segunda-feira, outubro 21, 2019

Festas das Santas Rainhas em Lorvão comemoram a trasladação para os túmulos de prata em 1715

Comemorando a trasladação das infantas Teresa e Sancha, beatificadas em 1705,  dos túmulos de pedra para urnas de prata, todos os anos se realizam em Lorvão as tradicionais “Festas das Santas Rainhas”.
No livro “As Freiras de Lorvão” Lino d'Assumpção faz uma descrição bastante completa daquele acontecimento. Aquele acto solene, a que assistiram o Bispo de Coimbra e seu Cabido, o Senado daquela cidade, o Abade Geral, diversos abades cistercienses e grande multidão, realizou-se a 19 de Outubro de 1715.

"Findos os três dias de festa, os cofres foram levantados do altar onde elas se conservaram e colocados nos camarins que lhes estavam preparados na capela mor; o de D. Tereza do lado do evangelho, e o de sua irmã do lado da epistola."

Também neste ano de 2019 se cumpriu a tradição. Com a devida vénia, transcrevemos da página do facebook do Dr. José Rodrigues Pisco, guia do mosteiro,  a descrição das festas deste domingo:

Um dia em Lorvão nas Festas em Honra de Santa Teresa e Santa Sancha filhas de Dom Sancho I

"Hoje dia 20 de Outubro, realizaram-se as Festas em honra de Santa Teresa e Santa Sancha, filhas de Dom Sancho I, no mosteiro de Santa Maria de Lorvão. Participaram com muita fé e devoção na missa e na procissão as Irmandades de Lorvão, Arouca, Santa Clara a Nova, Santo Izidoro de Leon, Espanha, Santa Maria de Celas e as capelas da Paróquia. Participaram na solene Missa autoridades civis e religiosas do concelho. Presidiu o Senhor Padre João Paulo Fernandes da Unidade Pastoral das Terras de Santa Maria. A cerimónia decorreu com grande dignidade com o Grupo de Coral da Freguesia de Lorvão e Grupo Etnográfico de Lorvão a cantarem cânticos de Louvor às Santas Rainhas.

Depois decorreu a procissão no Jardim do Mosteiro segundo a vetusta tradição após a qual decorreu na Igreja a bênção do Santíssimo Sacramento.Seguiu-se o almoço convívio no Mosteiro. Da parte da tarde, assistimos a um excelente Concerto com os Coros Divo Canto de Penacova e de Niort (França) que abrilhantaram as Festas das Santas Rainhas Teresa e Sancha com instrumentistas e vozes fantásticas.

Para terminar conduzi uma visita guiada aos nossos amigos franceses de Niort que ouviram com atenção a História do Mosteiro de Lorvão e se deliciaram com os encantos do Claustro.do Coro com o magnífico Cadeiral, o Antecoro, a Grade que separa a Igreja do coro, a porta artisticamente trabalhada da entrada na Igreja, a própria Igreja com as telas de Pascoal Parente do séc XVIII, os Túmulos de Prata de Santa Teresa e Santa Sancha e as preciosidades da Sala do Capítulo. Agradeci a visita e desejei-lhes uma boa noite e boa viagem de regresso a França.

Quanto a vós que ledes este artigo, recomendo-lhes que venham visitar o Mosteiro de Lorvão para fazerem uma visita guiada como uma viagem no tempo, interativa e com uma História e um Património que são únicos apenas pelo módico preço entre 1 Euro e 1.50 Euros. Não se arrependerão. Serão bem vindos.

Lorvão, 20 de Outubro de 2019, José Rodrigues Pisco

segunda-feira, outubro 07, 2019

Outubro de 1919: Mês a mês com Portugal durante o mandato presidencial de António José de Almeida


Propomo-nos, mês a mês, de Outubro de 2019 a Outubro de 2023, publicar a cronologia dos principais acontecimentos políticos ocorridos em Portugal no período correspondente ao mandato presidencial de António José de Almeida (1919-1923).
OUTUBRO 1919
5 ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA toma posse do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA. prestando o seu compromisso de honra perante o Congresso. Fora eleito Presidente da República na sessão do Congresso de 6 de Agosto de 1919, ao fim do terceiro escrutínio.

A Federação Maximalista Portuguesa (FMP), lançou a sua publicação semanal, A BANDEIRA VERMELHA, um jornal que se tornou muito popular entre as classes trabalhadoras portuguesas chegando mesmo a atingir uma tiragem de 6.000 exemplares.

Criado o PARTIDO REPUBLICANO LIBERAL, tendo como base os partidos evolucionista e unionista, que se tinham dissolvido em fins de Setembro. Estando os líderes dos dois anteriores partidos no desempenho de cargos políticos de relevo (António José de Almeida, eleito para a Presidência da República e, Brito Camacho, nomeado Alto-Comissário da República em Moçambique, os Liberais escolheram António Granjo para seu líder. No entanto, este viria a ser assassinado em 19 de Outubro de 1921, pelo que teve uma existência efémera.

Reúne o CONGRESSO para eleger o Conselho Parlamentar. Nesta sessão esteve presente o Senador Júlio Ernesto de Lima Duque (ligado a Penacova).

António Granjo é eleito líder parlamentar dos liberais. Nesse dia, Júlio Martins, ex-evolucionista, anuncia a constituição do grupo parlamentar popular. Terá o apoio de alguns grupos de radicais democráticos.

13 Vários grupos sidonistas aderem ao Partido Liberal. O directório do PARTIDO NACIONAL REPUBLICANO aconselha a dissolução do mesmo, liderado por Egas Moniz. Idêntica posição toma a facção que se lhe opunha, dirigida por Feliciano Costa.

20 Os Integralistas anunciam no jornal ”A MONARQUIA” que se desligam da obediência a D. Manuel II.

GREVES por todo o país. Greve dos barbeiros em Lisboa. Da construção civil em Guimarães. Dos descarregadores de terra no Porto. Dos soldadores em Olhão. Dos operários conserveiros em Setúbal. Dos carniceiros em Faro

BOMBAS na Marinha Grande e contra um comboio no Porto.

26 “A Bandeira Vermelha” proclama fazer em toda a parte a APOLOGIA DA REVOLUÇÃO RUSSA.

29 O decreto n.º 6184 cria o CONSELHO DE PATRIMÓNIO ARTÍSTICO, órgão consultivo acerca da “distribuição, apropriação, destino, reconstituição e restauro dos bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico ou arqueológico”.

