sexta-feira, outubro 18, 2013

Os concelhos de Penacova e Farinha Podre em meados do séc. XIX


Em meados do século XIX o concelho de Penacova era constituído por apenas 5 freguesias: Carvalho, Figueira de Lorvão, Lorvão, Penacova e Sazes. À época (de 1836 a 1853) existiu o concelho de Farinha Podre. Dele faziam parte 7 freguesias: Covelo, Farinha Podre, Oliveira do Cunhedo, Paradela, S. Martinho da Cortiça, S. Paio e Travanca. Inicialmente também incluiu a freguesia da Carapinha mas em 1837 perdeu-a para o concelho de Tábua. Recorde-se que a Freguesia de Friúmes pertencia ao concelho de S. Miguel de Poiares.

 
Vejamos alguns dados referentes a estas freguesias, segundo a obra de Henriques Seco “ Mappa do Districto Administrativo de Coimbra”.


Concelho de Penacova
OBS: transcrevemos a grafia original apresentada na obra referida



 

 

 
 
 
 
CARVALHO

Orago da Igreja Matriz: N. S. do Rosário

 

Povoações, Casais e Quintas

Fogos

Amial
 

16

Avillido

14

Asenha

4

Boas Eiras (pertence parte a Carvalho e parte a Penacova)

3

Calduses

3

Capitorno

24

Cerquedo

22

Carvalhaes

31

Carvalho Velho

8

Coselho

16

Gavião

6

Lourinhal

15

Matta

4

Ouraça

4

Pendurada

20

Povoa

9

Quinta do Pomar

7

Ribeira

5

Santo António do Cântaro

5

S. Paulo

9

Seixo

5

Soalhal

11

Valle de Carvalha

14

Valle das Eguas

9

Valle da Formiga

6

Valle d’Ansajusta

15

Carvalho (vila de )

31

Fogos avulsos

2

 

 

318
 

 

 

 

FIGUEIRA DE LORVÃO
Orago da Igreja Matriz: S. João

 

 

Povoações, Casais e Quintas

Fogos

Agrêllo

57

Alagôa

37

Casqueira

7

Figueira de Lorvão

36

Gavinhos

23

Granja do Espinheiro

46

Golpilhal

22

Monte Redondo

51

Motta

24

Póvoa

20

Sernelha

32

Telhado

37

Pizão

1

 

398
 


 

 

LORVÃO

Orago da Igreja Matriz:

N. S. da Esperança

Povoações, Casais e Quintas

Fogos

Avelleira

61

Caneiro

58

Chelinho

20

Chello

81

Granja do Rio

10

Lava-Todos

10

Lorvão

122

Paradella

34

Rebordosa

68

Ribeira de Lorvão

2

Rôxo

64

S. Mamede

38

TOTAL

566
  


 

 

PENACOVA

Orago da Igreja Matriz:

N. S. d’ Assumpção

Povoações, Casais e Quintas

Fogos

Azenha do Rio

3

Balfeiro

14

Barca do Concelho

2

Besteiro

9

Boas Eiras

19

Carvalhal

33

Carvoeira

56

Casal

20

Casalito

17

Chã

9

Chainho

8

Cheira

35

Estrada

6

Felgar

8

Ferradosa

21

Galiana

10

Gondelim

79

Hospital

3

Laranjeira

8

Olival

6

Penacova vila

81

Ponte

12

Quinta da Aguieira

1

Quinta dos Penedos

1

Quinta da Várzea

2

Rebella

18

Riba de Baixo

20

Riba de Cima

19

Ribeira

3

Ronqueira

21

Sanguinho

9

Sobral

16

Travasso

41

Valle de Gonçalo

6

Valle de Lagar

5

Valle de Lopos

2

Villa Nova

14

 

637

 

 

 




 

 

SAZES

 

Orago da Igreja Matriz:

S. André

Povoações, Casais e Quintas

Fogos

Asevinheiro

4

Cácemes

43

Contenças

24

Covas

2

Covello

4

Galhano

2

Midões

23

Palheiros

25

Palmases

15

Pé do Viso

5

Ponte da Matta

8

Ribeiras

7

Sazes

20

TOTAL

182

 
Criado em 1836 o concelho que inicialmente também abrangia
a freguesia da Carapinha, perdeu-a para Tábua em 1837.

