sexta-feira, junho 14, 2024
Coral Divo Canto nas Comemorações do Dia de Portugal em Londres
segunda-feira, junho 10, 2024
𝕯𝖆 𝖒𝖎𝖓𝖍𝖆 𝖏𝖆𝖓𝖊𝖑𝖆: uma nova rubrica de poemas (e crónicas) de Luís Pais Amante
Da minha janela
É da minha janela que vejo este mundo
Plano, agitado ou com tez de rotunda
Que olho pró tempo de crescer
Para as memórias de me ter
E me introspectivo na saudade
Que mora cá, na minha idade
De mais novo do que ela
Também rememoro os tempos idos
As liberdades da alma
O pousio desta calma
Que é olhar pró infinito tão perto
Pra natureza em beleza sem igual
Há quem tenha ciúmes da minha janela
Porque como ela, não existe outra tão bela
Será só por ser um sítio único?
Será só porque ela é a singela?
Será porque é a fina donzela?
Eu penso que é por tudo isso
E pelo seu imaginário translúcido
Que circunda em alegria
E promove a democracia
Um lugar de sorriso e inspiração
Um observatório de ar puro
Que permite olhar para tudo
Até idealizar o que se requer
Quem sabe, capaz, de determinar
E moldar
O meu ser de rigoroso no meu crer
Resiliente em por aqui me manter
A admirá-la…
Vou mesmo tentar dar-lhe fantasia
Desde este Fundo da (minha) Vila
Austero, antigo
Mas sonhador e profundo … e amigo!
Luís Pais Amante
Casa Azul
sábado, junho 08, 2024
Personalidades (4): Joaquim Jerónimo Silva Rosa (1900-1974)
Joaquim Jerónimo Silva Rosa nasceu a 2 de Outubro de 1900 e foi baptizado a 25 de Dezembro de 1901 na Igreja de Lorvão. Filho de Joaquim Maria da Silva (1851-1911) e de Maria de Jesus Rosa da Silva (1880- 1996), proprietários, naturais e residentes naquela freguesia.
Casou com Maria Lúcia Vassalo Namorado em 27 de Março de 1932, em Torres Novas, numa cerimónia civil. No mesmo dia, celebrará o casamento religioso na Igreja de Santa Cruz de Coimbra (1). O casal passou pouco depois a viver em Penacova, onde permaneceu até 1937.Refere a Wikipédia que “em 1930, enquanto passava férias no Luso com a mãe e Maria Cândida Caeiro, filha mais nova da sua prima Maria Lamas, conheceu Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, um escrivão, natural de Lorvão, Penacova, com o qual se casou numa cerimónia civil em Torres Novas, e outra religiosa em Coimbra”.
O casal separou-se anos mais tarde, em meados da década de 50, tendo tido depois uma segunda relação, com Leonilde Viegas.
Do primeiro casamento nasceram 3 filhos: Luís Vassalo Namorado Rosa (1935-2018), prestigiado arquitecto ligado à Expo 98, Fernando Vassalo Namorado Rosa (1935-?), quadro superior da CP e Rui Vassalo Namorado Rosa (1940 - ), investigador e professor na Universidade de Évora.
O nome de Joaquim Jerónimo Silva Rosa está ligado à criação de dois jornais penacovenses: Progresso Lorvanense e Notícias de Penacova.
O primeiro, veio a lume no dia 23 de Janeiro de 1921 tendo-o como editor e director. Com algumas interrupções pelo meio, o último número tem a data de 15 de Outubro de 1922. Escreve Carlos Pimenta, seu amigo de juventude, que o Progresso Lorvanense foi inicialmente publicado “a expensas suas [Joaquim Jerónimo] que com ele gastou umas boas centenas de escudos”, até ser administrado pela Empresa Industrial Lorvanense.
Aquando da criação do Notícias de Penacova (1932-1978) o redactor principal é precisamente Joaquim Jerónimo da Silva Rosa, à época escrivão do Julgado Municipal de Penacova, onde exerceu de 1931 a 1937. Também neste jornal colaborou sua mulher, Maria Lúcia Namorado, dirigindo, com uma peridiocidade quinzenal e alternadamente, uma “página infantil e outra feminina”, respectivamente, “Qui-Quiriqui” e “Página Feminina: o espírito, a elegância e o lar”.