FONTES:
http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=039810
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/liberalismo/lib1919.html
http://maltez.info/respublica/Cepp/governos_portugueses/i_republica/sa_cardoso_1919.htm

sexta-feira, outubro 04, 2019

5 de Outubro de 1919: António José de Almeida toma posse como PR

Páginas da "Ilustração Portuguesa"

No dia 5 de Outubro de 1919, por volta das 14 horas, depois de encerrada a sessão, o Presidente do Congresso, da varanda central do Palácio, anunciou que o Presidente da República, depois de haver prestado perante o congresso o compromisso de honra, estava investido no seu alto cargo.

Refere a Acta da Aclamação que “esta comunicação foi recebida com entusiásticos e longos aplausos da parte do povo e das pessoas que tinham tomado lugar na varanda bem como nas outras janelas do palácio.”

Então, António José de Almeida, “em voz clara e forte” dirigiu-se às pessoas que o aguardavam, dizendo:

“Venho de afirmar pela minha honra, lá dentro, na Casa do Congresso, que hei de servir com dedicação e amor a República Portuguesa, respeitando integralmente a sua Constituição.
Agora, pela minha honra também, afirmo ao povo de Lisboa e, por seu intermédio, a todo o Povo Português que, através dos maiores sacrifícios e vicissitudes, hei de cumprir os deveres sagrados a que me comprometo
Nasci do Povo e toda a minha vida o tenho servido e amado. Não me esquecerei jamais dele. E, mais do que nunca, todas as energias da minha vida vão ser postas ao serviço incondicional da Pátria e da República. Viva a República! “

Publicamos de seguida o discurso proferido por António José de Almeida na tomada de posse, nesse dia em que se completavam 9 anos após a Revolução de Outubro.

                                              
                                         O DISCURSO DE TOMADA DE POSSE

"Agradeço ao Congresso da República Portuguesa a alta honra que me dispensou, elegendo-me Chefe do Estado.
Sou um homem simples e modesto, sem qualidades que o distingam nem predicados que o imponham. E se fui elevado ao alto cargo que me encontro, a dignidade que me concederam só pode ser atribuída à benevolência de quem me elegeu e porventura ainda à circunstância de o Congresso querer mostrar que não se esquecia da minha dedicação à causa pública, e da persistência convicta, inalterável e tenaz com que, nesta casa do Parlamento, defendi, sem um desfalecimento, e nas condições mais variadas, a legítima causa dos Aliados, a que sempre considerei indissoluvelmente ligada à nossa sorte de povo livre.
E, procedendo assim, o Congresso quis significar, sem dúvida, que, perante aquelas razões fundamentais, não prevaleciam razões de ordem secundária, que, todavia, anteriormente, exerceram influência na vida e marcha do Estado. De facto, eu mantive-me, até à última hora, na política activa, exercendo uma acção combativa na imprensa e na tribuna parlamentar e popular. Até à ultima hora estive à frente dum bravo e generoso partido, que, embora ligado por fortes laços de camaradagem patriótica aos outros agrupamentos políticos, tinha a sua doutrina peculiar e adoptava processos que acentuadamente lhe pertenciam.
Apesar disso, o Congresso deliberou escolher-me para, numa República parlamentar, em que o Chefe do Estado se deve conservar alheio a todas as lutas e paixões, presidir aos destinos da Nação, a que se condicionam todos os destinos partidários. Este facto, que não deve ser olvidado, significa que a República Portuguesa está na resolução de pôr acima dos interesses de grupo, os interesses genéricos da Pátria, e que só passageira e superficialmente se deixará impressionar pela modalidade técnica da política dos homens, para apenas ter em conta a superior expressão do seu patriotismo, contanto que eles sejam merecedores, pela sua lealdade, da confiança com que os honrem.
Mais ainda do que o galardão que me conferiu, eu agradeço ao Congresso a segurança que atribuiu ao meu carácter e a certeza antecipada que se criou de que eu, no alto cargo a que ascendo, serei imparcial e sereno, sem outra paixão que não seja a do engrandecimento da Pátria e sem outro sentimento que não seja o do amor à República.
Não se há-de iludir o Congresso. Aqui cheguei sem qualquer espécie de tergiversação ou doblez. A nenhuma convenção ou pacto anterior tenho de subordinar os meus intuitos, a não ser àquele pacto fundamental que regula toda a vida da Pátria: a Constituição. Essa, sim, respeitá-la-ei sempre, servindo-a ao mesmo tempo com consciência e amor, e de maneira tal que eu, zelando-a, a engrandeça, e, engrandecendo-a, não deixe de a zelar, até mesmo naquilo que são atribuições minhas, das quais não cederei jamais, na compreensão de que, se seria um atentado invadir a esfera dos outros, seria uma defecção consentir que os outros apoucassem ou deprimissem os direitos que me pertencem.
Tomei o meu compromisso há pouco. Aqui o formulei em voz bem alta, dando-lhe a garantia da minha honra e aí fica ele escrito sob a responsabilidade do meu nome. Saberei cumpri-lo.
É bem difícil o momento em que assumo a Presidência da República. O mundo, abalado nos seus fundamentos pela Grande Guerra, durante muito tempo procurará debalde a fórmula do seu equilíbrio. Portugal que, cavalheirosamente, se envolveu na luta, ressente-se dos estragos que a furiosa devastação produziu nas suas finanças e na sua economia. Estamos num momento agudo da nossa história, e, porventura, esse momento é decisivo. Mas não devemos preocupar-nos além daqueles limites em que são legítimos a prevenção e o receio, como estímulo de energias adormecidas.
O país tem condições de vida que são suficiente garantia do seu futuro. Com trabalho ordeiro e disciplinado e com uma economia severa, pautada pelas mais austeras normas de moralidade administrativa, triunfaremos de todas as dificuldades. Tenhamos essa fé, essa certeza. Qualquer palavra de desânimo será criminosa. Erradamente se costuma dizer que o país é pequeno, parecendo ignorar-se que somos a terceira nação colonial, com imensos tractos de terreno virgem, onde se acumulam as mais extraordinárias riquezas. E quando os defectistas dizem que a raça é indolente, eles fingem ignorar as provas de vigor que ela tem dado sempre e ainda agora está manifestando, na ânsia indomável com que deseja acompanhar o movimento de renovação que vai pelo mundo.
Mas, para que o país possa desenvolver-se com intensidade e harmonia, é preciso que gozemos duma paz sem sofismas, e essa só é possível numa atmosfera de ordem, fecunda e acolhedora.
Para que essa atmosfera se crie pela solidariedade de todos, empregarei os melhores esforços e farei os melhores sacrifícios. Conto com o êxito. Acalmando as paixões, apaziguando as cóleras, moderando as ambições dos homens e estimulando as suas energias, o seu amor ao trabalho, o seu poder de iniciativa, conseguirei, pela concórdia e persuasão, aquilo que afinal tem sido o lema político de toda a minha vida: a Paz.
Alheio às lutas políticas, só nelas intervirei com o fim de as acalmar e aproveitando sempre o estímulo patriótico que delas derive. Respeitador de todas as ideias políticas e religiosas dos portugueses, como é próprio da minha tradição e do lugar que vou ocupar, só combaterei, segundo os ditames da Constituição, quem atentar contra a República, e, então, não defenderei só o Estado republicano, mas defenderei, como me cumpre, a própria doutrina republicana.
O âmbito da minha acção política é — eu o sei — pequeno. E não sou eu homem que em caso algum o ultrapasse. Mas a esfera da minha influência moral pode ser vasta, enorme. E é precisamente essa grande e por vezes dominadora influência que eu vou empregar na missão elevada de conciliar os cidadãos portugueses.
Respeitador, por índole e dever, da Soberania Nacional, a minha acção de Chefe de Estado vai cifrar-se na palavra Fraternidade.
Só assim poderei dalguma forma merecer a liberalidade com que me haveis honrado, elegendo-me, e só dessa maneira eu serei digno da satisfação, por tantos modos revelada, com que a Nação aplaudiu esse acto.
Fui o presidente do Governo da União Sagrada. Esse facto impõe-me obrigações que corajosamente aceito, e aponta-me um caminho que intrepidamente seguirei. Na minha fé sagrada, apesar da perturbante emoção que então senti, não tive um momento de hesitação ou desalento quando se tratou de sujeitar o país às provas dolorosas duma guerra atroz. Servindo a Pátria nos seus altos destinos e obedecendo às vozes da Raça, contribuí para que Portugal, graças ao heroísmo do seu exército e da sua marinha, assegurasse, com a integridade do seu território, a prosperidade e benefícios duma honrada independência.
Agora, com devoção igual me dedicarei inteiramente à missão pacifica de harmonizar os meus compatriotas, trabalhando pela Paz com o mesmo afã patriótico com que empreguei todas as minhas energias nas horas angustiosas da guerra.
Só assim corresponderei ao vosso mandato e só assim não serei amaldiçoado pela memória daqueles que dormem o glorioso sono sob a terra em que, defendendo a Pátria, caíram prostrados.
Que a vossa benevolência e o vosso autorizado conselho me não faltem, Senhores Congressistas. Que me não falte o agasalho fraternal do Povo. Que não me falte, em suma, a confiança generosa da Nação. E contanto com esse amparo, que é ao mesmo tempo estímulo e fortaleza, deste lugar, onde imerecidamente cheguei, saúdo todos os Portugueses sem excluir ninguém, na sentida aspiração de ver a Pátria engrandecida — a Pátria a cujas virtudes, a cujo prestígio, e a cuja glória rendo, neste momento, uma suprema homenagem, vitoriando-a no seu símbolo supremo:
Viva a República Portuguesa!

