quinta-feira, outubro 24, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: A máquina de criar pobres




Saiu um Relatório da Pordata - no Dia Internacional da Irradicação da Pobreza - abrangendo os anos de 2021 e 2022.

A Sociedade Civil séria é cada vez mais importante no nosso País!

Séria, neste caso, é a que não vive à custa de… porque os que vivem à custa da pobreza, são tantos e tão “amigos” de certos redutos políticos radicalizados e negócios que até já se atropelam na descoordenação, como ouvimos dizer a uma figura relevante, com intervenção na área, recentemente.

Gasta-se o dinheiro, mas não se chega à solução; é só nos meios incapazes que se investe e esses não resolvem nada, desde logo porque não são os adaptados. Criam-se Cova(s) da(s) Moura(s), sucessivamente; Abrem-se caminhos para conflitos sociais latentes.

A Constituição da República, no seu art. 9, diz que é tarefa fundamental do Estado:

“Promover o bem estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais…”.

Na visão da ONU, a pobreza manifesta-se através da fome da malnutrição, do acesso limitado à educação e a outros serviços básicos, à discriminação e à exclusão social bem como à falta de participação na tomada de decisões.

Os dados saídos - que não me impressionam, porque já os percepcionava e até já os antecipei no que escrevi como alerta, nessa altura - colocam em causa toda aquela classe que está “alojada” na Assembleia da República e no Palácio de São Bento [5 hectares, talvez] que é como quem diz, os nossos políticos, assessores e consultores e outros amigos e titulares graduados de cargos públicos, por aqueles nomeados com base só na “confiança”.

Contrariamente ao que constou dos seus programas eleitorais e dos seus programas de governo e dos orçamentos e dos discursos, fizeram tudo ao contrário do que prometeram: ou seja, mentiram aos Portugueses; foram meros populistas com fito na obtenção dos votos.

Vejamos:

- A taxa de risco de pobreza subiu muito, apesar da “maravilha” que aí anda publicada;
- Quase 2.000.000 de pessoas vivem com menos de €600,00/mês; exactamente €591,00;
- O Grupo das Crianças e Jovens (até aos 18 anos) é o mais afectado, com um aumento de 2,2% no período em análise;
- Esta realidade afecta, agora, 20,7% de pessoas desta faixa etária (mais de 1 em cada 5);
- A taxa de pobreza geral subiu para 17%;
- Uma em cada 10 pessoas com emprego, não escapa, inexplicavelmente, à situação de pobreza.

Neste contexto,

- As Famílias monoparentais têm sido as mais castigadas (31,2%);
- E a Taxa de Intensidade de Pobreza só entre 2021 e 2022 subiu de 21,7% para 25,6%!

Que País maravilhoso este que estamos a construir para os nossos descendentes…

Das muitas análises possíveis -que os que têm estado implicados nisso e os seus seguidores, não gostam de ler ou de ouvir - e das variadas explicações [que incluem impreparação e irresponsabilidade, de grande parte dos titulares dos cargos] será, nomeadamente, o diferencial entre o aumento dos salários (de 35%, de 2015 a 2023) quando confrontado com o aumento, nesse período de análise, de 106%, nos custos de habitação. Que monstruosidade!

A habitação é “a telha” que separa os pobres assim, dos sem-abrigo, ainda mais pobres!

!… Só que estamos a falar de uma situação absolutamente preocupante que nos devia envergonhar a todos e que coloca muita gente ligada à Política para viver bem, como os que se apelidam de “inteligentes inúteis”, que começam por conduzir “a máquina de criar pobres”, para prosseguirem para experiências mais rentáveis, acompanhados dos seus séquitos…!

Haverá pessoas honestas no meio de tudo isso, claro. Até conheço alguns. Mas começam a ser as exceções. A pobreza não dá votos, a riqueza, essa sim até os “compra”…

O não aquecimento das casas está considerado como o pior da Europa (repito, o pior da Europa) vejam bem, num clima de sol que compara com as suas zonas geladas durante grande parte do ano.

Sobe exponencialmente a busca de alimentação junto do Banco Alimentar Contra a Fome, com o incremento, que nos deixa incrédulos, de empregados e de crianças.

A nossa realidade, no que respeita à pobreza, é intolerável, com a agravante de ter deixado de ser conjuntural e já ser estrutural.

Naturalmente, à vista de todas as pessoas de bem e honestas e preocupadas com os seus concidadãos -das que existem sem interesses, até anonimamente- ressalta a degradação extravagante da qualidade de Vida.