É ainda Carlos Pimenta, na crónica referida (in Notícias de Penacova, 1953) que Joaquim Jerónimo também ajudou “moral e materialmente” a Filarmónica: “além da sua ajuda monetária, não hesitou, na sua condição de estudante liceal, enfileirar uniformizado ao lado dos demais executantes, tocando clarinete com proficiência.”
Estudou em Coimbra e iniciou a vida profissional no Julgado Municipal de Penacova. Como Escrivão Judicial passou depois por diversos locais do país, como Golegã, Seixal e Lisboa.
Em 2005 foi publicada uma Tese de Doutoramento subordinada ao título “A Educação das Mães e das Crianças no Estado Novo: a proposta de Maria Lúcia Vassalo Namorado”, tendo como autora Ana Maria Pires Pessoa. Esta investigação fornece-nos muitos pormenores sobre a vida pessoal e familiar de Maria Lúcia e mesmo até sobre o ambiente social de Penacova na década de trinta.
De acordo com este estudo académico, Joaquim Jerónimo “tinha começado a trabalhar no final dos anos 20 tendo tomado posse como ajudante de escrivão” em Abril de 1928. Em Julho de 1931 toma posse como escrivão do julgado municipal de Penacova, “onde fica seis anos.” A investigadora refere igualmente que Joaquim Jerónimo Silva Rosa “é transferido, como chefe de secção, primeiro para a Golegã, em finais de 1937 e depois para o Seixal, a seu pedido, em 1940. Em Janeiro de 1945 foi ocupar, em Lisboa, o lugar de ajudante de chefe da 1ª secção da secretaria do Supremo Tribunal de Justiça. Será ainda, em 1949, colocado no Tribunal de Recurso das Avaliações. “Por despacho de 16 de Abril de 1954 passa a chefe de secção do mesmo tribunal, sendo promovido a ajudante de 1ª classe em 14 de Fevereiro de 1955”. Em 1965 é transferido, a seu requerimento, para o 8º Juízo Correcional de Lisboa, sendo nomeado chefe de secretaria interino. Reformou-se em1967, com 37 anos de serviço.
Joaquim Jerónimo não deixou de visitar as terras da sua origem e de escrever na imprensa local. A título de exemplo, o Notícias de Penacova de 1947, e também o de 1962 e outros anos, foi noticiando a sua presença quer em veraneio na vila de Penacova, quer na Quinta da Cerca, em Lorvão.
Numa crónica, por si assinada no Notícias de Penacova de 27 de Julho de 1947 com o título “Grupo dos Amigos de Penacova”, associação ainda em embrião, promovida sobretudo por Manuel de Oliveira Cabral, escreve que todos não eram demais “para conseguir o objectivo, tão caro a cada um de nós, de tornar Penacova uma estância de repouso e turismo a sério.”
Faleceu em Lisboa a 12 de Julho de 1974. O funeral realizou-se no dia seguinte para o cemitério de Lorvão.
segunda-feira, junho 03, 2024
Estudo sobre Turismo em Penacova analisa práticas de gestão sustentável, potencialidades, infraestruturas, eventos...