Concelho de Farinha Podre


 
 
COVELLOS
Orago da Igreja Matriz: N. S. da Apresentação
 
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Covellos de Baixo
48
Covellos de Cima
54
Rapozeira
2
Ribeira de S. Paio
1
Valleira
2
Valle da Pena
1
Valle de Porcas
1
Vargia
1
TOTAL
110
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FARINHA PODRE
Orago da Igreja Matriz: S. Pedro
 
 
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Bêco
12
Bica
1
Bogueira
2
Cornicovo
1
Carvalhal
19
Castinçal
34
Castinceira
1
Cavalleiro (parte)
2
Cruz do Souto
13
Farinha Podre
64
Hombres
83
Laborins
42
Lufreu
20
Mocejo
1
Parada
27
Paço Velho
34
Peixoto
1
Quintella
16
Rebolo
2
Relva do Matto
1
Ribeira
18
Silveirinho
22
Sobral
43
Sobre Cão
1
Toguia
4
Val do Barco
8
 
Val da Vinha
11
Venda Nova
7
Venda Nova de Baixo
5
Vimieiro
1
Zarroeira
6
TOTAL
502

 
 
OLIVEIRA DO
CUNHEDO
Orago da Igreja Matriz:
Sta Marinha
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Brancas
1
Coiço
24
Cunhedo
34
Foz do Alva
2
Lavradio
4
Oliveira
69
Paredes
40
Peliteiro
1
Penso
1
Raiva
10
TOTAL
187

 
 
PARADELLA
Orago da Igreja Matriz:
S. Sebastião
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Cardal
1
Casal do Ribeiro
2
Cortiça (parte)
14
Fagido
1
Lapa
1
Paradella
99
Sobreira (parte)
13
TOTAL
29
 
 
 
S. MARTINHO
DA
CORTIÇA
 
Orago da Igreja Matriz:
S. Martinho
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Abrunheira
1
Atalho
1
Carapinhal
8
Carvalha
2
Casal
3
Catraia da Serra
2
Cavalleiro (parte )
4
Comieira
1
Cortiça (parte)
1
Costa Alta
1
Foz da Ribeira
17
Foz do Val
1
Fraga
1
Fronhas
15
Furado
1
Moura Morta (1)
26
Mucellão
18
Poços
15
Pombeiras
26
Ponte da Mocella
15
Portella
4
Quinta
2
Sahil
28
Sanguinheda
61
S. Martinho
25
Sobreira (parte)
11
Teixugueira
5
Valle de Espinho
14
Valle do Matôco
11
Valle do Moinho
25
Valle de S. Martinho
6
Urgueira
35
TOTAL
386

(1)      Esta povoação tendo sido da freguesia de S. Martinho, hoje por determinação do ordinário pertence à freguesia de S. José das Lavegadas: não obstante continua a depender do concelho de Farinha Podre, tanto no Administrativo, como no Judicial
 
 
 
S. PAIO
 
Orago da Igreja Matriz:
S. Paio
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Bogueira
2
Ermidas
3
Fundo do Galinheiro
2
Galinheiro
4
Pereiro
5
Ribeira de S. Paio
3
S. Paio
87
Valle d’Açores
1
Valle da Videira
1
TOTAL
108

 
 
 
TRAVANCA
 
Orago da Igreja Matriz:
S. Thiago
Povoações, Casais e Quintas
Fogos
Aguieira
6
Conchada
2
Covaes
6
Foz de S. João
2
Lagares
22
Portella
24
Rezidencia
1
Travanca
45
Valle da Cai-agua
1
TOTAL
109

Como referimos Friúmes, hoje pertencente a Penacova,  pertencia a Poiares:
 

 

FRIÚMES

 Orago da Igreja Matriz:

S. Mateus


Povoações, Casais e Quintas


Fogos


Carregal


28


Friumes


60


Miro


74


Outeiro longo


3


Val do conde 


5


Vale maior


13


Val do meio


3


Vale do tronco


12


Zagalho


15


 


213



 

sábado, outubro 12, 2013

O Ciclo do Linho em exposição na Biblioteca Municipal


_____________________________________

Linho - Uma Arte Ancestral
Em tempos passados, o cultivo do linho era uma das principais actividades das gentes desta região. Era com esta planta que os nossos antepassados faziam lindas e valiosas peças de roupa, que ainda hoje existem guardadas. Para tal, o linho passava por várias etapas de transformação, desde a sementeira até ao produto final, ou seja, o tecido, nas quais eram utilizados vários utensílios. ( in  http://rancho-zagalho.blogspot.pt)
Veja estas e outras fotografias no blogue do Rancho Folclórico
e Etnográfico de Zagalho e Vale do Conde.
 Clique na imagem para aceder
 

sexta-feira, outubro 11, 2013

A crónica, ainda que efémera, vive...