Pedem-se, por isso, clarificações a esta gente, que invocando Abril, repetidamente, na sua generalidade, não sabem o que isso é, nem encontram esse objectivo (do aumento da pobreza) em nenhum dos documentos do MFA!

Haja aprumo ético! Acabem as promessas vãs! Deixemo-nos de tretas!

Luís Pais Amante

terça-feira, outubro 22, 2024

Tumultos populares: Raiva (1917) e Penacova (1918)


O lançamento de impostos tem, ao longo de todos os tempos e por toda a parte, gerado grandes revoltas e levantamentos populares. No nosso concelho, são conhecidas a “Revolta dos Sarreiros”, nos finais do século XIX e a “Revolta do Azeite” e a “Revolta dos Barqueiros”, em 1921, associadas ao imposto “Ad valorem”. Destes acontecimentos já o Penacova Online deu conta. 

Hoje, vamos fazer referência a acontecimentos de inícios de 1918 que poderíamos intitular de "Tumultos dos Industriais" relacionados com o lançamento de colectas de contribuição industrial. Também, no contexto das graves carências alimentares durante a Guerra 1914-1918, trazemos aqui a notícia da "Revolta da Raiva". Estas duas ocorrências ficaram registadas no jornal "Ecos de S. Pedro de Alva".

"Com o deflagrar da Grande Guerra acentuaram-se as debilidades que o país apresentava no que respeitava à produção de bens alimentares, nomeadamente dos cereais. Os preços aumentaram, começaram a aparecer fenómenos de açambarcamento e de contrabando. 

Por fim, depois do inverno de 1916-1917, a fome fez a sua aparição. Nesse inverno, os Aliados tinham reforçado o bloqueio à Alemanha, tendo esta reagido violentamente, coma guerra submarina no Atlântico, procurando cortar o abastecimento aos países aliados.

Em todo o lado faltavam matérias-primas e alimentos. Todos os países, beligerantes ou não, mergulharam no caos. Uns mais que outros, mas a maioria, como Portugal, sofreram uma grave crise de subsistências, inflação e fome, acompanhadas por uma crescente agitação operária e popular, greves, motins de rua, insurreições militares e revoluções." Cf. Arnold Arie Van Rossum, "A questão das subsistências no Porto, no período da Grande Guerra, 2011"

Transcrevemos as notícias publicadas por aquele jornal: 

Subsistências 1917: Agitação popular na Raiva 

O povo que luta com dificuldades para angariar os magros centavos para comprar milho, chegava à Raiva, onde esta região se costuma abastecer, e não o encontrava à venda. 

Constando que naquela povoação havia multo milho armazenado e que se negava o venda ao público, para lhe darem outro destino, e não se sujeitarem ao preço da tabela, ultimamente decretada para todo o país, medida muito acertada, o povo da freguesia de Oliveira do Mondego foi ali e verificou que existiam mais de 10  000 alqueires! Os sinos da matriz, sinetas das capelas das freguesias do Oliveira, Travanca e S. Pedro d'Alva tocaram a rebate no dia 24 e 25 do mas findo, aparecendo na Raiva milhares de pessoas. 

Para Oliveira foi uma imensidade de sacos sob a responsabilidade de pessoas idóneas, mas sem ser do acordo com o dono do milho, o que não achamos justo. 

Porque facilitasse ao povo a venda do milho pelo preço da tabela e se o comerciante não concordasse, então usassem da violência em último extremo, porque a prudência foi sempre em todos os tempos uma “senhora” multo respeitada. 

Qual o resultado? 

Veio uma força de cavalaria e guarda Republicana, que fez conduzir outra vez as sacas com milho para a Raiva, com a promessa de ali ser vendido pelo preço da tabela na próxima quinta feira. 

Concorreu também muito povo da freguesia de S. Pedro d'Alva com o digno regedor José Correia de Brito à frente, que pela sua prudência conduziu o povo de forma a mais uma vez provar que é ordeiro, tendo a felicidade de dar com um homem muito delicado, que comandava a força militar, evitando assim, quem sabe, muitas desgraças. Lamentamos sempre casos desta natureza, mas é bom que todos se compenetrem que o povo menos favorecido da sorte precisa auxílio e não que o explorem.                                        

                                                *  *  *

A propósito deste lamentável acontecimento, têm vindo a esta redacção muitas pessoas pedir que tornemos bem público o motivo do levantamento do povo, que deseja ser ordeiro, mas que não quer ser prejudicado como o foi no ano findo.

Que o povo dos lugares da Paredes e Raiva, foram os que mais sofreram com a falta e carestia do milho, tendo de procurar milho ou farinha a uma distância de 20 quilómetros, nas moendas do Feijoal, no concelho de Arganil. E quantas vezes ali foram e nem uma nem outra coisa traziam? E quanto valia o tempo perdido? 