sábado, junho 01, 2024
Poetas penacovenses [15]: De olhar entristecido
De sobrolho olho
O quintal do fundo
Com nozes, cebolas e couves tronchudas
Um pouco além
A quinta do mundo
Com ínsulas, videiras e abóboras carnudas
Bem a direito
O Rio sempre belo
Com moçoilas novas a dar ao marmelo
Mais pra lá
O oceano imundo
Com plástico apodrecido e peixes a boiar
Dizem mas eu não vejo
Que junto aos desertos das Áfricas
Há gente a correr no sonho de algo querer ter
Que se afunda
Assim que vê terra
E que luta com a água -e treme- antes de morrer
Luís Pais Amante
Casa Azul
quarta-feira, maio 22, 2024
Retrospectiva do Cinquentenário do 25 de Abril em Penacova
quinta-feira, maio 09, 2024
Vox et Communio: um exemplo salutar
V o x e t C o m m u n i o: u m e x e m p l o s a l u t a r
por Luís Pais Amante
Estive, há dias, a assistir ao Concerto “Um Menino chamado Zeca” [na minha terra Penacova] concebido pelo Maestro Rodrigo Carvalho, com base nas Canções icónicas do meu amigo José Afonso e com “salpicos” do Livro de José Jorge Letria.Podia ter acontecido em qualquer parte do Mundo, dada a excelência do Evento, mas aconteceu ali, no nosso Auditório; no interior de uma Beira carente de enaltecimento.
E foi um êxtase absoluto para quem, como eu, gosta deste tipo de música, toda ela envolta no cheiro do nosso Abril dos Cravos e, neste caso, na leveza da intimidade amiga da juventude sã que por lá anda em “construção permanente”, cunhando e elevando a nossa Cultura Local.
Aquelas vozes (irrepreensíveis na afinação, na afirmação e na identidade) deixam qualquer pessoa maravilhada…arrepiada, até.
E não digo isto por termos (eu e elas e eles) uma espécie de ligação electrizante - há já uns anos - com episódios mesmo muito, muito felizes, como guitarrada e cântico improvisados num Restaurante muito conhecido de Lisboa, com as salas envolventes a aplaudir, admiradas.
Falemos, pois, da Associação e dos seus Associados, de origens sociais diversificadas.
… e do sonho que comanda tudo aquilo …
O Coro Vox et Communio é o braço (digamos assim) da Associação Cultural de Penacova, na sua forma civilista e actua no âmbito das artes do espectáculo. Foi constituída no dia 28 de Maio de 2012, estando, portanto, prestes a celebrar o seu décimo segundo aniversário, embora saibamos de trabalhos preparatórios muito anteriores, enquanto Coral Infanto-Juvenil.
Está integrado no designado Associativismo Jovem, com apoios modestos, mas efectivos.
A sua sede é (tentem perceber bem o significado disto, p.f.) na Rua da Alegria, na Ronqueira, uma Aldeia bonita, soalheira, aconchegada pelo Rio Mondego, onde apetece absorver o ar.
Na criação desta Associação, estiveram envolvidas muitas pessoas da minha terra -meus conterrâneos e amigos - mas muito activamente, um par de namorados apaixonados, humildemente ricos na postura que exibem e muito valiosos, como geração empreendedora que se têm vindo a afirmar: o Rodrigo e a Paula, pelos quais nutro um enorme apreço.
E, talvez por isso, quem estiver atento à “Juventude Vox” (chamemos-lhes assim), percebe que ali se fabrica e cultiva respeito e amor e paixão e se forma gente de elevado valor.
Amor à Associação; paixão pela música e pelo canto; com intuitos firmes de solidariedade.
Até parece estar-se em presença de uma incubadora, que constitui notório exemplo!
O Vox Associação teve comando directivo do Paulo Martins e da Marta Oliveira e, agora, é dirigido pelos próprios Coralistas, já emancipados -e bem- nos seus destinos, o que significa um bom modo de crescimento social e intelectual de coragem e de independência responsável.
Sendo a música, através do canto, o amor principal e mais comum, na verdade, elas e eles dedicam-se, igualmente, a actividades solidárias e ambientais, para não falar nas actividades associativas dos Estabelecimentos de Ensino para onde se vão direcionando.
!… Líderes potenciais, portanto …!
Sim, os Jovens Coralistas também vão fazendo um caminho consistente - e consciente - para o Ensino Superior diversificado e disperso pelo País.
E não admira, pois, que tenhamos para referir - orgulhosos - aleatoriamente, embora, já licenciados ou com estudos superiores em curso, nas áreas de: Geografia, Gestão, Bioquímica, Informática, Fisioterapia, Fisiologia, Ciências Militares Aeronáuticas, Medicina, Engenharia Biomédica, Sociologia, Ciências Farmacêuticas, Música, Engenharia do Ambiente, Design de Equipamentos.