CARTAS BRASILEIRAS

A libélula e a crônica

Das aulas de biologia nos tempos de colégio, e isso já beira meio século, martelam ainda em minha cabeça denominações da botânica, angiospermas, gimnospermas, briófitas e piteridóficas. Dos estudos da genética, lembro-me das drosófilas, uma espécie de mosca.
 
E nesses voos solitários, quase sempre noturnos, recordo-me de um artrópode interessante, as libélulas, que com a leveza de um balé, tocam as águas dos córregos, lagos e rios.
 
Como os românticos e sonhadores, o macho da libélula é tido com um inseto efêmero, de vida curta, morre logo após o acasalamento, pertence à ordem dos Efeméridos; palavra de origem grega que significa curto, que dura apenas um dia
 
Nos dias de hoje, diante da velocidade dos acontecimentos e da dinâmica da informação, com notícias transmitidas “online”, no momento em que acontecem, parece claro que os jornais impressos estão com os dias contadas; outras midias que se cuidem!
 
O jornal chega pela manhã trazendo as notícias, passa o dia sobre a mesa, algumas vezes pelo chão. Quando chega a noite, ou no máximo na manhã seguinte vai para a pilha de jornais velhos; fica velho de um dia para o outro.
 
E a crônica! Coitada, mal vive um dia, lida torna-se página virada, ultrapassada e velha, ninguém mais quer saber dela.
 
Ainda assim o cronista não desiste, como o romântico sonhador, quem sabe o vaivem dos dedos pelo teclado, no momento da composição do texto, o faça lembrar do balé da libélula e do macho.  Então, segue escrevendo, porque a crônica ainda que efêmera, vive.
P.T.Juvenal Santosptjsantos@bol.com.br
 
NOTA: o título do post é do Penacova Online

segunda-feira, outubro 07, 2013

sábado, outubro 05, 2013

5 de Outubro: recordar António José de Almeida


[António José de Almeida: um Beirão de projecção nacional] 
 
No Verão de 1929 realizou-se em Castelo Branco o IV Congresso das Beiras. António José de Almeida fora convidado para estar presente. A doença, que há longos anos o atormentava e que no Outono seguinte lhe causará a morte, impedirá essa deslocação. No entanto, não deixará de endereçar uma mensagem onde enaltece o “passado heroico” desta região. “Beira Una”, que é a “expressão suprema” de uma “Nação gloriosa, eterna geradora de heróis, de poetas e de mártires”. 
Este sentimento Beirão, expresso no final da sua vida, nascera muitos anos antes. Foi num lugar perdido da Beira - Vale da Vinha - que nasceu a 17 de Julho de 1866. Às terras do Alto Concelho de Penacova se manteve ligado ao longo da vida, quer por laços familiares, quer por relações políticas. Frequentou o ensino primário na sede da sua freguesia – Farinha Podre (actual S. Pedro de Alva.) Teve como professor João Gama Correia da Cunha, natural de Mouronho, mestre atento, desde muito cedo, ao carácter daquele seu aluno. 
Quando em 1890 António José de Almeida, já estudante universitário, se encontrava preso por crime de abuso de liberdade de imprensa, na sequência do artigo “Bragança, o Último”, publicado na folha académica Ultimatum, João Gama escreve para o jornal conimbricense A Oficina, uma carta em apoio do seu antigo pupilo. Nesse texto, afirma que muito há a esperar da “ilustração e boa vontade” daquele “rapaz” pois ''homens como ele não aparecem todos os dias”. A sua intuição levou-o também a dizer que o tempo se encarregaria de mostrar que estas suas palavras não eram “lisonja, nem ilusão dum insensato.'' 
Foi na cidade de Coimbra que António José de Almeida manifestou a sua vocação política. No entanto, as primeiras influências republicanas dever-se-ão ao professor das primeiras letras, republicano convicto, bem como a outras personalidades daquela freguesia que conviviam com a respeitada família “Almeida” e que acompanharam pessoalmente o jovem conterrâneo, aquando do julgamento e durante os meses de cárcere. 
Registe-se que o seu pai, José António de Almeida, só adere ao Partido Republicano no dia em que o filho entra na cadeia, quando já era presidente da Câmara de Penacova. Em plena sessão camarária, faz uma declaração que apanha desprevenida a vereação. Declaração que ficou registada em acta e onde, a dado passo podemos ler: “Nunca tinha pensado que na idade de setenta anos e que tendo empregado na maior parte deles as minhas forças na sustentação e defesa da monarquia e liberdades pátrias, me havia de fazer Republicano! Realizou-se, porém, este pacto desde que, no dia vinte e cinco de Junho último, vi que uma sentença injustificadamente rigorosa condenava em três meses de prisão o meu filho António José d’Almeida, arrancando-mo dos braços e aferrolhando-o na cadeia pública”.



