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20 fevereiro 2022

Terras de Penacova no "Portugal Antigo e Moderno" [3]: a vila de "Pena-Cóva"

 


Pinho Leal, publicou - entre 1873 e 1890 - a obra em 12 volumes intitulada «Portugal Antigo e Moderno», um dicionário sobre “todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal.” Aqui podemos encontrar muitas referências às principais localidades que hoje fazem parte do concelho de Penacova.

Já fizémos referência à vila de Farinha Podre e às localidades de Travanca e de S. Paio, bem como de Carvalho, Figueira de Lorvão, Friúmes, Lorvão, Paradela e Oliveira do Cunhedo. Hoje, é a vez da sede do concelho. 

“PENA-CÓVA” [assim aparece escrito] é vila e freguesia, cabeça do concelho do seu nome e comarca. Na província do Douro [à época], dista 18 quilómetros a N.E. de Coimbra, 20 da Mealhada, 18 da Lousã e de Mortágua, 12 de Farinha Podre, 6 de Santo André de Poiares e 220 de Lisboa. Tem 680 fogos (em 1757 tinha 397).

Refere o “Portugal Antigo e Moderno” que o concelho de Penacova, era formado pelas 9 freguesias, todas no bispado de Coimbra: Carvalho, Farinha Podre, Figueira de Lorvão, Friúmes, Lorvão, Oliveira do Cunhedo, “Pena-Cóva”, Sazes, e Travanca, num total de 2900 fogos. Chama a atenção para o facto de até 1855 ter só cinco freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Lorvão, Penacova e Sazes, totalizando 2100 fogos. Pinho Leal salienta que pertence a este concelho a antiquíssima povoação de “Gondolim” (Vila-Verde).

Refere-se que “D. Sancho I lhe deu foral, em Dezembro de 1192 e que  D. Afonso II o confirmou (em Coimbra a 6 de Novembro de 1219) e ainda que  D. Manuel lhe deu foral novo (em Lisboa a 31 de Dezembro de 1513).  “Foram seus donatários os condes de Odemira e, depois, os senhores de Tentúgal, duques do Cadaval”.

Penacova, refere Pinho Leal, “é uma das mais antigas povoações de Portugal, e talvez da península hispânica, o que se colige do seu próprio nome – Pen - que é cantábrico. Está a vila edificada sobre uma montanha (por cuja base passa o rio Mondego) patenteando a sua nobre vetustez nas muitas ruínas que foram outrora esplêndidas habitações, e tendo em tempos felizes, mais de trezentos fogos, está hoje reduzida a noventa e tantos.”

E prossegue: “Consta que, em tempos remotíssimos, teve um castelo, cujos vestígios se divisam em um escarpado monte, ao S. da vila, onde hoje está a Igreja matriz. Este monte é quási talhado a prumo sobre o Mondego mas, apesar disso, está coberto de oliveiras.”

De acordo com o padre Carvalho da Costa na sua “Chorographia” (diz Pinho Leal), “a primeira notícia d'esta vila data das contendas que os seus moradores tiveram com os monges de Lorvão, em 1105, as quais compôs o conde D. Henrique e diz que D. Sancho I a mandou povoar em 1193.”

No cartório de Lorvão, existia uma escritura de 1086 que era uma doação feita por Piniolo, àquele mosteiro, de uma morada de casas na vila de “Pena-Cóva” e uma vinha em “Ribellas”, que ele havia plantado e regado com o suor do seu corpo. Isto, para sustento dos monges que ali morarem (no mosteiro) e de todos os fiéis que ali concorrem. (…)

Aquando da publicação do “Portugal Antigo e Moderno” ainda existiriam os Paços dos Duques do Cadaval. As justiças de Penacova eram dependentes do ouvidor de Tentúgal e, depois, do corregedor de Coimbra.

Orago: Nossa Senhora da “Assumpção”. Era o Mosteiro de Santa Clara, de Coimbra, que apresentava o prior, que tinha 470$000 réis de rendimento. A Igreja matriz “é um templo vasto e muito decente, com nove altares (sete dos quais são dedicados a Nossa Senhora, nos seus diferentes mistérios.” Refere-se de seguida a Capela de N. Sª da Guia: “No âmbito outrora ocupado pelo castelo, existe a antiga capella de Nossa Senhora da Guia. É um “templozinho” pequeno e pobre e só com um altar. É tradição que esta ermida foi a primitiva Igreja paroquial da vila. Porém, como era pequena, e em sitio incómodo, se construiu, no século XVI, a Igreja actual.” [Não parece que esta informação esteja correcta. No entanto vem sendo referida com frequência].

Ainda sobre esta capela: “diz-se aqui que “Plácido Castanheira de Moura, contador-mor do reino, tinha muita devoção com esta Senhora da Guia, e quis mandar-lhe construir um bom templo; porém, como falecesse antes de realizar o seu desejo, deixou por testamento, à Senhora da Guia, umas fazendas que tinha n'esta vila, para que com o seu rendimento, se reconstruísse a capela, dando lhe maior amplitude.” o que não corresponde à versão de Alves Mendes, no Conimbricense de 1857.

A principal indústria do concelho, “é a navegação do Mondego, à qual se entrega a maior parte dos seus naturais, conduzindo do centro da província, para a Figueira da Foz, [ou vice versa] sal, milho, vinho, azeite, lenhas e outros géneros.”

Sobre a morfologia lê-se aqui que “a serra do Bussaco, atravessa este concelho, de Este a Oeste e, do mesmo modo, a serra de Coimbra. O Mondego corta-as ambas e recebe dentro do seu termo, as ribeiras da Vila, de “Gondolim” e de Lorvão, que todas nascem neste concelho, e a de “Poyares” que o atravessa. Também nele desaguam os regatos de Além do Rio, Abarqueira e Vale-Bom (o de Sazes, desagua na ribeira do Botão).”

23 setembro 2016

A TERCEIRA INVASÃO FRANCESA NAS TERRAS DE FARINHA PODRE (I)

Conta-se em S. Pedro de Alva que apenas um “coxo” pereceu às mãos dos Franceses aquando da 3ª Invasão. Todos os habitantes se teriam refugiado nas terras da margem direita do Mondego, deixando as casas vazias e os valores bem escondidos. Também se diz que só uma habitação foi incendiada na sede de freguesia.
No entanto, a fazer fé no relatório que o Arcipreste de Sinde redigiu em 9 de Maio de 1811 (em cumprimento do Aviso Régio de 25 de Março), na freguesia de Farinha Podre não foi assassinada apenas uma pessoa, mas vinte e cinco: 16 homens e 9 mulheres. Também as casas destruídas pelo fogo foram mais do que uma: em toda a freguesia terão sido trinta.