Alguns já a frequentar Mestrados.
Ou seja, Caros Penacovenses e Amigos:
Saibamos merecer o que é nosso, porque nelas e neles (Jovens) é que está o nosso futuro!
terça-feira, maio 07, 2024
As fontes de Cácemes, Corgas e Caldas numa crónica dos anos quarenta
(…) Numa tarde calmosa de Setembro de 1935, passávamos sequiosos ao cimo de Cácemes. Eis que na ribanceira da estrada dos «dois Emídios» (como alguém lhe chama), nos surge uma telha jorrando água abundante e finíssima. Foi então, mais do que nunca, que encontrámos verdadeira a quadra que Menano cantava ao fado: Benditas sejam as fontes | Que à beira .estão dos caminhos | Aonde matam a sede | As bocas dos pobrezinhos.... Hoje já, ali se não encontra a telha primitiva. É um monumento em grandeza e bom gosto, que assinala o local outrora ermo e solitário, cheio de mato e silvas. É uma fábrica de refrigerantes para serem confeccionados com a água da pobre telha de outros tempos. Mas não amaldiçoemos o progresso, que vai assim valorizando a terra portuguesa e vai dar pão a tantos operários que ali vão trabalhar naquela empresa.Há anos falou-se muito das águas das Corgas, ao lado da igreja de Sazes. Registou-se a nascente, constituiu-se uma comissão, desafogou se o local, construiu-se um barracão ao cimo da ladeira, encheram-se ali milhares e milhares de garrafões devidamente rotulados. Corria que estava aberto àquelas águas um mercado excepcional no Brasil. Houve banquetes, onde, a propósito das águas, se bebeu... algum vinho. Mas tudo foi esmorecendo. As silvas tornaram a engrinaldar a nascente; o barracão caiu e desapareceu; e as águas, que toda a gente que as usa continua a achar maravilhosas, continuam a moer o milho, o trigo e o centeio e a espadelar o linho nos seus engenhos e finalmente a regar os milhos de Sazes que, sem elas, pouco ou nada produziriam...
Admirador apaixonado de todas as belezas naturais, apesar das pernas protestarem, lá fui um dia até às Caldas, junto à Quinta da Aguieira, em frente de Vila Nova. É que me diziam que era uma nascente de águas copiosas, muito leves, muito límpidas e tépidas, nas frígidas manhãs de inverno. E confesso que não dei por mal empregado o tempo e o esforço que tive de empregar É realmente uma nascente invulgar. O brotar da água claríssima em sentido vertical por entre seixos polidos e clarinhos, num espaço de alguns metros quadrados, borbulhando gazes; o aspecto florestal e selvático do local, onde tudo cresce com exuberância; o contraste que nos oferece a rudeza das penedias e o escalvado da serra de Entre Penedos e a secura das vertentes da Senhora do Monte
Alto; a proximidade do rio, que nos seus minúsculos barquinhos, ali nos pode conduzir, tudo isto me disse que era um acto de desamor, o turismo local não olhar melhor por aquele arrabalde de Penacova e torná-lo mais acessível e desfrutável aos amantes da natureza que aqui vêm à nossa terra, precisamente por amor dela.
A fonte das Caldas seria para Penacova a sua Fonte dos Amores e o seu Choupal...
Três fontes: Cácemes, Corgas e Caldas. Já que os outros amam as primeiras, porque não hão-de amar os penacovenses esta última?
M. MARQUES
in Notícias de Penacova
A propósito:
https://hidrogenoma.dgeg.gov.pt/agua-mineral-natural/corgas-bucaco
https://www.caldasdepenacova.pt/
https://centralpenacova.blogspot.com/2010/01/agua-das-corgastao-natural-como-sua.html
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/contrato-extracto/552-2011-828954
quinta-feira, abril 25, 2024
Ecos da revolução do 25 de Abril na Imprensa Local
Este periódico, em vésperas do 25 de Abril poucas notícias locais publicava, possivelmente por falta de colaboradores.
