Um rio para pescar
Com o coração apressado, todo meu corpo tomado, li no blog
que nos dias 11 e 12 de agosto foi realizado o 5º Campeonato do Mundo de
Veteranos em Água Doce, prova que trouxe
até ao rio Mondego delegações da Bélgica, França, Holanda, Hungria,
Inglaterra, Itália e Portugal.
Por que com o coração assim apertado, tão emocionado?
Bem, resido em São Paulo, cidade com quase 11 milhões de
habitantes; considerando a região metropolitana são 19 milhões.
Da sacada do vigésimo primeiro andar do meu apartamento
posso ver o Rio Pinheiros, um dos rios que corta a cidade. Aqui do alto, tenho
a impressão de que as águas estão paradas, na verdade seguem lentas; águas de
um rio morto pela poluição.
Eis porque me doeu o
coração quando li sobre o torneio de pesca, uma dor de sadia inveja me tocou
fundo, pois não tenho em minha cidade o Mondego, não tenho o Alva. Pesquisando
sobre Penacova encontrei as praias fluviais; que beleza, que dádiva, que
riqueza. Santo Deus! Feliz o povo que pode ter um rio vivo cortando suas
cidades, passando por seus quintais; felizmente
temos aqui ainda cidades com tal
privilégio.
Esforço-me, não quero escrever cartas chorosas. Então, por
falar em rio, lembrei-me de Paulinho da Viola, compositor brasileiro, nascido
em 12 de novembro de 1942, autor de músicas inesquecíveis. Ele integra a ala
dos compositores da Escola de Samba Portela, uma das comunidades do Rio de
Janeiro. Em 1970 compôs “Foi um Rio que passou em minha vida”; sucesso nacional
que se tornou hino de exaltação à Portela. Lá na frente, diz a letra da música:
“Quando alguém que não me lembro anunciou! Portela, Portela!
O samba trazendo alvorada, meu coração conquistou. Ah! minha
Portela, quando vi você passar, senti meu coração apressado, todo o meu corpo
tomado, minha alegria a voltar. Não posso definir aquele azul, não era do céu,
nem era do mar. Foi um Rio que passou em
minha vida, e meu coração se deixou levar”.
Uma escola ao entrar para desfilar na Passarela do Samba tem
seu nome anunciado. Paulinho da Viola coloca-se com um expectador na
arquibancada, sente a emoção ao ouvir o anúncio de escola. Os desfiles começam
à noite, porém quando a derradeira escola entra na avenida já é manhã, por isso
“o samba fazendo alvorada”. Ao ver tanto azul, diz que não saber definir de onde era aquele
azul, não era do céu, não era do mar. O azul é a cor da escola. Quando vê a
escola a desfilar, a passar diante dele, tem a sensação de que é um rio, um rio
de águas azuis; ele encantado se deixa levar.
Chega de prosa, os vídeos falarão melhor. No primeiro, uma
gravação de 1980; Paulinho, ainda cabelos pretos, aos 38 anos. O segundo, já
cabelos brancos, acompanhado pela “velha guarda” da Portela.