Todavia sabiam, que à porta lhe passavam  centenares de carros de milho, que metiam em barcas e lá iam Mondego abaixo em direcção a Coimbra! 

E para onde ia esse milho? 

Despachado para as estações mais próximas do mar e dali era encaixotado e metido em navios como vidraça, e uma  vez em  Vigo, os açambarcadores recebiam por cada alqueire uma libra em ouro e lá ia para a Infame Alemanha! 

É isto que o povo declara, e a ser assim, é um crime do alta traição e lesa pátria, estar a auxiliar-se quem nos está sugando o sangue, roubar-nos milhares de vidas e a cavar a nossa autonomia que tanto custou aos nossos antepassados.

Sendo assim, o povo tem razão; cremos que seja, porque o ano findo foi fértil em milho em todo país, que chegava e de sobra para o consumo do continente, sem precisar-se de o importar das nossas possessões.

Pertence ao Governo tomar medidas enérgicas, que o momento é terrível. 

 

Tumulto 

No dia 28 do mês de Dezembro findo, um grande número de pessoas das freguesias de Lorvão e Figueira, apresentaram-se na repartição de Finanças de Penacova, ao que parece, com o fim de reclamar perante o sr. Almeida e Sousa, digno secretário de finanças, contra o lançamento de algumas colectas de contribuição industrial. 

Recebidos por sua ex. com toda a urbanidade, explicou-lhes a maneira legal do lançamento das referidas colectas e indicou-lhes o melhor modo de fazerem as suas reclamações, mas o povo fechando os ouvidos, partiram, à saída, os vidros duma porta da repartição. 

Compareceu a Guarda Republicana e o sr. António Casimiro, digno secretário da administração, que conseguiram dispersar o grupo, sem haver felizmente desgraças a lamentar. 

Se há movimentos populares que se justificam pelo fim que visam e pela ordem como são feitos, outro tanto não sucedeu com o actual, em que certamente os seus promotores se deixaram embarrilar por aqueles que os queriam explorar.

O povo deve organizar os seus movimentos com ordem e em defesa de causas justas, tendo em vista os interesses de todos.

Só deverá fazer uso da força, e então, ser enérgico, quando as suas justas e ordeiras reclamações não forem atendidas. 

Se nas repartições do concelho há empregados atenciosos que sabem  avaliar o esforço e trabalho do contribuinte, outro tanto não sucede com alguns, que além de escamotearem o povo ainda o tratam com maneiras bruscas e pouco atenciosas. Oxalá que estes aproveitem com o caso sucedido; que fiquem sabendo que o povo é soberano, que estão ali para o atender e tratar com urbanidade seja qual for a sua condição, por isso recebem do Estado os seus vencimentos, que o mesmo povo paga. "

segunda-feira, outubro 21, 2024

Congresso Internacional vai apresentar estudos recentes sobre o Mosteiro de Lorvão e outros cenóbios cistercienses


O Congresso Internacional "Women of the Cistercian Order: unveiling nunneries and expanding horizons", vai decorrer, via Zoom, entre 29 e 31 de janeiro de 2025, tendo como principal objetivo reunir e sintetizar os resultados das mais recentes investigações sobre scriptoria, livros e bibliotecas cistercienses, bem como explorar a female agency nas comunidades cistercienses e as ligações entre os livros e as monjas. O Mosteiro de Lorvão, enquanto cenóbio pertencente à Ordem de Cister a partir do séc. XIII, será, obviamente, referido no contexto geral do tema do Congresso.

É organizado pela equipa do projeto de investigação "Livros, rituais e espaços num mosteiro cisterciense feminino. Viver, ler e rezar em Lorvão nos séculos XIII a XVI", juntamente com o Instituto de Estudos Medievais (IEM Nova FCSH).

Até 27 de outubro, encontra-se aberto call for papers. Os organizadores "convidam os investigadores a explorar as características materiais dos livros litúrgicos cistercienses, concentrando-nos particularmente nas suas características codicológicas, tais como os métodos de encadernação que, pelas suas especificidades, muitas vezes revelam informação sobre a sua proveniência, e a análise dos pigmentos usados na criação e mistura das cores. "

Serão também bem-vindos, refere a organização,  "todos os aspetos relacionados com a “biografia” dos livros, ou com os vestígios dos cuidados que lhes eram dedicados, bem como com os métodos de conservação usados ao longo dos séculos para preservarem a sua identidade."