[Proferido na Câmara dos Deputados do Palácio de São Bento, a 5 de Outubro de 1919. Conforme transcrito no Diário do Congresso, Sessão N.º 8 (5 de Outubro de 1919).]





sexta-feira, setembro 27, 2019

Batalha do Bussaco: o princípio do fim da guerra peninsular

Imagens da recriação no II Centenário


Foi a 27 de Setembro de 1810. A Batalha do Buçaco, opondo tropas francesas e os exércitos anglo-lusos, marcou a III Invasão Francesa. Depois de terem invadido Portugal por duas vezes, em 1807 e 1809, os exércitos napoleónicos, comandados pelo Marechal Massena voltaram, no verão de 1810, a atacar as nossas fronteiras.
Adicionar legenda
As tropas francesas entraram em Almeida em Julho de 1810, depois de terem tomado Ciudad Rodrigo. No âmbito do plano de defesa da península, as tropas aliadas comandadas pelo General Wellesley, Duque de Wellington, e compostas por soldados ingleses e portugueses, tinham já iniciado a construção das Linhas de Torres, cujo objetivo era a defesa da cidade de Lisboa.
A marcha dos franceses com destino a Coimbra, foi interceptada por Wellington no Buçaco. Naquele dia 27 de Setembro deu-se a maior e mais sangrenta batalha travada em Portugal durante a Guerra Peninsular. 

Dividindo a sua posição defensiva em dois núcleos - o do Campo de Santo António do Cântaro e o do Campo de Moura/Sula - o exército anglo-luso derrotou com retumbante sucesso as tropas francesas, que perderam um número considerável de soldados e comandantes.

Na zona onde se desenrolou a batalha foi erguido, em 1873, um obelisco comemorativo, formado por uma pirâmide composta por várias peças e rematado por uma estrela de cristal. 

O Campo Militar da Batalha do Buçaco distribui-se por uma extensa zona da Serra do Buçaco, repartida pelos concelhos de Mealhada, Mortágua e Penacova. A primeira área corresponde ao Campo de Santo António do Cântaro. 

"Posto de Comando do Marechal General Artur Wellesley, Duque de Wellington, Comandante em Chefe das Forças Anglo-Lusas, na Batalha do Buçaco, travada em 27 de setembro de 1810."
No concelho de Penacova fica o local onde se instalou o Posto de Comando do general Wellington, localizado na parte mais alta da serra. Aí se encontra uma placa evocativa. 

A Batalha do Buçaco marcou o início da derrota e enfraquecimento do exército francês e o posterior fim da Guerra Peninsular. Ao mesmo tempo, contribuiu para que as tropas aliadas ganhassem algum tempo para terminar o sistema defensivo de Lisboa, as Linhas de Torres.

sábado, setembro 21, 2019

Republicanismo em Penacova na vigência da monarquia

Neste edifício (foto da época) se reuniu (em 1908)  um grupo de republicanos
para formar a 1ª Comissão Republicana de Penacova

Em Penacova, as ideias republicanas foram ganhando força por acção de médicos e juristas, muitos deles formados na academia coimbrã. Também alguns emigrantes regressados do Brasil vieram engrossar as fileiras dos opositores ao regime monárquico.