Temos à nossa frente uma cópia da relação “ou mapa fiel e resumido”, elaborado por aquele padre, que também era pároco de Midões, com vários quadros e colunas, mencionando os estragos, os incêndios, os mortos, o número de mulheres violadas… Dados que foram recolhidos nas 20 freguesias do arciprestado (do qual faziam também parte Paradela, Farinha Podre, Oliveira do Cunhedo, Travanca de Farinha Podre e S. Paio de Farinha Podre).
Em Farinha Podre sabemos, inclusivamente, o nome das pessoas assassinadas. Na sede da freguesia foram assassinados 3 homens e 3 mulheres e queimadas 11 casas.  Em Hombres, 5 homens e 3 mulheres e 10 casas destruídas.  Em Laborins, 2 homens mortos. No Carvalhal, 1 homem. Na Parada, 2 homens e 1 mulher. Em Vale da Vinha, 1 mulher. Na Ribeira, 2 homens. Na Cruz do Soito, 1 homem. No Silveirinho, 1 mulher. No cômputo dos 25 mortos nesta freguesia não se incluem os que acabaram por morrer mais tarde em virtude dos maus tratos sofridos.
Imaginem-se as horas de angústia e de terror em S. Pedro, em S. Paio e em toda esta região. Não temos a indicação das datas em que ocorreram estes trágicos acontecimentos mas estamos em crer que a maior parte deles se verificaram já nos inícios de 1811 quando as tropas francesas, uma vez travadas nas Linhas de Torres, batiam em retirada pela margem esquerda do Mondego, ao contrário do que haviam feito em Setembro de 1810. No entanto, sabemos que os franceses andaram por Travanca nas vésperas da batalha do Bussaco, entre os dias 22 e 24 de Setembro. Voltariam depois entre 16 e 18 de Março.
Em S. Paio de Farinha Podre, o pároco José Maria Sobral Coelho e Sampaio registou, muito resumidamente, “as atrocidades que fizeram os franceses”. O documento tem a data de 24 de Abril de 1811. Incendiaram a igreja, roubaram e destruíram alfaias litúrgicas, imagens e outros objectos de culto. Queimaram oito casas e assassinaram 3 indivíduos do sexo masculino (entre os quais uma criança) e 3 mulheres. Ao contrário do relatório de Farinha Podre, aqui não são referidos os nomes das vítimas.
É a historiadora Maria Antónia Lopes que nos recorda que na diocese de Coimbra só em cerca de 10% das paróquias não entrou “o inimigo”. Calcula-se que morreram violentamente às mãos dos soldados franceses perto de 3 000 pessoas e muitos dos que escaparam foram vítimas da miséria, da fome e da doença.
Toda a região da Beira Serra foi duramente afectada naquela Primavera de 1811.  É paradigmático um dos episódios que o pároco de Arganil descreve, referindo-se à morte de um colega de 76 anos: “depois de ser atormentado cruelmente no campo, aonde foi achado, daí foi trazido com uma corda ao pescoço para sua casa, aonde depois de lhe[s] ter dado todo o dinheiro que tinha escondido em várias partes, o mataram à espada e baioneta, castrando-o sobre a cama e levando em um barrete eclesiástico as suas partes pudendas”.
Oportunamente - com base nos estudos da investigadora Maria Antónia Lopes - daremos conta de mais pormenores da carta que a 23 de Março de 1811 o padre Manuel Gomes Nogueira dirigiu a seu irmão José Acúrsio das Neves. Também num próximo artigo faremos referência – no dizer do Arcipreste de Sinde - aos “crimes e atrocidades cometidas” nas restantes freguesias que hoje fazem parte do concelho de Penacova “por estes monstros da imoralidade, da impiedade e da desumanidade, autorizados e comandados por chefes incapazes de pelejar com honra e capazes de fazer guerra só à fraqueza”.






04 outubro 2011

1.º Aniversário da Implantação da República celebrado em todo o concelho


PENACOVA

Bem cedo, a vila foi despertada por uma salva de 21 tiros de morteiro. Pouco depois, a Filarmónica Penacovense percorria as ruas de Penacova. Girândolas de foguetes e casas"embandeiradas" anunciavam um dia diferente. No Largo Alberto Leitão e na Avenida 5 de Outubro, a iluminação fora especialmente cuidada. À noite, percorreu a vila um "grupo de cidadãos, acompanhados pela filarmónica […] tocando a Portuguesa". No meio de "enorme entusiasmo, levantavam vivas à República e à Pátria". Conta-se que, à porta do dr. Rodolfo Silva "este proferiu um comovido discurso que foi muito aplaudido." Terminado o cortejo na Avenida 5 de Outubro "saiu a Tuna de Penacova tocando a Maria da Fonte pelas ruas da vila".
S. PEDRO DE ALVA
Em S. Pedro de Alva, o Largo José António de Almeida esteve iluminado, em especial a fachada do Centro Republicano com "iluminárias de belo efeito". À noite teve lugar uma sessão solene no Centro Republicano, aberta pelo Presidente José de Almeida Coimbra, que proferiu um breve discurso, convidando em seguida para presidir à reunião, Bernardo Jacinto Henriques, professor de Travanca, que, por sua vez, convidou para secretariar José de Matos Vieira (da Venda Nova) e Manuel Gentil da Natividade, também professor. O secretário do Centro, Eduardo Pedro da Silva também usou da palavra. Foram "levantados acalorados vivas aos velhos e prestigiados republicanos" José de Almeida Coimbra e Joaquim António Madeira. O serão esteve animado e "as meninas Olímpia Gentil da Natividade, Conceição Henriques, Aida de Almeida e Alice de Almeida recitaram algumas poesias". Além disso a "galanta Belita Madeira compareceu a este acto com seus pais, graciosamente vestida de República." A terminar, "houve um animado baile nas casas da Escola que seprolongou até às 3 horas da madrugada."

LORVÃO

Lorvão também celebrou o 1.º Aniversário da Implantação da República. Neste dia não se trabalhou e a Junta de Paróquia "inaugurou uma linda bandeira nacional na fachada da sua sala de sessões tendo discursado o digno presidente da junta sr. Joaquim Maria da Silva. Durante o dia foram queimados cerca de oitenta dúzias de foguetes."

ESTRELA D'ALVA

Na Fábrica Estrela de Alva o Dr. Alípio Barbosa Coimbra "deu, nesse dia, um bodo aos operários". Embandeirou-se e iluminou-se a fábrica e foram " queimados inúmeros foguetes''.
 