A liturgia cisterciense e a sua performance ritual nos espaços monásticos, centrando-se na procura da uniformidade litúrgica defendida pela ordem, será outro aspecto a explorar.  "Além disso, procurar-se-á analisar como este ideal interagiu com as práticas locais, incluindo a sua adaptação às tradições litúrgicas específicas dos mosteiros femininos cistercienses" [...] destacando o papel das mulheres no mecenato cultural e artístico, e na prática litúrgica.

Saiba + 

sexta-feira, outubro 18, 2024

Rota do Pão: da Aldeia do Sobral à Praia do Vimieiro

No dia 5 de Outubro foi inaugurada a Rota do Pão (PR6-Penacova), trajecto de traçado linear com cerca de 17 Km de extensão, que se inicia no Forno Comunitário da aldeia do Sobral. Daí,  segue para a Fonte do Castinçal, passa pela Fonte do Púcaro e atinge a Vila de S. Pedro de Alva. Depois, numa extensão de cerca de 5 km, por caminho florestal, dirige-se a Laborins. Seguindo a margem esquerda do Rio Alva, atinge a Praia Fluvial do Vimieiro, passando junto a terrenos agrícolas e moinhos, bem como pela Praia do Cornicovo. 


A "Comarca de Arganil" publicou ontem uma reportagem assinada por Alfredo Fonseca e que nós dá uma imagem do ambiente que se viveu neste dia que considera "memorável". Além de transcrevermos o seu texto, publicamos igualmente uma síntese das muitas fotografias que podemos ver na página do Facebook da União de Freguesias. 


"Foi sem dúvida um dia muito grande em eventos, pois logo pela manhã iniciava-se no Vimieiro uma monumental caminhada sob a égide da Rota do Pão, passando por Hombres, onde foi servido um pequeno almoço aos caminhantes, seguindo de-pois até ao Caçote, Bica e Cornicovo à beira do rio Alva, outro ex-libris da nossa Freguesia a jusante do Vimieiro que espera, na próxima época balnear, obter a Bandeira Azul na sua praia fluvial. 

A caminhada seguiu para Laborins, onde foi muito bem acolhida pala população local. Foram ainda à Maria Delegada, onde permanece uma moenda e casa do moleiro em bom estado de conservação. De Laborins seguiram para a povoação da Ribeira, passando nas alminhas da Servacã e pelo Vale acima em plena comunhão com a natureza, saboreando a beleza que esse vale nos oferece. 

Findo este percurso de elevado sentido histórico e pedagógico, a próxima etapa seria rumarem para a Fonte do Púcaro (um aprazível parque de merendas), aproveitado e embelezado pelo executivo municipal anterior, mas hoje já com alguns indícios de vandalismos praticados por alguém sem escrúpulos que estão sempre contra tudo e contra todos, até um dia serem apanhados na ratoeira. O tempo chuvoso, com aquela chuva de "molha tolos," aconselhava a não irem para lá e ficarem no salão polivalente da Casa do Povo a degustarem um maravilhoso porco no espeto. 

Mas o dia ainda era uma criança e mais eventos esperavam a comitiva e não só, pois para cumprir cabalmente a égide da Rota do Pão, nada melhor que ir inaugurar um forno comunitário, que foi construído na aldeia rural do Sobral (terra da naturalidade do nosso presidente da União das Freguesias de S. Pedro de Alva e S. Paio do Mondego, Victor Manuel Cunha Cordeiro), cuja obra deve ser enaltecida a todos os níveis até pelo que simboliza, pois daqui a alguns anos, a continuar assim, os mais jovens não sabem nem fazem ideia como nos tempos recuados se cozia o pão e muito especialmente a broa, que era a principal iguaria para matar a fome, colocada nas mesas dos agregados familiares. 

Todos os caminhantes rumaram para o Sobral. Alguns notava-se algum cansaço, mas com o apoio de um pau ou dois, não desistiram até chegar à meta dos mais de dezassete quilómetros. O Sobral nunca terá visto tanta gente dentro das suas fronteiras e havia fortes razões para que assim acontecesse. 

O espaço onde foi implantado o forno, foi oferecido por um familiar, herdeiro de Serafim Alves, que foi um bom e santo homem daquela comunidade e, por isso, foi descerrada uma placa dando o seu nome ao forno comunitário aquele espaço.

Estiveram presentes as altas esferas do Município. com o presidente da Câmara, Álvaro Coimbra, e todos os membros do executivo, o presidente da Assembleia Municipal, Humberto Oliveira, o presidente da Adelo, Mário Fidalgo, que financiou aquele empreendimento e muito mais entidades, a quem peço desculpa por não os nomear (única e simplesmente) porque não fixei os seus nomes.