Ainda na vigência da Monarquia, em 1908, constitui-se, primeiro, a Comissão Municipal Republicana, com sede em Penacova e, de seguida, o Centro Republicano de S. Pedro de Alva. Esta dinâmica culminou com o grande comício nesta freguesia, no dia 1 de Agosto de 1909, com a presença de António José de Almeida.

No dia 8 de Março de 1908 teve lugar uma reunião de republicanos ''no edifício onde funcionavam as fábricas[1] de José Pedro Henriques''[2], com o objectivo de fundar uma Comissão Municipal Republicana. Assim, da primeira comissão concelhia, passaram a fazer parte, como membros efectivos, Rodolfo Pedro da Silva, médico, José Alves de Oliveira Coimbra, comerciante, José Pedro Henriques, industrial e Amândio dos Santos Cabral, proprietário. Como suplentes: Manuel Correia da Silva, farmacêutico, António Maria, ferrador, Joaquim de Almeida Coimbra, comerciante, Joaquim Pereira Castanheira, comerciante, e Augusto Ferreira de Carvalho, farmacêutico.

A 14 de Março, o Jornal de Penacova, que à data já estava nas mãos dos republicanos, noticia aquela reunião e avança com uma relação dos inscritos, à data, no Partido Republicano:

Dr. Alípio Barbosa Coimbra, Dr. Rodolfo Pedro da Silva, José de Almeida Coimbra, Francisco de Almeida, Joaquim Pereira Castanheira, David Cordeiro de Brito, Albino Leonardo, Francisco Rodrigues da Silva, José António de Almeida Júnior[3], José de Matos Vieira, Augusto Ferreira de Carvalho, António Pedro Gonçalves, António de Matos Vieira, António Maria, Joaquim de Almeida Coimbra, João António de Almeida, José Joaquim Duarte Júnior, Vitorino de Almeida, Serafim José de Almeida, Francisco Duarte Almeida, José Pedro Henriques, José Alves de Oliveira Coimbra, Amândio dos Santos Cabral, Eduardo Pedro da Silva, José Augusto Ribeiro, José Esteves Viseu, Joaquim Serra Cardoso (que anunciará a implantação da República na manhã de 6 de Outubro), Manuel Correia da Silva, Luís Pereira de Paiva Pita, Alípio Carvalho, Aníbal Duarte de Vasconcelos, Alípio Lopes Flórido, António Joaquim Dias e Fernando da Assumpção.
Rodolfo Pedro da Silva

Em 1909 realizam-se as eleições para aquela Comissão, onde vamos encontrar nomes já conhecidos. Efectivos: José de Almeida Coimbra, José Alves de Oliveira Coimbra, Manuel Correia da Silva, Luís Pereira de Paiva Pita e Augusto Ferreira de Carvalho. Substitutos: dr. Alípio Barbosa Coimbra, dr. Rodolfo Pedro da Silva, José Pedro Henriques, Eduardo Pedro da Silva e Urbano Ferreira da Natividade.

Por sua vez, S. Pedro de Alva acabou por ser pioneira na criação dos Centros Republicanos a nível do concelho de Penacova. Em Junho de 1909 foi provisoriamente instalado o Centro Republicano naquela localidade. A inauguração oficial fora anunciada para o dia 1 de Agosto, coincidindo com a data do Comício. Da comissão instaladora faziam parte José de Almeida Coimbra, Eduardo Pedro da Silva (ambos cunhados de António José de Almeida), António Henriques da Fonseca Júnior, Francisco da Costa Gonçalves, José Maria Henriques, Joaquim Pereira Castanheira e Joaquim de Almeida Coimbra.

O novo Centro terá sido instalado num antigo edifício pertencente à família de António José de Almeida (onde hoje existe o Talho Abranches). Joaquim António Madeira ofereceu ''um belo quadro da República'', um outro com o ''notável Manifesto do Partido Republicano'' e ainda outro com os ''retratos dos deputados Republicanos''. Também foram oferecidos livros para a biblioteca por António Joaquim dos Santos, António dos Santos e José Madeira Marques. Este ofereceu, entre outras obras, Cartas Políticas de João Chagas e Pró-Pátria de Homem Cristo.

O Centro Republicano de S. Pedro de Alva irá, nos tempos mais próximos, exercer a sua acção política, cultural e cívica. Nesse sentido, achamos particularmente significativo o facto de Eduardo Pedro da Silva ter, em Outubro de 1909, apresentado uma moção, que foi aprovada por unanimidade, contra o assassinato de Francisco Ferrer[4], considerando aquele acto como ''o maior crime do século XX''. Em Abril de 1910 o Centro procedeu à escolha do delegado[5] ao 11.º Congresso do Partido Republicano Português que iria decorrer no Porto nos dias 29 e 30. Foi eleito, por unanimidade, António dos Santos Henriques, residente naquela cidade.[6]
José de Almeida Coimbra

As adesões sucedem-se. Angariadas por João António de Almeida, irmão de António José de Almeida e presidente da Comissão Paroquial Republicana de Paradela da Cortiça, temos: José Henriques Castanheira, comerciante e regedor, Joaquim Henriques Castanheira, proprietário, José Lourenço Rodrigues, barbeiro, José Neves Pinhão, carpinteiro, Joaquim Ferreira, serrador, António das Neves Carvalho, proprietário, todos de Paradela, e ainda Abel Mateus, da Cova do Barro.

Em Penacova, o Centro Democrático António José de Almeida, situado na Avenida 5 de Outubro,  só será inaugurado oficialmente já depois da queda da monarquia, no dia 1 de Dezembro de 1910. Discursou o Dr. Daniel Silva e foi descerrado um retrato de António José de Almeida (pintura a óleo) oferecido por Leonel Lopes Serra. O jantar de confraternização teve lugar ''no hotel da Sr.ª Altina Amaral.'' Foi também inaugurado neste dia, o sistema de iluminação pública a ''acetylene'', o que levou o Jornal de Penacova a reconhecer que ''com vagar embora, o progresso” ia “penetrando na nossa terra."
 . David Almeida
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Bibliografia:
ALMEIDA, David - Penacova e a República na Imprensa Local. Penacova: Câmara Municipal de Penacova, 2011.