Programa das comemorações em Penacova
A par de uma aguerrida militância republicana em Coimbra, António José de Almeida concluiu o curso de Medicina em 1895. Parte para S. Tomé no ano seguinte, onde virá a exercer clínica. Regressa em 1903 e ainda nesse ano inicia uma viagem de estudo que se estenderá até Março de 1904, passando por França, Itália, Suíça e Holanda. Em 1906 integra o Directório do Partido Republicano Português. Neste ano, são eleitos os primeiros deputados republicanos: António José de Almeida, Afonso Costa, Alexandre Braga e João de Menezes. 
A luta intensifica-se através da imprensa e da realização de inúmeros comícios, onde a presença de António José de Almeida é uma constante. 
Em 28 de Janeiro de 1908, na sequência de uma tentativa de golpe de Estado, é preso, juntamente com outros republicanos. Em Abril desse ano é novamente eleito. Agora, o Partido Republicano consegue eleger sete membros para a Câmara dos Deputados. Em Abril de 1909, no Congresso daquele partido e por indicação da Carbonária (recorde-se que em 1907 entrara para a Maçonaria) assume a direcção civil do Comité Revolucionário.
 António José de Almeida continua a marcar presença em muitos dos comícios que se foram realizando por todo o país. Refira-se Viseu no dia 8 de Março de 1908, Tábua um ano depois e S. Pedro de Alva em 1 de Agosto de 1909. A este último local, terão acorrido milhares de pessoas: 3000, segundo o Jornal de Penacova, 4000 de acordo com notícia de O Poiarense. A data ficará marcada na história local como sendo a primeira e única vez que António José de Almeida se dirigiu em público às pessoas que o viram nascer e frequentar os bancos da escola primária. 
No discurso que proferiu, fez questão de esclarecer que “veio falar à sua terra porque cá o chamaram.” Acentuou que não vinha “pedir nem votos, nem influências, nem importância” pois “nada precisava da República, como nada aceitava da Monarquia.” Vinha sim “junto dos homens da sua terra, para os ajudar a redimir e salvar”, apresentando-se como “um combatente que vem oferecer o seu braço, o seu cérebro e o seu esforço.” No mesmo dia do Comício foi inaugurado em S. Pedro de Alva um Centro Republicano. António José de Almeida, a dois meses do 5 de Outubro, reafirma que é preciso acabar com a ideia de que o Partido Republicano ''não tem força'' sendo, portanto, inevitável conquistar os direitos ''não só pelas palavras mas também pelas armas.'' 
Com a proclamação da República, António José de Almeida integra o Governo Provisório, assumindo a Pasta de Ministro do Interior, cargo que desempenhará até ao dia 3 de Setembro de 1911. Ainda neste ano, verifica-se a cisão do Partido Republicano. Democráticos (liderados por Afonso Costa), Evolucionistas (liderados por António José de Almeida) e Unionistas (liderados por Brito Camacho), irão até 1919 ocupar o espectro partidário republicano. 
Com a criação do Partido Evolucionista (o I Congresso realizar-se-á em Lisboa a 8 de Agosto de 1913) a região das Beiras, que já não era indiferente a António José de Almeida, reforça os contactos e cimenta as simpatias, principalmente nos concelhos pertencentes ao Círculo Eleitoral de Arganil (Arganil, Góis, Miranda do Corvo, Lousã, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Poiares e Tábua). As movimentações de António José de Almeida passam por Tábua (Março de 1913), acompanhado de António Granjo e de outros republicanos. 
No comício que aí se realizou, mais uma vez se revelou como “o homem eloquente de sempre”, dirá o Jornal de Arganil, órgão do Centro Republicano Evolucionista, fundado em Março de 1913 por Alberto Veiga Simões. O primeiro número daquele jornal dirá que o concelho, na sua quase totalidade, abraçara a política evolucionista. Veiga Simões virá a ser convidado por António José de Almeida para “redactor político” do jornal República. Em Arganil, Ventura da Câmara, da Quinta do Mosteiro (Folques) é outro nome a reter no conjunto dos militantes evolucionistas da região.
 Em Penacova vamos encontrar Amândio dos Santos Cabral à frente do Jornal de Penacova, periódico fundado em 1901 mas que agora se assume como órgão concelhio do Partido Evolucionista. Neste concelho as movimentações de apoio são intensas, o ideário do novo partido e as inúmeras adesões são noticiadas na imprensa local[1]. Em Oliveira do Hospital, segundo crónica do Jornal de Arganil, apesar de existir uma “simpatia latente” por António José de Almeida, o concelho ainda não decidira “abraçar este ou aquele partido”. Caso estranho, pois Oliveira do Hospital revelara-se como sendo um dos concelhos “mais bulidos pela política” após a Implantação da República. As críticas recaem em Augusto de Mattos-Cid, advogado, que no dia 7 de Outubro assumira a presidência da Comissão Administrativa Republicana e manifestava, agora, simpatias por Afonso Costa. 