Começando a analisar em Janeiro de 1974, encontramos, por exemplo, a defesa da política ultramarina e da guerra colonial. Em Fevereiro ressalta uma crítica muito grande à ONU, associando-a a “uma feira de vaidades” ao mesmo tempo que censura as “políticas onusinas”. Ainda neste mesmo mês, é feita especial referência a discursos de Marcelo Caetano nos quais refere as “atoardas e calúnias” de “certa imprensa”. Sobre o regime, o mesmo afirma no jornal de 9 de Março que “a experiência Corporativa” é “um êxito” evidente. No jornal de 18 de Abril, meia dúzia de dias antes do 25 de Abril, é noticiada a visita de Américo Tomás às obras da Barragem da Aguieira.
A 23 de Março, citando-se um discurso do Ministro Moreira Baptista, salienta-se que os Governadores Civis devem evitar que “alguns eclesiásticos se façam eco de críticas destrutivas que com má-fé são postas a circular para combater a acção governativa, esquecendo-se que a sua missão na Terra deve ser somente evangélica e não política”. Neste particular, apesar de não ter sido notícia no jornal, como é evidente, dizia-se que o Padre António Veiga, pároco de Travanca, Oliveira e Almaça, com grandes preocupações sociais e culturais, chegara a ter informadores da PIDE a escutar as suas homilias.
Estranhamente (ou talvez não) o jornal que tem a data de 27 de Abril alheia-se por completo dos acontecimentos que estão na ordem do dia. Só a edição de 4 de Maio faz eco da Revolução, publicando fotografias de Costa Gomes e de António de Spínola. O editorial, intitulado “Mudança de Rumo” apresenta-se ainda muito cauteloso e desconfiado, indo rebuscar as convulsões da I República e apresentando o 28 de Maio de 1926 como o início de uma fase que “não obstante os naturais defeitos, manteve a paz e o sossego durante meio século e transformou completamente a fisionomia da Nação.” O autor do artigo duvida muito que os portugueses saibam usar a Liberdade e teme, mesmo, que “a emenda seja pior que o soneto.”
Nesta data, dá-se realce ao Manifesto do Movimento das Forças Armadas. O jornal seguinte virá a ser publicado só passados quinze dias, a 18 de Maio, dado que a edição do dia 11 não se publicou, por motivos logísticos, conforme foi comunicado. Neste 18 de Maio já não consta o nome de Joaquim de Oliveira Marques como director. Agora, é o Pároco de Penacova, João da Cruz Conceição, que assume a direcção. Joaquim de Oliveira Marques escreverá em 13 de Julho na pequena nota intitulada “Palavra de Despedida”, que saía porque “a vontade de no máximo 2% por cento da população do concelho” (…) elegera “novas autoridades“ que impuseram a sua saída.”
O 1º de Maio de 74 foi, também em Penacova, o dia em que o Povo “saiu à rua” de uma forma mais visível. A notícia de um ou outro episódio só virá a público no dia 18, como vimos. Relata o jornal que “muitas pessoas se concentraram no Terreiro (…) realizando-se em seguida uma sessão pública no Salão dos Paços do Concelho. Muitos democratas tomaram a palavra para enaltecer o Movimento de Libertação”.
Nesta sessão foi eleita “uma comissão para gerir os interesses do Município”. Comissão que integrava os seguintes nomes: “Fernando Ribeiro Dias, tesoureiro da Fazenda Pública, Manuel Ribeiro dos Santos (comerciante), Rui Castro Pita (engenheiro civil), Joaquim Manuel Sales Guedes Leitão (notário), José Marques de Sousa (proprietário ), Teófilo Luís Alves Marques da Silva ( professor liceal), Américo Simões (industrial ), Adelaide Simões (farmacêutica ), Artur José do Amaral (estudante de Direito ), Artur Manuel Sales Guedes Coimbra (médico), António Coimbra Soares (professor e comerciante) e António de Sousa (electricista).