Depois do descerramento da placa alusiva, dando o nome do saudoso Serafim Alves, usou da palavra o presidente da União das Freguesias, Victor Cordeiro, que com palavras amistosas e calorosas, cumprimentou e agradeceu todas às entidades presentes para quem teceu palavras ter-nas e de agradecimento. Seguiu-se Mário Fidalgo, que com muita destreza explicou que quando lhe chegou às mãos a candidatura daquele projeto não teve qualquer objeção em o aprovar dado que se enquadrava plenamente no âmbito da recuperação das aldeias rurais, como era o caso em apreço.

Seguidamente foi o presidente da Câmara Municipal, confessando-se rendido àquela obra ali erguida. Comungamos com ele quando se referiu às mulheres e jovens que voluntariamente se empenharam ali, não só na organização mas também na confeção daquele abundante repasto a que todos tiveram acesso, mas também a outro grupo que se dedicaram a aquecer o forno para cozer uma deliciosa fornada de broa, que foi saboreada quentinha, partida à mão como se impunha enquanto o pão estiver quente. A tarde já ia avançada e os visitantes e caminhantes começaram a afastar-se dando assim por findo este magnifico evento, que honra sobremaneira os seus autores, com especial destaque para o presidente da União das Freguesias, Victor Cordeiro. 

Mas o dia ainda era uma criança e outro evento nos esperava na Casa do Povo. Assim, promovido pelo grupo voluntariado comunitário do concelho de Penacova da Liga Portuguesa Contra o Cancro, foi leva-do a efeito um magnifico espetáculo que ficará gravado na nossa memória na qualidade de grata recordação. Este evento foi enriquecido com a preciosa colaboração da dona Natália Amaral, médica ginecologista e secretária geral do Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, a qual proferiu uma brilhante palestra aconselhando e incentivando as senhoras após atingirem os 50 anos a fazerem o rastreio do cancro da mama pois é fundamental para evitar males maiores. À voluntária Lígia Fonseca, coube a tarefa de fazer as apresentações e agradeceu a todos por terem vindo. Finda a palestra da dra Natália Amaral, que foi ouvida com muita atenção e agrado pela vasta plateia, foi oferecido a Saudade Lopes um lindo ramo de flores em agradecimento pelo brilhante trabalho que desempenhou quando liderou o grupo de voluntariado de Penacova.  Depois deu-se início a um magnifico "Café Concerto" à luz das velas, que nos proporcionou um maravilhoso momento musical com os encantadores fados de Coimbra, sublimemente cantados por uma jovem chamada Beatriz Villar, que não só cantou como encantou o vasto publico arrancando-lhe vibrantes aplausos num reconhecimento inequívoco de que o fado de Coimbra não é para ser cantado apenas por homens, pois a Beatriz demonstrou que pode e deve ser cantado também por senhoras. Foi acompanhada à viola por Diogo e à guitarra portuguesa por João Martinho, que com os seus vibrantes acordes, arrancaram do público prolongados aplausos. Momentos muito altos lá vividos foi quando a fadista Beatriz Villar pediu ao público que a acompanhassem em vários trechos da canção coimbrã que a aplaudiram de pé. Parabéns à organização de tão profícuo espetáculo e queremos mais. Assim terminou este dia memorável, que deverá ficar gravado a letras de ouro na história desta União das Freguesias de S. Pedro de Alva e S. Paio do Mondego. 
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terça-feira, outubro 15, 2024

Ainda o poema "Remoçar na Praia" ... agora em vídeo


No contexto da II Bienal de Música de Lorvão, o "Colectivo declAMAR poesia" apresentou, no dia 12, uma selecção de Poesia Portuguesa. Este grupo que iniciou a sua atividade no Salão Brasil, em Coimbra e, tem vindo a participar em diversas iniciativas poéticas, no Teatro Académico Gil Vicente e no Museu Machado de Castro, é composto por Catarina Matos, Lurdes Telmo, Olga Coval, Rui Amado e Vanda Ecm,  O programa teve momentos musicais de viola de arco, bem como um espaço aberto ao público para apresentação livre de poesias de poetas, preferencialmente locais.

Deste segundo momento, destacamos a intervenção de  Ricardo Coelho ( membro do Coral Divo Canto) que declamou, entre outros, o poema de Luís Pais Amante, "Remoçar na Praia" publicado há dias no Penacova Online. Por sua vez, Óscar Pereira Trindade transpôs tudo isso para vídeo, que podemos visualizar na sua página  YouTube (veja AQUI). 