A carreira política de António José de Almeida registará um novo capítulo em 1916. No contexto da I Guerra Mundial, assumirá as funções de Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) (15 de Março de 1916) e de Ministro das Colónias no Governo da “União Sagrada”, formado por Evolucionistas e por Democráticos. A ruptura desta “coligação” dar-se-á no dia 25 de Abril de1917. 
Regressará em 1919, agora como Presidente da República. Apesar de ter enfrentado um dos períodos “mais trágicos da República”, foi o único a cumprir, entre 1910 e 1926, integralmente os quatro anos de mandato presidencial. No período que vai de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923, António José de Almeida, além de muitos outros contratempos, terá que “lidar” com dezassete Governos e terá que enfrentar os trágicos acontecimentos da “noite sangrenta” de Outubro de 1921. No entanto, o sucesso da travessia aérea Lisboa-Rio de Janeiro e, pouco depois, o momento “glorioso” e “triunfal” da sua Visita Presidencial ao Brasil, nos finais do Verão de 1922, serão acontecimentos positivos que marcarão o seu mandato.
 É todo este seu percurso que leva João Alves das Neves, eminente jornalista arganilense, a considerar António José de Almeida como “o maior estadista da Beira-Serra”. 
Vitimado pela doença (gota) que o acompanhou ao longo da vida, morre em Lisboa no dia 31 de Outubro de 1929, com 63 anos.
O quinzenário A Voz de S. Pedro de Alva preenche integralmente a capa da edição de 16 de Novembro com o título: ''A Pátria e a República em Crepes: morreu o Dr. António José de Almeida''. Periódico que poucos meses antes, recebera uma carta onde aquele seu ilustre conterrâneo prometia escrever “umas linhas” para o mesmo, logo que “estivesse melhor dos seus padecimentos”. Também a Comarca de Arganil publicará uma notícia com foto sua e uma gravura da casa de Vale da Vinha, escrevendo que “com o desaparecimento do Dr. António José de Almeida” perdia “a Pátria um dos seus maiores soldados e a República um dos seus maiores generais.” 
Durante vários anos a imprensa local e regional não deixou cair no esquecimento a data de 31 de Outubro, mas só com o 25 de Abril a figura de António José de Almeida foi em certa medida reabilitada, depois ter sido silenciada durante muitos anos. ''Finalmente possível…'' é o título do artigo publicado pelo Notícias de Penacova respeitante à homenagem que se iria realizar no dia 5 de Outubro de 1974 naquela vila. ''António José de Almeida sob silêncio do cemitério'' será outro título da mesma edição, com a assinatura de Urbano Duarte, padre e jornalista, ligado ao jornal diocesano Correio de Coimbra. 
Em 5 de Outubro de 1976 foi inaugurado na vila de Penacova um busto de António José de Almeida, obra escultórica do Mestre Cabral Antunes. Na cerimónia, usou da palavra, além de outras individualidades, o Governador Civil de Coimbra, Fernando Vale que, curiosamente, havia iniciado funções na véspera. Outro acto de homenagem foi a instituição do dia 17 de Julho como Feriado Municipal de Penacova, por deliberação da Assembleia Municipal (28 de Maio de 1976). Em 1997, no dia 5 de Outubro, foi inaugurada uma estátua em S. Pedro de Alva, sede da freguesia da sua naturalidade. 
Para completar este reconhecimento concelhio, aguarda-se que o Município de Penacova faça a compra e a recuperação da casa onde nasceu aquele estadista. O antigo “solar” de Vale da Vinha começa a ameaçar ruína. A instalação de uma Casa-Museu ou de um Centro de Estudos, seria uma hipótese que muito dignificaria aquele espaço carregado de memórias que urge preservar. 
Para um conhecimento da vida e da obra de António José de Almeida é incontornável a consulta da “biografia ilustrada” António José de Almeida e a República, de Luís Reis Torgal e Alexandre Ramires, publicada em 2004. De referir ainda, quer o livro de Ana Paula Pires, editado em 2012, António José de Almeida: o Tribuno da República, quer a colectânea Quarenta Anos de Vida Literária e Política, em quatro volumes, reunindo discursos e outros textos, publicada em 1933. 
Recorde-se que António José de Almeida, além de grande orador (nos Comícios, na Câmara dos Deputados, no Governo e na Presidência da República) utilizou também a escrita, em especial a jornalística, para expressar as suas ideias. Assinou inúmeros artigos em jornais e publicações republicanas e fundou a revista Alma Nacional (1909) e o jornal República (1911). 
Escrevia Júlio dos Santos, em 1932, n’ A Voz de S. Pedro de Alva: “Se ao advento da República Miguel Bombarda deu Cérebro, Pensamento, Equilíbrio; se Cândido dos Reis lhe deu Corpo, Forma; António José de Almeida deu-lhe o Verbo. Verbo que é Sopro de Deus!”