[1] Muito provavelmente, ocupava o edifício onde funciona hoje a Escola Beira-Aguieira. Edifício que, segundo fotografias de 1909, já tinha a estrutura actual.
[2] Pedro Henriques & Cª, empresa que era detentora de uma fábrica de conservas e se dedicava também à indústria de palitos. Representou o distrito de Coimbra na Expo 1908, no Rio de Janeiro, conquistando medalhas de ouro e prata, pela qualidade dos seus produtos: palitos e azeite.
.
[3] Irmão de António José de Almeida, bem como de João António de Almeida, que também consta da lista.
[4] Francisco Ferrer i Guardia, republicano catalão,  foi o fundador de um movimento de pedagogia libertária que deu origem à Escola Moderna. Os aspectos educacionais que defendia foram considerados "perigosos" para a aceitação social da autoridade e, em 1909, Francisco Ferrer foi preso na Catalunha, Espanha. Depois de julgado por um Conselho de Guerra foi executado em 13 de Outubro de 1909 na Fortaleza de Montjuich.
[5] Em 25 de Abril de 1910.
[6] Cfr. Jornal de Penacova, 30 de Abril de 1910.           

sábado, setembro 07, 2019

Algumas notas sobre a Barca (Serrana) no Mondego


Desde tempos muito recuados que o rio Mondego serviu de via de comunicação do litoral para o interior beirão. Romanos, Mouros, Normandos estabeleceram circuitos de navegação ao longo do maior rio português, atingindo a região de Coimbra e cerca de cinquenta quilómetros a montante até à foz do rio Dão. O leito era então muito mais profundo do que actualmente. Até Coimbra chegavam a vir caravelas e outras embarcações vocacionadas para o mar. Nos séculos XV e XVI ainda aportavam pequenos navios nos cais da cidade onde se desenvolvia alguma indústria de construção naval. 

Entretanto, o progressivo assoreamento do rio veio alterar a paisagem ribeirinha. Principalmente no período de estiagem a navegação começou a ser muito difícil. As embarcações de carena deram lugar a barcos de fundo chato, mais adaptados às novas características do rio. O casco sem saliências facilitava a navegação em águas pouco profundas. 

As primeiras referências escritas às barcas aparecem no Foral de Coimbra (1516). Também se encontram alusões ao “mestre barqueiro ou arraes” a quem, a partir do século XVII passou a ser exigida uma carta. 

O tráfego fluvial com ritmos intensos manteve-se até meados do século XIX, verificando-se a partir daí uma progressiva decadência para um século depois se extinguir quase por completo. Foi já no século XX que a designação de Barca Serrana passou a ser utilizada. 

Como sabemos, as barcas transportavam, em direcção a Coimbra e à Figueira da Foz, lenha, madeira, carvão, carqueja, telha, pipas de vinho, produtos agrícolas e também pessoas. Com destino ao interior, circulava o peixe, o sal, o sal e peças de louça. 

As barcas serranas tinham com dimensões muito variadas, podendo ir dos 10 metros até ao máximo de 22 de comprimento. Existiram barcas que permitiam uma carga de cerca de 15 toneladas, com vantagens de rentabilidade económica mas ao mesmo tempo com dificuldades acrescidas de manobra em épocas de cheia e na atracagem. 

Um excelente trabalho sobre estas embarcações típicas do Mondego foi publicado em 2005 pela Câmara Municipal. O livro, da autoria do Arquitecto Fernando Simões Dias intitula-se precisamente “Ó da barca! “ e tem como subtítulo “Memória da Barca Serrana do Mondego”. 
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segunda-feira, setembro 02, 2019

Penacova na Exposição Distrital de 1869: cento e cinquenta anos depois


De 2 a 31 de Julho de 1869 realizou-se em Coimbra a Exposição Distrital de Indústria Agrícola e Fabril e de Arqueologia, organizada pela Associação dos Artistas de Coimbra.

O concelho de Penacova também se fez representar. Na época, era Administrador concelhio o Dr. Joaquim Correia d’Almeida. Este, num ofício dirigido à organização,  comunica a intenção de disponibilizar para a mesma “o foral original”, com uma encadernação antiquíssima,  concedido por D. Manuel,  e um “exemplar do desenho das armas da Câmara". Mas a representação de Penacova não se ficou por aí. Há notícia de muitos outros objectos e produtos agro-florestais e minerais ali apresentados.

Esteve exposto mármore da pedreira de Sazes e “Cal em Pedra”, proveniente do forno de Manuel dos Santos Laço, de Sernelha. Refere o catálogo da exposição, que os fornos de cal do concelho de Penacova eram “muito superiores aos de Coimbra."

De referir também um “tinto de mesa comum de 1868, com força alcoólica de 13, 1”, um “branco de mesa comum” do mesmo ano, com uma graduação de 14,4 e uma “aguardente baixa” com graduação de 16,5.

Azeitona, azeite, cereais (trigo, milho, centeio, cevada), feijão, linho, tremoços, grão de bico, ervilhas, batatas e nozes foram outros tantos produtos apresentados naquele certame.

De Lorvão estiveram patentes amostras de “palitos para os dentes” cedidas por Emídio Maria da Fonseca. António Maria Seabra d’Albuquerque expõs um conjunto de pratos “que a tradição” dizia terem pertencido às “Infantas D. Sancha e D. Teresa”, agora na posse do Marquês de Sousa Holstein.

Especial destaque na exposição mereceram os seguintes produtos de Penacova: uma cesta, conjuntos de varas de castanho, amostras de palitos, amostras de  "pau" de castanho e de pinheiro, de cortiça, de carqueja e também de palha de milho (bandeira, folha e capa).  

A "cesta redonda" fora executada por José Joaquim Carvalho. Utilizava-se a “vara de castanho dos soitos  de talhadia (aproveitamento dos rebentos). Muitas pessoas do concelho se ocupavam na indústria da cestaria. As cestas eram vendidas em Coimbra e noutras localidades da região. As varas de castanho (cortadas de quatro em quatro anos) também expostas, traduziam a existência de muitos soitos no nosso concelho. Além da utilização no fabrico dos cestos entravam na produção de arcos de diversas vasilhas e serviam também para varejar a azeitona e para uso dos “carreiros” com as suas juntas de bois.