Esta Comissão alargada, que tomou posse em 2 de Maio, elegeu por sua vez o Presidente e o Vice-Presidente, respectivamente, Teófilo Luís Alves Marques da Silva e António de Sousa. Esta tomada de posse contou com a presença do Presidente e Vice- Presidente cessantes, Álvaro Barbosa Ribeiro e Francisco José Azougado da Mata. Os mesmos declararam ter solicitado e obtido a exoneração dos seus cargos junto do Comandante da Região Militar de Coimbra”. Álvaro Barbosa Ribeiro, à época Deputado, acabaria por passados alguns dias ser detido e preso em Lisboa e Coimbra, acabando o processo por ser arquivado por falta de provas.
Ainda sobre este 1º de Maio no concelho de Penacova lê-se numa local de Lorvão que se tratou de “um dia inesquecível em que todo o povo saiu em massa à rua e com ele a Filarmónica, entoando o Hino Nacional.”
No dia 5 de Maio, domingo, foram em diversas freguesias escolhidos os elementos para presidirem às respectivas Juntas. Em Penacova e Lorvão tal acto teve lugar no dia 12. Em Penacova também neste dia foi eleita nova direcção da Casa do Povo. Por sua vez em Lorvão, realizou-se uma sessão pública na sede da Associação Recreativa Lorvanense com a presença de membros da Comissão Administrativa concelhia e de um representante do Movimento Democrático de Coimbra. Foi notória a presença de um grande número de pessoas, sublinhando o articulista que predominavam as mulheres da povoação de Lorvão que “por mais de uma vez interromperam a sessão”. De Friúmes chega a notícia que ali se deslocara uma sub-comissão da Câmara Municipal para numa “grandiosa reunião sondar se era da vontade do povo continuar a mesma Junta, o que acabou por suceder.”
Sabe-se que em S. Pedro de Alva igual procedimento se fez e com os mesmos resultados: manutenção da Junta.
Com a finalidade de “instruir o povo, esse povo unido, esse povo honesto” para ser “pormenorizadamente instruído acerca da nossa política nacional actual – escreve o correspondente do NP em Friúmes – havia sido marcada uma reunião para o dia 9 de Junho. Recorde-se que estas sessões de esclarecimento e dinamização cultural, assim designadas e geralmente orientadas por elementos do MFA, no nosso caso, por militares da Região Militar de Coimbra, tiveram lugar na maioria das freguesias. Por exemplo, em Penacova a 17 de Fevereiro de 1975, as ovações ao MFA ( O povo está com o MFA) estenderam-se até cerca das 3 horas da madrugada! Ainda na vila, a 18 de Maio, teve lugar durante a tarde mais uma sessão de “Dinamização Cultural” com a presença das Filarmónicas do Concelho, da Orquestra Típica Infantil de Penacova e a Banda de Música do Regimento de Serviços de Saúde. Houve também uma sessão de cinema na Casa do Povo, dado que devido à chuva o programa não pôde ser feito no exterior como estava previsto. Refere o jornal que a dinamização da população em ordem à participação do povo neste programa fora feita pelos 1ºos sargentos penacovenses, José Alvarinhas e José Alberto. Penacova, Friúmes, mas também Chelo. Aqui, no dia 8 de Maio, no Ginásio Recreativo, teve lugar uma “sessão de esclarecimento pelas Forças Armadas”.
Ilustrativo do ambiente que se viveu por estes tempos, recordemos o “assalto” à Casa das Enfermeiras em Lorvão, edifício do antigo Hospício e que agora apenas tinha duas pessoas a residir. Em Agosto de 75, depois de várias reuniões inconclusivas e manifestações populares como aquela que uns tempos antes reunira mais de mil pessoas e onde falaram diversos oradores, entre os quais um representante do MRPP, em defesa da ocupação do edifício para Casa do Povo, que funcionava em condições muito precárias. Neste Agosto o povo decide avançar, pôr os móveis na rua e tomar conta das instalações. Sobre este episódio, António Simões, ex-cozinheiro do hospital, recordará mais tarde, a 30 de Abril de 1998 ao jornal penacovense Nova Esperança, essa “manifestação popular onde o povo é que mais ordenou”. A Comissão Instaladora do Hospital reconheceu, resignada, que “o povo entusiasmado com o que ouvia na rádio e lia nos jornais, resolveu tomar uma atitude sem o seu consentimento”. No fim de contas “O Povo é quem mais ordena!”
