Couto deu muito de si, associando-se aos Bombeiros, à Santa Casa da Misericórdia e a outras instituições. Um concelho onde também revelou a sua enorme paixão pelo património, plasmada na publicação de várias obras e na criação de outras, como o Museu do Moinho Vitorino Nemésio, na Portela de Oliveira, do qual foi um dos grandes mentores.

Uma obra que o Município de Penacova reconheceu, distinguindo Joaquim Leitão Couto, em 2022, nas comemorações do feriado municipal, com a atribuição da Medalha Municipal de Honra, a mais alta distinção do município.




In AS BEIRAS

A Câmara de Penacova vai decretar três dias de luto municipal, a começar hoje e até 27 de junho, pelo falecimento de Joaquim Leitão Couto, antigo presidente da Câmara Municipal de Penacova, que desempenhou funções entre 1979 e 1982.

Em comunicado partilhado nas redes sociais do município, é referido que Joaquim Leitão Couto tinha, nestes anos, contribuído para o desenvolvimento sustentado do concelho, tendo dado a maior notoriedade a Penacova nas mais diversas áreas”.

Desta forma, o município expressa o seu profundo pesar, bem como a mais sentida solidariedade para com os seus familiares e amigos, refere a mesma nota

A bandeira municipal será colocada a meia haste em todos os edifícios públicos municipais em que a mesma seja ou deva ser hasteada, recomendando-se ademais às freguesias do concelho de Penacova, através das respetivas juntas/uniões, que procedam de igual modo.


In COMARCA DE ARGANIL





OBRAS REGISTADAS NA BNP



1 - Patrimónios de Penacova : apontamentos para a sua valorização e divulgação / Joaquim Leitão Couto, David Almeida ; pref. Nelson Correia Borges. - 3ª ed. - Penacova : Câmara Municipal de Penacova, D.L. 2020. - 118 p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-972-99628-2-0

2 - De Coimbra a Lorvão pela estrada verde / Joaquim Leitão Couto, David Gonçalves de Almeida ; colab. António José Silva Calhau... [et al.]. - [S.l. : s.n.], D.L. 2020 : Fig - Indústria Gráfica. - 110 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-54949-0-3

3 - Patrimónios de Penacova : apontamentos para a sua valorização e divulgação / Joaquim Leitão Couto, David Almeida ; pref. Nelson Correia Borges. - 2ª ed. - Penacova : Câmara Municipal de Penacova, D.L. 2017. - 118 p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-972-99628-2-0

4 - Os sãopedralvenses da diáspora / Alfredo Santos Fonseca ; pref. Joaquim Leitão Couto. - [S.l.] : Alfredo Santos Fonseca, 2012. - 207, [2] p. : il. ; 23 cm

5 - Patrimónios de Penacova : apontamentos para a sua valorização e divulgação / Joaquim Leitão Couto, David Almeida ; pref. Nelson Correia Borges. - Penacova : Câmara Municipal, D.L. 2012. - 118 p. a 2 colns : il. ; 22 x 25 cm. - Bibliografia, p. 113-115. - ISBN 978-972-99628-2-0

6 - Vila Nova do Couto de Baixo e a Quinta ao Pinheirinho / Joaquim Leitão Couto. - [Coimbra] : J. L. Couto, D.L. 2010. - 59 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 55

7 - Moinhos : moinhos de Rodízio e Azenhas / Adérito Medeiros Freitas ; [pref. Francisco Baptista Tavares, Joaquim Leitão Couto]. - Valpaços : Câmara Municipal, 2009. - 2 v. (311 ; 316 p.) : il. ; 24 cm. - Contém bibliografia

8 - Os mosteiros e o vinho / Joaquim Leitão Couto. - Coimbra : J.L. Couto, 2007 ([Figueira da Foz] : Offsetarte). - 72 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 71-72

9 - A rota dos moinhos e os espaços de lazer nos rios / Joaquim Leitão Couto. - Penacova : Câmara Municipal, 2005. - 31 p. : il. ; 25 cm