Os palitos para os dentes não podiam faltar. Haviam sido premiados na exposição internacional de Paris (1855). No entanto, refere-se no citado relatório que naquele momento se encontrava em decadência aquela indústria, que era “boa” mas podia ser “óptima”, se não fosse” a fraude de alguns paliteiros que a desacreditaram no país e no estrangeiro.” No fabrico dos palitos empregava-se a “vergôntea de salgueiro branco e choupo de dois anos”.

O “pau” de castanho era abundante e era aproveitado para fabricar vasilhas para vinho e na construção de casas. Quanto ao pinheiro “foi este concelho um dos mais abundantes” nesta madeira, mas à data, a “boa madeira” estava quase esgotada, devido à construção de novas casas e de barcas. Também a exportação de madeiras e de lenhas para Lisboa e “para fora” gerara a sua escassez.


A indústria da cortiça dava trabalho a muita gente. Era extraída não só no concelho mas também a grandes distâncias. Era transportada para a “borda do rio”, onde era preparada e daí enviada para o Porto da Figueira nas barcas serranas.

A apresentação de amostras de carqueja poderia parecer de pouca importância. Pelo contrário. Recorde-se que o concelho de Penacova era o principal fornecedor da carqueja e lenha que se consumia nos fornos e nas casas da cidade de Coimbra.

A palha de milho também ocupava um lugar de relevo na economia do concelho. Dizia-se que era aqui que se aproveitavam melhor as palhas do milho. Tirava-se primeiro a “bandeira”, de seguida “desfolhava-se” e ficava apenas a espiga na capa. No final da maturação as espigas eram conduzidas para as eiras onde eram “escamisadas” e deixadas a secar. A “capa” era um “óptimo alimento para o gado e para outras aplicações”.

Através da consulta do catálogo/relatório desta exposição é possível recolher alguns elementos caracterizadores da vida social e económica do nosso concelho (e de todo o distrito de Coimbra) na década de sessenta do século XIX.

A  primeira exposição internacional em Portugal fora em 1865. Teve lugar no Porto, onde, à semelhança do que sucedera em Londres em 1851, se erigiu também, propositadamente, um «Palácio de Cristal». Quatro anos passados sobre a data da realização do nosso primeiro certame internacional da indústria, a Associação dos Artistas de Coimbra, impulsionada por Olímpio Nicolau Rui Fernandes, como acima referido,  realizou  com assinalável sucesso esta  exposição de âmbito distrital, onde o nosso concelho ombreou com os restantes do distrito de Coimbra.

domingo, agosto 25, 2019

Para a história do Reconquinho


Desde 2013 que a Praia Fluvial do Reconquinho ostenta dois dos maiores galardões atribuídos às praias fluviais: Bandeira Azul e Praia Acessível. 

O Reconquinho, que integra o Roteiro do Arista, dispõe de óptimas condições de lazer e diversão: bar, apoios de praia, fluvioteca e centro de Trail Running Carlos Sá. Neste Verão foi (apesar de com um ano de atraso) noticiado o facto de o canal National Geographic ter considerado o Reconquinho como uma das nove praias fluviais mais bonitas de Portugal. Em 2016 uma das candidaturas ao Orçamento Participativo (apresentada por Maria Esmeralda Cruz) propunha a criação de Piscinas Flutuantes no local. 

A praia fluvial do Reconquinho, enquanto estrutura municipal, tem já uma longa história. Em 1964 noticiava a imprensa local que já se encontrava “a funcionar a praia do Reconquinho no rio Mondego”, onde todos os dias se vinha notando grande movimento “por parte de aristas” que iam “até ali dar o seu passeio, tomar o seu banho ou dar uma voltinha de barco.” Em 1970 é feita referência ao Parque de Campismo, à Escola de Natação  e â Praia Fluvial como sendo iniciativas da Sociedade de Progresso de Penacova com o apoio da Câmara Municipal. No ano seguinte, no Notícias de Penacova,  falava-se “de muitos milhares de pessoas de todas as classes sociais” que aí afluíam e reconhecia-se o potencial turístico do local, na medida em que se revelava como “um dos bons cartazes propagandísticos de Penacova e um bom fulcro de incentivação ao turismo na região.” 

O parque de Campismo de Penacova , em 1975,  junto á Praia Fluvial do Reconquinho 

Em Novembro de 1976, noticiou-se que a praia fluvial iria, no ano seguinte, “sofrer beneficiações” que passariam por terraplanagem, melhoramento dos acessos, colocação de mais passadeiras e “novas barracas”, bem como construção de instalações sanitárias. 

A vida do rio teve, durante séculos, uma grande importância para as populações dando origem a muitas lendas e narrativas, entre elas “As Bruxas do Reconquinho”. Está referida na obra “Portugal Lendário – Tesouro da Tradição Popular”, de José Viale Moutinho. Também no jornal “Nova Esperança” (1987) o pintor João Martins da Costa nos deixou um excelente reconto desta narrativa (reveja aqui). Segundo a tradição, “certa noite enluarada, as bruxas pegaram uma barca do Reconquinho e foram de abalada até à India.” 

Em 2008 a Unidade de Acompanhamento e Coordenação (UAC) dinamizou uma Feira à Moda Antiga com animação de rua subordinada ao tema “As bruxas do Reconquinho vão à India”. Com o dinamismo que o teatro começa a ter no nosso concelho, quem sabe, um dia possamos assistir no Reconquinho a uma representação encenada desta tão curiosa lenda. Fica a sugestão. 




quinta-feira, agosto 22, 2019

Pintores relacionados com Penacova no museu do Chiado


Um dos núcleos do Museu Municipal de Coimbra é o Edifício Chiado que alberga a Coleção Telo de Morais, uma coleção de Arte que integra pintura portuguesa (séculos. XIX e 1ª metade do séc. XX), mobiliário, cerâmica, escultura, pratas e outros objetos artísticos de carácter decorativo. Aqui podemos ver alguns quadros de pintores que deixaram marca em Penacova, designadamente:

João Martins da Costa (1921-2005), filho de penacovenses, José da Costa e Cacilda Martins. O seu avô materno era industrial de latoaria em Penacova e o paterno, Abílio Costa, era proprietário de um trem que servia de diligência entre Coimbra e Penacova. Formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. São obras de Martins da Costa que foram Pintura em Penacova e de Penacova: "Penacova – A Ponte" (1945); "O Vale do Mondego" (1982); "Outono na Serra – Penacova" (1984); "Caminhos Paralelos", no Mirante" (1991); "A Persiana – Penacova " (1991); Nuvens sobre o Vale de Penacova I e II" (1945).