FRIUMES

De Friúmes foi, inclusivamente, enviado um telegrama ao Presidente da República:

A comissão abaixo assinada felicita Vª Ex.ª pela gloriosa data de 5 de Outubro.

Friúmes de Penacova, 6-10-911

Joaquim Domingos, Francisco Ferreira, Jerónimo dos Santos Oliveira, Alípio Serra, Alberto Bento, Joaquim Moura, Vasco da Gama, Alípio Francisco, António Flórido dos Santos, António Rodrigues Duarte.

Também em Travanca, Lorvão, Chelo, Paradela e Cácemes foi assinalada a data.

Fonte: Jornal de Penacova, 1911

24 setembro 2016

A 3ª INVASÃO NO CONCELHO DE PENACOVA (III):o sofrimento das populações massacradas, aterrorizadas e espoliadas

Temos vindo a fazer referência aos relatórios elaborados pelos párocos e arciprestes da diocese de Coimbra,[(I) e (II)] dando conta dos “Estragos, incêndios e mortes causados pelo exército na invasão de 1810- 1811”, documentos que se encontram no Arquivo da Universidade de Coimbra.
Recorde-se que, na época, as paróquias que hoje pertencem ao concelho de Penacova estavam integradas nos arciprestados de Sinde, Arganil e Mortágua. Analisámos já as freguesias de Farinha Podre, S. Paio de Farinha Podre e Travanca de Farinha Podre. Vamos agora fazer alusão às freguesias de Oliveira do Cunhedo, Paradela, Friúmes, Penacova, Lorvão, Sazes, Carvalho e Figueira de Lorvão.

Em Oliveira, o Padre Miguel Rodrigues Marques da Silva refere que a incursão dos invasores, ocorreu tal como em Travanca, por duas vezes:  em Setembro de 1810 e em Março de 1811. O relato é sucinto mas ficamos a saber que também aqui houve mortes: 3 homens e 1 mulher. “Roubaram quanto acharam” na igreja, nas capelas e nas casas da freguesia: alfaias religiosas, roupas, gado, “grãos”… As casas principais foram incendiadas. Estima-se que os prejuízos ao nível da freguesia foram de 30 000 cruzados.
Em Paradela, os estragos na igreja foram significativos. Destruíram e roubaram paramentos, “quebraram a cabeça ao Menino da N. Sª do Rosário” e “escavacaram o Trono, o Altar-Mor e o Sacrário”. A residência paroquial e anexos foram queimados “com quanto tinha dentro delas”- escreve  o Cura José Joaquim de Oliveira e Silva. Na sede da freguesia queimaram 16 casas, na Cortiça 4 e uma na Sobreira. O fogo consumiu também “oliveiras e castanheiros, pipas, dornas, balceiros, arcas, mesas, tamboretes, cadeiras e todos os mais trastes”. Queimaram ainda, todos os livros de Assentos, Pastorais e outros documentos.
Roubaram “todo o grão, vinho e azeite”, roupas e hortas. “Estragaram as vinhas e searas de trigo, centeio e cevada”. Também “levaram a maior parte dos gados, quando já iam de fugida”.
Os prejuízos foram estimados em 100 000 cruzados.
Assassinaram, em Paradela, Manuel Carvalhinho, com cerca de 80 anos, e também Isabel Henriques, com a mesma idade. Na Sobreira mataram António Silveira com 40 anos e ainda Isabel de Lemos, viúva, com 50 anos. Ainda apanharam algumas mulheres “que logo lhes escaparam “ mas presume-se que todas aquelas “que tiveram a desgraça de cair nas mãos do inimigo” tenham sido violadas.
Na freguesia vizinha de Friúmes a “Relação dos Stragos dos Inmigos” foi elaborada pelo pároco José da Silva Pereira em 24 de Julho de 1811.
Foram cerca de 15 as casas incendiadas. Segue-se a enumeração dos nomes dos proprietários. Queimadas também a Igreja e a Capela do Espírito Santo de Vale do Tronco, que acabou por ser demolida. Da Igreja roubaram paramentos e o “Cálix” da Confraria, bem como “a sua patena”.
Os “indivíduos açacinados pelo Inmigo” foram 10: 6 homens e 4 mulheres. Os nomes estão lá. Outros escaparam por pouco: Luís António levou um tiro na cara e João dos Reis “foi enforcado na Igreja, escapando milagrosamente à morte.” 
Os roubos foram inumeráveis: 600 cabeças de gado, 800 alqueires de milho, trigo, centeio e feijão. Cerca de 10 pipas de vinho e 60 alqueires de azeite.
Os elementos sobre a freguesia de Penacova constam de um o caderno que contém 19 folhas. É também neste documento, compilado na Mealhada pelo respectivo arcipreste Padre Joaquim Lebre Teixeira, que encontramos os dados relativos  às freguesias de Lorvão, Sazes, Carvalho e Figueira de Lorvão.
Nem toda a freguesia de Penacova foi atingida: Felgar, Travasso, Sanguinho, Ferradosa, Hospital, Balteiro, Riba de Baixo e Riba de Cima foram alguns dos lugares mais afectados. O Felgar terá mesmo sido completamente incendiado.
Os roubos foram pesados. Gado, porcos, fruta. Na capela do Travasso “furtaram o cálice e todos os ornamentos”, bem como na capela de Riba de Cima. Referem-se 8 mortos: cinco homens e três mulheres.
Relativamente a Lorvão o texto é curto. Fala-se em 4 homens assassinados. Os roubos não terão sido muitos e foram principalmente “roubos sacrílegos”. Refere-se o Roxo e o Caneiro onde foram roubados paramentos, cálices, patenas e óleos.
Sazes foi a única freguesia onde não se registaram ocorrências. O arcipreste de Mortágua limitou-se a escrever: “Nesta freguesia não entraram franceses alguns.”
Figueira de Lorvão também “foi menos atacada”. Apesar disso, mataram 2 homens e 1 mulher, mais precisamente, António Francisco e F. Henriques dos Santos. Ana Marques de Alagoa com 45 anos também foi assassinada.
Já em Carvalho o panorama é o oposto: “Esta freguesia foi totalmente destruída em razão do ataque do Bussaco principalmente aqueles lugares mais próximos da montanha do Bussaco em que estava acampada a ala segunda do exército continuamente batalhando.”
Refere-se a morte de um homem de 50 anos.  Recorde-se que estamos a falar da população civil, muitas vezes velha e doente,  que foi atacada fora do contexto de combate. Quanto a roubos “tudo se foi”- escreve o relator. Seixo, Soalhal, Pendurada, Lourinhal e Cerquedo foram completamente incendiados.
Almaça não pertence nem nunca pertenceu ao concelho de Penacova. No entanto, dado que foi um dos locais em que - na fase da retirada dos franceses -  se refugiram algumas populações da margem esquerda achamos pertinente frisar que o relatório final, redigido pelo Bispado de Coimbra, em Dezembro de 1811, refere isso mesmo: “ Em Almassa, onde o povo d’alli, e o das vizinhanças se acoutou, reputando-se n’hum lugar d’asylo, por muito cercado de serranias e matos e desafrontado de estradas, foi todo saqueado”. O relato do arcipreste confirma que “roubaram totalmente” esta freguesia e acrescenta que mataram 1 homem de idade de trinta anos, que roubaram a âmbula dos Santos Óleos, lançando tudo por terra e que “levaram o livro das Posturas”.
“À fome e aos assassínios, e acompanhando as vagas de desalojados e de órfãos, sucederam-se as epidemias. Regressadas a suas casas, as populações encontraram a destruição e os campos estéreis. A escassez de géneros tornou-se aflitiva e os preços dispararam. Só muito lentamente a situação se normalizou.” – escreveu Maria Antónia Lopes na obra O Exército Português e as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular (volume III - 2010-2011).
É a mesma investigadora que acrescenta que “nunca a população civil portuguesa vivera um período tão trágico. Nunca mais, felizmente, o voltou a viver. Por isso, as invasões francesas, absolutamente traumáticas, persistem na memória popular." Em Penacova a exaltação da vitória conseguida na Batalha do Bussaco poderá ofuscar, naturalmente (?), o sofrimento das "vítimas mais humildes e ignoradas." Fica o nosso contributo para que isso não aconteça.