10 - Museu do Moinho Vitorino Nemésio : contributo para um glossário de molinologia / Joaquim Leitão Couto, Mafalda Sofia Pereira ; fot. Amável Ferreira... [et al.]. - 2ª ed. - Penacova : Câmara Municipal, 2005. - 80 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 79-80

11 - Museu do Moinho Vitorino Nemésio : contributo para um glossário de molinologia / Joaquim Leitão Couto, Mafalda Sofia Pereira. - Penacova : Câmara Municipal, 2001. - 80 p. : il. ; 24 cm. - Bibliografia, p. 79-80

12 - A rota dos moinhos e os espaços de lazer nos rios / Joaquim Leitão Couto. - Penacova : Câmara Municipal, 2000. - 31 p. : il. ; 24 cm



sexta-feira, agosto 09, 2024

Personalidades (6): Alípio de Sousa Borges (1932-1997)


Alípio Sousa Borges, filho de António Borges e de Bigadaila de Jesus Sousa, nasceu em Lorvão no dia 26 de Agosto de 1932, mas desde tenra idade veio para Penacova, onde casou e faleceu em Dezembro de 1997.

Electricista de profissão, trabalhou na Companhia Eléctrica das Beiras (que mais tarde viria a integrar o grupo EDP), tendo passado também pela Câmara Municipal no início da sua carreira.

Apesar de bom profissional, foi no campo da Música e do Teatro de Revista que se notabilizou. Em Penacova deixou a sua marca indelével. Também fora do concelho, se afirmou como credenciado instrumentista.

É através da entrevista que deu ao jornal Nova Esperança, em Junho de 1986, que nos chegam alguns pormenores da sua vida artística.

Conta Alípio Borges que sempre gostara de música - em especial da harmonia, mais do que propriamente dos aspectos melódicos - e que já uma sua bisavó fora uma mulher voltada para esta arte.

Recorda igualmente que convivera com Raimunda de Carvalho, um nome grande da música, e que desde muito cedo tivera o privilégio de lhe mudar as folhas da partitura quando ela tocava piano. Com esta exímia cultora da arte musical e com o Mestre Eliseu, de Coimbra, aprendeu solfejo durante a adolescência e juventude (1944-49). Estudou também teoria musical, harmonia e composição. Com Alípio Costa Alvarinhas Miguel (Catarino) aprendeu saxofone, entrando pela sua mão para a Filarmónica. Tocou também saxofone-alto na Orquestra do Clube Desportivo Penacovense, dirigido pelo Mestre Eliseu. Por este nome importante do panorama musical conimbricense foi também convidado, já com carteira de músico, para fazer parte da Orquestra da FNAT (instituição que deu origem ao INATEL). Músico multifacetado passou por muitos Grupos de Baile, entre os quais “Os Alegres” e o afamado “Ases do Ritmo”. Foi ainda, durante muitos anos, Mestre das Filarmónicas de Penacova e de S. Pedro de Alva.

Outra faceta de Alípio Borges e que marcou gerações de penacovenses foi o teatro. Ao Nova Esperança contou que se devera à acção de Raimunda Martins de Carvalho, enquanto dinamizadora do Grupo Orfeónico Católico Penacovense, bem como ao Padre Firmino Carvalhais, ao cenógrafo Pepe Iglésias[1] e ao Mestre Eliseu, no Grupo de Variedades da FNAT, a sua entrada no mundo do teatro de revista que culminaria com o Grupo de Teatro de Penacova, onde, como referiu foi "actor amador, electricista, carpinteiro de cena, músico”. Enquanto criador dos textos, poeta[2], actor e músico (autor e executante), prestou um inestimável serviço à cultura do nosso concelho. Na entrevista ao NE, apesar de ter “absoluto conhecimento dos seus limites” e ter “pena de muitas vezes não ter alcançado os objectivos”, reconheceu que fizera “alguma coisa pela cultura nesta terra”.