Outros episódios poderiam ser recordados. Vamos referir por agora o célebre “Dia de Trabalho pela Nação”. Foi a 6 de outubro de 1974 que, sob proposta de Vasco Gonçalves e tendo a dispensa da Conferência Episcopal, foi pedido que as pessoas dedicassem um dia de trabalho voluntário a favor do País. Referiremos o caso de Travanca, Rebordosa, Chelo e Lorvão. Em Travanca a Junta de Freguesia lançou o apelo e muitas pessoas, incluindo o Pároco, lançaram mãos à obra e procederam ao arranjo do caminho que ligava o ramal da Igreja ao Cemitério. Na Rebordosa, a Juventude (dos 12 aos 23) deixou “as ruas num mimo”. Em Chelo, um grupo “constituído por pessoas que normalmente não pegam na enxada e na picareta “deu início às escavações para a construção de um fontenário”. Por fim, em Lorvão os jovens estudantes reuniram em grupos de trabalho e (…) limparam as ruas da povoação. Mas Lorvão não se ficou por aqui. As paliteiras juntaram-se em grupos fazendo o seu dia de trabalho. Como resultado da venda de palitos (…) recolheram, juntamente com ofertas de voluntários a quantia de 2.485 escudos, que entregaram para os Deficientes-Mutilados das Forças Armadas.
Como sabemos, foi Teófilo Luís Alves Marques da Silva, que desde 1971 era professor de História e Director do Ciclo Preparatório, que assumiu a presidência da Comissão Administrativa Provisória. Em entrevista ao Jornal de Penacova de 15/12/2002 dirá que “tal como um pouco por todo o país a revolução dos cravos foi recebida em Penacova com grande júbilo, pelo menos pelas pessoas com quem contactava no café, na pensão e nas ruas.” Recordará entre outros aspectos a falta gritante de estruturas e de verbas. Por vezes eram uns cerca de 1000 contos feitos na venda de madeira que conseguiam tapar os buracos maiores. Com mágoa recordará, igualmente, quando certo dia um grupo de pessoas quis invadir a Câmara e como nesse dia não estava, agrediram à bofetada o Eng. Castro Pita,”um homem de 60 anos que tanto deu à sua terra”. “Achavam que eu era um indivíduo perigoso, que tinha levado a Câmara à falência, etc… Por estas e por outras acabou por pedir a demissão. Em Agosto de 1975 a comissão fica demissionária. Vai-se manter até Abril de 76. Nesta data dá-se a demissão, agora em bloco. Perante isso foi nomeado para assegurar a presidência da Câmara até às primeiras eleições autárquicas de Dezembro de 76 , como gestor municipal, José Alberto Rodrigues Costa.
Para terminar detenhamo-nos na legenda que acompanhava um foto de Penacova oferecido ao jornal pelo sr. LuísCunha Menezes e publicada na edição de 18 de Maio de 1974:
“Que à pureza dos ares que invadem a nossa região se possam assemelhar os ventos da libertação que sacudiu o país a partir do 25 de Abril. Que a caminhada de Paz e a Liberdade iniciada pelas Forças Armadas, de mãos dadas com o povo, não se detenha até alcançar toda a terra portuguesa.”
David Almeida
(Comunicação apresentada hoje na sessão solene das comemorações do 25 de Abril em Penacova)
quarta-feira, abril 24, 2024
"Um menino chamado Zeca": Coro Vox et Communio assinala o 25 de Abril
espectáculo “Um menino chamado Zeca” baseado no livro infantil de José Jorge Letria - informa-nos Maria da Graça Antunes, Presidente da direção deste Coro.
A partir da narração dos textos do livro, os concertos pretendem celebrar os 50 anos do 25 de Abril revivendo, através dos textos e da música, a vida e obra de Zeca Afonso.