17 outubro 2010

Um tributo a Travanca, à Etnografia e ao Folclore


Capa do desdobrável
de apoio e divulgação do
 espectáculo
Não é fechado numa arca que queremos o passado. Este, queremo-lo vivo, para o podermos reconstruir e transformar…Pois é cientes daquilo que fomos, que podemos seguir em frente e progredir sem temer a separação desse passado que é o nosso, sem medo de perder as referências que a ele nos prendem…

Assim se escrevia, vão quase vinte anos, num  Guião  distribuído aquando da apresentação do espectáculo “As Quatro Estações do Linho”, pelo Rancho Etnográfico e Folclórico de Travanca do Mondego. Uma produção que integrava, para além da música, apontamentos de dança e teatro, partindo do princípio de que a representação das tradições, enquanto  encenação que  é, se pode assumir como um verdadeiro espectáculo.

Assim aconteceu em 1989, quando um grupo de jovens e adultos, cheios de entusiasmo, deram vida a este renascer de tradições. Eram eles: Adelaide Sousa, Albertina Cordeiro, Alice Alves, Alice Rodrigues, Álvaro Ferreira, Amadeu de Matos, António C. Henriques, António Pais, António Rodrigues, Carlos M. Martins, Cecília Henriques, Cecília Sousa, Conceição Geraldes, Daniel Henriques, David Henriques, Graça Alves, Isabel Ferreira, João Azadinho, José A. Joaquim, José Fernandes, José Joaquim, Lúcia Matos, Nuno Azadinho, Nuno O. Santos, Palmira Viseu, Paula Alexandra Pereira, Pedro Fernandes, Raquel Figueiredo, Reinaldo Dinis e Tomé Teixeira.

O Centro Paroquial de Bem-Estar Social, com o empenhamento do Sr. Padre Veiga, lançou em 1986 a ideia de recuperar usos e tradições da freguesia, organizando uma recolha de “ antiguidades” e posterior exposição de objectos e utensílios tradicionais, bem como o levantamento de danças e cantares locais. Em 1987, é apresentado o espectáculo de etnografia e folclore intitulado “Desfolhada” e, passados dois anos, as “Quatro Estações do Linho “. Esta recriação de tradições e de vivências de outrora tinha como responsável a Dr. Maria da Conceição Moura. Outros colaboradores deste projecto foram, como muitas pessoas se recordam, os professores António Bessa e Celestino Ortet, na parte musical.

Um projecto que, devido a vicissitudes várias, não ganhou as raízes necessárias a uma desejável continuidade. De qualquer modo, durante o seu período de existência foi acarinhado pela população da freguesia e levou a vários locais, incluindo Coimbra, um conjunto de espectáculos de grande valor cultural.

O concelho de Penacova, à semelhança do que se vai fazendo um pouco por todo o país, vai tendo bons grupos etnográficos e folclóricos que, apesar das dificuldades, vão transmitindo a riqueza cultural dum tempo que já não volta mas que faz ainda parte dum presente que, cada vez mais, se quer com significado e com identidade própria. A etnografia e o folclore, que para alguns pode significar um parar no tempo, não é mais do que um ponto de partida para novas experiências.

É que, como se escreveu acima, o passado tem que se manter vivo, se o queremos reconstruir e recriar.

 David Almeida

( originalmente publicado no jornal Nova Esperança (2008)

08 fevereiro 2011

Travanca de Luto: duas mortes em dias seguidos, em circunstâncias semelhantes


Ontem, o Paulo Figueiredo, da Conchada. Hoje o José Alves, da Portela. O primeiro com 33 anos, o segundo com 42. Ambos em trabalhos florestais no concelho de Mortágua, vitimados pelas máquinas que manobravam.
Travanca está de luto, incrédula. Às famílias enlutadas o nosso sentido pesar.

01 setembro 2010

Encerramento de Escolas em Penacova

Travanca do Mondego: arranque do ano escolar aviva preocupações dos pais e encarregados de educação

" POVOAÇÕES TRANSFORMADAS EM DESERTOS
A confirmação do encerramento da escola primária de Travanca do Mondego não apanhou os habitantes de surpresa, mas deixou-os revoltados. João Azadinho, presidente da Junta, entende a reacção de alguns: "fechar uma escola é um momento muito difícil". Para Adelaide Matos "é um coração que deixa de bater no centro de uma povoação". As crianças "faziam gritaria, representavam vida". A partir de Setembro, as aldeias que ficaram sem escolas transformam-se em "desertos", acredita Luísa Duarte, mãe de uma aluna."
in Correio da Manhã, 1 de Setembro 2010

A versão impressa do CORREIO DA MANHÃ de hoje apresenta uma reportagem sobre o encerramento de escolas do primeiro ciclo no nosso concelho. Artigo que também pode ser lido na versão online do referido jornal.