O Grupo de Teatro e Variedades da Casa do Povo de Penacova apresentou em 2019 e 2020, em vários locais do concelho, o espectáculo “Recordar é Viver”, inspirado na obra de Alípio Sousa Borges. Além de recuperar textos e músicas do Mestre também, ao nível da cenografia, foram utilizados alguns trabalhos do início da década de cinquenta do século passado.

No campo da intervenção social, foi Presidente da Junta de Freguesia de Penacova nos anos 60 e durante muitos anos pertenceu aos Bombeiros Voluntários de Penacova, onde foi membro da Direcção e Ajudante de Comando do Quadro Honorário.

David Almeida
--------------
[1] Fundador do Grupo de Teatro “Os Rouxinóis”, fundado em 1948 na Anadia, por José Luís Iglésias, também conhecido por Zeca Iglésias, de seu nome completo, José Luís Fernandes Llano Iglesias.

[2] Ao leme da Barca Serrana/À vara, a remo ou à vela/Fosse ele, noite ou fosse dia/Guiava-se à sua boa estrela/Chamada Senhora da Guia

terça-feira, julho 16, 2024

O(s) porquê(s) do 17 de Julho...


Foi na sessão de 28 de Maio de 1977 que a Assembleia Municipal de Penacova, no uso da faculdade prevista no Decreto n.º 394/74 de 28 de Agosto, deliberou que o feriado municipal, que em tempos longínquos teria sido o Dia de S. João, fosse o dia do aniversário do nascimento de António José de Almeida.

Aquele órgão do Poder Local, onde estavam representadas todas as correntes políticas mais significativas do concelho, aprovou por unanimidade a data de 17 de Julho, proposta pelo Executivo Municipal.

Em declarações ao Notícias de Penacova, em 1977, o Dr. Artur Manuel Sales Guedes Coimbra, à época Presidente da Câmara, apresentou alguns dos motivos da predileção por aquela efeméride, referindo que a Câmara entendera ser aquela data “como a mais capaz, não só de reunir um consenso geral como também mais capaz de realçar um importante factor histórico da luta em Portugal pela República e pela Democracia.”

Explicou ainda que haviam sido consideradas outras datas como o dia de S. João e o dia de Nossa Senhora do Monte Alto, mas que haviam sido “postas de parte” pela circunstância de serem “Dias Santos para a Igreja Católica e que sendo um Feriado uma data histórica ou política”, se entendera “não fazer coincidir os dois poderes.”

Outras datas foram equacionadas, por exemplo a data de atribuição do foral por D. Sancho I “mas foi impossível conseguir descobrir a data em que se processou tal acontecimento.” Ainda a data da batalha do Buçaco, parte da qual se desenrolou no nosso concelho, foi alvitrada,”mas julgou-se que diria mais respeito ao concelho da Mealhada”.

“Chegou-se assim à data de 17 de Julho que representa o aniversário de nascimento de António José de Almeida que foi o mais ilustre penacovense no processo político que desde a monarquia tem procurado instaurar e consolidar a República e a Democracia em Portugal. Orador brilhante e político esclarecido, foi um homem ouvido e respeitado aquém e além fronteiras, admirado e considerado por todas as correntes de opinião que tinham e têm por base a instauração de um regime republicano e democrático”, justificou Artur Coimbra, ao mesmo tempo que vincou o facto daquela proposta da Câmara Municipal pretender ser “uma homenagem do Povo deste concelho, sem dúvida, democrático e republicano, à mais alta figura de sempre”, ao mesmo tempo que visava ainda “um chamar de atenção a todos os penacovenses para essa época histórica, reavivando o nome do Dr. António José de Almeida no espírito de cada um de nós e no conhecimento de todos aqueles a quem não foram dadas as possibilidades de pelo menos terem estudado um pouco de história de Portugal.”

quinta-feira, julho 04, 2024

Efemérides (1): 120º aniversário da morte de Alves Mendes


Falamos hoje, 4 de Julho, de Alves Mendes, passados que são 120 anos após a morte deste penacovense ilustre que, no nosso entender, a seguir a António José de Almeida, mais longe levou  o nome de Penacova.  