José Tagarro (1902-1931), natural do Cartaxo e amigo do pintor Waldemar da Costa, visitou várias vezes no concelho de Penacova, a povoação de Gavinhos, instalando-se em casa de uma tia daquele pintor. Em 2002 a Associação Cultural "Pulsar" do Cartaxo promoveu uma vinda a Gavinhos de um grupo de cerca de 50 pessoas.

José Campas de Sousa Ferreira (1888-1971). Foi autor de vários quadros relacionados com o concelho: "Mirante Emídio da Silva", "Paliteira e Tricana", "Trecho do Mondego", "Entre Penacova e Rebordosa". A Câmara Municipal possui um quadro deste pintor, representando o Mirante, oferecido por Emídio da Silva em 1916.


TRABALHOS DE MARTINS DA COSTA

TRBALHOS DE JOSÉ TAGARRO

TRABALHO DE JOSÉ CAMPAS






sexta-feira, agosto 09, 2019

Impressões de uma viagem a Chelo, Lorvão e Paradela em 1914

[A Firma Barbosa, Fernandes & C.ª,  o Mosteiro de Lorvão e o Prof. Manuel Joaquim da Silva]


O Mosteiro de Lorvão em 1910

Envolto no escuro humedecido do ambiente pesado, Chelo de Penacova adejava-nos, hospitaleiro, com os braços abertos. Foi aí que pudemos tomar conhecimento do estado adiantado da nossa indústria paliteira. A Firma «Barbosa, Fernandes & C.ª" cumulando-nos de gentilezas e satisfazendo-nos as importunas curiosidades, não duvidou patentear-nos os seus aperfeiçoados mecanismos para a confecção das caixas em que apresenta, no mercado, todo o stock de palitos entrado nos seus armazéns.
Como outrora em Roma e ainda hoje nalgumas populações menos cultas, também em Chelo se prescinde, muitas vezes, da moeda para as transacções comerciais. Os palitos-moeda correm ali, entre comerciantes e consumidores, sem grande risco de falsificações. E tem largo curso no estrangeiro. . . 

A pensar em tudo isso, passámos nós momentos descuidados, como descuidada foi a noite, levada dum sono só. Nos tímpanos conservamos, ainda, os últimos sons da Portuguesa, executada com alma por um Zé Pereira de fama, á nossa chegada! Pareceu-nos que era a Portuguesa … 

Percorridos três quilómetros desde Penacova, surge-nos o velho convento «no meio de umas serras mui ásperas», — como diria Bernardo de Brito,— altivo, ainda, apesar dos séculos, com a sua cúpula altaneira e firme, desafiando o porvir com denodo e sobranceria. A sua fundação, em época não fixada exactamente, da qual o autor da Crónica de Cister, apenas, nos diz que o mosteiro é em sua fábrica antiquíssimo », não obstante pretender-se localiza-la na época do seu patrono. 

O convívio dos frades de S. Bento com os mouros tolerantes; o engrandecimento dos monges á custa da sua hábil política em detrimento dos mauritanos, apesar da brandura destes; a decadência moral dos opulentos beneditinos e a sua expulsão dali em 1200, pelo monarca D. Sancho I que entregou o convento a sua filha D. Tereza, rainha de Leão, onde ela professou segundo as regras da ordem de Cister; a transladação em 1715 dos restos mortais de D. Tereza e de sua irmã D. Sancha, fundadora do convento de Celas,canonizadas em 1705, para as urnas de prata que a abadessa do convento de Lorvão, D. Bernarda Teles de Menezes, mandara fazer ao artista portuense Manuel Carneiro da Silva; a extinção do convento, com a morte da sua última freira, no reinado de D. Luiz, e todos os vandalismos cometidos nos seus claustros, mobiliário e ornamentações — tudo isso nos parecia transpirar dos muros envelhecidos do grande monumento, recordando, quiçá com saudade, o seu esplendor, riqueza e vida dos tempos que passaram e não voltam. 

Entramos. E, devemos confessá-lo, experimentamos aqueles sentimentos de admiração e respeito que António Seco, no século passado, dizia serem comuns a quantos transpunham os limiares desse belo monumento. 

Ainda hoje, apesar dos estragos, inspira esses sentimentos. É toda uma preciosidade que o seu interior encerra, maravilhando os detalhes dos seus motivos decorativos. Lino de Assunção não duvidou escrever: «aspecto geral de grandiosidade, opulência, delicadeza e gosto”. 

O seu coro cadeiral, com graciosas talhas de efeito e duas ordens de artísticos assentos, está ao nível do pavimento da igreja, como, no dizer do autor de As Freiras de Lorvão, usavam os cistercienses, sendo separado da capela-mor por um gradeado de bronze, obra de subido valor feita, ao que parece, em 1784. 

Mas, tendo percorrido a única nave do templo, com o seu ar clássico de grandeza, pudemos saciar uma grande parte da nossa curiosidade, observando os seus retábulos e capitéis, os túmulos das filhas de D. Sancho I e os quadros agradáveis de Pascoal Parente, as suas particularidades interessantes e o seu conjunto admirável. 

Subidos 125 degraus que nos conduzem ao circuito da cúpula, descobrimos em volta os restos mutilados do claustro e outras dependências que a incúria, ou a barbárie, dos encarregados da sua conservação deixou vandalizar há uns 10 ou 15 anos. Belas pechinchas o compadrio ali minou. Mas, para que recordar isso cujo remédio é já impossível? Todavia, um facto existe ainda que não abona demasiado o amor pela arte — o estarem arrendadas algumas celas do convento donde irradia com abundância o fumo suficiente para inundar toda a nave do velho convento! 

Foi isso que todos íamos dizendo quando, com saudade, abandonávamos Lorvão e, pela tarde serena e desanuviada, nos dispusemos a fazer o percurso até Paradela. 

Aqui, noite caída já, encontrámos um espírito original, em múltiplos ramos de aptidão artística, alimentando todos os ócios da sua situação de professor aposentado em variados motivos de reconhecida utilidade. Com agrado passamos algumas horas admirando-lhe os recursos de verdadeiro artista. Instrumentos de corda, moveis domésticos, manifestações diversas de talha, assuntos mecânicos, etc., são os. entreténs favoritos do sr. Manuel Joaquim da Silva. 