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Fechar ou não fechar escolas em Portugal?
                              Os argumentos:

TEXTO A

O primeiro ministro, José Sócrates, assegurou hoje que o Governo vai continuar com o encerramento de escolas para combater o insucesso escolar e considerou "criminoso" não ter avançado com o processo. "Era criminoso para o nosso sistema público de ensino não ter feito nada para encerrar as escolas com menos de 20 alunos [e] é por isso que vamos continuar com esse esforço", declarou José Sócrates em Trancoso, onde hoje recebeu a medalha de honra do município e inaugurou uma nova escola básica integrada.No seu discurso, José Sócrates, que esteve acompanhado pela ministra da Educação, Isabel Alçada, apontou que o Ministério da Educação já encerrou cerca de 2500 escolas. E acrescentou: "Agora encerramos as outras, em negociação com as autarquias".Disse que o Governo não podia deixar "tudo como está", mas reconheceu que "há sempre críticas às reformas".Contudo, frisou que "o pior que há na Educação é não fazer nada".Segundo o primeiro ministro, irão encerrar mais escolas com menos de 20 alunos porque, com esta medida, o Governo pretende "combater o insucesso escolar"."Ao longo destes últimos anos o insucesso escolar nas escolas com menos de 20 alunos sempre foi muito superior ao insucesso escolar verificado nas outras escolas com mais alunos", apontou.Tendo em conta este cenário, admitiu que manter escolas com 20 alunos significaria "condenar essas crianças à exclusão, ao abandono e ao insucesso escolar".

TEXTO B

A medida, que o Governo justifica com a instalação de «centros escolares ou escolas dotadas de melhores condições de ensino e de aprendizagem», não me parece mais do que um incentivo ao abandono escolar e um aumento da desertificação cada vez mais acelerada do interior do País. Que família quererá “interiorizar-se” se pensar que os seus filhos ficarão mais longe da escola, obrigados a perder no caminho um precioso tempo que poderia ser aproveitado para estudar?E como se podem motivar alunos que não gostam da escola – mas lá têm de permanecer o dia inteiro – se o “passeio” os obriga a levantar quase de madrugada e a chegar a casa à hora de jantar?Posso até concordar que a distância não é impeditiva nem contrária ao sucesso escolar, mas não me venham dizer que os alunos que vivem longe dos chamados centros escolares “partem” com a mesma vantagem que os que moram perto em direcção aos ciclos de ensino seguintes. E nem sequer acredito que a reorganização escolar seja apenas feita com intuitos meramente pedagógicos e qualitativos (…)http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/search?q=encerramento+de+escolas

TEXTO C

Nas últimas duas décadas, o país vindo a assistir ao encerramento de um número crescente de escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico. Dizer que este processo está exclusivamente ligado com a progressiva baixa de natalidade, é ficar pela espuma dos acontecimentos.As causas do encerramento (suspensão, na linguagem da lei) de centenas de escolas, tem raízes profundas nas opções políticas de sucessivos governos que contribuíram, ou mesmo promoveram, a desertificação de largas regiões do país.O abandono e o esquecimento a que sucessivos governos votaram o interior do país, fizeram deslocar para o litoral urbano milhares de portugueses. A evolução demográfica fez o resto. É assim que as escolas das zonas urbanas e suburbanas foram confrontadas com o crescimento do número de alunos por turma.. (…)

25 maio 2021

Invasões Francesas no concelho de Penacova: o outro lado da História


A exaltação da vitória anglo-lusa na Batalha do Buçaco não pode, no nosso entender, atirar para o esquecimento os horrores sofridos pelo povo anónimo das povoações do nosso concelho em 1810 e 1811. Povo alheio aos interesses militares e políticos, povo que foi, pura e simplesmente, vítima de assassinatos, violações, atrocidades, roubos… e viu destruídas  pelo furor das chamas muitas das suas casas, muitas das suas aldeias até.

Só no concelho de Penacova (território actual) foram cerca de 60 pessoas assassinadas, entre elas uma criança, e perto de 80 casas incendiadas, não contando com a destruição total de 6 aldeias e das “casas principais”, não contabilizadas, de Oliveira do Cunhedo. Atingidas pelo fogo posto também 2 igrejas, 1 capela e 1 residência paroquial.

Os relatos[1] que cada paróquia - dos então arciprestados de Sinde, Arganil e Mortágua - fez no rescaldo da incursão dos franceses, principalmente no primeiro trimestre de 1911, dão-nos uma ténue imagem do que realmente aconteceu.

A freguesia mais atingida em termos de vítimas pessoais foi sem dúvida Farinha Podre: assassinados 16 homens e 9 mulheres. O mapa elaborado pelo pároco regista mesmo os locais e por vezes os nomes. Na Sede da freguesia pereceram 3 homens e 3 mulheres, em Hombres 5 homens e 3 mulheres, em Laborins 2 homens, no Carvalhal, na Cruz do Soito e no Silveirinho 1 homem em cada uma das terras. Calcula-se que muitas outras pessoas terão acabado por morrer na sequência dos maus tratos sofridos. Também a destruição de 30 casas incendiadas nos dão uma ideia da violência e do terror espalhado na actual freguesia de S. Pedro de Alva.

Na freguesia de S. Paio de Farinha Podre assassinaram 1 criança, contabilizando-se no total 3 indivíduos do sexo masculino  e três do sexo feminino. Além de 8 casas incendiadas também a Igreja sofreu igual ofensa. Nesta, roubaram imagens e objectos de culto.

Todo o concelho sofreu de um modo ou de outro. Apenas a freguesia de Sazes terá tido a sorte de passar à margem destas desgraças. Refere o relato do arcipreste que “nesta freguesia não entraram franceses alguns.”

A freguesia de Carvalho foi outra das que sofreram duros revezes. Não tanto em mortes mas sim em destruição. Morreu 1 indivíduo do sexo masculino e é  importante recordar que as aldeias de Seixo, Soalhal, Pendurada, Lourinhal e Cerquedo foram totalmente incendiadas. Quanto a roubos o relatório traduz a situação em poucas palavras dizendo que “tudo se foi”.

Por falar em aldeias incendiadas passemos à freguesia de Penacova. A aldeia do Felgar foi também completamente destruído pelo fogo. Foi esta zona da freguesia (Felgar, Travasso, Sanguinho, Ferradosa, Hospital, Balteiro e Ribas) a mais atingida pelos invasores, registando-se “pesados roubos” de gado, porcos, fruta e alfaias religiosas. Das capelas do Travasso e da Riba de Cima levaram o cálice e “todos os ornamentos”. No que toca a mortes há a referência a 5 homens e 3 mulheres.

Passando a Lorvão, há o registo do assassinato de 4 homens e a ocorrência de inúmeros “roubos sacrílegos”. Nas capelas do Roxo e do Caneiro foram roubados cálices, patenas, paramentos e óleos.