Excelente texto, excelente interpretação, excelente vídeo! - permitam-me os leitores este sincero e pessoal reconhecimento. 



 Coletivo «declAMAR Poesia», 
composto por Catarina Matos, Lurdes Telmo,
 Olga Coval, Rui Amado e Vanda Ecm,

sábado, outubro 12, 2024

Coral Divo Canto: 18º Encontro de Coros de Penacova


O 18º Encontro de Coros de Penacova vai realizar-se hoje, 12 de outubro, a partir das 21h30, no Mosteiro de Lorvão tendo como convidados Orfeão da Santa Casa da Misericórdia de Gouveia e Coro da Cruz Vermelha de Águeda, no âmbito de protocolos de intercâmbio cultural que o DIVO CANTO vem desenvolvendo com coros de todo o país e do estrangeiro. Amanhã, dia 13 , a partir das 18h00, vai estar de novo no mesmo palco a participar no concerto conjunto das Associações que integram o Conselho Consultivo da Escola de Artes, também integrado na 2ª Bienal de Música do Mosteiro de Lorvão.

O Coral Divo Canto, com sede em Penacova, organiza anualmente dois encontros de coros no concelho (um internacional e um concerto de Natal). Para além destes, desloca-se regularmente pelo país para participar em concertos para o qual é convidado no âmbito desses intercâmbios culturais, participando ainda em diversas iniciativas culturais promovidas por entidades oficiais e outras.

No ano de 2023, em que comemorou o seu 20º aniversário, participou em duas sessões do programa Praça da Alegria, da RTP, nos Duelos da Páscoa, participou ainda num espetáculo do cantor Paco Bandeira e no evento “Sabores de Penacova”, no Casino da Figueira da Foz, onde partilhou o palco com o cantor e humorista Fernando Pereira. Neste ano é de referir igualmente a organização de um ciclo de 6 concertos de música sacra e uma digressão a França.

No corrente ano já se deslocou ao Reino Unido, onde ofereceu um concerto à comunidade portuguesa em Londres dedicado aos 500 anos do nascimento de Luís de Camões e participou nas comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com a presença do Senhor Embaixador de Portugal naquele país. 

No conjunto das suas actividades, para além de participações em diversos concertos no país, organizou o 8º Ciclo de Concertos Divo Canto, em Penacova e Lorvão, recebendo o Coral das Caldas da Rainha e o Chorale Crèche n’Dó, de França, .

quinta-feira, outubro 10, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: Remoçar na praia

 

Remoçar na Praia


Uma pedra -se calhar de xisto - a desfazer-se

Rebolou

E amorteceu a sua viagem na acalmia

Do nosso Rio

Junto à “maternidade” no pedrario

Fazendo fugir os peixinhos em “pousio”

Nos círculos da água franca que abriu

Vieram-me rostos amigos que de lá viu

Antigamente em convívio são e Amizade

Um passarinho de bico esguio

Assobiou

E o som propagou-se como se fosse

Um arrepio

Também a rã quis coaxar

E a cigarra iniciou um concerto estridente

De rock da pesada em acasalamento tardio

Mais pra noite o pirilampo iluminará o breu

E as libelinhas adornarão o céu

Projectado na água



Neste vai e vem de tarde tardia

À cacofonia da bicharada (que rasga o silêncio)

Sobrepõe-se a faina poliglota dos veraneantes

Algumas crianças correm na ponte

De madeira tosca, resistente

Outras sorriem alegres

Mas com pés dormentes

Das pedrinhas que se lhes picam

Nos hábitos que não têm

Da Liberdade descalça

A que se contrapõe a do telemóvel na alça

- não saltes bebé que daí é perigoso!

- o limo é viscoso!

Diz uma Avó amorosa, ao meu lado

Por baixo do chapéu de sol de colmo

Africano

A que falta o côco para ser paisano



Está lá a areia, embora importada

Está lá a curva da barriga zangada

O Penedo da Viúva já é uma estrada

O tempo passou muito e depressa

Mas as coisas simples desta Praia do Reconquinho

[E as que deviam ser deste nosso fado mansinho]

Dão-lhe um ar que parece que ainda agora começa

A brisa do ar vindo dos salgueiros anda em circuito

A vista de cima faz-se num quadro a óleo bem culto

E o sol?

… Esse continua forte e ainda é gratuito!