Mas, ninguém se prestara, naqueles sítios, a manufacturar palitos, à nossa vista, com aquela rapidez e perfeição que se tornou proverbial. Era domingo, dia "de descanso”. Alguém, porem, segreda-nos de lado que, sendo um fraco distante, poderíamos no dia seguinte voltar a Lorvão para satisfazer a nossa curiosidade, pois que, com à maior fatalidade, deveríamos gostar. Era curioso o informador. Declinamos o convite depois de ter agradecido. E, fazendo-nos de abalada, lua clara e amiga seduzindo-nos lá de cima com o seu brilhar de languidez poética, regressámos à cidade das luzes onde nos esperava um sono reparador. A lição foi longa, mas proveitosa.

A. A. DA CAPELA E SILVA
In Gazeta de Coimbra, 1914


terça-feira, agosto 06, 2019

Faz hoje 100 anos António José de Almeida foi eleito Presidente da República

António José de Almeida em 5 de Outubro de 1919
Em 1919 procedeu-se a nova eleição para o cargo de Presidente da Republica, de acordo com a lei constitucional de 1911. Esta eleição realizou-se em 6 de Agosto de 1919, para o quatriénio de 1919-1923 em reunião do Congresso, em sessão especial das duas câmaras, Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores, 

A eleição resolveu-se por 3 escrutínios por listas, tendo servido de escrutinadores Alboim Inglês e Lima Duque. Lima Duque que, como sabemos, foi uma figura muito importante na política penacovense e era genro do Conselheiro Alípio Leitão. 

No 1.º escrutínio, verificou-se que António José de Almeida obteve 87 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 82 votos, Francisco de Azevedo e Silva com 1 voto, Afonso Costa com 3 votos, Duarte Leite com 1 voto, Correia Barreto com 1 voto, Magalhães Lima com 1 voto e 5 listas em branco. 

Decorrido o 2.º escrutínio verificou-se terem sido votados: António José de Almeida com 93 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 83 votos, António Teixeira Gomes com 1 voto e 2 listas em branco. 

Finalmente, realizado o 3.º escrutínio, António José de Almeida obteve 123 votos, seguido de Manuel Teixeira Gomes com 31 votos e 13 listas em branco, sendo declarado, pelo presidente do congresso, eleito para o cargo de Presidente da República o mais votado.

António José de Almeida, foi o primeiro e único Presidente da I República eleito que cumpriu o seu mandato por inteiro. Tomou posse em 5 de Outubro de 1919,




Lima Duque, estava ligado a Penacova pelo casamento (era genro de Alípio Leitão)

segunda-feira, julho 22, 2019

Centro Interpretativo da Primeira República e Casa Museu em Vale da Vinha

João Paulo Avelãs Nunes, do CEIS20, apresentando as linhas embrionárias do projecto

No contexto da celebração do feriado municipal – 17 de Julho – foi apresentado, ainda em fase muito embrionária, na presença do Presidente da República, o projecto de criação de um Centro de Interpretação da I República e Núcleo Museológico em torno da figura de António José de Almeida.

De acordo com as palavras de  João Paulo Avelãs Nunes, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX (CEIS20), a quem coube a apresentação do projecto, o mesmo terá um carácter “transversal a diversas áreas” e pretende-se que seja “não instrumento de conflito mas, pelo contrário,  de consensualização de valores.” Terá uma vertente de formação cívica, “sem um discurso, uma mensagem ou moral pré-definida, mas com carácter aberto, facilitador do debate de ideias.”

O futuro Centro de Interpretação e Núcleo Museológico, a instalar em Vale da Vinha,  constará de um piso térreo, reservado para a instalação de valências técnicas e de um 2º piso, correspondendo ao espaço nobre da antiga casa. No entanto, não  teremos propriamente a reconstituição do espaço familiar, já que ele foi desaparecendo com a degradação do edifício. 
Edifício que vai ser recuperado para instalação do Centro Interpretativo / Casa Museu

Um dos primeiros núcleos de caracterização será a origem de António José de Almeida, a história familiar e local, a ligação à comunidade de origem. Contará  a história  de  António José de Almeida e de Portugal, desde o final do séc. XIX até aos anos trinta do século XX.

Um segundo espaço versará sobre  o início da actividade profissional de António José de Almeida que, neste caso, permitirá  uma ligação ao Império Colonial da época, com uma outra parcela da realidade portuguesa (S. Tomé).

Seguir-se-á  o período em que António José de Almeida foi um dos principais dirigentes do partido republicano, quer na fase de propaganda, quer na conquista do poder politico. A implantação da República, a fase de governação e o papel de António José de Almeida,  a desagregação da Primeira República, a sua substituição por outro tipo de serão outros aspectos a contemplar.

O investigador do CEIS 20 referiu que o Centro de Estudos fora também  convidado para, além deste projeto,  colaborar  noutros mais a criar na região: “uma espécie de rota de museologia em torno das questões políticas em Portugal  desde finais os séc. XIX até ao final do Estado Novo.”

Mais concretamente, núcleos museológicos ligados a personalidades marcantes: “em primeiro lugar, obviamente António José de Almeida, em Penacova;  em segundo lugar,  “não propriamente António de Oliveira Salazar,  mas um Centro de Interpretação  sobre o Estado Novo”, em Santa Comba Dão. Também no concelho de  Carregal do Sal, um Centro de Interpretação sobre o holocausto e Casa Museu Aristides de Sousa Mendes. Numa fase mais atrasada de negociação, Afonso Costa em Seia, irmãos Lacerda, no Caramulo e eventualmente um novo projeto em torno de escritores, incluindo Mortágua e outros locais.  

“Isto permite criar uma rede que pode ter várias entradas. Uma delas e a mais óbvia seria Coimbra não só por ser Património Mundial da UNESCO, mas também através do Portugal dos Pequenitos, um ícone da memória do Estado Novo.” – adiantou João Paulo Avelãs Nunes.

Este conjunto de projectos  envolve não  apenas as câmaras municipais mas também as comunidades intermunicipais. Além disso, “procurar-se-á  criar um Conselho Consultivo que representará  várias entidades, entre elas o Museu da Presidência, e será o garante da qualidade científica, e do rigor intelectual e ético.”

Projectos que implicam recuperação de património, atividade museológica, formação cívica, educação e  turismo: “Teremos não apenas a divulgação cultural e científica, mas também a turística. Em territórios de chamada baixa densidade podem ser uma estrutura muito positiva e significativa.” - afirmou Avelãs Nunes.