Figueira de Lorvão “foi menos atacada”… No entanto, mataram António Francisco e F. Henriques dos Santos e ainda Ana Marques, de 45 anos, moradora em Alagoa.

Em Paradela assassinaram Manuel Carvalinho e Isabel Henriques, ambos na casa dos 80 anos. Na Sobreira foi um homem de 40 anos: António Silveira e ainda uma mulher de 50 anos, viúva, Isabel Lemos. As violações foram outro dos dramas vividos, quer nesta freguesia, quer em todas as zonas atingidas. Nesta freguesia queimaram a residência paroquial “com tudo o que tinha dentro” e 16 casas tiveram igual destino. Roubaram “todo o grão, vinho e azeite”, hortas e gado. Destruíram  searas e vinhas. Na Igreja “escavacaram” o trono, o altar-mor e o sacrário. Queimaram todos os livros de Assentos, Pastorais e outros documentos.

Oliveira do Cunhedo e Travanca foram “visitadas” pelos  franceses em Setembro de 1810, nas vésperas da batalha do Buçaco, e em Março de 1811 quando retiravam pela margem esquerda do Mondego.

Em Oliveira assassinaram 3 homens e 1 mulher e incendiaram as “casas principais” da localidade. Roubaram casas, “grãos”, gado e a Igreja.

Na freguesia vizinha de Travanca, mataram 3 homens, sendo um deles Manuel Rodrigues, sapateiro de Lagares, com mais de 80 anos. Outro foi vítima de cutiladas. Uma mulher casada foi presa, acabando os soldados de Napoleão por “a deixar”…provavelmente violada como tantas outras. Queimaram 7 das melhores casas e roubaram tudo o que apanharam na residência paroquial. Na Igreja, que foi assaltada por duas vezes, “arrancaram a pedra de Ara”, destruíram o sacrário e relíquias e até os galões dos paramentos levaram.

Em Friúmes assassinaram 6 homens e 4 mulheres. Luís António levou um tiro na cara e João Reis foi enforcado na Igreja, escapando por milagre. Incendiadas 15 casas, queimada a Igreja e a capela do Espírito Santo em Vale do Tronco (que acabou por ser demolida). Roubaram 600 cabeças de gado, 800 alqueires de milho, 10 pipas de vinho e 60 alqueires de azeite.

Milhares de páginas se escreveram nestes 200 anos passados sobre a chamada Guerra Peninsular. E quem se lembra das “vítimas mais humildes e ignoradas”, das “populações civis espoliadas, cruelmente martirizadas e assassinadas”? – perguntamos também, subscrevendo  as palavras de Maria Antónia Lopes, da Faculdade de Letras e Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra.



[1] Relatórios elaborados pelos párocos e arciprestes da diocese de Coimbra, dando conta dos “Estragos, incêndios e mortes causados pelo exército na invasão de 1810-1811”.


15 junho 2012

Marchas Populares: Parque Verde vai receber oito grupos do concelho


No Parque Verde de Penacova vão actuar 8 grupos:
APPACDM, Agrupamento de Escolas, Coiço, Cheira, Lorvão (Centro Social e S.to António), Misericórdia de Penacova e Travanca

26 março 2017

Penacovenses pelo Mundo: José Dionísio Rodrigues

Nasceu em 1947 em Travanca do Mondego de onde partiu para o Brasil teria os seus 10 anos, acompanhando os seus pais e irmãos. Celebrou o 70º aniversário no dia de S. José. O Penacova Online, que noutras ocasiões (1) fez referência ao seu percurso profissional e empresarial, publica agora um pequeno apontamento saído na imprensa do Paraná. Parabéns!

UMA FESTA PARA O EMPREENDEDOR DIFERENCIADO
José Dionísio Rodrigues: um campeão.
Os 70 anos de um dos publicitários mais representativos do Paraná, José Dionísio Rodrigues, foram comemorados na semana, em jantar organizado por amigos e familiares do “Português” num restaurante do Cabral.
Não pude comparecer, por força maior. Mas estive lá em “espírito e verdade”, pois além de admirador do fôlego especial desse empresário, eu o tenho na melhor parte de meu inventário afetivo.
A história do José Dionísio, a quem vir nascer profissionalmente, por primeiro no jornalismo, é um bom resumo do quanto importante é a livre iniciativa, o empreendedorismo, na construção da sociedade. Esses são, aliás, realidades que mostrei bem no perfil que fiz do criador e dirigente do Grupo OM de Comunicação*, ao fazê-lo um de meus personagens de um dos volumes do livro Vozes do Paraná.
A história do “Português” e de seus pais é relicário de superações, a partir da minúscula propriedade rural em Portugal onde o solo e os horizontes não mais podiam garantir o futuro da família especialíssima.
Dionísio: “ad multus annos”. Ou que “viva cem anos”, como os poloneses saúdam seus aniversariantes.

11 junho 2011

Marchas Populares cumprem a tradição esta noite em Penacova

Hoje, o Largo Alberto Leitão será palco de um desfile de marchas populares, a partir das 21h30. Vão desfilar as marchas do Centro Social e Paroquial de Lorvão, de Travanca do Mondego, de Santo António de Lorvão, da Cheira e a Marcha de Vila Nova de Anços (Soure), que pela primeira vez participa nesta iniciativa do Município de Penacova.
O Rancho Folclórico de Penacova animará o resto da noite. Há baile popular, sardinha assada e o tradicional caldo verde.

08 fevereiro 2024

Penacova um olhar 1921: características, anseios, necessidades (I)


Com o título “Monografia” e assinado por Bernardino Pereira, o Jornal de Penacova publicou em 1921 um artigo / crónica que nos transpõe para tempos que já levam a marca de um século e nos dão uma imagem, nalguns aspectos curiosa, do nosso concelho no primeiro quartel do século XX.

À época, Penacova enquadrava-se no conjunto dos concelhos de 2ª ordem e das comarcas de 2ª classe, agregando, em termos judiciais, o “novo” concelho de Vila Nova de Poiares. O concelho de Penacova, estendendo-se por uma área de 193 Km2 era formado por 11 freguesias: “Nossa Senhora da Assunção” (sede), Lorvão, Sazes de Lorvão, Carvalho, Travanca, S. Pedro de Alva, Oliveira do Mondego, “S. Paio de S. Pedro de Alva”, Paradela e Friúmes. Confrontava, tal como hoje, com Santa Comba Dão, Tábua, Arganil, Vila Nova de Poiares, Coimbra, Mealhada e Mortágua, concelhos com quem estabelecia “relações sociais e comerciais, transmitindo e recebendo influência psíquica regional, reciprocidade de novos sentimentos e costumes.”