Luís Pais Amante

Casa Azul

Após uma tarde boa, passada na Praia Fluvial do Reconquinho, 
com o Clube da Netaria e rememorando as traquinices 
que eu próprio -e as minhas amigas e amigos 
dos anos 60/70- por ali alimentávamos …

sábado, outubro 05, 2024

No 5 de Outubro evocar António José de Almeida

A 31 de Outubro de 1937 era inaugurado em Lisboa o monumento a António José de Almeida, oito anos após a sua morte. Um projeto do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro e do escultor Leopoldo de Almeida. 

A revista "Ilustração" publicou uma reportagem destacada sobre esta prestigiosa homenagem.

Durante o Estado Novo (1933-1974), o monumento acabaria por se transformar num local de "romaria" da oposição ao regime, em datas simbólicas como o 5 de outubro. Nessas ocasiões, a homenagem seguia muitas vezes para junto do jazigo de António José de Almeida no Cemitério do Alto de S. João.

Revista "Ilustração" nº 286, 16 de Novembro de 1937




𝓐𝓷𝓽ó𝓷𝓲𝓸 𝓙𝓸𝓼é 𝓭𝓮 𝓐𝓵𝓶𝓮𝓲𝓭𝓪
António José de Almeida nasceu em Vale da Vinha a 17.07.1866 e faleceu em Lisboa a 31.10.1929.

Formado em Medicina pela Universidade de Coimbra (1895) aderiu logo nessa época ao Partido Republicano e em 23 de Março de 1890 publicou na folha académica Ultimatum o artigo «Bragança, o último», que lhe custou a pena de três meses de prisão.

Exerceu medicina em Angola e depois, em São Tomé e Príncipe até 1903, após o que estagiou em Paris e regressou a Lisboa onde abriu o seu primeiro consultório, na Baixa, primeiro na Rua Áurea, que depois transferiu para Largo do Camões nº 6 – 1º (hoje, Praça Dom João da Câmara), onde ganhou fama de médico dos pobres.

A sua carreira política foi intensa. Começou por ser eleito deputado pelo círculo oriental de Lisboa (1906) e integrou a Maçonaria (1907) ainda antes da proclamação da República. 

Exerceu depois as funções de Ministro do Interior do Governo Provisório (1910-1911). Em 1912 fundou o Partido Republicano Evolucionista. Foi Chefe do Governo da chamada «União Sagrada» e Ministro das Colónias (1916-1917) e ainda Presidente da República (1919-1923).

É de destacar o seu papel na reforma do Ensino Superior, sobretudo no estudo da medicina e na criação das Universidades de Lisboa e do Porto, bem como a sua visita ao Brasil em Setembro de 1922 por ocasião do Centenário da  Independência daquele país, de que Luís Derouet fez reportagem: Duas Pátrias – O que foi a visita do Sr. Dr. António José de Almeida ao Brasil.

António José de Almeida colaborou em vários periódicos e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). Em 1934, foram coligidos os seus principais artigos e discursos e publicados em 3 volumes sob o título Quarenta anos de vida literária e política

sexta-feira, setembro 27, 2024

A Batalha do Buçaco relatada por um ajudante de campo de Massena


Naquele dia 27 de Setembro deu-se a maior e mais sangrenta batalha travada em Portugal durante a Guerra Peninsular. 

Depois de terem invadido Portugal por duas vezes, em 1807 e 1809, os exércitos napoleónicos, comandados pelo Marechal Massena, voltaram, no Verão de 1810, a atacar as nossas fronteiras.

As tropas francesas entraram em Almeida em Julho de 1810, depois de terem tomado Ciudad Rodrigo. No âmbito do plano de defesa da península, as tropas aliadas comandadas pelo General Wellesley, Duque de Wellington, e compostas por soldados ingleses e portugueses, tinham já iniciado a construção das Linhas de Torres, cujo objetivo era a defesa da cidade de Lisboa. A marcha dos franceses com destino a Coimbra, foi interceptada por Wellington no Buçaco. 

Aceda AQUI ao relato de Marbot, na altura segundo ajudante de campo e mais tarde general. Pode também LER AQUI outros apontamentos que o Penacova Online tem vindo a publicar sobre a Guerra Peninsular.


quinta-feira, setembro 26, 2024

𝔻𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕛𝕒𝕟𝕖𝕝𝕒: Orçamento de Estado: como discutir a ilusão?


Tenho assistido a um tão grande afã - virulento até - sobre o OE (Orçamento de Estado) que me obrigo a tentar explicar aos meus amigos e fiéis seguidores, afinal, o que é que se discute; e em que é que se diverge?

O que é que consome tanta energia, tanta agressividade, tanto tempo das antenas dos meios de comunicação social, tanto “desgaste” aos políticos que temos e tanta exasperação a nós Povo que os mantemos, quantas vezes a fazer asneiras, a vender ilusões e a mentir.