David Almeida
Artigo publicado na Revista Ipsis Verbis (ver referência AQUI)



[1]  Sobre a República e o republicanismo em Penacova, cfr. David Almeida, Penacova e a República na Imprensa Local. Edição da Câmara Municipal de Penacova, 2011.
 
Pormenores da Revista IPSIS VERBIS
[clique para ampliar]


terça-feira, setembro 03, 2013

Cartas Brasileiras: um espaço que vai continuar no Penacova Online

Durante estas semanas de paragem, recebemos, via postal, uma simpática carta do Brasil, onde não faltou o pormenor de escolher selos significativos para aquele país, nestes últimos tempos. Ainda antes de definir o novo esquema de conteúdos que anunciámos em Julho, aqui fica a mensagem do já amigo de Penacova Paulo Santos, de S. Paulo.
 




 

domingo, setembro 01, 2013

Nova etapa do blogue: novo cabeçalho



Tal como anunciámos, a partir de Setembro o conteúdo do blogue irá centrar-se mais na história e cultura do concelho de Penacova. Também o cabeçalho irá ter novo visual oportunamente. Aqui fica  a imagem do que vigorou até agora.

terça-feira, julho 23, 2013

Penacova Online: seis anos de publicação

Completam-se agora seis anos de publicação ininterrupta do Penacova Online.  A todos os seguidores deste espaço o nosso agradecimento. Possivelmente com um carácter menos informativo e mais temático esperamos voltar em Setembro.
Obrigado.
David Almeida

Bibliografia sobre Lorvão enriquecida com mais uma obra de Nelson Correia Borges lançada no Dia do Município


 
Doçaria Conventual de Lorvão: um trabalho de investigação
do historiador penacovense Nelson Correia Borges, que divulga
muitos aspectos desconhecidos desta temática.