A sede do concelho, com mais de 900 fogos, teria, em termos “redondos”, 4 000 habitantes. A Vila possuía “edifícios alegres, bem caiados e devidamente alinhados.” 

As artérias principais eram a Avenida 5 de Outubro, a Rua Conselheiro Fernando de Melo e a rua Dr. Joaquim Correia”. É referido também o Largo Alberto Leitão. Relativamente aos edifícios públicos merece destaque “o novo edifício Escola Maria Máxima, do legado do benemérito António Maria dos Santos”. Acrescenta o cronista que “dizem que vai possuir também um hospital”. Por sua vez os Paços do Concelho são considerados “sofríveis”.

Vejamos a apreciação feita sobre as estruturas turísticas: “tem dois hotéis, insuficientes para conter com as devidas comodidades, os seus hóspedes no Verão; nesta época os forasteiros são aos milhares, que aqui vêm veranear e repousar. Vêm de Coimbra, Figueira da Foz, Lisboa e outras terras de Portugal e do Estrangeiro.”

Sobre as actividades económicas é referido o seguinte quanto à agricultura: “O terreno não pode ser considerado como o mais fértil – refere Bernardino Pereira – mas está longe de ser estéril”: tem muitos terrenos regados pelos rios, veigas entre pinhais, em estreitos vales, nas encostas e nos planaltos dos seus montes, “alimentando cerca de 6 000 famílias, isto é, perto de 20 000 dos seus habitantes. Em “géneros alimentícios não é muito abundante” pelo que “tem de importar milho, trigo, vinho, batata, feijão“ e outros produtos.

Pelo contrário, em termos de comércio, exportava “palitos em grande quantidade, cal parda, madeiras, lenha e telha.”

Num registo, de algum modo “romântico”, o cronista salienta que o concelho de Penacova “exporta para o Brasil e para outras partes, braços de camponeses robustos e morigerados”; exporta também “música, flores e seus perfumes”, pelos seus “admiradores e forasteiros envia a saúde do corpo e principalmente do espírito”, bem como “o retemperamento das forças perdidas, com ares salubérrimos das proximidades do Bussaco e com uma relativa economia.”

Enaltecendo as personalidades ilustres do concelho, sublinha B. Pereira que “desta terra abençoada têm saído lentes e sábios notabilíssimos e oradores dos mais distintos.”

“Quem não conhece o grande orador Alves Mendes, quem se não verga respeitoso e submisso perante esse vulto eminente da República, nobre e sublime, muito grande para um país tão pequeno; quem não rende as devidas homenagens ao maior vulto que tudo sacrifica ao bem da Pátria – o nosso venerando Chefe de Estado?”


(Continua)

24 março 2012

Mostra Cultural e Associativa hoje e amanhã no Silveirinho

Uma primeira "reportagem" fotográfica desta tarde

Decorre este fim de semana no Silveirinho (S. Pedro de Alva) a "Exposição Associativa e Cultural" que pretende congregar as actividades culturais e associativas das freguesias de S. Pedro de Alva, Travanca e S. Paio. A abertura oficial teve lugar esta tarde, com a presença da Vereadora da Cultura e Associativismo, D. Fernanda Veiga. Esta noite há teatro e standup comedy e amanhã o destaque vai para o Ballet, Danças e actuação da Filarmónica. Mostras das Actividades das diversas Associações, Artesanato, Agricultura/ Pecuária, Pintura, Livros...um programa recheado promovido pela Associação Local,   presidida por Isabel Ribeiro e constituída por uma equipa dinâmica. 

12 novembro 2012

Extinção de Freguesias:o novo mapa de Penacova

Proposta da Unidade Técnica Nacional
 
Já foi entregue na Assembleia da República, como é sabido, a proposta para a extinção de freguesias. O concelho de Penacova (clique AQUI)  também é afectado e a "régua e esquadro" está bem visível nesta proposta. É ridículo, por exemplo que um dos argumentos invocado seja  o de que as freguesias em causa partilham de um mesmo agrupamento de escolas, quando sabemos que o concelho tem apenas um Agrupamento e portanto todas estão na mesma situação. Que vão ganhar as populações locais e o país no seu todo, com todos estes remendos? Também ridícula é a designação de "União das Freguesias de ..." ( da União Nacional à União Local? ),  ridícula é ainda, a referência "à ligação directa de Travanca a Oliveira" (Vamos ter obras de alargamento e correcção de traçado na Estrada da Serra? - com as verbas que abundam...) Mas o Terreiro do Paço lá sabe.
O presidente da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE), Armando Vieira, afirma que aguarda serenamente a decisão do Tribunal Constitucional sobre a extinção de freguesias. O dirigente sublinha a oposição da associação a este processo.  A Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território entregou na Assembleia da República uma proposta que prevê a extinção de 1165 freguesias, Armando Vieira critica que o governo persista “nesta atitude que viola os direitos constitucionais das autarquias de determinarem o seu futuro” O presidente da ANAFRE acredita que os problemas vão surgir quando forem postos em prática os novos limites das freguesias.