É importante dizer que:

- o OE é um instrumento de gestão que contém uma previsão descriminada das receitas e das despesas do Estado;
- incluindo as dos fundos autónomos;
- e incluindo, também, o orçamento da segurança social;
- o OE é da iniciativa exclusiva do Governo.

A Proposta de Lei do Orçamento é apresentada à Assembleia da República (aquele local cujos custos são uma enormidade cada vez maior para um País pequeno e pobre como o nosso) onde se inicia um processo legislativo especial, com uma tramitação feita com uma complexidade que procura, pura e simplesmente, “dar trabalho e ocupação aos Deputados”, para ajudar a que estes não diminuam na sua expressão, apesar de esta ser quase impossível de manter e merecer.

No meio disto tudo, ainda acontece um Parecer Técnico, elaborado pela UTAU (Unidade Técnica de Apoio Orçamental), que é um Serviço de apoio à Comissão Parlamentar que, em permanência, tem competência em matéria de orçamento e finanças, parecer esse muitas vezes olvidado totalmente.

Tudo muito complicado; tudo muito pouco expedito; tudo digno de um Estado muito grande que nós, definitivamente não somos, nem seremos; tudo um atraso de vida!

Ora bem, aqui chegados, onde é que se encaixa todo este frenesim a que andamos a assistir, que põe em causa a descrição que a Política deve ter, com o governo a governar e a oposição a preparar -e demonstrar- poder vir a ser alternativa;… mas cada qual no seu poleiro?

Numa óptica de análise simplificada dos números pelos valores relativos à “dimensão” Administração Central (não olhando, portanto, para esta dimensão, acrescida da Segurança Social, mais a Administração Regional e Local), o que o OE 2024 (aprovado por um governo de maioria e hoje em execução por um outro) nos diz, friamente, é que às exageradas despesas aí previstas [93,1 mil milhões de €] se contrapõem as exíguas receitas [86,1 mil milhões de €]!

Os Senhores Deputados fizeram um exercício que nos levaria, provavelmente, tal como eles previam - e queriam - a um saldo negativo de [-7 mil milhões de €] neste ano de 2024.

Que é como quem diz, admitiram tornar possível a subida da nossa Dívida Publica para €273,4 mil milhões, que, sendo factual, seria só uma pequena loucura.

!… E o que torna toda a discussão em curso como uma brincadeira (um faz de conta) que procura, sobretudo, dar continuidade a uma irresponsabilidade notória, que põe a política muito mal na fotografia e parece estar a corroer a influência de alguns, nas suas teorizações, até perante os seus chefes, que resistem(?) a ser embalados pró abismo puro e simples …!

Uma verdadeira manipulação em ilusão, pois!

Então os últimos Governos, ao não actualizarem as taxas de retenção do IRS, não aumentaram, “secretamente”, os impostos?

E não é verdade que não actualizaram salários a franjas enormes de profissionais durante anos e anos a fio, nem promoveram a manutenção mínima de Funções de Estado, vitais, utilizando uma técnica de cativações que ludibriou mesmo os seus parceiros?

E não é lógico, assim, que se façam descer os impostos agora, incrementando a procura e dando alento ao poder de compra da generalidade dos trabalhadores, incluindo os Jovens?

Fora dessa realidade - os recentes elementos que caracterizam a evolução da receita do primeiro semestre, com folga inesperada - é suficiente para se admitir uma governação no modelo dos chamados “duodécimos” - que é tão válida como outra qualquer- nas circunstâncias que descrevi; talvez melhor, até para o País e já percepcionada por quem tem a exclusividade na apresentação do OE, acreditem. E eu acho que é isso que inquieta, verdadeiramente, os autores do OE2024, que tendo dado continuidade à ilusão, na AR, têm medo de nada entrar em vigor e, por isso mesmo, terão mesmo de arranjar modo de aprovar um Orçamento que cumpra minimamente o programa do governo, na hora da verdade, estando a fazer um bluff puro e duro, que lhes pode vir a sair muito caro.

Na opinião de muita gente das famílias políticas, até, já chega de irresponsabilidades.

O aumento da dívida pública nominal (sujeita a tantas, mas tantas vicissitudes, na conjuntura actual, bem identificadas, recentemente, por Mário Draghi) sendo vulgarizada por cá, não ajuda, nunca, os mais desfavorecidos, contrariamente ao que se quer fazer crer!

Estes ficam sempre à fome, logo ao primeiro abalo da economia doméstica.

E não são muitos os que os ajudam, sem interesses … Ai não são, não!

Luís Pais Amante