António Alves Mendes da Silva Ribeiro nasceu em Penacova no dia 19 de Outubro de 1838, filho de Joaquim Alves Ribeiro e Joaquina Mendes da Silva. Faleceu no Porto no dia 4 de Julho de 1904.

Em Coimbra frequentou o Liceu (1853 a 1858) e o Curso Superior do Seminário (1856 a 1858). Também nesta cidade cursou Teologia na Universidade (1859 a 1863), formando-se a 8 de Julho de 1863.

Em 17 de Novembro do referido ano foi nomeado Cónego da Sé do Porto. No Seminário Diocesano da Invicta foi professor durante doze anos, regendo a cadeira de Pastoral e Eloquência Sagrada.

“Do modo como ele aí ministrava o ensino há ainda saudosa memória em quantos foram seus discípulos” – escreveu Manuel M. Rodrigues na revista O Ocidente de 21 de Julho de1888. Também J. Alves das Neves (in Autores da Beira Serra) refere que os seus discursos, “românticos pelo verbalismo”, eram “clássicos pela correcção linguística”. Também Mendes dos Remédios reconheceu que Alves Mendes fora um “burilador de frases e um joalheiro de linguagem”.

Por ocasião da trasladação dos restos mortais de Alexandre Herculano para o Mosteiro dos Jerónimos (1888), que se encontravam no jazigo da família Gorjão, em Santa Iria da Azóia, o jornal Pontos nos ii, escreveu sobre Alves Mendes que “o verbo entusiástico do eloquentíssimo orador elevou-se correcto, artístico, literário, ora bramindo de vibrações metálicas, ora suspirando de maviosíssimos acordes, assombrando quantos o ouviram, petrificando quantos o escutavam, crentes e não crentes – os apóstolos da religião de Deus, como os apóstolos da religião do Belo!”

Era habitual ser Alves Mendes a fazer os grandes discursos nas comemorações anuais da Batalha do Buçaco. Conta-se que passou a ser tradição, no final daquelas cerimónias, montado na égua branca do “ti Joaquim Cabral Velho” e acompanhado pelo compadre José Craveiro, rumar a Penacova, onde no dia seguinte “abria as quatro sacadas da sua casa” para receber os seus conterrâneos e admiradores que lhe iam apresentar as boas-vindas. Igualmente, sempre que ia pregar ou participar em cerimónias no Algarve, no Alentejo ou em Lisboa, aproveitava para, na passagem, descansar uns dias na sua terra natal, onde vivia a irmã Altina. Eram frequentes as visitas aos “Ribeiros”, seus primos, que viviam na Chã, e, de passagem, aproveitava também para entrar na Capela do Monte Alto.

Desta “figura eminente das letras portuguesas”, deste “burilador de frases” e “joalheiro da linguagem”, para citar as palavras de Alexandrino Brochado, além dos sermões, outras obras se encontram publicadas: Itália. Elucidário do Viajante (1878); O Priorado da Cedofeita (1881); Os Meus Plágios (1883); Tomista ou Tolista? (1883); Um Quadrúpede à Desfilada (1884); D. Margarida Relvas (1888) e D. António Barroso: Bispo do Porto (1899). Colaborou em imensas revistas literárias: Anátema, Caridade, Nova Alvorada, Correspondência do Norte, Braga-Bom Jesus, Cáritas, A Federação Escolar, Sobre as Cinzas, Kermesse, A Máquina, Filantropia e Fraternidade, entre outras. De referir ainda as suas interessantes crónicas de juventude publicadas na imprensa regional. No jornal O Conimbricense (nº 575, 29 de Agosto de 1857) escreveu, quando estudante em Coimbra, um interessante folhetim com o título “Umas Férias em Penacova”.