08 dezembro 2010

Miro: Grupo de Escoteiros em Formação adquiriu Estatuto Oficial

Nasce um novo Grupo de Escoteiros da
Associação dos Escoteiros de Portugal

No passado dia 5 de Dezembro o Grupo nº 239 de Miro-Penacova da Associação dos Escoteiros de Portugal, realizou a sua cerimónia de Abertura Oficial na presença do Escoteiro Chefe Nacional Adjunto Jorge Lucas, que fez a entrega da bandeira oficial do novo Grupo ao Escoteiro Chefe de Grupo João Nogueira, assim como do Escoteiro Chefe Regional Abílio Matos, que oficializou a nomeação dos novos dirigentes do Grupo e restantes jovens escoteiros. Ainda nesta comitiva, esteve presente o Chefe Regional Adjunto Henrique Magueija e outros membros da Chefia Nacional e Regional que, no momento, ocupavam os cargos de Chefes de Grupos – Delfim Carreira e José Araújo - para nos acolher nesta nova família.
Esperando não nos esquecermos de ninguém, e desde já pedindo desculpas, a cerimónia contou com a presença de vários elementos representantes dos poderes locais, Câmara Municipal de Penacova, Juntas de Freguesia de Friúmes, Travanca do Mondego, Bombeiros Voluntários de Penacova e de várias instituições locais, tal como de companheiros da Associação dos Escoteiros de Portugal, de vários pontos do país e da FAEP – Fraternal dos Antigos Escoteiros de Portugal. Contamos ainda com a delegação que representou o Agrupamento 1079 de Penacova do Corpo Nacional de Escutas, encabeçado pelo seu Escoteiro Chefe de Agrupamento Fernando Oliveira que nos deixou também uma mensagem do Senhor Padre D. Rodolfo Leite da Paróquia de Penacova que não pode estar presente.
Nesta cerimónia fizeram o Compromisso de Honra cerca de 30 elementos do novo Grupo, foi uma cerimónia algo improvisada, no sentido de que o tempo nos pregou uma grande partida, mas conseguimos manter todos os presentes acomodados na sala de reuniões do Complexo Turístico da Serra da Atalhada que desde já agradecemos a colaboração. Com o nosso lenço branco cru e castanho - feito de linho das velas do moinho e da barca serrana que caracterizam o nosso concelho - estamos assim prontos para caminhar em montes e vales, navegar pelos nossos rios e viajar pelo vento…tal como prova o nosso grito de Grupo que ontem ecoou na Serra da Atalhada.
Os dirigentes e elementos do Grupo 239 de Miro-Penacova agradecem todo o carinho e ajuda com que foram acalorados durante toda a cerimónia, e mesmo os que não conseguiram estar presentes mas nos desejaram “boa caça”, e em particular aos nossos padrinhos do Grupo 74 de Góis – pela Chefe de Grupo Sandra Marques - que nos ajudaram nesta longa caminhada.
ECG João Nogueira

02 janeiro 2016

Neste início de Ano e nos 50 anos do nicho em Travanca, invocar a protecção de N.ª Srª dos Caminhos

Recordamo-nos da sua inauguração. Tempos da escola primária. Um acto simples mas cheio de devoção e fé. Os grandes mentores desta obra foram a professora Maria da Piedade Madeira Marques (hoje a viver em Telhado) e o Pároco Padre Jorge Marques dos Santos (que dois anos depois deixaria a paróquia).
Ao longo destes 50 anos, muitas vezes ali passámos  e invocámos a sua protecção. Protectora nas viagens do dia a dia, protectora neste peregrinar que é a vida de cada um.
O pequeno nicho lá continua. O espaço adjacente mantém-se cuidado. No entanto, a imagem apresenta sinais de deterioração. O material de que é feita será um pouco frágil e também não podemos esquecer que já lá vão 50 anos.
Aqui fica um recorte do jornal que então se publicava no concelho, o Notícias de Penacova (Maio de 1966): 

“Nicho a Nossa Senhora dos Caminhos  - Através das colunas do Notícias”, tivemos conhecimento que pelo Natal, a mocidade desta terra, com o auxílio do Rev. Pároco e da Ex.ma Professora, organizaram uma pequena récita com o fim de angariar fundos para a construção de um nicho a Nossa Senhora dos Caminhos.
Como até à data nada mais tivesse sido publicado, levava-nos a crer que nada tivesse sido realizado, o que nos surpreendeu quando há dias ao visitarmos esta terra, deparamos com um pequenino nicho há pouco construído à entrada da povoação do Coval. Aproximamo-nos e verificámos pela sua imagem que se trata do falado nicho a Nossa Senhora dos Caminhos.
Dado isto, apressamo-nos a trocar impressões com alguém, para o que escolhemos o nosso amigo José O. Henriques, que nos deu algumas informações sobre a sua construção e ainda sobre a sua inauguração ocorrida em 25 de Março p. passado.
Sem dúvida alguma que o referido nicho foi erguido num óptimo local que se tornará ainda mais belo depois de crescidas as roseiras plantadas à sua volta.
Boa iniciativa a da mocidade e ainda do Rev.do Pároco e da Ex.ma Professora que não se pouparam a sacrifícios para levarem avante os seus planos. Que a todos Nossa Senhora recompense, são os nossos votos, ao mesmo tempo que os felicitamos.”



07 dezembro 2012

Nota de Imprensa: Humberto Oliveira toma posição contra a agregação das freguesias no concelho de Penacova


O sentimento de pertença e a ligação das populações à sua matriz local e cultural é um bem intangível, que nos identifica, que solidifica laços, amplia solidariedades, exprime o melhor de nós enquanto povo, une-nos na coletividade, junta-nos na diversidade.

A reorganização administrativa levada a cabo pelo atual governo, a lei n 22/2012 de 30 de maio - ou melhor, a agregação/extinção de freguesias - não tem em linha de conta os reais interesses das populações das freguesias agregadas. Tanto mais que esta lei imposta aos portugueses contra a vontade da generalidade dos autarcas, coloca em causa serviços de qualidade e de proximidade que são prestados às populações, serviços estes que acrescentam um grande valor social às pessoas, mas sem grandes impactos em termos de custos no orçamento geral do Estado para 2013 - o valor de transferências para as freguesias é uma percentagem parcamente exígua do PIB - na questão da poupanças e na resolução do défice do Estado, praticamente insignificante. No momento em que os portugueses vivem o constrangimento de uma política cega e cada vez mais insensível, a lei da extinção das freguesias agride o bem-estar das populações das freguesias afetadas.
Infogravura: Penacova Online

Mais, em tempos de crise e emergência social, as juntas e os seus presidentes terão um papel preponderante na sinalização e na ajuda de resolução dos casos mais contundentes. Mais uma vez, serão as populações a parte mais sacrificada, devido à empenhada teimosia e ação de amputação social perpetrada por este governo, suportado pelas bancadas da maioria PSD/CDS, na Assembleia da Republica.

Como diz o povo, e tem razão, "a pressa é inimiga da perfeição", e este ditado assenta como uma luva na proposta apresentada pela Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território, para o concelho de Penacova, revelando que esta reorganização foi feita à pressa, em cima do joelho, com urgência desmedida e despropositada, e apresentando falhas, como é bem patente no caso da agregação da freguesia de Paradela da Cortiça a Friúmes. Na proposta, é referido que "esta freguesia partilha uma matriz rural comum e uma estrutura urbana dispersa com a única freguesia que lhe é contígua , Friúmes, com 645 habitantes..." ora, isso é falso e não podia estar mais adulterado, uma vez que a freguesia de Paradela da Cortiça também faz fronteira com a freguesia de São Pedro de Alva e com a qual até terá, porventura, maior afinidade. O mesmo acontece com Travanca de Mondego, que terá mais afinidade com São Pedro de Alva do com a freguesia à qual foi agregada, Oliveira do Mondego.

O processo não foi agregador, criou instabilidade, clima de guerra e de desunião no País real. Foi politicamente mal conduzido. Não traz mais valias. Ao que parece, tudo foi feito sem razoabilidade e, como sempre, os prejudicados são sempre os mesmos - as populações!

Humberto Oliveira