O Cónego Alves Mendes foi Provedor da Irmandade das Almas, na Rua de Santa Catarina, no Porto, e pertenceu às Ordens da Trindade e do Carmo e às principais Irmandades daquela cidade.

Do Rei D. Carlos recebeu, em1902, a Mercê de Arcediago de Oliveira [do Douro]. Conta O Primeiro de Janeiro que, foi no final do Discurso no Mosteiro da Batalha que aquele monarca, ao endereçar-lhe felicitações, lhe comunicou também que o promovia, de Cónego da Sé Catedral do Porto, à dignidade de Arcediago da Sé portuense, com o título de “Arcediago de Oliveira”. Noticiou igualmente o Jornal de Penacova que na sua casa, na vila de Penacova, muitas pessoas o felicitaram por aquele reconhecimento. Na ocasião, também a Filarmónica Penacovense “executou, à sua porta e em casa, alguns trechos de música, surpresa que muito o penhorou e comoveu”.

Alves Mendes privou com Camilo Castelo Branco tendo, inclusivamente, desempenhado um papel decisivo no casamento tardio do escritor em 1888 e tendo mesmo sido testemunha oficial do acto.

De 1935 a 2001 foi Presidente Astral da Filial de Petropolis (Brasil) do Racionalismo Cristão. Daquela filial, onde se encontra a “Sala de Estudos Alves Mendes”, é também Patrono Espiritual (in racionalismocristao.org, acedido em 30/5/2011).

Morreu na Rua Alexandre Herculano, no Porto, onde residia, no dia 4 de Julho de 1904, sendo sepultado no cemitério do Prado do Repouso. No seu testamento deixou escrito que queria ter um funeral discreto, “sem o menor aparato fúnebre” que, conforme escreveu, “é uma vaidade miserável e vazia de sentido elevado e ponderoso.”

Escreveu o Primeiro de Janeiro, por ocasião da sua morte, que a fama de eminente orador se generalizara e radicara, podendo ser, com toda a razão, considerado como “uma das maiores ilustrações do púlpito português”.

O reconhecimento de Penacova consubstanciou-se, em1902, sendo Presidente da Câmara o Dr. Daniel da Silva, com a atribuição do seu nome a uma das principais ruas do centro histórico da vila: Rua do Arcediago Alves Mendes. 


quarta-feira, maio 22, 2024

Retrospectiva do Cinquentenário do 25 de Abril em Penacova

Vídeo de Indalécio Simões 
ver original aqui 



Presidente da Câmara e Presidente da Assembleia Municipal 
depõem coroa de flores no Busto de António José de Almeida

Actuação dos Corais Divo Canto e Vox et Communio

Inauguração do mural de autoria de João Carpinteiro


José Alberto Costa, Álvaro Coimbra e Humberto Oliveira
 junto ao Memorial Combatentes do Ultramar

Alda Morgado, Técnica Superior da Câmara Municipal

Presidente da Câmara, Álvaro Coimbra

Presidente da AM, Humberto Oliveira

David Almeida - "Ecos da Revolução na Imprensa Local"

Representante do PS, Pedro Dinis

Representante do PSD, Mauro Carpinteiro

Representante da CDU, Álvaro Miranda

Actuação dos Corais Divo Canto e Vox et Communio

Actuação dos Corais Divo Canto e Vox et Communio


Momento de poesia por Humberto Matias

Momento de poesia por Ricardo Coelho 

Actuação das Filarmónicas de Lorvão, S. Pedro de Alva e Penacova









OUTRAS INICIATIVAS NO ÂMBITO DAS COMEMORAÇÕES 



Nesta iniciativa estiveram presentes as ex-Vereadoras Lúcia Veiga, 
Lurdes Amaro, Ana Faria e Fernanda Veiga. 
Não foi possível a presença de Fernanda Pimentel e Sandra Ralha; 
Esteve representada a família de Gracinda Barreirinhas, já falecida.